Rola é natural de Estarreja, datando o seu nascimento ao dia 13 de Maio de 1927. A paixão pelo futebol, afinal o fenómeno que percorrerá toda a sua vida, começou, como era tradicional, nas improvisadas futeboladas com os miúdos da terra.
Desde cedo, Rola evidenciou potencial suficiente para singrar no futebol. Mas só com a fundação do CD Estarreja, o clube da terra, é que Rola, já com 19 anos de idade, foi oficialmente inscrito na Associação de Futebol de Aveiro para disputar competições oficiais.
Antes de transferir-se, sensacionalmente, para o Sporting CP, Rola jogou 3 épocas no CD Estarreja. Em 1946/47 jogaram o Campeonato Promocionário da A. F. de Aveiro, que o CD Estarreja venceu, subindo à 2ª Divisão Distrital.
Na época seguinte, o CD Estarreja classificou-se no 4º lugar da 2ª Divisão Distrital da A. F. Aveiro, para na temporada seguinte, de 1948/49, vencer a competição e ingressar pela primeira vez na história do clube de Estarreja no primeiro escalão daquela associação.
Nestas 3 temporadas, Rola, actuando como avançado centro ou como extremo, foi a figura de destaque na equipa do CD Estarreja, sendo considerado, ainda hoje, como uma das maiores referências da história daquele modesto clube.
As exibições do jovem avançado nas competições regionais de Aveiro despertaram o interesse de clubes da maior nomeada do futebol português. Pela sua contratação interessaram-se, por exemplo, clubes como o SC Beira Mar, RD Águeda e o UD Oliveirense, os principais clubes da região de Aveiro, mais também clubes como o GD Estoril Praia, o SC Covilhã, o Boavista FC, a Académica de Coimbra.
Surpreendente foi o interesse do FC Porto, SL Benfica e Sporting CP, os maiores clubes nacionais, pela contratação de Rola. Na época causou grande sensação a observação in loco protagonizada pelo conceituado treinador do SL Benfica, o inglês Ted Smith, que se deslocou propositadamente a Avanca para assistir a um encontro de futebol regional entre o clube daquela localidade e o CD Estarreja, unicamente com o intuito de observar o desempenho do avançado Rola.
Na disputa pela sua contratação, foi o Sporting CP que ganhou a corrida, acabando por contratar o jovem Rola ao CD Estarreja pela quantia de 70 contos. Naquela altura o Sporting CP procurava desesperadamente um substituto para o célebre Peyroteo, existindo grandes esperanças nos responsáveis sportinguistas de que Rola fosse o tal substituto.
Referencia ainda para outro clube na carreira de Rola. Vinculado ao CD Estarreja, Rola representou o SC Beira Mar em dois jogos internacionais. Naquela época era usual acontecer situações deste género, com clubes a solicitarem a participação de jogadores de outras formações para realizarem jogos especiais.
É assim que Rola surge ao serviço do SC Beira Mar, em 6 de Fevereiro de 1949, num desafio entre a equipa aveirense e o First de Viena, clube austríaco, que venceu por 3-4, em partida realizada no Estádio Mário Duarte.
Esta situação repetiu-se no dia 17 de Abril de 1949, também no Estádio Mário Duarte, desta feita, com a equipa do SC Beira Mar a defrontar e a vencer o FC Viena da Áustria, por 4-2, com Rola a apontar um dos golos daquele desafio.
Somente com 22 anos de idade, cheio de ilusões, o jovem Rola surge na equipa do Sporting CP na época de 1949/50, sob a alçado do treinador Alexandre Peics, antigo técnico do Vitoria SC.
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Os primeiros jogos ao serviço do Sporting CP foram deveras prometedores, alinhando na frente de ataque leonina recheada de jogadores internacionais, quer na posição de avançado, quer, pela sua polivalência, no lugar de extremo. Auguravam, por isso, um futuro bem risonho ao jovem avançado Rola.
Fixou-se como titular na equipa do Sporting CP, até que a infelicidade lhe bateu à porta pela primeira vez na sua carreira. Fractura do menisco atirou Rola para fora dos relvados durante longo tempo. Não jogou no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1949/50, onde o Sporting CP foi o 2º classificado.
Na época seguinte chegou ao Sporting CP o inglês Randolph Galloway, técnico que durante 4 anos treinou Rola, as 3 primeiras temporadas em Alvalade e a quarta época já em Guimarães, ao serviço do Vitoria SC.
Recuperado, foi incluído na equipa de reservas do Sporting CP, por forma a adquirir a melhor forma possível. Viajou com a equipa do Sporting CP, em digressão, para muitos países, entre os quais o Brasil, Itália, Espanha e jogou a Taça Latina, depois de a equipa de Alvalade vencer o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1950/51.
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Nas temporada de 1950/51 e 1951/52, o jovem Rola não participou em nenhum jogo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Muito contribuiu para esta ausência uma nova lesão no menisco que o afastou, durante longo período, do terreno de jogo.
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(Equipa de reservas do Sporting CP na decada de 50)
No jogo de desempate da meia-final da Taça de Portugal disputado na cidade de Coimbra entre o FC Porto e Sporting CP, Rola esteve em plano de evidência na vitória sportinguista por 5-2, apontado dois espectaculares golos.
Depois, no jogo da final da competição, numa celebre partida em que o SL Benfica venceu o Sporting CP por 5-4. Rola foi titular na equipa do Sporting CP, apontado 2 golos, realizando uma sensacional exibição e merecendo o rótulo de melhor jogador em campo, apesar da derrota da sua equipa.
Alias, Rola era um jogador que tinha a particularidade de distinguir-se nos jogos frente ao SL Benfica, circunstancia que se repetiria consecutivamente quando esteve ao serviço do Vitoria SC.
Alinhou pelo Sporting CP em 12 jogos, apontando 4 golos, no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1952/53, sagrando-se mais uma vez campeão nacional, embora, desta feita, com participação directa nos resultados alcançados pelo clube de Alvalade.
Infelizmente, Rola viria a bater esse indesejável record, já ao serviço do Vitoria SC, quando pela quarta vez fracturou um menisco, sendo novamente submetido a uma intervenção cirúrgica e a um longo período de ausência.
No Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1953/54 o Vitoria SC, treinado pelo português Cândido Tavares, alcançou a 8ª posição na tabela classificativa, numa prova disputada por 14 emblemas, que decorreu sem grandes sobressaltos para os vimaranenses que, com tranquilidade, atingiram o objectivo de garantir a permanência no principal escalão do futebol português.
Rola assumiu-se, inquestionavelmente, como titular indiscutível na linha de ataque do Vitoria SC. Jogou em 21 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, marcando 6 golos na competição.
A temporada de 1954/55 fica marcada na história do Vitoria SC como a época em que o clube vimaranense desceu pela primeira vez à 2ª Divisão Nacional. Inexplicavelmente o Vitoria SC não conseguiu garantir a manutenção no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1954/55, facto que surpreendeu todo o panorama futebolístico nacional, logo numa altura em que o clube vimaranense tinha apostado fortemente no reforço da equipa principal.
Não obstante tão profunda aposta num tão conceituado técnico e em jogadores de qualidade, a verdade é que os resultados foram uma verdadeira desilusão e o Vitoria SC acabou por ser o ultimo classificado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1954/55.
Foi uma profunda tristeza e desilusão para as gentes de Guimarães que se queixaram de uma tremenda falta de sorte, não só num jogo decisivo frente ao Atlético CP, como em outras situações, como foi a grave lesão que vitimou Rola, um dos mais categorizados jogadores do Vitoria SC e que o impediu de dar o seu contributo à equipa durante grande parte da temporada.
No Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1954/55, Rola actuou em 17 jogos, apontado 6 golos na prova, igualando a marca registada no ano anterior.
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Com a descida do Vitoria SC à 2ª Divisão Nacional, o extremo Rola, com 28 anos de idade, teve a possibilidade de deixar Guimarães. Todavia, preferiu ficar para ajudar o Vitoria SC a regressar ao primeiro escalão do futebol português. A vontade do jogador seria efectivamente concretizada, com o regresso do clube no final da época de 1957/58, desempenhando o extremo Rola um papel fundamental nesse feito.
Até conseguir concretizar esse objectivo o Vitoria SC passou 3 temporadas consecutivas na 2ª Divisão Nacional. Na época de 1955/56, depois de vencer a Zona Norte da 2ª Divisão Nacional, o Vitoria SC ficou classificado no 2º lugar na fase final.
Nesta segunda temporada na 2ª Divisão Nacional, o Vitoria SC voltou a vencer a Zona Norte. Já na fase final terminou apenas na 3ª posição, apesar da igualdade pontual com o SC Salgueiros e SC Braga, subindo a equipa portuense directamente à 1ª Divisão, enquanto a equipa bracarense seguiu para os jogos de passagem.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1956/57)
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Novamente sob o comando técnico de Fernando Vaz, o Vitoria SC venceu a Zona Norte da 2ª Divisão Nacional. Já na fase final da competição, o Vitoria SC acabou por terminar a prova no 2º lugar da tabela classificativa, o que lhe permitia desde logo manter as esperanças do regresso à 1ª Divisão Nacional. Para isso, o Vitoria SC teria que levar de vencida o SC Salgueiros, que foi o penúltimo classificado na 1ª Divisão Nacional, nos apelidados jogos de passagem disputados a duas mãos.
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O encontro da 2ª mão disputou-se no Campo da Amorosa, em Guimarães, num jogo tremendamente difícil. Briosamente o Vitoria SC foi resistindo as investidas do SC Salgueiros e o resultado final de 2-2 confirmaria o tão ansiado regresso do Vitoria SC à 1ª Divisão Nacional.
(Comitiva do Vitoria SC em 1957/58 numa viagem ao sul do país)
Rola foi um dos principais heróis do Vitoria SC na subida à 1ª Divisão Nacional da época de 1957/58. Foi um dos jogadores mais utilizados pelos vimaranenses, formando uma frente de ataque de grande nível, com Bártolo, Romeu, Ernesto Paraíso e Mário Cívico.
Realizou 32 jogos pelo Vitoria SC nesta temporada no Campeonato Nacional da 2ª Divisão, recebendo como premio de subida de divisão a quantia de 6.600$00. Ao longo da época, nesta competição, marcou 10 golos, mas sobretudo destacou-se pelas assistências aos companheiros de equipa, principalmente Ernesto Paraíso, para marcar.
Na época de 1958/59 o Vitoria SC regressava à 1ª Divisão Nacional. Com Mariano Amaro no comando técnico da equipa, o Vitoria SC realizou uma temporada verdadeiramente sensacional, terminando a prova classificado no 5º lugar.
Rola foi praticamente sempre titular na saudosa frente de ataque do Vitoria SC composta pelos brasileiros Carlos Alberto, Edmur, Ernesto Paraíso e Bártolo. Jogou em 19 jogos da principal competição portuguesa, marcando novamente 6 golos.
(Equipa do Vitoria SC na época de 1958/59)
(Atacantes do Vitoria SC na temporada de 1958/59)
O grande jogo de Rola e que colocou novamente o seu nome na alta roda do futebol nacional, foi o encontro frente ao SL Benfica no Campo da Amorosa, em Guimarães, quando o Vitoria SC venceu os benfiquistas, até então invictos no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, por 2-1, com dois tentos da autoria do extremo vitoriano. Rola foi a grande figura da jornada.
(Equipa do Vitoria SC na época de 1958/59)A partir de 1959/60, Rola, já com 32 anos de idade, começou a perder a condição de titular na equipa do Vitoria SC. Jogou somente em 12 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, apontando somente 1 golo.
O Vitoria SC, treinado pelo uruguaio Humberto Buchelli, terminou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão na 7º posição, um lugar tranquilo e meritório. Depois de uma excelente primeira volta, os vimaranenses quebram bastante no 2º turno da competição, sobretudo, devido ao desgaste causado pela digressão a África no inicio da temporada.
(Vitoria SC na temporada de 1959/60)
(Sob um avião da Tap na viagem para Africa em 1959)(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1959/60)
No período do defeso, entre o final da temporada de 1958/59 e o início da época de 1959/60, o Vitoria SC deslocou-se pela primeira vez na sua história ao continente africano para disputar alguns jogos amigáveis, para os quais tinha sido convidado por alguns vimaranenses radicados em Africa.
O êxito do Vitoria SC naquela digressão e a quantidade de troféus conquistados foram devidamente vangloriados por todos os vitorianos, que em Agosto de 1959, no momento do regresso da equipa à cidade de Guimarães, receberam com pompa e circunstancia todos os atletas, técnicos e dirigentes.
(Troféus conquistados em Africa em 1959)
(Formação do Vitoria SC na temporada de 1959/60)(Equipa do Vitoria SC na época de 1959/60)
Rola continuou ao serviço do Vitoria SC nesta época de 1960/61, mas jogaria apenas 4 jogos na principal competição portuguesa, sem ter apontado qualquer golo. O dia 27 de Novembro de 1960 foi fatídico para veterano extremo Rola. Nesse dia o Vitoria SC recebeu, em Guimarães, o GD Cuf. A formação cufista venceu, surpreendentemente, o Vitoria SC por 0-3 e Rola fracturou o perónio, terminando, praticamente assim, a sua carreira de futebolista.
A temporada de 1961/62, foi bastante conturbada e polémica para o Vitoria SC, com a equipa vimaranense a correr sérios riscos de descer à 2ª Divisão Nacional. O Vitoria SC começou muito mal o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, coleccionando uma série de resultados negativos que pintavam de negro o horizonte da equipa na prova.
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Nessa altura, paira em Guimarães o espectro da descida do Vitoria SC à 2ª Divisão Nacional. Um conjunto de personalidades, lideradas por Hélder Rocha, tomam conta dos destinos directivos dos Clube. Para o cargo de treinador indicam Joaquim Rola, o veterano jogador do Vitoria SC que já desempenhava funções de técnico na equipa de juniores.
A estreia de Joaquim Rola no comando da equipa dá-se no dia 18 de Março de 1962, num importante desafio a contar para a 19ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, que opunha o Vitoria SC ao Leixões SC. A equipa vimaranense deslocou-se a Matosinhos e venceu aquela importante partida por 2-3.
Joaquim Rola foi treinador do Vitoria SC durante as ultimas 8 jornadas do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de época de 1961/62. Ficou com um saldo bastante positivo, com 4 vitórias, 1 empate e 3 derrotas.
O jogo decisivo para a manutenção do Vitoria SC, jogou-se no Campo da Amorosa frente ao FC Porto no dia 26 de Maio de 1962. O FC Porto tinha obrigatoriamente que ganhar a partida para conquistar o título de Campeão Nacional, por seu lado, a equipa do Vitoria SC também tinha que conquistar a vitória para evitar a descida de divisão. Venceram os vimaranenses por 1-0 com o golo apontado por Augusto Silva.
Com aquela decisiva vitoria, o conjunto vimaranense garantiu a manutenção na 1ª Divisão Nacional, classificando-se na 9ª posição da tabela geral, já o FC Porto acabou por perder o ceptro nacional para a formação do Sporting CP que assim venceu a competição com mais dois pontos que os azuis e brancos.
Surpreendentemente, nesta fase complicada da vida do clube, Rola assumiu o cargo de treinador do Vitoria SC, mas também regressou à condição de jogador da equipa principal. Ainda realizou 2 jogos pelo Vitoria SC ao logo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1961/62.
Como jogador, Rola ainda representou o SC Freamunde na época de 1963/64. Depois do final da carreira de futebolista, ingressou nos quadros técnicos do Vitoria SC, trabalhando no campo da formação de jovens atletas.
Parabéns pela biografia. Efectivamente o Rola era suposto ser um substituto do Peyroteo mas como ele tinha pé esquerdo foi posto à ponta.
ResponderEliminarA foto que mostra a entrada em campo, a jogar pelo Sporting, ou muito me engano ou é, efectivamente, a estreia dele, no Estádio Nacional, contra o Benfica. No dia 18 de Setembro de 1949, o Sporting ganhou 1-0 e era para a Taça Preparação (não para o campeonato regional). O Rola jogou porque o Travaços estava lesionado. ( Eu estava lá, eu vi). No jogo seguinte, com o Estoril, já o Peyroteo não jogou. Foi a despedida dele, oficial.
Espero ter contribuido alguma coisa para esclarecimento!
João Celorico