Na história do desporto português é usual encontrar algumas equipas que de certa forma atingiram alguma notoriedade, nomeadamente no futebol, cuja sua génese bem como o seu sustento radicava numa grande empresa da região. A nível nacional o GD da CUF será o exemplo máximo de um clube de futebol, com considerado sucesso, cuja origem estava numa unidade empresarial denominada de Companhia União Fabril. Também na nossa região existiram este tipo de clubes como foi o caso do GD Coelima ou a da Tarf.
Todavia, aquele clube da nossa região que se tornou mais famoso em Portugal foi inquestionavelmente o GD Riopele, que na década de 70 alcançou mesmo um lugar na 1ª Divisão Nacional de Futebol, depois de várias épocas a militar nas divisões secundárias.
O Grupo Desportivo Riopele foi fundado no dia 14 de Setembro de 1958 pelos proprietários e um grupo de trabalhadores de uma grande empresa têxtil denominada de Riopele, actualmente a Fabrica Têxtil Riopele S.A. A sede daquela agremiação desportiva ligada a empresa têxtil Riopele fixou-se na Pousada de Saramagos no concelho de Vila Nova de Famalicão.
Inicialmente aquele clube desportivo era destinado aos trabalhadores daquela empresa ou habitantes da região, os quais praticavam desportos como por exemplo o atletismo, mas essencialmente o futebol. Sucede que, com o passar dos anos e sendo fortemente apoiada pela administração da empresa têxtil, a equipa de futebol começou por coleccionar sucessos até atingir à 2ª Divisão Nacional.
Muitos dos funcionários da empresa fizeram historia ao serviço daquele clube. Outros, que chegavam ao clube/empresa essencialmente para jogar futebol, encontravam também naquela unidade fabril um emprego onde conseguiam amealhar mais alguns reditos.
Ao longo da sua história de vida o GD Riopele era tradicionalmente conhecido e unanimemente reconhecido como um clube que não formava apenas atletas, mas sobretudo homens para uma vida. Era um clube referência no panorama desportivo nacional porque desempenhava um papel social preponderante naquela região.
Dali, nomeadamente da sua escola de formação, também surgiram jogadores que se afirmaram posteriormente no futebol português como é o caso mais destacado do internacional Vítor Paneira, antigo jogador do SL Benfica e Vitoria de Guimarães.
Virando a agulha para os sucessos desportivos refira-se que na época de 1971/72 a equipa de futebol do GD Riopele quase que conseguiu ascender à 1ª Divisão Nacional, feito que viria a alcançar na época de 1976/77 quando se sagrou vencedor da Zona Norte da 2ª Divisão Nacional, deixando o SC Espinho, o grande candidato na 2ª posição da geral.
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O modesto clube onde predominava as cores verde e o branco, participaria pela primeira e única vez da sua história na 1ª Divisão Nacional de Futebol na temporada de 1977/78. Aquele pequeno clube, que naquela altura contava apenas com 700 sócios, iria enfrentar as melhores equipas de futebol nacional.
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(Plantel do GD Riopele na época de 1977/78)
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Grandes jogos iriam receber o Parque de Jogos José Dias de Oliveira, a “casa” do GD Riopele naquela temporada na 1ª Divisão. Com capacidade oficial para 25.000 espectadores, apesar dos poucos lugares sentados que possuía, era considerado na altura como um dos melhores campos pelados do país, sempre tão bem tratado.
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O treinador escolhido para comandar a equipa do GD Riopele na 1ª Divisão Nacional foi Fernando Ferreira, mas conhecido por Ferreirinha, antigo jogador do Vitoria Sport Clube na época de 1961/62. A maioria dos jogadores que haviam conquistado o feito da subida de divisão, tinha permanecido no clube. Os mais cotados eram sem duvida os defesas Joca, Vitorino e Teixeira, os meio campistas Luís Pereira, Barros e o capitão de equipa Piruta, e ainda o avançado e goleador da equipa António Luís.
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(O treinador Ferreirinha)
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(O defesa Joca)
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(O defesa Vitorino)
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(Teixeira defesa)
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(O médio Luis Pereira)
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(Barros)
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(O capitão Piruta)
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Para atacar a 1ª Divisão Nacional o GD Riopele fez também algumas aquisições, de onde se destaca, desde logo, os guarda redes Matos, Padrão e Trindade. Na defesa contrataram Pinto Vieira que nem chegou a ser utilizado, e os avançados Fonseca (mais tarde jogador do Vitoria), Garcez, Sacramento e Jesus, hoje mais conhecido por Jorge Jesus, antigo treinador do Vitoria de Guimarães.
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(O guarda redes Matos)
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(Padrão o outro guarda redes)
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(O defesa Pinto Vieira)
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(Fonseca na partida frente ao GD Estoril Praia)
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(O avançado Jorge Jesus)
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O plantel completo do GD Riopele na época de 1977/78 era constituído pelos guarda redes Matos, Padrão e Trindade. Na defesa havia Joca, Vitorino, Ederson, Teixeira, Orlando, Messias, Carlos Fonseca, Abreu e Pinto Vieira. Os médios eram Piruta, Luís Pereira, Barros, Jó, Pio, Neca e Vasco. A linha avançada incluía Fonseca, Jorge Jesus, António Luís, Garcês, Ary e Sacramento.
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(O defesa Orlando)
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(Messias também defesa)
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(Carlos Fonseca)
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(O médio Neca)
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(Vasco centrocampista)
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A equipa tipo era formada por Matos ou Padrão na baliza; a defesa com Joca, Vitorino, Ederson e Teixeira; a linha media com Piruta, Luís Pereira e Barros e a frente de ataque com Fonseca, Jorge Jesus e António Luís.
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No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1977/78, o GD Riopele não conseguiu o objectivo da manutenção, mas de forma alguma fez uma prova decepcionante. Alias, lutou até à última jornada pela manutenção no principal escalão terminando a prova na 15ª posição com 21 pontos, decorrentes das 6 vitórias e 9 empates alcançados na prova. Perdeu 15 encontros, concretizando 23 golos e sofrendo 51.
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(Equipa do GD Riopele na época de 1977/78)
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Os 23 golos apontados pelo GD Riopele no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1977/78 foram apontados por António Luís, que anotou na sua conta pessoal 7 golos, classificando-se como máximo goleador da equipa. O médio Luís Pereira marcou 5 golos e Piruta 4. Os avançados Fonseca e Jorge Jesus marcaram 3 golos cada e o defesa Vitorino apontou 1.
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(O avançado António Luis)
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Destaquemos alguns resultados da equipa do GD Riopele naquela temporada no escalão máximo do futebol português. Assim, em casa, destaca-se pela positiva, as vitorias sobre o CF Belenenses por 1-0, sobre a Académica de Coimbra por 2-0, sobre o Vitoria de Setúbal por 2-1 e sobre o GD Estoril Praia por 1-0, todos eles clubes históricos.
Ainda em casa, conseguiu claramente resultados positivos e de certa forma surpreendentes, quando empatou com o SC Braga por 1-1 e com o Boavista FC 0-0. No Parque de Jogos José Dias de Oliveira, o GD Riopele apenas consentiu quatro derrotas, três frente ao FC Porto (0-2), SL Benfica (1-4) e Sporting CP (2-4), e a quarta frente ao Vitoria de Guimarães que ali venceu por 1-2.
Nos desafios disputados fora de casa é que o GD Riopele denotou maiores dificuldades. Assim, foi derrotado em 11 das 15 partidas do nacional maior realizadas fora do seu reduto. Dessas onze derrotas, algumas delas foram verdadeiras goleadas como o 6-0 frente ao FC Porto, 4-0 contra o Vitoria de Setúbal e CD Feirense, 4-1 frente ao Boavista FC e 3-0 no Estádio da Luz frente ao SL Benfica.
A modesta equipa do GD Riopele alcançou porem alguns resultados positivos fora de casa como foi o caso da vitória obtida na Povoa do Varzim frente à equipa local por 1-2, ou mesmo empates a 0-0 obtidos no recinto do GD Estoril Praia, no Estádio 1º de Maio em Braga frente à equipa do SC Braga e no Estádio Municipal de Guimarães, contra o Vitoria.
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A descida à 2ª Divisão Nacional do GD Riopele foi para muitos o início do fim daquele clube que fechou definitivamente as portas no final da década de 80. Depois de mais algumas épocas no segundo escalão do futebol português foi relegado à 3ª Divisão Nacional na época de 1981/82 e mais tarde definitivamente extinto.
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(Equipa do GD Riopele na época de 1979/80)
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(Formação do GD Riopele na temporada de 1980/81)
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(Equipa de velhas guardas do GD Riopele em 2006)