Glórias do Passado: Rebelo

 

Rebelo


Rebelo foi considerado por muito críticos desportivos como o melhor médio de ataque português do seu tempo, somente comparável a Albino do SL Benfica. Notabilizou-se actuando numa posição original tacticamente naquela altura, o lugar de médio de ataque, precisamente o jogador sobre quem impendia a organização do ataque depois da recuperação da bola.

Este centrocampista português destacou-se precisamente ao serviço do Vitoria SC, um clube que representou durante nove épocas consecutivas ao mais alto nível, realizando, com a camisola branca e preta, mais de duzentos jogos nas principais competições nacionais, concretamente, o Campeonato Nacional da 1ª Divisão e a Taça de Portugal. Nesse período e nessas provas oficiais o médio Rebelo marcou um total de 34 golos com a camisola do Vitoria SC.

Nasceu no dia 12 de Junho de 1921 e antes de rumar a norte para representar o Vitoria SC era já considerado, na década de 40, como o melhor meia-direita de Lisboa, na opinião do conceituado Ricardo Ornelas, mesmo antes de se destacar na posição de médio de ataque.

Proveniente do GD Cuf, o centrocampista Rebelo, perto de fazer 25 anos de idade, foi contratado pelo Vitoria SC para a temporada de 1946/47, vindo a tornar-se num dos jogadores mais importantes na história seguinte do clube, nomeadamente, com a definitiva afirmação no principal escalão do futebol português.
.
(À civil, Rebelo na equipa do Vitoria SC da temporada de 1946/47)
.
A sua estreia, porém, com a camisola do Vitoria SC ocorreu ainda no epílogo da época de 1945/46 num jogo amigável entre a equipa vimaranense e a formação principal do FC Porto, numa festa que visava homenagear o celebre jogador vitoriano Zeferino Duarte, que colocava nesta altura um ponto final à sua carreira de futebolista.

Essa partida festiva realizou-se no dia 30 de Junho de 1946, tendo os vimaranenses vencido a turma do FC Porto por 4-2, sendo o estreante Rebelo o autor do quarto golo do Vitoria SC.

A estreia oficial do centrocampista Rebelo ao serviço do Vitoria SC ocorreu, contudo, precisamente no dia 15 de Setembro de 1946, numa partida a contar para a Taça da Associação de Futebol de Braga, entre os vimaranenses e o Sporting de Fafe, que os vitorianos venceram por 10-1, tendo o debutante futebolista apontado três golos neste encontro.

Na época de 1946/47 há novo treinador no Vitoria SC. O escolhido é Artur Baeta, um homem que se tornou famoso pela dedicação à formação de jovens jogadores de futebol.

O Campeonato Distrital foi de novo conquistado pela formação de Guimarães. Todavia a conquista deste título já não foi o passeio que havia sido nos anos anteriores. O Vitoria SC teve de ultrapassar inúmeras dificuldades e puxar de todos os seus galões e classe para conquistar o ceptro.

No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1946/47, o Vitoria SC ficou mais uma vez classificado na 8ª posição, numa prova disputada por 14 clubes, garantindo assim um lugar na prova na época seguinte.

Rebelo foi uma das figuras de cartaz na equipa do Vitoria SC da temporada de 1946/47. Jogava, nesta altura, sobre o lado direito de uma frente de ataque vitoriana composta também por Franklim, Brioso e Teixeira. Alinhou em 20 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, marcando 5 golos ao longo desta competição.
.
(Rebelo em acção numa partida entre o Vitoria SC e o FC Porto no Campo da Amorosa com o Castelo de Guimarães ao fundo na imagem)
.
Na temporada de 1947/48 chega à cidade de Guimarães um novo treinador que vem substituir Artur Baeta. Alfredo Valadas, antiga glória do SL Benfica, é o escolhido para comandar os destinos da equipa do Vitoria SC, permanecendo nesse cargo durante 2 temporadas.

No Campeonato Nacional da 1ª Divisão desta época o Vitoria SC classificou-se na 7ª posição, precisamente a meio da tabela classificativa de um campeonato disputado por 14 clubes. O Vitoria SC realizou uma prova extremamente tranquila, garantindo a permanência no escalão – que era afinal o primordial objectivo – com muita facilidade.

Nesta competição o futebolista Rebelo, jogando sobretudo na linha avançada, realizou 18 jogos com a camisola do Vitoria SC e apontou 3 golos.
.
No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1948/49, a equipa do Vitoria SC, que continuava a ser tecnicamente liderada por Alfredo Valadas, conquistou um brilhante 6º lugar, a melhor classificação de sempre até aquela altura. Rebelo realizou nesta prova um total de 19 jogos e apontou 4 golos.
.
(Equipa do Vitoria SC na época de 1948/49)
.

(Rebelo é um dos jogadores do Vitoria SC nesta partida frente ao Sporting CP, no Campo da Amorosa, a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão)

A época de 1949/50 traz para Guimarães um novo treinador. Janos Biri, um húngaro naturalizado português, antigo guarda redes do Boavista FC, com um curriculum vitae cheio de êxitos, onde se destacam, essencialmente, os dois campeonatos nacionais conquistados, como técnico principal, ao serviço do SL Benfica nas temporadas de 1942/43 e 1944/45.

No Campeonato Nacional da 1ª Divisão o Vitoria SC quedou-se pela 11ª posição, protagonizando um péssimo campeonato, salvando-se da descida de divisão, apenas, na última jornada com uma vitória por 3-1 contra o GD Estoril – Praia.

Rebelo voltou a ser uma peça fundamental na equipa vitoriana. Actuando, principalmente, na linha da frente, realizou pelo Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1949/50, um total de 24 jogos, concretizando 5 golos.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1949/50)

(Rebelo disputa o lance com os jogadores do CF Belenenses no Campo da Amorosa)

.

(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1949/50)

A temporada seguinte de 1950/51 decorreu com imensas dificuldades para o Vitoria SC, que coleccionou uma série de resultados negativos, voltando a correr iminentes riscos em descer ao escalão secundário do futebol português, algo que ainda não tinha ocorrido na história do clube vimaranense até aquela data.

No comando técnico da equipa manteve-se o húngaro, naturalizado português, Janos Biri. No Campeonato Nacional da 1ª Divisão o Vitoria SC viveu dias tremendamente difíceis, contabilizando resultados contraditórios, ora ganhando surpreendentemente a clubes mais fortes e candidatos aos lugares cimeiros, ora perdendo, inexplicavelmente, com clubes da mesma ou inferior valia.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1950/51)
.
(No Campo da Amorosa numa partida entre o Vitoria SC - FC Porto)
.
(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1950/51)
.
O Vitoria SC terminou a prova classificado na 13ª posição, lugar que obrigava a equipa vimaranense a disputar um liguilha para garantir a manutenção no escalão maior. Porem, o Vitoria SC não necessitou de disputar esses jogos pois o Vitoria de Setúbal, que se tinha classificado no 12º lugar, acabou por ser punido pelo ministério governamental que tutelava o desporto, com a descida de divisão por comprovadamente ter subornado jogadores do Clube Oriental de Lisboa, aquando do jogo disputado na cidade de Lisboa entre o clube sadino e popular clube de Marvila.

Quanto a Rebelo foi nesta época um dos totalistas da equipa do Vitoria SC, actuando em todos os 26 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, apontando, nessa competição um total de 4 golos.
.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1950/51)
.

(No Campo da Amorosa jogo entre o Vitoria SC e o FC Porto)

(Equipa do Vitoria SC na época de 1950/51)
.
Na edição seguinte do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, de 1951/52, o Vitoria SC atravessou novamente algumas dificuldades, quedando-se, no final da prova, classificado apenas na 10ª posição da tabela geral.

Nessa temporada, porém, o Vitoria SC tinha um novo treinador, um húngaro chamado Alexandre Peics, técnico que aplicou em Guimarães um novo sistema táctico muito em voga naquela altura. O modelo de jogo era conhecido pelo WM onde havia uma marcação homem a homem dos defesas centrais aos avançados centro o que na altura era alvo de muita controvérsia na doutrina táctica do futebol mundial.

É com Peics que emerge a nova posição táctica de Rebelo em campo e onde definitivamente o jogador vai notabilizar-se a nível nacional como o melhor médio de ataque do futebol português.
.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1951/52)

Efectivamente, era nesta posição que Rebelo atingia maior expressão no seu futebol. O seu sentido posicional no terreno de jogo era admirável, bem como aquele estilo sóbrio e sereno com que abordava os lances.

Rebelo era um jogador esguio, de elevada estatura, com umas pernas longas e características, de tal modo que o apelidavam carinhosamente de “Cataninha” tal a semelhança entre o efeito de uma catana com a forma como desarmava os adversários.

Por isso destacava-se bem nesta nova posição táctica. Defensivamente era dotado, mas ofensivamente era incomparável, dada a forma competente com que gizava as jogas ofensivas. Técnico, sereno, deveras intuitivo, com Peics, Rebelo passou, com sucesso, a ser o motor do ataque do Vitoria SC.

(Rebelo num encontro em Lisboa entre o Sporting CP - Vitoria SC)

Jogou em 25 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, apontado apenas um golo ao longo da prova. Foi contudo o Rei das assistências e com isso lucraram os avançados Teixeira e Caraça, que em conjunto apontaram 28 golos na principal competição portuguesa.

(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1951/52)

Na temporada de 1952/53 o Vitoria Sport Clube voltou a participar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão e ao garantir a permanência no principal escalão do futebol português no final daquela época, tornou-se o clube com mais participações consecutivas na 1ª Divisão Nacional a seguir ao SL Benfica, Sporting CP, FC Porto e CF Belenenses, feito registado e de assinalar naquele tempo para uma colectividade da província.

O Vitoria SC terminou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão na 8ª posição da tabela classificativa. Todavia, a posição alcançada e que se situa a meio da tabela geral, num campeonato disputado por 14 clubes, não foi sinónimo de normalidade nem de uma prova sem sobressaltos. Antes pelo contrário, pois o Vitoria SC viu-se envolvido ate final da competição na luta pela permanência no principal escalão com o Boavista FC, SC Covilhã, Académica de Coimbra, Atlético CP, SC Braga e GD Estoril – Praia.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1952/53)

Alias, o Vitoria SC só garantiu a permanência num dramático jogo disputado na cidade de Guimarães no dia 26 de Abril de 1953 frente ao SC Braga. No Campo da Amorosa, completamente lotado, assistiu-se com elevado dramatismo ao desenrolar do jogo entre vizinhos de Guimarães e Braga e que permaneceu empatado a 2-2 até ao ultimo minuto do encontro, altura em que Caraça apontou o golo da vitoria e da salvação dos vitorianos, que assim venceram a partida por 3-2, remetendo a formação arsenalista para o jogo da liguilha.

Individualmente, na equipa do Vitoria SC, continuava a destacar-se o centrocampista Rebelo. Na principal competição portuguesa voltou a ser um dos totalistas, com 26 jogos, e 4 golos marcados.

(Rebelo com uma camisola alternativa do Vitoria SC)
.
Na edição do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época seguinte o Vitoria Sport Clube alcançou a 8ª posição na tabela classificativa, numa prova que decorreu sem grandes sobressaltos para os vimaranenses que, com tranquilidade, atingiram o objectivo de garantir a permanência no principal escalão do futebol português.

O técnico da formação do Vitoria SC era agora o português Cândido Tavares que continuava a aposta em Rebelo no meio campo. Rebelo actuou desta feita em 23 jogos e concretizou 3 golos na competição.
.

(Vitoria SC na época de 1953/54)

(Rebelo no Vitoria SC)

Seguiu-se a temporada que fica marcada na historia do Vitoria Sport Clube como a época em que o clube vimaranense desceu pela primeira vez à 2ª Divisão Nacional, facto que apenas voltaria a suceder passado mais de 50 anos, nomeadamente no final da recente temporada de 2005/06, em que o clube foi relegado à 2ª Liga.

Inexplicavelmente a formação vimaranense não conseguiu garantir a manutenção no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1954/55, facto que surpreendeu todo o panorama futebolístico nacional, logo numa altura em que o Vitoria SC tinha apostado fortemente para aquela época.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1954/55)

No início da temporada contratou o conceituado treinador inglês Randolph Galloaway que em Portugal tinha alcançado enorme sucesso ao conquistar três títulos de campeão nacional de forma consecutiva como técnico principal do Sporting CP.

A 3 jornadas do final do Campeonato o Vitoria SC tinha pela frente três verdadeiras finais onde só o triunfo poderia evitar o fatídico desiderato que veio a suceder. Na primeira dessa três finais ainda vence no Campo da Amorosa a Académica de Coimbra por 2-1, mas na penúltima jornada carimba definitivamente o passaporte rumo à 2ª Divisão ao não conseguir levar de vencida o Atlético CP.

(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1954/55)

O jogo termina empatado a 0-0, com o Vitoria SC, apoiando por uma imensa falange de apoio que viajou de Guimarães, a desperdiçar inúmeras oportunidades para se adiantar no marcador e assim levar de vencida o adversário. Recorda-se um lance a poucos minutos do final do jogo quando José da Costa, um dos mais prestigiados jogadores do Vitoria, falhou um golo fácil, isolado perante o guarda-redes do Atlético CP.

Foi uma profunda tristeza e desilusão para as gentes de Guimarães que se queixaram de uma tremenda falta de sorte, não só naquele jogo como em outras situações, como a grave lesão que vitimou Rola, um dos mais categorizados jogadores do Vitoria SC e que o impediu de dar o seu contributo à equipa durante quase toda a temporada. O Vitoria SC foi o último classificado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1954/55, com tão só 17 pontos contabilizados.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1954/55)
.
Quanto a Rebelo, digamos que o “Cataninha” era já um jogador veterano, perto de completar 34 anos de idade, e a sua utilização foi bem mais esporádica que aquilo que acontecera nas temporadas anteriores. Jogou apenas em 14 jogos do Campeonato Nacional e apontou 2 golos.

Colocou no final desta temporada de 1954/55 um ponto final na sua ligação de 9 anos de futebolista ao Vitoria SC. Continuou ligado ao futebol, também como treinador, sem obter o sucesso que alcançou como futebolista.

A sua ligação a Guimarães manteve-se ao longo de toda a vida, mesmo depois do término da sua ligação ao Vitoria SC. Alem de ser sempre muito estimado pelas gentes de Guimarães, Rebelo casou mesmo com uma vimaranense e por aqui viveu muitos anos.
.
(Numa equipa de Velhas Guardas do Vitoria SC)
.
(Na decada de 7o noutra equipa de Velhas Guardas do Vitoria SC)
.
(Outra equipa de Velhas Guardas do Vitoria SC)
.
Faleceu com quase 66 anos de idade, em meados do ano de 1987, no Hospital de Paredes. Foi posteriormente sepultado no Barreiro, a terra natal de Manuel Tavares Rebelo, o nome completo do famoso “Cataninha”.

(Manuel Tavares Rebelo, o "Cataninha")


Autor: Alberto de Castro Abreu

Obrigada a Sr Alberto de Castro Abreu por me ter dado a oportunidade de ver o que o meu avô foi como jogador de futebol, porque como avô era sem dúvida o melhor do Mundo!
 
Enviar um comentário



<< Home
Site Meter