Glórias do Passado: Cartucho

 

Cartucho


Cartucho foi no início da década de 70 uma das maiores promessas do futebol vimaranense. Produto das escolas de formação do clube, Cartucho chegou muito jovem à equipa principal do Vitoria SC. Infelizmente, o longo período a prestar serviço militar nos tempos da guerra colonial afastou-o da esperada trajectória ascendente no futebol nacional, percurso que seria tão natural num jogador dotado de raras qualidades.

Inversamente ao esperado, Cartucho acabou por realizar uma longa e notável carreira futebolística em vários clubes da região norte da 2ª Divisão Nacional, onde era um jogador extremamente respeitado e muito solicitado.

António José da Silva Ribeiro, o verdadeiro nome de Cartucho, é natural da cidade de Guimarães, localidade onde nasceu no dia 14 de Dezembro de 1952. Ingressou nas escolas do futebol vitoriano no final da década de 60, destacando-se a conquista do Campeonato Distrital na temporada de 1969/70 na categoria de juvenis.
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(Equipa de juvenis do Vitoria SC na época de 1969/70)
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Cedo demonstrou ser um jogador com enorme potencialidade e dotado de faculdades invulgares para a prática do futebol. Os responsáveis vimaranenses facilmente perceberam a pérola que tinham entre mãos e procuraram dar todas as condições ao jovem jogador para singrar na equipa principal.

E de facto foi ainda muito jovem que Cartucho surgiu a jogar na equipa principal do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão e na Taça de Portugal. Numa ascensão surpreendente, Cartucho, inscrito na equipa de juniores na época de 1970/71, foi promovido à primeira equipa do Vitoria SC onde actuou admiravelmente.
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(Plantel do Vitoria SC na temporada de 1970/71)
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(Cartucho no Vitoria SC)
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Os seus desempenhos não só corresponderam às expectativas criadas como começou a merecer por parte da crítica desportiva os mais rasgados elogios. Nesse período, os dirigentes vitorianos ofereceram ao jovem jogador um contrato de futebolista profissional o que permitiu a Cartucho dedicar-se exclusivamente ao futebol e deixar de lado a sua profissão de empregado de armazém.

No início da época de 1970/71 o Vitoria SC fez regressar ao comando técnico da equipa principal o treinador brasileiro Jorge Vieira, consumando-se assim o ansiado regresso daquele técnico ao clube, tal como os sócios tanto desejavam, criando, desde logo, uma onda de grande entusiasmo e optimismo junto da massa associativa.

A chamada do jovem Cartucho da equipa de juniores à equipa principal do Vitoria SC aconteceu à 8ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1970/71.
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(Cartucho no seu jogo de estreia pela equipa principal do Vitoria SC no desafio frente à Académica de Coimbra no Estádio 28 de Maio em Braga)

Esta primeira chamada, é certo, deu-se por vários impedimentos em jogadores fulcrais na equipa do Vitoria SC. Por um lado destacam-se as lesões, sobretudo, do defesa , sobretudo, do defesa Manuel Pinto e nos avançados Mendes e Jorge Gonçalves. Por outro lado, havia jogadores em deficiente forma física por períodos de lesão recente, como era o caso de Artur, Bernardo da Velha e Joaquim Jorge.

Neste encontra da 8ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, Vitoria SC teve que defrontar a Académica de Coimbra no Estádio 28 de Maio, em Braga, no actual Estádio 1º de Maio, cumprindo, assim, um jogo de interdição do Estádio Municipal de Guimarães na sequencia de incidentes registados no final de um jogo anterior contra o Vitoria de Setúbal.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1970/71)
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Nesta partida registou-se a estreia de três jovens jogadores na equipa principal do Vitoria SC. Gouveia, um jovem vindo de Angola, Ibraim e Cartucho, produtos da formação vimaranense, fizeram o seu primeiro jogo oficial com a equipa principal do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão neste desafio da 8ª jornada disputado na tarde de domingo do dia 8 de Novembro de 1970.

Relativamente às incidências da partida, diga-se, desde logo, que o Estádio 28 de Maio em Braga registou uma grande afluência de público, numa bonita tarde solarenga de Outono.

Entre o publico que assistiu ao desafio, destaque para a presença de muitos adeptos do SC Braga – clube minhoto a militar na 2ª Divisão Nacional naquela altura - que apoiaram freneticamente a equipa da Académica de Coimbra, facto que causou, naturalmente, uma grande revolta nos adeptos vimaranenses, que chegaram, tempos depois, a propor em assembleia geral do clube que o Vitoria SC nunca mais jogasse na cidade de Braga quando o seu estádio estivesse interdito.

O Vitoria SC, certamente fruto das várias ausências, apresentou-se nesta partida especialmente desorganizado, incapaz de ultrapassar a bem montada defesa conimbricense. A Académica de Coimbra, por seu turno, alem de se revelar extremamente segura a defender, conseguiu com sucesso criar óptimas oportunidades de golo, sempre em jogadas de contra ataque, engendradas por Gervásio e Vítor Campos a municiar os atacantes António Jorge e Manuel António.

Foi assim que António Jorge chegou aos golos da Académica de Coimbra, respectivamente aos 9 e 40 minutos da 1ª parte. A vencer confortavelmente, a equipa de Coimbra limitou-se a deixar correr o tempo ao longo da 2ª metade do desafio, enquanto o Vitoria SC revelava-se incompetente para alterar o rumo dos acontecimentos.

Em desvantagem, o técnico do Vitoria SC procedeu à primeira alteração na equipa aos 53 minutos, fazendo entrar o jovem vimaranense Cartucho para o lugar de Zezinho, também ele, notoriamente, em deficiente forma física por se encontrar naquela altura a cumprir serviço militar.

O Vitoria SC só conseguiu reduzir o marcador aos 87 minutos, por intermédio do jovem Gouveia, fixando assim em 1-2 aquele que viria a ser o resultado final deste desafio entre a turma vimaranense e a Académica de Coimbra.

A partir de então o jovem Cartucho passou a fazer parte das opções técnicas da equipa principal do Vitoria SC e um valor útil no plantel, embora também jogasse na equipa de reservas e, esporadicamente, na equipa de juniores.
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(Cartucho em acção pela equipa do Vitoria SC num desafio frente ao GD Riopele a contar para a Taça Ribeiro dos Reis na temporada de 1970/71)
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Chegou também aos trabalhos da Selecção Nacional de juniores de Portugal e aqui terá provado uma das primeiras grandes injustiças da sua carreira. Portugal defrontaria a Checoslováquia e na preparação para esse jogo a equipa nacional realizou trabalhos preparatórios convocando para o efeito 25 jogadores.

Entre eles estavam os jovens vitorianos Cartucho e Ibraim. Cartucho começou o treino de conjunto jogando a primeira parte pela equipa “B” e marcando dois golos. No segundo tempo do treino de conjunto passou a jogar na equipa “A” e voltando a marcar mais dois golos, terminando o treino com um empate a 2-2, curiosamente, com os quatro golos a serem marcados por Cartucho.

No final do treino, porem, veio a desilusão, com o jovem vitoriano Cartucho a não ser incluído na lista de convocados que afinal iriam jogar a partida oficial contra a congénere da Checoslováquia.

Na temporada de 1970/71, Cartucho actuou em 10 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, sem apontar qualquer golo, enquanto na edição da Taça de Portugal alinhou num jogo apenas.

Mas foi nesse encontro disputado na Taça de Portugal que Cartucho veio a marcar o seu primeiro golo na equipa principal do Vitoria SC, embora, não fosse aquele tento suficiente para manter a turma vitoriana em prova.

No dia 16 de Maio de 1971 o Vitoria SC defrontou o Leixões SC no Estádio do Mar, em Matosinhos, numa partida a contar para o 16/avos de final da Taça de Portugal. Numa partida frenética, a equipa vimaranense acabou por ser derrotada por 4-3, com os golos do Vitoria SC a serem apontados por Artur, Jorge Gonçalves e Cartucho, que entrou no decorrer do jogo a substituir Mendes.

Esta época de 1970/71 foi, porem, uma temporada marcada pelos maus resultados no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, onde a equipa do Vitoria SC teve na iminência de descer à 2ª Divisão Nacional.

O Vitoria SC só garantiria a manutenção no último jogo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, empatando 0-0 no Estádio das Antas contra o FC Porto. Os vimaranenses, secundados por enorme falange de apoio, foram nesta partida verdadeiramente estóicos na conduta, aguentando com brio e determinação a igualdade, um resultado suficiente para garantir a permanência.

A temporada seguinte de 1971/72 já começou com Cartucho a integrar o plantel do Vitoria SC desde o início da época, agora, sob os comandos do conceituado treinador português Mário Wilson.
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(Plantel do Vitoria SC na época de 1971/72)
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(Cartucho no Vitoria SC)
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Cartucho era um avançado centro temível, tecnicista e rapidíssimo. Apesar de ser um jogador de baixa estatura, Cartucho não deixava de ser um jogador muito combativo, mas era efectivamente na sua mobilidade e veia goleadora que se encontravam a principais virtudes.

Ao longo da sua carreira foi muitas vezes o melhor marcador da sua equipa, mas também experimentou varias outras posições na zona ofensiva, quer como extremo, quer actuando como médio ofensivo.
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(Plantel do Vitoria SC na temporada de 1971/72)
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Não sendo considerado um titular indiscutível na equipa do Vitoria SC, Cartucho foi um elemento importante na versão da turma vimaranense ao longo da temporada de 1971/72. Actuou em 17 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão e marcou 1 golo, enquanto na Taça de Portugal alinhou em duas partidas.

O Vitoria SC realizou uma época acima média, sempre próxima dos lugares da frente no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, superando todas as expectativas iniciais. Terminou posicionado no 6º lugar da tabela geral, numa competição que veio a ser vencida pelo SL Benfica e cuja grande sensação foi a CUF que acabou classificado no 4º posto.

Esta época de 1971/72 viria a ser, todavia, a ultima temporada de Cartucho no Vitoria SC, pois seguiu-se um longo período a cumprir o serviço militar, acabando mesmo por ser mobilizado para a Guiné em 1974.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1971/72)
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Ainda foi cedido pelo Vitoria SC a vários clubes nortenhos, mas definitivamente, aquele período fora da competição estragou-lhe a carreira e a afirmação no seu clube do coração.

Representou o SC Braga na 2ª Divisão Nacional, Zona Norte, e surgiu no FC Penafiel na época de 1975/76. Na temporada de 1976/77, no mesmo escalão, rumou à AD Fafe, clube onde Cartucho acabou por fazer parte da história.
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(Plantel da AD Fafe na temporada de 1976/77)
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(Equipa da AD Fafe na época de 1976/77)
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Jogou duas épocas consecutivas na AD Fafe e na época de 1978/79 representou novamente o FC Penafiel. Em 1979/80 voltou à AD Fafe onde lutou pela subida ao primeiro escalão nacional precisamente com a formação penafidelense.

A equipa fafense terminou o Campeonato Nacional da 2ª Divisão, Zona Norte, no 2º lugar da classificação e acabou por ser o FC Penafiel a subir ao primeiro escalão do futebol português.
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(Plantel da AD Fafe na época de 1977/78)
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(Cartucho na AD Fafe)
. (Equipa da AD Fafe na temporada de 1977/78)
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(FC Penafiel na temporada de 1978/79)
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(Equipa do FC Penafiel na época de 1978/79)
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(Equipa do FC Penafiel na época de 1978/79)
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A partir de 1980/81 e durante duas épocas consecutivas, Cartucho representou o GD Bragança também na Zona Norte do Campeonato Nacional da 2ª Divisão e em 1982/83 voltou ao Minho para jogar no FC Vizela, clube naquela altura do concelho de Guimarães que surpreendeu ao chegar à 1ª Divisão Nacional no final da temporada de 1983/84.

Cartucho foi preponderante nesta histórica equipa vizelense que conseguiu garantir a única presença no Campeonato Nacional da 1ª Divisão na época de 1984/85. Mas Cartucho não teve o privilégio de voltar a pisar os principais palcos do futebol português, pois nessa temporada de 1984/85 ingressou, novamente, na AD Fafe.
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(Equipa do GD Bragança na época de 1980/81)
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(Equipa do GD Bragança na temporada de 1981/82)
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(Equipa do GD Bragança na temporada de 1981/82)
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(Plantel do FC Vizela na época de 1982/83)
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(Cartucho no FC Vizela)
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(Equipa do FC Vizela na temporada de 1982/83)
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(Equipa do FC Vizela na época de 1983/84)
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(Cartucho no FC Vizela)
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(Plantel da AD Fafe na temporada de 1984/85)
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(Cartucho na AD Fafe)
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(Equipa da AD Fafe na época de 1984/85)
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Regressaria, porem, a Vizela depois da efémera passagem do clube vizelense pela 1ª Divisão Nacional, no início da época de 1985/86 para voltar a lutar pela subida ao primeiro escalão do futebol português.

A equipa do FC Vizela não teve o mesmo êxito e ficou longe da subida de divisão, embora terminasse classificada no 3º lugar da Zona Norte do Campeonato Nacional da 2ª Divisão.

Já um veterano jogador, Cartucho contribuiu para a ascensão do Moreirense FC. Ingressou na equipa de Moreira de Cónegos, também do concelho de Guimarães, na época de 1986/87 e ajudou o clube a subir da 3ª Divisão Nacional ao segundo escalão do futebol português.

Terminou a carreira de futebolista perto dos 36 anos de idade na temporada de 1987/88 ao serviço do Moreirense FC a militar na Zona Norte do Campeonato Nacional da 2ª Divisão.

Não se afastou do futebol e enveredou, posteriormente, pela carreira de técnico. Foi treinador de vários clubes nortenhos nas divisões secundárias do futebol português e trabalhou durante vários anos nas escolas de formação do Vitoria SC ajudando a criar vários futebolistas vitorianos.


Autor: Alberto de Castro Abreu

EXCELENTE ARTIGO, PENA AS FOTOS SEREM PEQUENAS. É POSSÍVEL CONSEGUIR AS FOTOS DA AD FAFE COM MELHOR QUALIDADE?
 
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