A vida de Manuel Henriques de Pinho começou no dia 21 de Setembro de 1930 na pitoresca localidade de S. Roque em Oliveira de Azeméis. Desde muito novo, Pinho foi sempre participante activo nas “futeboladas” instituídas pelos miúdos da terra e cedo evidenciou-se a paixão pelas balizas. Ao contrário da maioria da rapaziada, era como guarda-redes que o jovem Pinho gostava de alinhar, demonstrando, precocemente, ter aptidão inata para essa posição.
Já adolescente Pinho surgiu a treinar nas camadas jovens do UD Oliveirense e, aos 17 anos de idade, foi o guarda-redes da equipa de juniores que conquistou o Campeonato Distrital da A.F. de Aveiro naquela categoria em 1947.
Logo na temporada seguinte o jovem Pinho integrou a equipa sénior do UD Oliveirense, assegurando primeiramente a titularidade e simultaneamente contribuindo, com as suas majestosas intervenções, para a conquista do Campeonato Distrital da A.F. de Aveiro por parte da formação de Oliveira de Azeméis.
Surpreendentemente, o jovem Pinho foi contratado pelo FC Porto no início da temporada de 1949/50 por indicação expressa do consagrado técnico portista Artur Baeta, que aconselhou vivamente a sua aquisição.
No FC Porto, obviamente, o jovem Pinho encontrou a concorrência do conceituado guardião portista Francisco Barrigana, não passando, como tal da condição de suplente e titular na equipa de reservas. Nessa categoria, o guardião Pinho coleccionou vários títulos de campeão regional da A.F. do Porto, ao serviço da equipa azul e branca.
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Entretanto, a carreira desportiva de Pinho teve também outras peripécias que convêm realçar. Desde logo a passagem pelo Campeonato Militar em futebol, onde Pinho, a cumprir serviço militar, representava a equipa do 5º Batalhão de Cavalaria de Aveiro. Todavia, desta feita, o jovem Pinho actuava na posição de interior esquerdo em detrimento do seu lugar preferido, na defesa da baliza.
No mesmo período dedicou-se a outra modalidade desportiva, concretamente, o basquetebol, onde foi jogador no Campeonato Militar ao serviço da mesma equipa militar que representava em futebol.
A tendência de Pinho para praticar outras modalidades estendeu-se também ao FC Porto. Enquanto esteve tapado na equipa de futebol principal do FC Porto pelo célebre Barrigana, o jovem Pinho acedeu ao convite de Manuel Dias Saúde, seccionista no andebol do clube azul e branco, para integrar a equipa de andebol de 7.
Com muitos e reconhecidos méritos, Pinho acabou sendo um notável guarda-redes da equipa de andebol, sagrando-se campeão regional e nacional naquela modalidade ao serviço do FC Porto.
Mas o grande sonho de Pinho era efectivamente afirmar-se no futebol. Cansado da falta de oportunidades Pinho cogitou abandonar o FC Porto. Teve próximo de isso acontecer, seduzido que estava por ter a possibilidade conseguida por amigo em treinar à experiência em clubes da cidade espanhola de Barcelona.
Conquistou o lugar de guarda-redes principal do FC Porto no início da temporada de 1955/56 e logo afirmou-se como um dos melhores jogadores portugueses naquela posição.
Pinho jogou em 25 partidas do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1955/56, ficando Acursio como seu guarda-redes suplente na equipa do FC Porto. A equipa azul e branca, com a participação deveras fundamental do guarda redes Pinho, colocava um ponto final no longo jejum de vitorias na principal prova nacional, vencendo categoricamente o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, conquista à qual juntou, ainda, a Taça de Portugal, numa final que os portistas venceram o SCU Torreense por 2-0.
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No mesmo ano contabilizou a segunda internacionalização, novamente, representando a Selecção Nacional “B”, desta feita, defrontando o Sarre, em Sarrebruque. As redes da baliza defendida por Pinho ficaram neste jogo invioladas, fruto, essencialmente, de uma grande exibição de Pinho, num encontro que terminou empatado a 0-0.
Posteriormente, Pinho chegou mesmo a Selecção Nacional “A”, mas nunca chegou a jogar pela equipa principal portuguesa, limitando-se a ocupar a condição de guarda-redes suplente de Carlos Gomes, o titular de Portugal.
(O guarda-redes Pinho na Selecção Nacional de Portugal)
Pinho era, acima de tudo, considerado um guarda-redes muito seguro e atento. De baixa estatura, muito entroncado fisicamente, num aspecto considerado pouco recomendado para um guarda-redes, Pinho caracterizava-se pelo seu posicionamento entre os postes e fora deles, que lhe valiam intervenções pouco arriscadas.
No período mais conturbado e indefinido da sua carreira no FC Porto, Pinho revelou-se sempre com um amplo espírito competitivo e crença nas suas capacidades. Era aplicado e nos treinos estava sempre pronto a aprender com os mais velhos e ajudar na progressão dos mais novos.
E finalmente, na última época ao serviço do FC Porto, Pinho voltou a sagrar-se campeão nacional da 1ª Divisão. Neste Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1958/59, o guarda-redes Pinho alinhou em 16 encontros oficiais, partilhando já baliza com aquele que seria o seu sucessor nos azuis e brancos, o guardião Acursio.
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(Pinho no FC Porto)
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(Pinho guarda-redes do FC Porto em festa)
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(Uma vez mais nas alturas)
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(Junto ao relvado segurando a bola)
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(Equipa do FC Porto na época de 1957/58)
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(Pinho em acção)
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(Desafio entre o Sporting CP - FC Porto)
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Veio para o Vitoria SC substituir o guarda-redes Sebastião que deixou Guimarães no final da época de 1958/59. Formou com o veterano Silva a dupla de guardiães da baliza vitoriana na temporada de 1959/60.
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No período do defeso, entre o final da temporada de 1958/59 e o início da época de 1959/60, o Vitoria SC deslocou-se pela primeira vez na sua história ao continente africano para disputar alguns jogos amigáveis, para os quais tinha sido convidado por alguns vimaranenses radicados em Africa.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1959/60)
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Naquela altura, era altamente prestigiantes este tipo de digressões como a que o Vitoria SC fez a terras africanas e, no caso particular dos vimaranenses, mais ainda, pois os resultados averbados nos desafios que por lá disputou foram soberbos e dignos de elogio nacional. Na verdade, o Vitoria SC venceu todas as partidas que disputou naquela viagem, à excepção de uma, que empatou contra uma equipa na Africa do Sul.
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A chegada da equipa do Vitoria SC a Guimarães foi, segundo rezam as crónicas da época, verdadeiramente apoteótica, com o trajecto entre a Estação dos caminhos-de-ferro e o Toural completamente inundado de gente em infindáveis festejos.
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Pinho estreou-se com a camisola do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1959/60 logo na 1ª jornada, realizada no Campo da Amorosa no dia 20 de Setembro de 1959 e que os vimaranenses venceram a formação do Lusitano de Évora por 7-0.
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Os números individuais de Pinho quer no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, quer na edição da Taça de Portugal, revelam que foi totalista, participando em todos os jogos relativos a estas competições.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1959/60)
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Prosseguiu a carreira regressando a um clube da cidade invicta, o SC Salgueiros, que na temporada de 1960/61 ascendia à 1ª Divisão Nacional. Esse regresso foi bastante influenciado pelo treinador do clube de Paranhos, precisamente o homem responsável pelo início de carreira de Pinto, Artur Baeta, o treinador do SC Salgueiros.
A modesta equipa de Paranhos conseguiu garantir a manutenção na 1ª Divisão Nacional, classificando-se na 12ª posição do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1960/61.
O guarda-redes Pinho alinhou em 20 encontros oficias pelo SC Salgueiros na principal competição portuguesa. O momento alto da época, particularmente de Pinho, foi a vitória alcançada pelo SC Salgueiros sobre o FC Porto em pleno Estádio das Antas, por 1-2.
Nesse encontro o lance decisivo foi uma grande penalidade desperdiçada por Hernâni do FC Porto, ou defendida, para alguns, pelo guarda redes salgueirista Pinho. Esse foi, contudo, um lance bastante controverso pois muita gente qualificou na altura como um falhanço propositado para favorecer o SC Salgueiros em prejuízo do SC Braga, clubes que se encontravam na luta pela manutenção.
Foi Pinho que inicialmente ganhou a corrida, conquistando a titularidade na baliza do Atlético CP até à 10ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Curiosamente, a estreia de Pinho na baliza do Atlético CP aconteceu em Guimarães, no Campo da Amorosa, no dia 24 de Setembro de 1961, precisamente na 1ª jornada da principal competição portuguesa. Nesse encontro, a equipa do Atlético CP venceu surpreendentemente o Vitoria SC por 1-3.
Entretanto, Carlos Gomes, antigo guarda redes do Sporting CP e da Selecção Nacional - na qual Pinho foi seu suplente - desentendeu-se com os responsáveis do clube de Alvalade e ingressou no Atlético CP.
Carlos Gomes assumiu então a titularidade da baliza do Atlético CP na 11ª jornada remetendo Pinho para o banco de suplentes. O regresso de Pinho à baliza do Atlético CP, aconteceu, curiosamente, frente ao Vitoria SC, desta feita no encontro do Campeonato Nacional da 1ª Divisão disputado no Estádio da Tapadinha no dia 21 de Janeiro de 1962.
Numa altura em que a partida se encontrava empatada a 2-2, Carlos Gomes, lesionado, teve que ser substituído precisamente pelo guarda-redes suplente Pinho. Atlético CP e Vitoria SC terminaram aquele jogo empatados a 3-3.
Após esse encontro Pinho realizou mais dois jogos seguidos na condição de titular e, depois uma derrota em Alvalade frente ao Sporting CP por 3-0, cedeu o seu lugar a Bandola.
Voltaria à baliza do Atlético CP no desafio frente ao SL Benfica depois de um monumental e celebre “frango” do guardião Bandola. O técnico José Valle, certamente agastado pelo lance, decidiu substituir Bandola por Pinho.
O Atlético CP realizou uma sensacional temporada de 1961/62, terminando o Campeonato Nacional da 1ª Divisão num surpreendente 6º lugar da tabela classificativa final.
Perto de celebrar 32 anos de idade, o veterano e experiente guarda-redes Pinho deixou a 1ª Divisão Nacional e rumou ao distrito de Viseu para ingressar na equipa do Lusitano FC de Vildemoinhos a militar na 2ª Divisão Nacional durante as temporadas de 1962/63 e 1963/64.
(Lusitano FC de Vildemoinhos)Posteriormente Pinho emigrou para a Venezuela onde viveu durante muitos anos. Regressou mais tarde a Portugal, falecendo num lar de terceira idade na cidade do Porto bem próximo do Campo da Constituição, uma casa do FC Porto. O antigo guarda-redes internacional português, com passagem na sua carreira de futebolista pelo Vitoria SC encontra-se sepultado em Santa Maria da Feira.
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