Glórias do Passado: Garcia

 

Garcia


Garcia é mais um futebolista açoriano que fez carreira no Vitoria SC durante a década de 40, historicamente, o período de afirmação do clube vimaranense na alta-roda do futebol português. Chega a Guimarães no ano de 1944, vindo do Faial SC, como um ilustre desconhecido, para substituir o jogador Zeferino, um dos maiores talentos da equipa do Vitoria SC.

Embora, portanto, viesse catalogado como médio centro, será como defesa que o açoriano Garcia atingirá a notoriedade que lhe é reconhecida e recordada pelos vitorianos. Garcia era um atleta alto, entroncado e muito forte, condições físicas aptas a torna-lo um defesa de respeito.

António Garcia Júnior nasceu no dia 11 de Dezembro de 1916 nos Açores. Começou a jogar futebol na região dos Açores, destacando-se, essencialmente, ao serviço da equipa do Faial SC onde conquistou algumas provas de cariz distrital.

É, porém, ao serviço do Vitoria SC que Garcia adquire projecção nacional. Rubrica contrato com o clube vimaranense na temporada de 1944/45, auferindo uma quantia de 1.200 escudos, e pouco tempo depois estabelece-se na cidade como barbeiro.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1944/45)
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A sua estreia com a camisola vitoriana ocorre em Outubro de 1944, na partida da segunda volta do Campeonato Distrital da A. F. de Braga da época de 1944/45 entre o Vitoria SC e o SC Braga.

Os dois rivais minhotos, envolvidos na luta pelo título de campeão, juntamente com o FC Famalicão, jogavam um encontro decisivo no Campo do Benlhevai, em Guimarães, numa das maiores lotações de sempre daquele recinto.

Alberto Augusto, o treinador do Vitoria SC na temporada de 1944/45, tentou o efeito surpresa lançando na equipa vimaranense o açoriano Garcia, jogador completamente desconhecido para os adversários arsenalistas.

Garcia, inicialmente, acusou algum nervosismo, próprio de quem estava a ser o alvo das atenções de muitos milhares de pessoas. Com o decorrer do jogo abstraiu-se e começou a demonstrar toda a sua capacidade futebolista, contribuindo para o triunfo do Vitoria SC sobre o SC Braga por 3-1.

Neste jogo de estreia, o açoriano Garcia, realizou uma boa partida, essencialmente, durante o segundo tempo, deixando uma óptima impressão junto dos exigentes adeptos vitorianos.

O primeiro título conquistado por Garcia ao serviço do Vitoria SC foi Campeonato Distrital da A. F. de Braga da época de 1944/45, concluindo um percurso notável na competição.

O Vitoria SC vai participar, então, no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, onde terminará classificado na 8ª posição da tabela geral. Garcia participava assim pela primeira vez na principal competição portuguesa de futebol.

Contudo, o jogador açoriano, foi vítima de uma grave lesão que o deixou arredado do terreno de jogo durante um largo período de tempo. O infortúnio aconteceu no dia 17 de Dezembro de 1944, no Estádio do Lima, no Porto, no decorrer de uma partida entre o Vitoria SC e o FC Porto a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão.

(Jogo entre o FC Porto e o Vitoria SC)

Foi célebre o resultado verificado naquela partida, pois o FC Porto derrotou a turma da cidade berço por um concludente 10-0. Aquele resultado, segundo rezam as crónicas, ficou a dever-se, em grande medida, à lesão de Garcia, vítima de uma entrada duríssima do portista Pinga, um dos mais famosos jogadores portugueses.

O vitoriano Garcia, incapacitado, foi obrigado a deixar o campo ao minuto 43 e, como naquela altura não eram permitidas substituições, o Vitoria SC ficou reduzido a menos um elemento. A verdade é que só a partir daí visivelmente inferiorizada, é que a equipa do Vitoria SC baqueou perante o poderio da equipa portita, pois até ao intervalo, fruto de muita galhardia e capacidade, o resultado esteve igualado a 0-0.

Em consequência dessa grave lesão o açoriano Garcia esteve afastado da competição durante muitos meses, razão pela qual jogou apenas quatro jogos no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1944/45 e um na Taça de Portugal.

(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1944/45)

Completamente recuperado, Garcia irá realizar, na época seguinte de 1945/46, a sua melhor temporada de sempre, agora, jogando como defesa, fazendo dupla no sector mais recuado da equipa do Vitoria SC com João, o conhecido João Bom.

Celebrizou-se num jogo frente ao Sporting CP, em Lisboa, a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1945/46, onde, sensacionalmente, o Vitoria SC venceu por 2-3.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1945/46)
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(Garcia em acção numa partida frente ao GD Estoril Praia)
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Garcia encarregou-se da marcação ao jogador sportinguista Peyroteo. O jogador açoriano do Vitoria SC fez uma exibição, verdadeiramente, notável, anulando, completamente, o extraordinário futebolista do Sporting CP e da Selecção Nacional.

O Vitoria SC, sob o comando técnico de Alexandre Peics, sagra-se, novamente, campeão da região, mas desta vez intitulado como Campeão do Minho devido à extinção da A. F. de Viana do Castelo e que levou à junção numa só prova das equipas da região de Braga e de Viana do Castelo. A prova foi pautada pela enorme superioridade do Vitoria SC em relação a todas a outras formações.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1945/46)

(Garcia nas alturas no celebre jogo frente ao Sporting CP)

O Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1945/46 inicia-se com o impedimento do Vitoria SC utilizar o Campo do Benlhevai. Assim sendo, decretado aquele impedimento, urgente se tornou a construção de um novo campo de futebol na cidade de Guimarães.

É assim que vai nascer o Campo da Amorosa, inaugurado a 13 de Janeiro de 1946 em jogo frente ao Boavista FC, onde o Vitoria SC triunfou por 3-1. O açoriano Garcia está na equipa do Vitoria SC que pela primeira vez jogou no Campo da Amorosa.

Num campeonato disputado por doze equipas o Vitoria SC terminaria, novamente, no 8º lugar da classificação. Garcia foi totalista na equipa vimaranense, actuando em todos os 22 jogos da principal competição nacional.

(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1945/46)

Segue a época de 1946/47 com um novo treinador no Vitoria SC, Artur Baeta. O Campeonato Distrital da A F. de Braga foi novamente conquistado pela formação de Guimarães.

Todavia a conquista deste título já não foi o passeio que havia sido nos anos anteriores. O Vitoria SC teve de ultrapassar inúmeras dificuldades e puxar dos galões para conquistar o ceptro.

No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1946/47, o Vitoria SC fica mais uma vez classificado na 8ª posição, numa prova agora disputada por 14 clubes. Nesta edição da principal liga nacional, o defesa Garcia actuou em 15 jogos oficiais com a camisola vitoriana.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1946/47)

(Garcia ao centro da defesa do Vitoria SC)
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1946/47)
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(Garcia, junto de vários jogadores do Vitoria SC, nesta encontro no Campo da Amorosa frente ao SL Benfica na época de 1946/47)
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A partir da época de 1947/48 o Vitoria SC passa a ser treinado por Alfredo Valadas. A principal aquisição para esta época é Francisco Costa, um jovem defesa contratado ao Gil Vicente FC e que mais tarde irá substituir Garcia.

No Campeonato Nacional da 1ª Divisão desta temporada o Vitoria SC classificou-se na 7ª posição, realizando uma prova extremamente tranquila, garantindo a permanência no escalão principal do futebol português com muita facilidade. Nesta época, Garcia, ainda foi titular, actuando em 17 jogos na competição.

No final desta temporada despediu-se da carreira de futebolista um jogador que ficou famoso na história do Vitoria SC, o defesa João, mais conhecido por João Bom, jogador que fez uma celebre dupla defensiva com Garcia.
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(Garcia e Francisco Costa, defesas do Vitoria SC, perseguem o avançado do Boavista FC, neste encontro entre vimaranenses e boavisteiros na temporada de 1947/48)
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Na temporada de 1948/49 o Vitoria SC conquistou um brilhante 6º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, até aquela altura, a melhor classificação de sempre do clube vimaranense.

Nesta altura, Garcia, já deixou de ser titular na equipa vitoriana. A defesa passou a ser composta por Ferreira e Francisco Costa. O açoriano do Vitoria SC jogou apenas um jogo no Campeonato Nacional da 1ª Divisão.

Esta situação repetir-se-ia na temporada seguinte, agudizada, ainda mais, pela chegada do defesa Cerqueira, vindo do SL Benfica, pela mão do novo treinador do Vitoria SC, o húngaro Janos Biri.

No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1949/50, o Vitoria SC quedou-se pelo 11º lugar da classificação geral, tendo o defesa Garcia jogado apenas um jogo oficial, o qual viria a ser, curiosamente, o ultimo jogo do jogador açoriano com a camisola vitoriana.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1949/50)
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(Garcia ao centro da defesa do Vitoria SC neste jogo frente ao SL Benfica)
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Já que, embora integrando o plantel do Vitoria SC na temporada seguinte de 1950/51, Garcia não efectuou qualquer jogo oficial pela equipa vitoriana no Campeonato Nacional da 1ª Divisão ou na Taça de Portugal.

Depois de sete épocas consecutivas ao serviço do Vitoria SC, Garcia, açoriano de nascença, tornou-se vitoriano de coração e vimaranense de adopção. Acabou por regressar à sua terra natal onde continuou ligado ao futebol - treinando equipas regionais açorianas – e dedicando-se à sua profissão de barbeiro.

Desencadeado o fenómeno da emigração açoriana, Garcia rumou para os Estados Unidos da América, radicando-se no estado de Massachustes, onde teve uma vida bastante melhor.

Continuou, porem, muito ligado ao Vitoria SC. Era conhecido por o “Garcia do Guimarães” e honradamente gostava de falar e ser associado ao Vitoria SC. Empolgado pelos feitos alcançados pelo Vitoria SC em meados da década de 80, quando orgulhosamente via o nome do “seu” clube ligado a grandes conquistas, decidiu, com mais de 70 anos de idade, visitar Guimarães.

Em 1987 esteve então Guimarães. Viu o seu Vitoria SC, reviu amigos e antigos companheiros de equipa e ainda, num gesto generoso, ofertou ao clube a quantia de 1.000 dólares, um donativo de barbeiro, dizia, mas que significava o seu contributo para o crescimento do clube que tanto adorava.

Autor: Alberto de Castro Abreu

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