Glórias do Passado: Temporada de 1977/78 - 9ª Parte

 

Temporada de 1977/78 - 9ª Parte


O Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1977/78 prosseguiu com a realização da 22ª jornada. O Vitoria SC visitava o GD Estoril-Praia, uma equipa modesta, comandada pelo jogador/treinador José Torres, e que, naquela altura, ainda lutava acerrimamente pela manutenção no primeiro escalão do futebol português.


A formação estorilista revelava-se um adversário sempre difícil de ultrapassar quando jogava em casa. Tradicionalmente, a equipa do Vitoria SC sentia imensas dificuldades em conseguir resultados positivos nas deslocações ao reduto do GD Estoril-Praia, ao ponto de, até aquela altura, nunca ter conseguido vencer a formação estorilista na condição de visitado.


(Imagem de uma fase do jogo entre o GD Estoril-Praia e o Vitoria SC na época de 1977/78)


(GD Estoril-Praia - Vitoria SC)


O Vitoria SC entrou naquele desafio disposto a romper com a tradição e, numa toada dominadora e ofensiva, procurou desde cedo abrir o marcador. Todavia, a organização estorilista e a segurança do guarda-redes estorilista Ferro impediram o golo vimaranense.


Na verdade, a equipa do GD Estoril-Praia, jogando com tranquilidade e organização no sector mais recuado, segurava os ímpetos vitorianos na intermediária e rompia em perigosos contra ataques, em futebol apoiado, em direcção à baliza do Vitoria SC.


E assim acabou por chegar ao golo da vantagem à passagem do minuto 20, numa jogada bem gizada por Fernando, Cepeda e Abrantes, e superiormente finalizada pelo centrocampista Santinho, que sem deixar a bola tocar na relva desferiu um remate indefensável para o guardião vimaranense Melo.


(Os defesas centrais do Vitoria SC Torres e Soares perante um remate do avançado estorilista)


Em desvantagem, a equipa do Vitoria SC tudo fez para, pelo menos, conseguir chegar à igualdade. Dominou os acontecimentos mas não conseguiu ultrapassar com êxito a bem escalonada defesa estorilista. Na realidade, os jogadores vitorianos nunca foram capazes de soltar as amarras em que foram envolvidos pela disposição táctica da formação do GD Estoril Praia.


O desafio terminaria com o triunfo favorável ao GD Estoril-Praia por 1-0, valendo então o golo apontado por Santinho ainda no decurso do 1º tempo. Este desfecho, apesar de penalizador para a turma vitoriana, não poderá considerar-se injusto, pois apesar do domínio exercido pelo Vitoria SC, a verdade é que coube aos estorilistas as melhores ocasiões de golo durante toda a partida.


(Lance entre um jogador do GD Estoril-Praia com a presença de Almiro, Romeu e Mané do Vitoria SC)


A realidade é que a equipa do Vitoria SC vivia, então, digamos, um período de alguma desinspiração ofensiva, factor que voltou a evidenciar-se no desafio seguinte frente ao FC Porto.


O FC Porto chegava a Guimarães na liderança da classificação do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1977/78. Essa liderança na recta final da prova e a esperança reinante no seio dos adeptos portistas de que finalmente seria colocado um ponto final no longo jejum na conquista do título de campeão nacional, trouxe muitos adeptos ao Estádio Municipal de Guimarães para assistir ao encontro entre o Vitoria SC e o FC Porto.


(Lance junto à grande área do Vitoria SC com a intervenção do guarda-redes Melo neste desafio entre o Vitoria SC e o FC Porto, na época de 1977/78, no Estádio Municipal de Guimarães, visivelmente, lotado)


O recinto vimaranense registou, naquela solarenga tarde de Domingo de Abril de 1978, uma das maiores enchentes de sempre, calculando-se a presença de mais de 25.000 espectadores que superlotaram o Estádio Municipal de Guimarães, proporcionando aos cofres do Vitoria SC uma receita superior a 2.600 contos.


Foi uma autêntica romaria de simpatizantes portistas que acudiu à cidade de Guimarães para apoiar o FC Porto. Desde muito cedo, formaram-se longas filas de adeptos junto às bilheteiras situadas nas imediações do estádio para conseguir um ingresso para o jogo.


(Um lance disputado por Oliveira, do FC Porto, e o defesa vitoriano Soares, os protagonistas no golo portista)


Os adeptos do Vitoria SC e os aficionados portistas, claramente em maior número, fizeram uma notável moldura humana, deram um colorido bonito ao jogo, proporcionando um grande espectáculo numa grande festa do futebol.


O jogo, com um grau de emotividade muito grande associado, foi disputado com grande qualidade técnica e táctica ou não estivessem em campo, de facto, duas das melhores equipas portuguesas, superiormente comandadas, reconhecidamente, pelos dois melhores técnicos nacionais, Mário Wilson, por banda do Vitoria SC, e José Maria Pedroto, à frente do FC Porto.


(Novamente na grande area do Vitoria SC, Gomes, avançado do FC Porto, remata de cabeça à baliza vimaranense)


Embora o equilíbrio ou a repartição de ascendentes tivesse sido a tónica dominante, a verdade é que o FC Porto, no cômputo geral, exerceu alguma supremacia sobre o conjunto vitoriano na condução dos destinos do jogo, defendendo quando assim era necessário, contemporizando quando se exigia e atacando o adversário sempre na melhor altura.


Entrou melhor o Vitoria SC, mais empreendedor, criando alguns lances de perigo junto à grande área portista. Contudo, as intervenções do guarda-redes Fonseca do FC Porto, sobretudo, numa defesa espectacular a um cabeceamento do vitoriano Mané, mantiveram o nulo no marcador.


(Octávio, o combativo médio portista, em busca do esférico, enquanto Abreu, o n.º 7 do Vitoria SC, fica pelo terreno de jogo)


A partir da meia hora, o FC Porto, sob a batuta de Seninho, conseguiu sacudir a pressão exercida pelo conjunto minhoto, equilibrou os acontecimentos e passou também a abeirar-se mais da baliza do Vitoria SC.


Nesta altura foi Melo, o guardião vimaranense, a negar algumas ocasiões de golo ao FC Porto. O ascendente portista no último quarto de hora da 1ª parte foi mesmo avassalador, com um futebol envolvente e veloz, sucedendo-se, desta forma, os lances perigosos junto à baliza do Vitoria SC.


(Este foi um dos lances polémicos do desafio com um golo do Vitoria SC a ser invalidado por falta de Abreu sobre o guarda-redes portista Abreu)


Cheirava a golo, dizia-se, o qual veio efectivamente a acontecer aos 41 minutos por intermédio de Oliveira. Aproveitando um mau alívio do defesa vimaranense Soares, Oliveira embalou para a grande área vitoriana, ficou isolado perante Melo e com um remate rasteiro adiantou o FC Porto no marcador, para gáudio dos milhares de adeptos portistas.


Veio então o intervalo e na 2ª parte o FC Porto adoptou uma postura calculista e expectante em relação àquilo que o Vitoria SC poderia fazer. E nesta altura voltou a revelar-se, claramente, a falta de inspiração dos avançados vitorianos Mané e Romeu.


(Cabeçada de um jogador vitoriano perante a presença expectante de um futebolista do FC Porto)


O Vitoria SC, apesar do domínio territorial, nunca mostrou uma capacidade real para virar o jogo a seu favor. Enquanto isso, o FC Porto realizou uma 2ª metade realista e mais conveniente às suas aspirações.


Organizado defensivamente, o FC Porto sustinha todas as investidas vitorianas. Guardava a bola e, matreiramente, só atacava pela certa lançando perigosos contra ataques sobre o último reduto do Vitoria SC.


O jogo terminou com o triunfo sofrido e à tangente do FC Porto por 0-1. Esta vitória do FC Porto era fundamental para a peugada portista na luta pelo título de campeão nacional.


Por seu turno, o Vitoria SC, tranquilo na classificação geral da competição, apesar de não ter sido superior ao adversário, poderá queixar-se de alguma falta de sorte e da imperícia dos seus avançados para não ter obtido um resultado mais positivo.

Autor: Alberto de Castro Abreu

Enviar um comentário



<< Home
Site Meter