Glórias do Passado: Caraça

 

Caraça


O avançado centro do Vitoria SC nas épocas de 1952/53 e 1953/54 foi o alentejano Caraça, um excelente goleador, contratado pelos vimaranenses ao SL Benfica e que pelas suas prestações deixou muitas saudades em Guimarães quando saiu para o Lusitano de Évora.

Acaba por ser uma figura marcante na história deste clube alentejano, numa altura em que o Lusitano de Évora era um dos principais clubes do futebol português e um participante assíduo no Campeonato Nacional da 1ª Divisão.

António Joaquim Caraça nasceu na Sé, na cidade de Évora, no dia 7 de Fevereiro de 1932. Como era frequente naqueles tempos foi jogando nos enérgicos desafios de futebol com os amigos do bairro que Caraça despertou a atenção dos responsáveis dos clubes da sua terra.

Esteve para ingressar no SL Évora, depois no Lusitano de Évora, mas seria no Juventude de Évora que viria a jogar oficialmente pela primeira vez. Foi inscrito na equipa de juniores do Juventude de Évora na temporada de 1950/51, integrando assim uma equipa que foi uma verdadeira sensação.
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(Equipa de juniores do Juventude de Evora na época de 1949/50)
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Jogando como ponta de lança foi o melhor marcador na categoria de juniores no distrito de Évora, numa época em que as competições regionais como o caso da alentejana tinham grande qualidade e eram disputadas intensamente.

Depois de conquistar os títulos regionais da categoria a equipa de juniores do Juventude de Évora classificou-se para o Campeonato Nacional. De forma sensacional e, sobretudo, alavancada nos golos apontados por Caraça, a formação alentejana conseguiu atingir as meias-finais da competição.
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(Equipa de juniores do Juventude de Evora na temporada de 1949/50)
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Nesse percurso no Campeonato Nacional da Juniores da época de 1949/50 o Juventude de Évora cruzou-se com o SL Benfica. É nessa altura que Caraça desperta o interesse dos responsáveis benfiquistas.

Além do SL Benfica, outros clubes tentaram convencer o jogador a ingressar nas suas principais equipas. O CD Cuf, o Vitoria de Setúbal e até mesmo o Lusitano de Évora, o principal clube da sua terra natal, acenaram com tentadoras propostas ao jovem Caraça.

Porem, foi a grandeza do SL Benfica que iludiram Caraça e é assim que o jovem alentejano surge integrado na equipa de juniores benfiquista durante a temporada de 1950/51.
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(Equipa de juniores do SL Benfica na época de 1950/51)
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(Caraça no SL Benfica)
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É certo, todavia, que divide as suas prestações entre a equipa de juniores e, já com alguma regularidade, surge também como ponta de lança da formação de reservas do SL Benfica. Nesta época de 1950/51 sagra-se campeão nacional na categoria de juniores ao serviço do SL Benfica e evidencia-se assim como um jogador com larga margem de progressão.
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(Equipa de juniores do SL Benfica na temporada de 1950/51)
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(Caraça, nas alturas, representando o SL Benfica)
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(Equipa de juniores do SL Benfica na época de 1950/51)
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Em 1951/52 permanece ao serviço dos encarnados, embora, já como sénior, não conseguiu um lugar na equipa principal do SL Benfica. Queda-se pela equipa de reservas benfiquistas e no final da temporada acaba mesmo por ser dispensado dos quadros do SL Benfica.
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(Plantel sénior do SL Benfica na época de 1951/52)
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Na temporada de 1952/53 o Vitoria SC mantém no início da época como técnico principal o húngaro Alexandre Peics. Contudo este treinador viria a ser substituído por Cândido Tavares.

As principais aquisições do Vitoria SC para esta época vieram do SL Benfica, clube com o qual os vitorianos mantinham estreitas relações de amizade e de onde chegavam com frequência vários jogadores para representar a colectividade vimaranense.

Assim, chegaram no inicio desta temporada de 1952/53 os médios Cesário e José da Costa e o possante avançado centro Caraça. O jovem avançado alentejano reforçava o Vitoria SC para substituir António Teixeira que tinha sido transferido pelo clube vimaranense para o FC Porto.

Recorde-se, a propósito, a estreia oficial de Caraça com a camisola do Vitoria SC. Aconteceu, concretamente, no dia 28 de Setembro de 1952, aquando da recepção ao FC Porto no Campo da Amorosa, completamente lotado, num jogo que terminaria com o triunfo portista por 0-1.

O Vitoria SC terminou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão na 8ª posição da tabela classificativa. Esta classificação alcançada não foi, contudo, sinónima de uma prova conduzida sem sobressaltos. Bem pelo contrário, pois o Vitoria SC viu-se envolvido ate final da competição numa intensa luta pela permanência no principal escalão do futebol português.

A equipa vitoriana só alcançou a permanência após um dramático jogo disputado na cidade de Guimarães no dia 26 de Abril de 1953 frente ao SC Braga. No Campo da Amorosa, completamente lotado, assistiu-se com elevado dramatismo ao desenrolar de um jogo entre os eternos rivais de Guimarães e Braga.

Até ao último minuto do jogo o resultado estava empatado a 2-2, altura em que o avançado Caraça apontou o golo do triunfo, o qual determinou a manutenção da equipa do Vitoria SC na 1ªDivisão Nacional, relegando o SC Braga para o sempre dramático jogo da liguilha.

Destaque para a frente de ataque do Vitoria SC nesta época de 1952/53, com Lara II, Rebelo, Caraça, Franklim e Silveira. Caraça era o goleador da equipa, um jogador com um físico avantajado, muito combativo e fulgurante nas movimentações dentro da grande área adversária.

Caraça foi totalista no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, actuando em todos os 26 jogos da competição, sendo o autor de 11 golos da equipa vimaranense na prova, sagrando-se, assim, o melhor marcador do Vitoria SC. Já pela Taça de Portugal, Caraça anotou 7 golos em 6 jogos disputados pelo clube vimaranense naquela prova.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1952/53)
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Na segunda época ao serviço do Vitoria SC, Caraça contribuiu decisivamente para o 8º lugar alcançado pelo clube vimaranense no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1953/54.

O técnico da formação do Vitoria SC foi o mesmo da época anterior, o português Cândido Tavares, mas a linha de ataque vitoriana tinha sofrido algumas alterações, sendo agora composta por Silveira, Caraça, José da Costa, Miguel e Rola.

Caraça foi, novamente, o melhor marcador dos vimaranenses no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, apontando 14 golos na prova, tendo participado em 25 jogos. Na Taça de Portugal, a prova rainha do calendário futebolístico português, Caraça apontou 5 golos em 4 jogos disputados.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1953/54)
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Durante o defeso e na preparação da temporada seguinte surgiu em Guimarães uma notícia que caiu como uma verdadeira bomba junto das hostes vimaranenses. A equipa do Vitoria SC perdia um jogador importante na sua equipa principal, precisamente, o combativo avançado centro Caraça, jogador que detinha excelentes predicados futebolísticos e cuja ausência seria muito notada na equipa durante a época de 1954/55.

Caraça abandonou Guimarães para rubricar um contrato com o Lusitano de Évora. Esta saída de Caraça envolveu, porem, muita polémica pela forma como tudo ocorreu, onde o jogador terá sido alvo de um rapto nas Caldas da Rainha por parte dos dirigentes eborenses.

Mais uma vez, com o argumento de um prometido emprego na Câmara Municipal de Évora, o avançado Caraça obteve a necessária desvinculação para ser autorizada a sua inscrição como atleta do Lusitano de Évora, tudo isto, apesar dos enormes protestos dos responsáveis vitorianos que, na altura, promoveram mesmo a realização de uma Assembleia Geral de sócios no Teatro Jordão para discutir e criticar esta situação.

O certo é que Caraça foi inscrito pelo Lusitano de Évora e veio a tornar-se mesmo num símbolo da história do clube eborense. Completou 11 épocas consecutivas ao serviço do Lusitano de Évora, sempre a jogar na 1ª Divisão Nacional, no período áureo da popular formação alentejana.
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(Equipa do Lusitano de Evora na decada de 50)
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(Caraça no Lusitano de Evora)
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Integrando a geração dourada da história do Lusitano Évora, Caraça contribuiu para brilhantes participações do clube alentejano no Campeonato Nacional da 1ª Divisão entre a temporada de 1954/55 até à época de 1964/65.

A equipa do Lusitano de Évora conseguiu um 10º lugar na classificação na principal liga portuguesa logo na época de estreia no clube eborense. Em 1955/56 atingiu um 8º lugar, enquanto na temporada seguinte o Lusitano de Évora alcançou o 5º lugar, aquela que seria a melhor classificação de sempre deste clube alentejano no Campeonato Nacional da 1ª Divisão.
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(Equipa do Lusitano de Evora na época de 1956/57)
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(Caraça com a camisola do Lusitano de Evora)
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(Caraça no Lusitano de Evora)
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(Plantel do Lusitano de Evora na temporada de 1956/57)
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(Caricatura de Caraça com as cores do Lusitano de Evora)
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(Caraça no Lusitano de Evora)
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Classificação meritória conseguiria novamente na época de 1957/58 com um 6º lugar, enquanto nas duas épocas seguintes o Lusitano de Évora alcançou, respectivamente, um 9º e um 10º lugar na tabela geral da principal competição portuguesa.

Caraça continuava a ser titular na equipa do Lusitano de Évora. Contribuiu, assim, para o 10º lugar na época de 1960/61 e um 12º lugar na temporada de 1961/62. Mas, mais decisivamente, Caraça foi elemento fundamental para o 7º lugar alcançado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão na época de 1962/63. Nesta temporada, Caraça foi o melhor marcador da equipa eborense na competição, apontando 8 golos nos 25 jogos em que participou.
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(Equipa do Lusitano de Evora na época de 1960/61)
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(Caraça no Lusitano de Evora)
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(Equipa do Lusitano de Evora na temporada de 1963/64)
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(Caraça no Lusitano de Evora)
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Em 1963/64, o Lusitano de Évora terminou a principal prova nacional classificado no 11º lugar, enquanto, na época de 1964/65, o clube eborense classificou-se no 12º lugar da tabela geral.

Já com 33 anos de idade, e depois de 13 anos consecutivos a jogar na 1ª Divisão Nacional, ao serviço do Vitoria SC e do Lusitano de Évora, esta seria a última temporada de Caraça como futebolista profissional.


Autor: Alberto de Castro Abreu

Amigo Abreu, por lapso, o meu comentário sobre o Caraça saiu no post anterior, na temporada de 77/78, 6ª parte. Perdoem os leitores, para mais dados sobre este jogador, favor verificar esse comentário.
Um abraço, Alcindo Dias
 
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