Glórias do Passado: dezembro 2009

 

Temporada de 1977/78 - 2ª Parte


O Vitoria SC iniciou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1977/78 defrontando o SC Espinho, um recem primodivisionário, no Estádio Municipal de Guimarães num dia de calor intenso.

E neste jogo da jornada inaugural do nacional maior, o Vitoria SC não teve, diga-se, uma tarefa nada fácil, pois a equipa espinhense apresentou-se com um dispositivo defensivo bem montado e o qual criou inúmeras dificuldades à formação minhota.

O Vitoria SC, naturalmente, assumiu as despesas do jogo, dominando os acontecimentos, enquanto ao SC Espinho cabia-lhe defender, simplesmente, sem nunca sequer espreitar o contra ataque.

A partida, jogada sem grande recorte técnico, é um facto, teve, porem, alguns momentos de emoção na sequência, sobretudo, dos inúmeros lances de golo criados pelo Vitoria SC junto da baliza do SC Espinho.

Durante os primeiros 20 minutos de jogo, essencialmente, a equipa vimaranense exibiu-se ao melhor nível, sempre sob a batuta de Romeu, verdadeiramente endiabrado no ataque. Duas bolas nos ferros, um par de boas intervenções do guarda-redes Gaspar do SC Espinho, iam evitando, sucessivamente, o golo ao Vitoria SC.

Apesar do insofismável ascendente vitoriano, a equipa espinhense, sempre briosa e abnegada, só cedeu à passagem do minuto 60, altura em que o Vitoria SC, finalmente, conseguiu marcar através de um auto-golo apontado por Amaral.

Nesse lance, não resistindo à pressão do avançado vitoriano Tito, o defesa espinhense Amaral aliviou a bola directamente para o interior da sua baliza traindo o seu guarda-redes Gaspar.

A vencer por 1-0, o SC Espinho adiantou-se mais no terreno, relaxando o seu esquema defensivo. O Vitoria SC, aproveitando esse facto, conseguiu selar o resultado final em 2-0 no minuto 70, através do avançado brasileiro Mané.

Mané, numa magistral execução individual na finalização, com um chapéu sobre o guarda-redes, aproveitou bem mais um erro da defensiva espinhense ao intrometer-se num atraso mal medido ao guardião do SC Espinho.

O Vitoria SC, embora beneficiando da sorte nos lances capitais da partida e da infelicidade dos jogadores do SC Espinho, venceu merecidamente este jogo da 1ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão.

Na 2ª ronda o Vitoria SC rumou ao Algarve para jogar contra o Portimonense SC, numa partida disputada no Estádio de S. Luís, na cidade de Faro, já que a casa da equipa de Portimão encontrava-se a receber obras de melhoramento, essencialmente, com o arrelvamento do campo de jogos.

Mesmo assim, os aficionados do Portimonense SC e também o muito público estrangeiro de ferias na região do Algarve lotaram completamente o Estádio de S. Luís para assistir a este encontro do campeonato português.

Mercê de uma 1ª parte verdadeiramente exemplar, o Vitoria SC cedo ganhou vantagem sobre o conjunto algarvio. Ainda não estava completado o primeiro minuto de jogo e já o Vitoria SC estava a vencer por 0-1, com um golo de Mané bem servido por Romeu.

Aos 25 minutos foi o avançado Tito a ampliar a vantagem do Vitoria SC para 0-2. Mas, mais uma vez, tudo começou com uma iniciativa individual de Romeu e que culminou com a assistência de Mané para Tito finalizar em cima da linha de golo.

Porem, ainda antes do intervalo, o Portimonense SC, aos 32 minutos de jogo, reduziu para 1-2 por intermédio de Sério, que surgiu solto ao segundo poste da baliza do Vitoria SC a finalizar um cruzamento na cobrança de um canto.

Aos 58 minutos aconteceria, no entanto, o momento mais negativo do encontro e que colocou o Vitoria SC em serias dificuldades, pois até então dominara facilmente o desenrolar da partida.

O jogador vitoriano Romeu, reagindo a uma entrada a roçar a violência por parte do defesa algarvio José Eduardo, foi expulso pelo árbitro Augusto Bailão, quando estava a ser o elemento mais inspirado do Vitoria SC. À expulsão de Romeu seguiu-se a lesão de Mané, jogador importante na linha atacante.

A partir de então, principalmente por estar com um homem a menos, o Vitoria SC passou a preocupar-se mais com o resultado e menos com a exibição. Com um meio campo povoado – alias uma estratégia adoptada desde o início do jogo – o Vitoria SC controlou razoavelmente os acontecimentos perante a incapacidade ofensiva do Portimonense SC.

O Vitoria SC venceu, de facto, justamente, demonstrando uma enorme personalidade perante as várias adversidades que lhe foram surgindo no decorrer do encontro. Alem disso, efectivamente, o Vitoria SC foi a equipa melhor escalonada no terreno de jogo, sabendo tirar partido das desatenções e imperícias do Portimonense SC.

Foi como líder da classificação do Campeonato Nacional da 1ª Divisão que o Vitoria SC recebeu na 3ª jornada o SL Benfica no Estádio Municipal de Guimarães completamente lotado.
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(Vitoria SC - SL Benfica na época de 1977/78 no Estádio Municipal de Guimarães. Neste lance o capitão benfiquista Toni disputa o lance com os jogadores vitorianos, entres eles, Abre)
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O SL Benfica apresentou-se debilitado fisicamente na sequência de uma jornada europeia disputada a meio da semana e, sobretudo, durante a 1ª parte não criou qualquer oportunidade de golo.

Já o Vitoria SC, apesar de órfão de Romeu, a cumprir castigo pela expulsão no jogo anterior, esteve em bom nível e foi, inquestionavelmente, a melhor equipa sobre o terreno de jogo.
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(Soares disputando um lance nas alturas)
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Principalmente durante a primeira metade do encontro, o Vitoria SC jogou muito bem e criou varias ocasiões de golo, obrigando a equipa benfiquista a defender a sua baliza com unhas e dentes.

Foram várias as oportunidades que a equipa do Vitoria SC dispôs para se adiantar no marcador, perdidas por gritante infelicidade, nalguns casos, outras por evidente falta de inspiração dos avançados Tito e Mané nos lances capitais. Também o guarda-redes benfiquista Bento esteve, verdadeiramente, sensacional, evitando, com soberbas intervenções, o golo vitoriano num punhado de ocasiões.
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(Lance no interior da area do SL Benfica. Os avançados do Vitoria SC Mané e Tito no meio da muralha defensiva do SL Benfica com Alberto, Eurico e Humberto Coelho)
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Já na 2ª parte o jogo tornou-se ligeiramente diferente. Mário Ventura e Pedrinho, os melhores jogadores do Vitoria SC durante o primeiro período, também caíram fisicamente e o jogo equilibrou-se.

O SL Benfica passou a ter alguma iniciativa embora sem criar grandes chances de golo, enquanto o Vitoria SC perdeu a vivacidade demonstrada na 1ª parte.

Num período do jogo pautado pela toada morna e em que a igualdade parecia ser o destino final, o SL Benfica marcou o golo do triunfo num lance de pura sorte. Corria o minuto 79 quando o defesa do Vitoria SC Alfredo atrasou a bola ao seu guarda-redes de forma deficiente, permitindo a Bastos Lopes, em insistência, intrometer-se e sem dificuldade rematar para o fundo da baliza vitoriana.
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(Pietra na condução do esférico perante a perseguição do centrocampista do Vitoria SC, Abreu)
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A partir daí o Vitoria SC reagiu e tentou repor a igualdade, todavia, tanto o tempo escasseava como as forças faltavam aos jogadores vimaranenses para ultrapassar a bem organizada defensiva encarnada.

Ainda assim, no último minuto jogo, porem, a infelicidade vitoriana manifestou-se novamente quando um disparo para golo certo de Ferreira da Costa foi desviado magistralmente pelo guarda-redes Bento.

O Vitoria SC foi infeliz, é um facto, e não mereceu a derrota visivelmente injusta por 0-1 naquele encontro contra o SL Benfica. Mas, também é verdade, ficou a dever a si próprio este resultado negativo porque não soube aproveitar os lances de golo que dispôs e ainda ofereceu em bandeja dourada o golo ao adversário.
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(Disputa de lance no meio campo entre Toni e Mario Ventura neste desafio entre o Vitoria SC e o SL Benfica da temporada de 1977/78)
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Na 4ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1977/78 o Vitoria SC deslocou-se a Coimbra para defrontar, na altura, o denominado Académico de Coimbra, equipa ainda sem qualquer ponto na competição e a viver em crise.

O Académico de Coimbra entrou determinado a vencer o Vitoria SC e para isso contou com um apoio maciço do público conimbricense. Com uma entrada de rompante o Académico de Coimbra fez o primeiro golo logo aos 10 minutos de jogo através de Rogério.

Numa jogada de insistência, Brasfemes disparou uma verdadeira “bomba” à baliza do Vitoria SC que depois de embater nos dois postes sobrou para a zona frontal no interior da área onde o avançado conimbricense Rogério não desperdiçou e bateu o guarda-redes vitoriano Melo.

O Vitoria SC, porem, não vacilou perante o ímpeto inicial do Académico de Coimbra. Revelou maturidade suficiente para aguentar o golo do adversário e assumiu as despesas do jogo.

À passagem do minuto 30 o Vitoria SC chegaria ao golo, consequência normal para o desenrolar dos acontecimentos. Numa jogada bem gizada, o avançado Tito isolou-se, driblou o guarda-redes conimbricense Hélder e atirou para a baliza onde surgiu o defesa José Freixo a desviar a bola ostensivamente com a mão.

Penalty assinalado e Abreu, sem mácula, converteu em golo fixando o resultado em 1-1. Este golo do Vitoria SC teve o condão de perturbar imensamente a equipa do Académico de Coimbra e o destino do jogo mudou radicalmente. O Vitoria SC quebrou o ímpeto da briosa, tornou-se dominador e ainda mais perigoso.
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(Lance junto à baliza do Vitoria SC, com a intervenção do guarda-redes Melo ao solo segurando o esférico)
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Já no decorrer da 2ª parte a superioridade vimaranense foi inequívoca e avassaladora com evidente reflexo no resultado final. O golo da equipa do Vitoria SC estava iminente perante tanta superioridade.

Aos 58 minutos de jogo o Vitoria SC colocou-se em vantagem, fruto de uma bela jogada de ataque onde Mané concluiu de cabeça um bom cruzamento de Tito com conta, peso e medida.

Pouco minutos depois, aos 63, o Vitoria SC selou definitivamente o triunfo por 1-3, numa excelente jogada individual de Pedrinho ao desfazer-se com categoria de dois adversários e perante a saída do guarda-redes Hélder a rematar colocado.

A equipa do Académico de Coimbra, completamente desorientada, ainda tentou uma reacção ao resultado negativo, mas sem qualquer êxito, pois nessa altura a defensiva vitoriana revelou-se verdadeiramente imperial, soberana e coesa.

Triunfo justíssimo do Vitoria SC por 1-3 em Coimbra frente ao Académico de Coimbra, na terceira vitoria da equipa vimaranense no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1977/78.
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(Agora um lance disputado nas alturas junto à baliza do Académico de Coimbra, neste desafio entre a equipa conimbricense e o Vitoria SC)

O percurso vitorioso da formação vitoriana continuaria, desta feita, contra o histórico rival SC Braga em jogo disputado na cidade de Guimarães. Numa partida emotiva, muito própria de um derby minhoto onde a rivalidade entre os dois clubes é evidente para as respectivas massas associativas, o Vitoria SC venceu por 2-1.

Durante a 1ª parte, o jogo foi, de certo modo, equilibrado com as poucas oportunidades a surgir para ambos os lados. O SL Braga começou melhor e teve a primeira chance para marcar por Chico Gordo.

(Lance no interior da grande area do SC Braga com o guarda-redes Conhé a afastar a bola ao pontapé)

(No tapete verde do Estádio Municipal de Guimarães, o enfermeiro Salgado assiste o jogador do Vitoria SC com a ajuda do n.º 9 Romeu)

Depois do primeiro quarto de hora, o Vitoria SC passou a dominar e a encurralar a equipa bracarense na sua metade do terreno de jogo, dispondo, então de duas boas oportunidades para marcar, primeiro por Abreu e depois por Mané.

Já na 2ª parte o Vitoria SC entrou bem melhor e logo aos 49 minutos adiantou-se no marcador por intermédio de Tito a concluir bem um centro rasteiro de Pedrinho, centrocampista lançado ao intervalo para substituir Mané.

(Tito na recepção da bola já no interior da grande area do SC Braga, neste encontro entre o Vitoria SC e o rival bracaranse na época de 1977/78)

(Os festejos do golo do Vitoria SC apontado pelo capitão Tito. Na companhia surge tambem Romeu a festejar)
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O segundo golo vimaranense chegou aos 59 minutos na transformação de uma grande penalidade a punir uma falta do defesa Rolando sobre o brasileiro do Vitoria SC Almiro. Abreu, com mestria suficiente, marcou a grande penalidade e colocou o Vitoria SC a vencer por 2-0.

Este não seria, porem, o resultado final do encontro porque entretanto o SC Braga reduziu para 1-2 por intermédio de Chico Gordo. Num lance desenvolvido sobre o lado direito do ataque bracarense surgiu um cruzamento para a área onde apareceu Chico Gordo, solto de marcação, a reduzir o marcador.
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(Imagem do desafio entre o Vitoria SC e o SC Braga na temporada de 1977/78)
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Fixou-se, assim, o resultado final, embora o SC Braga tenha procurado a igualdade ate aos 90 minutos. Contudo, fisicamente desgastado, desconexo e sem o discernimento suficiente, a equipa do SC Braga não dispôs de grandes oportunidades para marcar, apesar da emoção gerada pela incerteza do resultado.


Autor: Alberto de Castro Abreu 0 Comentários

 

Zeferino


Zeferino foi, reconhecidamente, um dos jogadores mais importantes na história do Vitoria SC. Assumindo-se como comandante da equipa vitoriana a partir da temporada de 1935/36, Zeferino viveu inúmeras e inesquecíveis tardes de gloria com a camisola do Vitoria SC, desempenhando, com toda a sua categoria e qualidade, uma acção decisiva no catapultar do clube vimaranense para a alta roda do futebol português.

Relacionados com Zeferino estão outros factos de merecida saliência numa dissertação sobre a longa história do Vitoria SC. Assim, quando Zeferino ingressou no Vitoria SC em 1935 tornou-se o primeiro jogador adquirido fora de Guimarães e o primeiro profissional do clube, embora, mais tarde, viesse a acumular essa actividade com a função de motorista, tendo, para o efeito, a Direcção do Vitoria SC oferecido a carta de chauffeur e proporcionado um emprego numa conceituada empresa vimaranense.

Desde então, Zeferino, sempre com a mais louvável dedicação e entusiasmo, serviu o Vitoria SC como atleta durante 11 anos consecutivos, período onde, alem de ter assumido o nobre estatuto de capitão, foi sempre um jogador marcante e fundamental na equipa.

Manifestamente, Zeferino é tido como o melhor jogador do Vitoria SC na segunda metade da década de 30 e nos primeiros anos da década de 40, período onde o clube vimaranense ira atingir o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, chegar à final da Taça de Portugal e vencer, consecutivamente, o Campeonato Distrital da A.F. de Braga.

Zeferino António Duarte, o seu nome completo, é natural da cidade do Porto onde nasceu no ano de 1914. Tripeiro de gema iniciou a pratica do futebol no principal equipa da cidade, o FC Porto, clube onde se formou como jogador.

Percorreu todas as categorias de base do FC Porto, desde os infantis, pela mão do treinador Isidoro Santos, até chegar à equipa principal portista pela mão do conceituado técnico Joseph Szabo.

Nesse tempo participou num dos jogos mais celebres jogos que opõe os rivais FC Porto e SL Benfica, concretamente, aquele que se jogou no dia 28 de Maio de 1933, no Campo da Constituição, na cidade do Porto, a contar para o Campeonato de Portugal, e que a turma portista venceu, goleando os encarnados por 8-0.

Enquanto jogador da equipa principal do FC Porto, Zeferino integrou ainda a selecção da A.F. do Porto nas competições inter-asssociações disputadas com Coimbra, Setúbal e Braga.

Antes de ingressar no Vitoria SC, Zeferino teve ainda uma curta passagem de poucos dias pelo Gil Vicente FC, onde iria jogar e comandar como treinador a equipa da cidade de Barcelos nas competições distritais.

Porem, um convite vindo do Vitoria SC no início da temporada de 1935/36, levou Zeferino à cidade de Guimarães, onde iria auferir um ordenado a rondar os 500 escudos, quantia bem superior aos 200 escudos que ganhava no FC Porto.

O primeiro jogo que Zeferino fará ao serviço do Vitoria SC é uma partida amigável que marca o início de época futebolística de 1935/36 contra o Leixões SC no Campo do Benlhevai, em Guimarães.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1935/36)
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Naquele jogo nota-se uma larga afluência do público vimaranense ávido de ver actuar os novos jogadores da equipa do Vitoria SC, profundamente remodelada, sobretudo, com as entradas do ilustre Zeferino, Clemente, o novo avançado centro e do internacional português Alberto Augusto, que exerceria as funções de jogado/treinador.

O Vitoria SC acabaria por perder aquele encontro frente ao Leixões SC por 2-3, embora tivesse estado a ganhar na 1ª parte por 2-0. Na verdade, a má condição física da equipa vitoriana, própria do início da temporada, ditou a desvantagem verificada na segunda metade da partida, onde os leixonenses recuperaram da desvantagem e, a final, conseguiram vencer.

De qualquer forma, logo neste primeiro jogo com a camisola vitoriana, notou-se a qualidade do médio centro Zeferino, considerado, claramente, como o melhor jogador do Vitoria SC naquela partida.
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(Zeferino no Vitoria SC)
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Mas, o primeiro jogo de carácter oficial de Zeferino no Vitoria SC aconteceu no dia 6 de Outubro de 1935, precisamente, na jornada inaugural do Campeonato Distrital da A.F. de Braga da temporada de 1935/36.

Curiosamente, para o Vitoria SC, o primeiro jogo desta competição teve como opositor o SC Braga, pois o adversário inicialmente sorteado para a 1ª Jornada, a AD Esposende, acabou por ser afastado antes do inicio oficial da prova por não reunir as condições regulamentares exigidas.

Assim, deparava-se ao Vitoria SC o velho rival SC Braga no Campo do Benlhevai logo no primeiro jogo da competição distrital. Uma verdadeira multidão encheu o velho campo vimaranense para assistir a uma esplêndida exibição de Zeferino e ao triunfo do Vitoria SC sobre os arsenalistas por 3-1.

A turma vimaranense, apoiada no futebol categorizado de Zeferino, realizou uma 1ª parte notável e ao intervalo já estava a vencer por 3-0, com golos da autoria de Constantino e um bis de João Jesus.

Na 2ª metade, a equipa do Vitoria SC decaiu um pouco de produção, assumindo, desde então, o SC Braga maior pendor, acabando, todavia, por marcar apenas um golo através de Tamanqueiro.

Aquele resultado era um bom pronuncio para a época que se iniciava, contudo, o Vitoria SC não logrou atingir na plenitude os objectivos definidos. De facto, depois de uma derrota frente ao SC Braga por 5-0, no desafio da 2ª volta do Campeonato Distrital da A.F. de Braga, e um empate na cidade de Fafe, frente ao SC Fafe, por 1-1 na penúltima jornada, deitaram por terra as aspirações do Vitoria SC à conquista do titulo.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1935/36)
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Zeferino fica particularmente ligado a ambos os jogos. No desafio de Braga, decisivo para o SC Braga, ocorreram diversas incidências que levaram os vitorianos a queixaram-se amargamente da arbitragem de Avelino Lima do Colégio de Árbitros de Coimbra.

Ao intervalo o SC Braga já vencia por 1-0 com um golo apontado na transformação de uma grande penalidade inexistente. Já na 2ª parte o SC Braga chegou ao segundo golo num lance em que o seu jogador introduz, visivelmente, a bola com a mão no interior da baliza.

Na sequência dos inúmeros protestos dos jogadores vimaranenses, o médio centro Zeferino, um jogador fundamental na manobra da equipa, acabou por ser expulso. A partir de então, reduzido a dez elementos o Vitoria SC claudicou definitivamente e acabou amplamente derrotado.

Já na partida frente ao SC Fafe que, recorde-se, terminou igualada a 1-1, o destaque vai para o golo apontado por Zeferino, o seu primeiro golo oficial com a camisola do Vitoria SC, apontado na conversão de um livre directo à entrada da área fafense.

Este empate do Vitoria SC na cidade de Fafe na penúltima jornada da competição, quando só o triunfo mantinha os vimaranenses na liderança, permitiu a ultrapassagem na classificação por parte do SC Braga que assim sagrou-se o campeão distrital, enquanto a equipa vitoriana ficou no 2º lugar.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1935/36)
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Na temporada seguinte de 1936/37 o Vitoria SC sagrou-se campeão regional, o primeiro título conquistado por Zeferino ao serviço da formação vimaranense, feito que iria repetir-se na época de 1937/38.

O Vitoria SC começava assim a afirmar-se como o principal clube da região minhota, estatuto que foi solidificando nos anos seguintes e lhe é reconhecido até aos dias de hoje.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1936/37)
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1937/38)
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A época de 1938/39 começa com um grave conflito interno entre Zeferino e o Vitoria SC, um desaguisado que quase manchou a passagem deste nobre jogador pelo clube vimaranense.

Zeferino tinha uma encantadora proposta para regressar ao FC Porto. Por seu turno, o Vitoria SC não estava na disposição de dispensar o contributo de tão valioso jogador a qualquer preço.

O certo é que Zeferino balançou bastante com o cenário de regressar ao FC Porto e assumiu comportamentos pouco condizentes com a conduta sem mácula que ate então tinha assumido no Vitoria SC.

Zeferino ausentou-se dos estágios, não compareceu aos jogos do Vitoria SC e, à revelia do clube vimaranense, chegou a representar o FC Porto em três ocasiões. A tudo isto acrescentou uma entrevista ao Norte Desportivo que mais agudizou as relações do jogador com os responsáveis directivos do Vitoria SC.

Nessa entrevista, Zeferino acusava o Vitoria SC de lhe dever alguns salários e que os seus dirigentes não cumpriam a promessa de o empregar como motorista. Os responsáveis vitorianos, repondo a verdade publicamente, negaram qualquer divida ao jogador e explicaram a razão pela qual o jogador ainda não estava empregado, salientando, porem, que tinha sido um dirigente do clube a custear a carta de condução de Zeferino bem como o veiculo onde aquele exerceria a sua profissão.

Em consequência do conflito, Zeferino foi suspenso pela Direcção do Vitoria SC e impedido de jogar em qualquer outro clube. Zeferino, homem honrado, fez um acto de contrição, desculpou-se pelas atitudes tomadas, e pediu para voltar a jogar no Vitoria SC.

Inicialmente, a Direcção vitoriana não se mostrava pelos ajustes e não estava disposta a perdoar o jogador. Contudo, após algum tempo decorrido, com o publico arrependimento manifestado pelo jogador e a insistência dos sócios do clube em voltar a vê-lo com a camisola do Vitoria SC, os responsáveis vitorianos cederam e levantaram-lhe a suspensão. O admirável Zeferino estava assim de regresso a Guimarães e voltava a dar o seu valioso contributo à equipa do Vitoria SC.

O Vitoria SC foi novamente campeão distrital da A.F. de Braga nessa época de 1938/39 e foi ainda campeão do Minho, numa prova disputada entre os melhores classificados da A.F. de Braga e da A.F. de Viana do Castelo. Nesta temporada, regista-se ainda a participação do Vitoria SC, pela primeira vez na sua história, na Taça de Portugal.

É precisamente nessa competição, disputada no sistema de eliminatórias, com jogos a duas mãos, que o Vitoria SC cumpre o seu primeiro grande feito com clubes de dimensão nacional. Depois de eliminar a Ovarense por 5-0 no Campo do Benlhevai, em Guimarães, o Vitoria SC disputa com o FC Porto, antiga clube de Zeferino, a eliminatória seguinte.

E, sensacionalmente, O Vitoria SC vence em Guimarães o jogo da 1ª mão, disputado no dia 14 de Maio de 1939, por 3-2, feito histórico e bastante festejado na cidade. Acaba todavia eliminado e vergando ao poderio do FC Porto no jogo da 2ª mão, no Campo da Constituição, perdendo por 11-1.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1938/39)
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Na época de 1939/40 o Vitoria SC sagrou-se campeão distrital e campeão do Minho, provas que viria a vencer novamente na época seguinte de 1940/41. Assim, na temporada de 1940/41, a colectividade vimaranense conquista o penta-campeonato distrital e o tri-campeonato do Minho.

Nesta temporada de 1940/41 o Vitoria SC alcança um novo feito a nível nacional. Nos quartos de final da Taça de Portugal os vimaranenses tiveram que defrontar o FC Barreirense, campeão distrital da A.F. de Setúbal e a militar na 1ª Divisão Nacional, um conjunto recheado de jogadores internacionais portugueses.
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No jogo da 1ª mão o Vitoria SC obtém um surpreendente nulo no Barreiro. Contudo, é no jogo da 2ª mão, disputado em Guimarães, que acontece o imprevisto e que causa grande espanto e repercussão a nível nacional. O Vitoria SC goleia o FC Barreirense por 6-1, eliminando a reputada equipa da margem sul do Tejo da Taça de Portugal.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1939/40)
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1940/41)
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(Jogadores d Vitoria SC em 1940/41)
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Chega, entretanto, a marcante época de 1941/42, a temporada em que o Vitoria SC disputou pela primeira vez o Campeonato Nacional da 1ª Divisão e a final da Taça de Portugal, a segunda mais importante prova nacional.

A temporada de 1941/42 iniciou, novamente, com a conquista do título de campeão distrital. Esse triunfo na prova regional permitia ao Vitoria SC disputar com o campeão da A.F. de Aveiro o acesso ao Campeonato Nacional da 1ª Divisão, num jogo a disputar em campo neutro.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1941/42)
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(Zeferino em acção no encontro frente ao CF Belenenses na final da Taça de Portugal da temporada de 1941/42)
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1941/42)
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Esse jogo histórico realizou-se no Campo da Constituição, na cidade do Porto, concretamente, no dia 11 de Janeiro de 1942, onde o Vitoria SC defrontaria o CF União de Lamas.

Liderado por Zeferino no meio campo, o Vitoria SC venceu aquele decisivo encontro por 6-4, concretizado, assim, o grande sonho de participar na principal competição futebolística nacional e onde se encontravam os maiores clubes portugueses.
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(O CF União de Lamas e o Vitoria SC no celebre jogo de 1941/42)
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O primeiro jogo do Vitória SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão ocorreu no dia 18 de Janeiro de 1942, no Campo do Benlhevai, em Guimarães, frente ao SC Olhanense, tendo os vitorianos vencido por 4-0.

A prova era disputada por 12 clubes. O Vitoria SC terminou a prova classificado no 11º lugar com 13 pontos, e nos 22 jogos da competição, o clube vimaranense venceu 6 partidas, perdeu 15 e empatou apenas 1.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1941/42)
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(Zeferino no Vitoria SC)
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Zeferino foi totalista na equipa do Vitoria SC. Realizou todos os 22 jogos da competição, tendo apontado 5 golos. Foi, inquestionavelmente, um dos jogadores mais cotados do clube vimaranense.

Esta época de 1941/42 teve ainda outro ponto alto, nomeadamente, quando a equipa vitoriana atingiu a final da Taça de Portugal, depois de eliminar na meia final da competição o Sporting CP.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1941/42)
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(Zeferino em acção numa partida entre o CF Belenenses e o Vitoria SC)
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A final da Taça de Portugal disputou-se no dia 12 de Julho de 1942, no Campo do Lumiar, em Lisboa, frente ao CF Belenenses, uma grande potência do futebol luso naquela época.

O médio Zeferino foi, naturalmente, titular na equipa do Vitoria SC que acabou derrotada por 2-0, com golos de Quaresma e Gilberto, conquistando o CF Belenenses a Taça de Portugal da temporada de 1941/42.

Em Zeferino, alem das inegáveis qualidades técnicas que o definiam como uma dos melhores centrocampistas portugueses, tornou-se celebre um adereço que utilizava em cada um dos jogos. De facto, a partir de determinada altura da sua carreira, Zeferino não dispensava o uso de uma boina ou gorro preto na cabeça e desde então é visível e diferencia-se em todas as imagens como desportista.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1941/42)
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(Zeferino com o seu celebre gorro no Vitoria SC)
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Na época de 1942/43 o Vitoria SC continuava a ser treinado por Alberto Augusto e sagrou-se, mais uma vez, campeão regional ao vencer o Campeonato Distrital da A. F. de Braga com apenas uma derrota em toda a competição.

Como campeão distrital o Vitoria SC foi apurado a disputar a edição do Campeonato Nacional da 1ª Divisão naquela temporada, acabando classificado na 8ª posição da tabela geral, recordando-se, como ponto mais alto da prova, a goleada infligida ao campeão nacional SL Benfica, no Campo do Benlhevai, em Guimarães, por 5-1. Zeferino continuou titular do Vitoria SC, realizando 18 jogos ao longo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão e apontado 2 golos.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1942/43)
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(Zeferino no Vitoria SC)
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(Vitoria SC e SC Olhanense na época de 1942/43)
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Na época seguinte de 1943/44, o Vitoria SC, sem qualquer dificuldade, sagrou-se novamente vencedor do Campeonato Distrital da A.F. de Braga, com cinco pontos de vantagem sobre o 2º classificado.

Já no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1943/44 o Vitoria SC realizou uma má época motivada, essencialmente, pela interdição que o Campo do Benlhevai foi alvo.

De qualquer forma, o Vitoria SC acabou a competição classificado no 8º lugar, com o capitão Zeferino a actuar em 15 jogos oficiais e a ser o autor de 1 golo da equipa vitoriana na competição.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1943/44)
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(Zeferino na capa da conceituada Revista "Stadium")
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(A equipa do Vitoria SC na homenagem a Franklim)
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A época de 1944/45 foi a ultima temporada de Zeferino como titular no Vitoria SC. A idade ia avançando e o célebre médio tornava-se um veterano. Ainda assim foi importantíssimo na campanha do Vitoria SC, tanto a nível regional como nacional.

Invariavelmente, o Vitoria SC voltou a sagrar-se campeão regional nesta temporada enquanto no Campeonato Nacional da 1ª Divisão repetiu a 8ª posição na tabela classificativa.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1944/45)
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Na principal competição nacional, Zeferino realizou 18 jogos, tendo apontado 4 golos na prova. No final da época esteve prevista a festa de despedida de Zeferino num jogo entre o Vitoria SC e o Boavista FC.

No entanto, aquela festa de despedida acabou por não se realizar porque Zeferino acedeu ao desejo da Direcção e dos associados do Vitoria SC em continuar a jogar durante mais uma temporada.
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(Zeferino em acção na partida entre o GD Estoril Praia e o Vitoria SC na época de 1944/45)
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A época de 1945/56 trás ao comando técnico da equipa do Vitoria SC o húngaro Alexandre Peics. O Vitoria SC sagra-se campeão da região, mas, desta vez, numa competição intitulada como Campeonato do Minho devido à extinção da A. F. de Viana do Castelo o que levou à junção numa só prova das equipas da região de Braga e de Viana do Castelo.

No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1945/46, onde o Vitoria SC foi novamente o 8º classificado, o veterano Zeferino, praticamente, não foi utilizado. Jogou somente um jogo e não apontou qualquer golo.

Havia chegado o momento de abandonar definitivamente a pratica do futebol. Zeferino fez a sua despedida das lides desportivas no dia 30 de Junho de 1946, numa festa de carinho e simpatia prestada pelo Vitoria SC ao honroso atleta.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1945/46)
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1945/46)
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Abandonou a pratica do futebol, mas não deixou Guimarães ou a sua dedicação ao Vitoria SC. Foi treinador das camadas jovens do clube, celebrizando-se, no final da década de 50, no comando da equipa de juniores vencedora do Campeonato Distrital da A.F. de Braga da época de 1958/59, onde pontificava Pedras.
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(Equipa de Juniores do Vitoria SC na época de 1958/59)
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(Equipa de Juniores do Vitoria SC na temporada de 1958/59)
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E em Guimarães viveu ate ao final da vinda. Ingressou no Vitoria SC em 1935 e em Guimarães ficou para sempre. Faleceu, com 62 anos de idade, em Agosto de 1976, constituindo o seu funeral, alem do pesar, uma verdadeira manifestação de gratidão e reconhecimento por parte dos associados vitorianos.
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(Zeferino Duarte)


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Cartucho


Cartucho foi no início da década de 70 uma das maiores promessas do futebol vimaranense. Produto das escolas de formação do clube, Cartucho chegou muito jovem à equipa principal do Vitoria SC. Infelizmente, o longo período a prestar serviço militar nos tempos da guerra colonial afastou-o da esperada trajectória ascendente no futebol nacional, percurso que seria tão natural num jogador dotado de raras qualidades.

Inversamente ao esperado, Cartucho acabou por realizar uma longa e notável carreira futebolística em vários clubes da região norte da 2ª Divisão Nacional, onde era um jogador extremamente respeitado e muito solicitado.

António José da Silva Ribeiro, o verdadeiro nome de Cartucho, é natural da cidade de Guimarães, localidade onde nasceu no dia 14 de Dezembro de 1952. Ingressou nas escolas do futebol vitoriano no final da década de 60, destacando-se a conquista do Campeonato Distrital na temporada de 1969/70 na categoria de juvenis.
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(Equipa de juvenis do Vitoria SC na época de 1969/70)
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Cedo demonstrou ser um jogador com enorme potencialidade e dotado de faculdades invulgares para a prática do futebol. Os responsáveis vimaranenses facilmente perceberam a pérola que tinham entre mãos e procuraram dar todas as condições ao jovem jogador para singrar na equipa principal.

E de facto foi ainda muito jovem que Cartucho surgiu a jogar na equipa principal do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão e na Taça de Portugal. Numa ascensão surpreendente, Cartucho, inscrito na equipa de juniores na época de 1970/71, foi promovido à primeira equipa do Vitoria SC onde actuou admiravelmente.
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(Plantel do Vitoria SC na temporada de 1970/71)
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(Cartucho no Vitoria SC)
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Os seus desempenhos não só corresponderam às expectativas criadas como começou a merecer por parte da crítica desportiva os mais rasgados elogios. Nesse período, os dirigentes vitorianos ofereceram ao jovem jogador um contrato de futebolista profissional o que permitiu a Cartucho dedicar-se exclusivamente ao futebol e deixar de lado a sua profissão de empregado de armazém.

No início da época de 1970/71 o Vitoria SC fez regressar ao comando técnico da equipa principal o treinador brasileiro Jorge Vieira, consumando-se assim o ansiado regresso daquele técnico ao clube, tal como os sócios tanto desejavam, criando, desde logo, uma onda de grande entusiasmo e optimismo junto da massa associativa.

A chamada do jovem Cartucho da equipa de juniores à equipa principal do Vitoria SC aconteceu à 8ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1970/71.
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(Cartucho no seu jogo de estreia pela equipa principal do Vitoria SC no desafio frente à Académica de Coimbra no Estádio 28 de Maio em Braga)

Esta primeira chamada, é certo, deu-se por vários impedimentos em jogadores fulcrais na equipa do Vitoria SC. Por um lado destacam-se as lesões, sobretudo, do defesa , sobretudo, do defesa Manuel Pinto e nos avançados Mendes e Jorge Gonçalves. Por outro lado, havia jogadores em deficiente forma física por períodos de lesão recente, como era o caso de Artur, Bernardo da Velha e Joaquim Jorge.

Neste encontra da 8ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, Vitoria SC teve que defrontar a Académica de Coimbra no Estádio 28 de Maio, em Braga, no actual Estádio 1º de Maio, cumprindo, assim, um jogo de interdição do Estádio Municipal de Guimarães na sequencia de incidentes registados no final de um jogo anterior contra o Vitoria de Setúbal.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1970/71)
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Nesta partida registou-se a estreia de três jovens jogadores na equipa principal do Vitoria SC. Gouveia, um jovem vindo de Angola, Ibraim e Cartucho, produtos da formação vimaranense, fizeram o seu primeiro jogo oficial com a equipa principal do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão neste desafio da 8ª jornada disputado na tarde de domingo do dia 8 de Novembro de 1970.

Relativamente às incidências da partida, diga-se, desde logo, que o Estádio 28 de Maio em Braga registou uma grande afluência de público, numa bonita tarde solarenga de Outono.

Entre o publico que assistiu ao desafio, destaque para a presença de muitos adeptos do SC Braga – clube minhoto a militar na 2ª Divisão Nacional naquela altura - que apoiaram freneticamente a equipa da Académica de Coimbra, facto que causou, naturalmente, uma grande revolta nos adeptos vimaranenses, que chegaram, tempos depois, a propor em assembleia geral do clube que o Vitoria SC nunca mais jogasse na cidade de Braga quando o seu estádio estivesse interdito.

O Vitoria SC, certamente fruto das várias ausências, apresentou-se nesta partida especialmente desorganizado, incapaz de ultrapassar a bem montada defesa conimbricense. A Académica de Coimbra, por seu turno, alem de se revelar extremamente segura a defender, conseguiu com sucesso criar óptimas oportunidades de golo, sempre em jogadas de contra ataque, engendradas por Gervásio e Vítor Campos a municiar os atacantes António Jorge e Manuel António.

Foi assim que António Jorge chegou aos golos da Académica de Coimbra, respectivamente aos 9 e 40 minutos da 1ª parte. A vencer confortavelmente, a equipa de Coimbra limitou-se a deixar correr o tempo ao longo da 2ª metade do desafio, enquanto o Vitoria SC revelava-se incompetente para alterar o rumo dos acontecimentos.

Em desvantagem, o técnico do Vitoria SC procedeu à primeira alteração na equipa aos 53 minutos, fazendo entrar o jovem vimaranense Cartucho para o lugar de Zezinho, também ele, notoriamente, em deficiente forma física por se encontrar naquela altura a cumprir serviço militar.

O Vitoria SC só conseguiu reduzir o marcador aos 87 minutos, por intermédio do jovem Gouveia, fixando assim em 1-2 aquele que viria a ser o resultado final deste desafio entre a turma vimaranense e a Académica de Coimbra.

A partir de então o jovem Cartucho passou a fazer parte das opções técnicas da equipa principal do Vitoria SC e um valor útil no plantel, embora também jogasse na equipa de reservas e, esporadicamente, na equipa de juniores.
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(Cartucho em acção pela equipa do Vitoria SC num desafio frente ao GD Riopele a contar para a Taça Ribeiro dos Reis na temporada de 1970/71)
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Chegou também aos trabalhos da Selecção Nacional de juniores de Portugal e aqui terá provado uma das primeiras grandes injustiças da sua carreira. Portugal defrontaria a Checoslováquia e na preparação para esse jogo a equipa nacional realizou trabalhos preparatórios convocando para o efeito 25 jogadores.

Entre eles estavam os jovens vitorianos Cartucho e Ibraim. Cartucho começou o treino de conjunto jogando a primeira parte pela equipa “B” e marcando dois golos. No segundo tempo do treino de conjunto passou a jogar na equipa “A” e voltando a marcar mais dois golos, terminando o treino com um empate a 2-2, curiosamente, com os quatro golos a serem marcados por Cartucho.

No final do treino, porem, veio a desilusão, com o jovem vitoriano Cartucho a não ser incluído na lista de convocados que afinal iriam jogar a partida oficial contra a congénere da Checoslováquia.

Na temporada de 1970/71, Cartucho actuou em 10 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, sem apontar qualquer golo, enquanto na edição da Taça de Portugal alinhou num jogo apenas.

Mas foi nesse encontro disputado na Taça de Portugal que Cartucho veio a marcar o seu primeiro golo na equipa principal do Vitoria SC, embora, não fosse aquele tento suficiente para manter a turma vitoriana em prova.

No dia 16 de Maio de 1971 o Vitoria SC defrontou o Leixões SC no Estádio do Mar, em Matosinhos, numa partida a contar para o 16/avos de final da Taça de Portugal. Numa partida frenética, a equipa vimaranense acabou por ser derrotada por 4-3, com os golos do Vitoria SC a serem apontados por Artur, Jorge Gonçalves e Cartucho, que entrou no decorrer do jogo a substituir Mendes.

Esta época de 1970/71 foi, porem, uma temporada marcada pelos maus resultados no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, onde a equipa do Vitoria SC teve na iminência de descer à 2ª Divisão Nacional.

O Vitoria SC só garantiria a manutenção no último jogo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, empatando 0-0 no Estádio das Antas contra o FC Porto. Os vimaranenses, secundados por enorme falange de apoio, foram nesta partida verdadeiramente estóicos na conduta, aguentando com brio e determinação a igualdade, um resultado suficiente para garantir a permanência.

A temporada seguinte de 1971/72 já começou com Cartucho a integrar o plantel do Vitoria SC desde o início da época, agora, sob os comandos do conceituado treinador português Mário Wilson.
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(Plantel do Vitoria SC na época de 1971/72)
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(Cartucho no Vitoria SC)
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Cartucho era um avançado centro temível, tecnicista e rapidíssimo. Apesar de ser um jogador de baixa estatura, Cartucho não deixava de ser um jogador muito combativo, mas era efectivamente na sua mobilidade e veia goleadora que se encontravam a principais virtudes.

Ao longo da sua carreira foi muitas vezes o melhor marcador da sua equipa, mas também experimentou varias outras posições na zona ofensiva, quer como extremo, quer actuando como médio ofensivo.
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(Plantel do Vitoria SC na temporada de 1971/72)
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Não sendo considerado um titular indiscutível na equipa do Vitoria SC, Cartucho foi um elemento importante na versão da turma vimaranense ao longo da temporada de 1971/72. Actuou em 17 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão e marcou 1 golo, enquanto na Taça de Portugal alinhou em duas partidas.

O Vitoria SC realizou uma época acima média, sempre próxima dos lugares da frente no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, superando todas as expectativas iniciais. Terminou posicionado no 6º lugar da tabela geral, numa competição que veio a ser vencida pelo SL Benfica e cuja grande sensação foi a CUF que acabou classificado no 4º posto.

Esta época de 1971/72 viria a ser, todavia, a ultima temporada de Cartucho no Vitoria SC, pois seguiu-se um longo período a cumprir o serviço militar, acabando mesmo por ser mobilizado para a Guiné em 1974.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1971/72)
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Ainda foi cedido pelo Vitoria SC a vários clubes nortenhos, mas definitivamente, aquele período fora da competição estragou-lhe a carreira e a afirmação no seu clube do coração.

Representou o SC Braga na 2ª Divisão Nacional, Zona Norte, e surgiu no FC Penafiel na época de 1975/76. Na temporada de 1976/77, no mesmo escalão, rumou à AD Fafe, clube onde Cartucho acabou por fazer parte da história.
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(Plantel da AD Fafe na temporada de 1976/77)
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(Equipa da AD Fafe na época de 1976/77)
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Jogou duas épocas consecutivas na AD Fafe e na época de 1978/79 representou novamente o FC Penafiel. Em 1979/80 voltou à AD Fafe onde lutou pela subida ao primeiro escalão nacional precisamente com a formação penafidelense.

A equipa fafense terminou o Campeonato Nacional da 2ª Divisão, Zona Norte, no 2º lugar da classificação e acabou por ser o FC Penafiel a subir ao primeiro escalão do futebol português.
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(Plantel da AD Fafe na época de 1977/78)
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(Cartucho na AD Fafe)
. (Equipa da AD Fafe na temporada de 1977/78)
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(FC Penafiel na temporada de 1978/79)
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(Equipa do FC Penafiel na época de 1978/79)
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(Equipa do FC Penafiel na época de 1978/79)
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A partir de 1980/81 e durante duas épocas consecutivas, Cartucho representou o GD Bragança também na Zona Norte do Campeonato Nacional da 2ª Divisão e em 1982/83 voltou ao Minho para jogar no FC Vizela, clube naquela altura do concelho de Guimarães que surpreendeu ao chegar à 1ª Divisão Nacional no final da temporada de 1983/84.

Cartucho foi preponderante nesta histórica equipa vizelense que conseguiu garantir a única presença no Campeonato Nacional da 1ª Divisão na época de 1984/85. Mas Cartucho não teve o privilégio de voltar a pisar os principais palcos do futebol português, pois nessa temporada de 1984/85 ingressou, novamente, na AD Fafe.
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(Equipa do GD Bragança na época de 1980/81)
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(Equipa do GD Bragança na temporada de 1981/82)
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(Equipa do GD Bragança na temporada de 1981/82)
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(Plantel do FC Vizela na época de 1982/83)
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(Cartucho no FC Vizela)
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(Equipa do FC Vizela na temporada de 1982/83)
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(Equipa do FC Vizela na época de 1983/84)
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(Cartucho no FC Vizela)
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(Plantel da AD Fafe na temporada de 1984/85)
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(Cartucho na AD Fafe)
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(Equipa da AD Fafe na época de 1984/85)
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Regressaria, porem, a Vizela depois da efémera passagem do clube vizelense pela 1ª Divisão Nacional, no início da época de 1985/86 para voltar a lutar pela subida ao primeiro escalão do futebol português.

A equipa do FC Vizela não teve o mesmo êxito e ficou longe da subida de divisão, embora terminasse classificada no 3º lugar da Zona Norte do Campeonato Nacional da 2ª Divisão.

Já um veterano jogador, Cartucho contribuiu para a ascensão do Moreirense FC. Ingressou na equipa de Moreira de Cónegos, também do concelho de Guimarães, na época de 1986/87 e ajudou o clube a subir da 3ª Divisão Nacional ao segundo escalão do futebol português.

Terminou a carreira de futebolista perto dos 36 anos de idade na temporada de 1987/88 ao serviço do Moreirense FC a militar na Zona Norte do Campeonato Nacional da 2ª Divisão.

Não se afastou do futebol e enveredou, posteriormente, pela carreira de técnico. Foi treinador de vários clubes nortenhos nas divisões secundárias do futebol português e trabalhou durante vários anos nas escolas de formação do Vitoria SC ajudando a criar vários futebolistas vitorianos.


Autor: Alberto de Castro Abreu 1 Comentários

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