O Vitoria SC conquistou pela primeira vez na sua história o Campeonato Distrital da A.F. de Braga na temporada de 1933/34. Essa conquista, digna do maior realce e durante muitos anos ambicionada pelos vitorianos, causou inesquecíveis festejos nas principais artérias da cidade de Guimarães, onde todos os vimaranenses se regozijaram com o feito alcançado e prestaram, simultaneamente o merecido tributo aos novos campeões regionais.
O treinador da equipa do Vitoria SC responsável por aquela histórica conquista foi o húngaro Estevão Puskas, um técnico que apesar daquele triunfo não se eximiu a receber muitas críticas por parte da massa associativa vitoriana e a ser alvo de sucessivas desconfianças quanto às suas competências e seriedade.
(Equipa do Vitoria SC na época de 1933/34)
Na verdade, Puskas chegou ao Vitoria SC para desempenhar funções de jogador-treinador, trazendo consigo excelentes referências não só como praticante de futebol no Ferencvaros da Hungria, uma das maiores potências do futebol europeu, como enquanto um experiente técnico conhecedor da modalidade.
A Direcção do Vitoria SC, acreditando nas competências de Estevão Puskas e empenhada no desenvolvimento do clube, contratou o húngaro para jogar e comandar a equipa vimaranense com um encargo financeiro significativo.
(Puskas no Vitoria SC)
O certo é que rapidamente se percebeu que as suas qualidades como futebolista estavam bastante aquém do propalado. De facto, Puskas revelava-se um jogador sem categoria e sem condição física para representar o Vitoria SC, com faculdades muito inferiores a todos os restantes futebolistas que compunham a equipa vitoriana.
Por isso, Puskas nunca chegou a jogar com a camisola do Vitoria SC, mas, apesar das desconfianças que já então levantava, manteve-se nas funções de treinador da formação vimaranense.
(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1933/34)
A nova época de 1933/34 começou com a conquista do título de campeão concelhio de Guimarães, com a equipa do Vitoria SC a vencer o CC Taipas por 0-3, no jogo disputado nas Taipas, e no jogo decisivo realizado na cidade, triunfando por inapeláveis 13-0.
Após essa conquista concelhia o Vitoria SC começou a disputar o Campeonato Distrital da A.F. de Braga. Na série da equipa vimaranense integravam-se, alem do Vitoria SC, a formação do SC Maria da Fonte, da Povoa de Lanhoso, o Comercial FC, da cidade de Braga, o SC Fafe e o Triunfo SC, uma equipa de Barcelos.
(Equipas do Vitoria SC e FC Porto na época de 1933/34)
Nesta primeira fase o Vitoria SC venceu todos os desafios, cedendo apenas um empate a 2-2 no Campo do Benlhevai num jogo muito polémico frente ao SC Fafe. Deste modo, a equipa vimaranense terminou classificada no 1º lugar da sua serie alcançado assim o direito a disputar final do campeonato regional contra o SC Braga, o vencedor da outra serie em que se dividia a competição.
No dia 25 de Março de 1934 disputou-se no Campo do Benlhevai o jogo da 1ª mão da final do Campeonato Distrital da A.F. Braga. O Vitoria SC vence este encontro por 1-0, com um golo apontado por Paredes já no decorrer do 2º tempo.
Com uma vantagem mínima, joga-se a partida da 2ª mão no dia 8 de Abril de 1934, no Campo dos Peões, em Braga, onde a equipa do Vitoria SC, suportado por uma imensa falange de apoio vinda directamente Guimarães, acabaria por garantir um nulo no marcador, um resultado por si só suficiente para conquistar o ansiado título de campeão distrital.
(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1933/34)
O feito alcançado pelo Vitoria SC ecoava a nível nacional e, apesar da conquista, acentuavam-se as desconfianças sobre o seu técnico Estevão Puskas. Aquando da realização de um jogo frente ao FC Porto, é Siska, celebre futebolista da equipa portista, compatriota de Puskas, que apontou o treinador do Vitoria SC como um mero aventureiro que nunca tinha tido qualquer ligação de relevo ao futebol.
A contestação ao treinador do Vitoria SC acentua-se fatalmente e, apesar do êxito alcançado, as desconfianças dos responsáveis da colectividade vimaranense de que estariam perante um verdadeiro logro começavam a ficar cada vez mais desvendadas.
Puskas que mal falava o português, porem, defendia-se. Dizia, em entrevista, que: “Garanto-lhe sob palavra que já fiz dois campeões em países estrangeiros. O Vitoria, também, o foi. Sê-lo-á para o ano porque Puskas o preparará. O futebol internacional obriga a três treinos por semana. Preparação física as terças; técnica e jogo às quintas e nova preparação menos violenta às sextas. Em Portugal procura-se remediar com dois treinos por semana. Temos de nos sujeitar ao uso.”
Pese embora a contestação à sua competência, Estevão Puskas arrancou a época de 1934/35 como treinador do Vitoria SC. A equipa vimaranense apenas cede um empate em Famalicão e à 6ª jornada do campeonato regional vai a Braga defrontar o SC Braga apenas a um ponto de distância.
(Equipa de Reservas do Vitoria SC em 1933/34)
O jogo era importante para superar o SC Braga na classificação, mas a equipa vimaranense acaba derrotada por 1-0, quando tinha um conjunto de jogadores muito superiores aos bracarenses.
A paciência esgota-se finalmente e os sócios do Vitoria SC exigem a demissão do treinador Puskas. Critica-se, sobretudo, a competência revelada pelo técnico e o facto de este não jogar qualquer jogo perante um encargo financeiro relevante que o clube tinha que suportar.
O Vitoria SC viria a perder o campeonato regional embora outros factores tivessem sido fulcrais para esse desiderato. A Associação de Futebol de Braga interdita o campo do Vitoria SC por incidentes verificados em Guimarães aquando da passagem da caravana de outros clubes e impede o clube vitoriano de jogar em casa as decisivas partidas frente ao SC Braga e o SC Fafe.
Em jeito de retaliação contra o tratamento discriminatório da A.F. Braga os responsáveis do Vitoria SC decidem não comparecer a esses jogos e perdem os pontos em disputa.
A A.F. de Braga, fortemente criticada pelos dirigentes vitorianos e por outros clubes da região, proclama assim o SC Braga como campeão regional na temporada de 1934/35, ficando aquele título entregue à equipa bracarense conhecido, então, como o título de campeão da secretaria.
Entretanto, finalmente, em Dezembro de 1934, o Noticias de Guimarães noticiava assim o despedimento do treinador vitoriano Estevão Puskas: “Foi dispensado dos serviços que vinha prestando ao Vitoria, o treinador húngaro, sr. Estevam Puskas. Porque em tempo passado nos fora solicitada a assistência a vários treinos, achamos curiosas algumas inovações que Puskas apresentara – e receando que o seu convite aqueles treinos não passassem de mero fogo de vistas, entrevistamo-lo para inquirir das suas aptidões. Disse coisas e loisas – porque Puskas não é parvo nenhum -, mas a respeito de treinos e formação de linhas, sempre o barbarismo entrou na sua falta de recursos linguísticos, o que mais razão veio dar quem o apontava como autentico aventureiro. A Direcção do Vitoria despediu-o quando pôde fazê-lo. Andou bem, porque essa era a aspiração de muitos vimaranenses que viam em Estevam Puskas uma despesa a mais e uma chupeta de muito… lamber! Que vá em paz!”.
(Estevão Puskas na Académica de Coimbra)
Da história do húngaro Estevão Puskas apenas regista-se a sua efémera passagem ainda pela Académica de Coimbra na época de 1937/38 onde desempenhou também as funções de treinador.