A final desta competição, convencionada como a “festa do futebol”, esteve rodeada por inúmeros casos, conflitos e polémicas, culminadas com uma arbitragem considerada escandalosa e deplorável pelos apaniguados afectos ao Vitoria SC e pela generalidade da crítica desportiva.
Conhecidos os finalistas da prova, prontamente, foi sugerido a ambos os clubes pelas instâncias federativas a mudança do local onde tradicionalmente se disputava aquele jogo da final da Taça de Portugal.
Em detrimento do Estádio do Jamor, palco habitual para a final da Taça de Portugal, foi indicado o Estádio das Antas, na cidade do Porto, para a realização do jogo. Os responsáveis vitorianos, embora sabendo ser aquela a cidade de onde era oriundo o seu opositor, aceitaram a sugestão da Federação Portuguesa de Futebol pois, apesar de tudo, a cidade invicta ficava bem mais próximo da cidade de Guimarães do que a capital portuguesa onde se localiza o Estádio do Jamor.
Se a alteração do dia para a realização do jogo, ao contrário do usual, para um sábado, pouco importava, já o horário agendado foi motivo de mais uma polémica que chegou a colocar em risco a realização da final da Taça de Portugal.
Após ter procedido à auscultação de ambos clubes - tendo para o feito o Boavista FC sugerido as 21.30 horas e o Vitoria SC indicado como horário preferido as 18.00 horas - a Federação Portuguesa de Futebol agendou, inicialmente, o começo da partida da final da Taça de Portugal para as 17.30 horas.
Posteriormente, sem que nada o justificasse, a Federação Portuguesa de Futebol alterou a hora inicialmente agendada para o início da partida para as 21.30 horas. Os responsáveis do Vitoria SC, naturalmente, protestaram contra a alteração, argumentando, por um lado, não ter sido tido auscultado pelas instancias federativas e que tal mudança para hora tão tardia prejudicava, obviamente, o clube e os seus adeptos que queriam assistir e prestar o seu apoio à equipa no jogo da final.
A Direcção do Vitoria SC reuniu de emergência e motivada pela manifestação dos seus associados junto da sede do clube decidiu, reagindo aquela decisão unilateral e injustificável, ameaçar com a não comparência da equipa na final da Taça de Portugal.
Em consequência, a Federação Portuguesa de Futebol, reconsiderou, à última horas, a sua decisão e remarcou, novamente, o jogo para as 17.30 horas.
Entretanto, a Comissão Central de Árbitros, inacreditavelmente, nomeou para dirigir a final da Taça de Portugal o árbitro internacional António Garrido oriundo da A. F. de Leiria.
.(António Garrido com as insígnias da FIFA)
Apesar de manifestamente contrários aquela nomeação, os responsáveis do Vitoria SC deram um voto de confiança ao árbitro, acreditando, contra todos os indicadores, na honra e honestidade de António Garrido.
O certo é que a arbitragem protagonizada por António Garrido naquela final da Taça de Portugal foi o tema central e decisivo, segundo rezam as crónicas, para a decisão do vencedor da prova.
A final da Taça de Portugal realizou-se assim no dia 13 de Junho de 1976 no Estádio das Antas, na cidade do Porto. De Guimarães viajaram, bem cedo, milhares de adeptos do Vitoria SC ostentando as bandeiras com o símbolo de D. Afonso Henriques bem desfraldadas, em excursões de autocarro organizadas ou em automóveis particulares que entupiram, literalmente, todas as estradas nacionais que ligavam a cidade berço à invicta cidade do Porto.
Era a fé de um povo disposto e pronto a participar na festa do futebol português. Do outro lado estavam, também, muitos adeptos boavisteiros e a massa associativa do FC Porto que não teve pejo em juntar-se no apoio ao Boavista FC. Em resultado, aquela final da Taça de Portugal teve um estádio praticamente cheio para assistir a um bom jogo de futebol.
(A entrada em campo das equipas do Vitoria SC e do Boavista FC, comandadas pela equipa de arbitragem liderada por António Garrido. Os vimaranenses vão comandados pelo capitão Rui Rodrigues)
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Do outro lado, a turma axadrezada do Boavista FC, treinado por José Maria Pedroto, constituída pelos seguintes jogadores: Botelho; Trindade, Alberto, Carolino e Taí; Barbosa, Alves e Branco; Francisco Mário, Salvador e Acácio.
Após a entrada em campo, a distribuição de medalhas alusivas ao momento a todos os participantes pelo Primeiro Ministro Pinheiro de Azevedo e com as equipas perfiladas frente à Tribuna de Honra, escutou-se o hino de Portugal tocado pela Banda da PSP e efusivamente cantado pelos milhares de espectadores presentes.
Durante os primeiros 20 minutos o Boavista FC foi, efectivamente, mais perigoso e esteve mais próximo da baliza vitoriana. Contudo, logo aos 9 minutos surgiu o primeiro indício daquilo que iria marcar a final da Taça de Portugal.
Na jogada imediatamente seguinte, o experiente defesa do Vitoria SC, Rui Rodrigues, faz um mau atraso ao seu guarda-redes que é interceptado pelo rapidíssimo avançado boavisteiro Salvador, este perante o guardião Rodrigues fuzila, atirando a contar para o 1-0.
(João Alves conduz o ataque boavisteiro perante a presença de Abreu e do brasileiro Almiro do Vitoria SC)
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Tito, com a bola dominada e bem no interior da área, aprestasse para rematar quando é desviado em falta por um adversário. António Garrido apita e no estádio todos se convencem do penalty assinalado a favor do Vitoria SC.
Ecoaram então imensos protestos dos adeptos, jogadores e dirigentes vitorianos e o incómodo dos responsáveis federativos era patente. Começava a ficar notório o destino daquela final da Taça de Portugal.
O Vitoria SC lança-se acintosamente em busca do empate. Aqui destacam-se o defesa boavisteiro Alberto e o guarda-redes Botelho que, consecutivamente, impedem o empate vitoriano.
Surge entretanto o apito para o intervalo e os jogadores dirigem-se para as cabines. Depois de retemperadas as forças, os jogadores do Vitoria SC regressam ao relvado fortemente ovacionados. Sentindo-se, verdadeiramente, escamoteados no resultado vão, contudo, buscar forças ao infinito tentando vencer todas as adversidades.
Recomeça a partida e o Boavista FC consegue controlar as iniciativas vitorianas e vai tentando, sempre que possível, o contra ataque. Logo aos 4 minutos da segunda parte, novamente o centrocampista João Alves, bem na zona frontal, assina uma abertura de génio com um passe entre os defesas centrais do Vitoria SC e isola Salvador que, impiedosamente, desfeiteia o guarda redes Rodrigues aumentando o marcador para 0-2.
(Lance perigoso junto à baliza vitoriana protagonizado por Salvador, perante a presença de Rui Rodrigues e Torres, o n.º 4, os defesas centrais do Vitoria SC)
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O Vitoria SC desuniu-se e passou dificuldades, contudo, conseguiu finalmente recompor-se e lançou-se em busca do golo que trouxesse alguma esperança. E esse golo chegou, num verdadeiro hino ao futebol do avançado Rui Lopes.
Já anteriormente o mesmo jogador tinha ameaçado marcar, mas agora conseguiu-o com um tiro bem colocado entre o poste direito e o guarda-redes Botelho depois de um maravilhoso “bailado” entre os defesas do Boavista FC.
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A equipa do Vitoria SC toma, definitivamente, conta do jogo e coloca em pânico a equipa boavisteira, reduzida a uma manta de retalhos, já que não consegue sequer trocar a bola com segurança, limitando-se a despachar o esférico de qualquer maneira e a recorrer, simplesmente, à falta.
Um verdadeiro vira minhoto toma conta do relvado do Estádio das Antas, com um futebol escorreito, sufocante, veloz, belo, antevê-se, a cada minuto que passa o golo do empate. São inúmeras as tentativas e as oportunidades de golo do Vitoria SC perante a expectativa angustiante dos seus adeptos.
Longe a fortuna, o Vitoria SC teve, ainda assim, segundo rezam as crónicas unânimes da época, que suportar as más decisões de António Garrido que sabotaram o esforço dos briosos atletas vitorianos.
Almiro, já em queda, ainda sofre um “agarrão” evidente na perna esquerda do guarda-redes boavisteiro Botelho que entretanto se havia lançado ao terreno para evitar o golo do Vitoria SC.
Foi inacreditável, inglória e imerecida a forma como o Vitoria SC perdeu esta final da Taça de Portugal. No final do jogo os comentários dos intervenientes vitorianos e toda a crítica desportiva foram o espelho disso mesmo.
Quanto ao brasileiro do Vitoria SC, Almiro, também referiu que “quando estou na cara do “keeper” axadrezado e me preparo para chutar fui agarrado por Trindade pela camisola, logo seguido de uma rasteira pelo mesmo jogador. Ainda em desquilibrio o Botelho agarrou-me a perna esquerda e foi nessa altura que caí. Caramba! Toda a gente viu que foi uma nítida penalidade. Só o Sr. Garrido é que não viu. Porquê? Alias, a sua actuação ao longo do desafio foi verdadeiramente lamentável. Prejudicou-nos de toda a maneira e feitio. É impressionante como mandaram para esta final um arbitro deste calibre que já o ano passado em Guimarães nos havia “roubado descaradamente contra esta mesma equipa”.
E continuou dizendo que “António Garrido é um árbitro falhado. Julgo que nunca deveria ter sido escolhido para arbitrar esta grande final. Teve sempre, desde o inicio, a nítida intenção de prejudicar o “meu” Vitoria SC. Foi mais que evidente. É um juiz incompetentíssimo que devia ser positivamente banido do futebol nacional”.
Por sua vez, o árbitro António Garrido, tal como era seu timbre, sempre foi dizendo que “todo o jogo andaram os vimaranenses a liga-lo ao “defunto” caso de Guimarães. Pediram não sei quantos penaltys. Mais uma vez mostrei que não receio apitar qualquer jogo. So lamento é que certas pessoas pisem por vezes as marcas”.
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Na conceituada Revista Equipa, na reportagem da partida, é possível ler-se: “Garrido, mais uma vez, voltou a ser injustíssimo. Já o havia sido o ano passado em Guimarães contra este mesmo Boavista FC. Agora foi novamente uma lastima…”
Na ressaca da partida os responsáveis vitorianos queixaram-se fortemente às instâncias próprias da arbitragem de António Garrido. A imprensa, unanimemente condenou a arbitragem de António Garrido.
Apesar de todas as queixas vimaranenses o arbitro António Garrido não foi castigado pelas entidades que superintendiam o futebol, acabando mesmo por receber a distinção de melhor arbitro nacional naquela temporada de 1975/76.
Era um sinal do estado em que se encontrava os meandros do futebol nacional. Entre muitos ficou celebre então o ditado popular que diz que “quem rouba e não é castigado, passa por homem honrado”.
Assisti no estádio das Antas a esse jogo de má memória.
ResponderEliminarPrecisamente por detras da baliza onde Rui Lopes marcou um golo soberbo e Almiro sofreu uma das mais evidentes grandes penalidades que vi em quarenta anos que vou ao futebol.
Esse Garrido foi o pior patife que alguma vez se cruzou no caminho do Vitória e pena tenho que nunca tenha sido punido por isso.
Pior, ainda se pavoneia pelos estádios deste país orgulhoso,ás tantas,do miserável arbitro que foi
Eu, infelizmente, não estive lá. Era um menino (11 anos) e ninguém me levou face aos tumultuosos acontecimentos da época anterior em Guimarães. Por muito que eu tivesse pedido como pedi. Vibrei no entanto com o jogo agarrado à minha bandeira e esta final doeu-me imenso. Ainda agora me doeu ao ler este magnífico post de um blogue que é um autêntico "serviço publico".
ResponderEliminarParabéns. Continue.
Eu estive lá e assisti a toda aquela palhaçada protagonizada por vários vigaristas que contribuíram para aquela final de má memoria para o nosso querido Vitória,esse covarde que ainda hoje não consigo pronunciar o seu nome posso tratá-lo por ex:por BOI,pois como estava a dizer esse BOI tudo fez para roubar a taça ao nosso querido Vitória que bela partida de futebol fizemos,disso todos nos orgulhá-mos fomos expoliádos por um boi que ainda hoje como Vitorianos sofre-mos é como um nó que está está na nossa garganta,só peço a Deus que não nos apareça outro bandido como esse.
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