Glórias do Passado: Virgilio Freitas

 

Virgilio Freitas



Virgílio Freitas é uma personalidade bem marcante na história do Vitoria SC, sobretudo, nos primeiros anos de existência da colectividade vimaranense, onde o seu nome se encontra registado nos momentos mais importantes do clube.

Resumidamente, diga-se, que Virgílio Freitas faz parte da história do Vitoria SC, não apenas enquanto jogador, que foi brilhante, mas também em outras funções, como treinador, massagista ou simplesmente como associado.

Integrou a equipa de infantis que em 1927 conquistou o primeiro título oficial da história do clube, como fez parte, ainda como jogador, do conjunto que pela primeira vez venceu o Campeonato Distrital da A. F. de Braga, na temporada de 1933/34. É titular e capitão da equipa do Vitoria SC que sucessivamente vence os campeonatos regionais de futebol na década de 30.

Outros momentos importantes na vida do clube tiveram a participação de Virgílio Freitas, como por exemplo, a inauguração do Campo de Benlhevai em 1932, ou do Campo da Amorosa, já na década de 40 e enquanto treinador ou massagista.

O lendário Virgílio, vimaranense de naturalidade, sapateiro de profissão, é daqueles que jogava no Vitoria SC por verdadeiro amor à camisola branca e preta. Não ganhava dinheiro, nunca jogou em campos relvados e o banho, como era próprio naqueles tempos, era sempre tomado com água fria. Ainda assim, Virgílio Freitas era um exemplo de amor clubista e de uma infindável dedicação ao Vitoria SC.

Virgílio começou a jogar futebol com 15 anos de idade. Integrou as equipas jovens vimaranenses tendo pertencido à equipa de infantis do Vitoria SC que em Fevereiro de 1927 venceu aquele que é o primeiro título oficial na história do clube.
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(Equipa de Infantis do Vitoria SC em 1927)
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Depois de alguns anos em que uma profunda crise económica ataca fortemente a região e prejudica a evolução do futebol e o Vitoria SC, em particular, a partir de 1931 alguns empresários e comerciantes da região lançam uma campanha para angariação de fundos e construção de um novo campo de futebol, uma infra-estrutura necessária para a afirmação definitiva do clube.

É assim que se dá a inauguração do Campo do Benlhevai, em Janeiro de 1932, facto que marca o regresso do futebol à cidade de Guimarães. O Vitoria SC estava assim novamente em actividade e, desde então, tornou-se num dos principais colectividades nacionais.
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(Cartão de sócio do Vitoria SC)
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Virgílio joga a titular na equipa do Vitoria SC que actua na inauguração do Campo de Benlhevai frente ao SC Salgueiros, partida que a formação da cidade invicta, mais rotinada e superior, vence por 1-6.

O Vitoria SC já participa no Campeonato Distrital da A.F. de Braga da época de 1932/33, mas a equipa do SC Braga sagra-se vencedora, principalmente, pela influencia do treinador/jogador Alberto Augusto, personalidade que anos mais tarde vem para Guimarães.
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(Equipa do Vitoria SC em 1932)
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1932/33)
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(Novamente uma equipa do Vitoria SC na temporada de 1932/33)
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Segue-se a temporada de 1933/34, aquela em que o Vitoria SC conquista pela primeira vez na sua história o Campeonato Distrital da A.F. de Braga. O Vitoria SC era então treinado pelo húngaro Puskas e Virgílio, jogando a interior esquerdo, era titular e peça fundamental na manobra da equipa vimaranense.

A final da competição foi disputada a duas mãos entre o Vitoria SC e o SC Braga. No dia 25 de Março de 1934 disputou-se no Campo do Benlhevai o jogo da 1ª mão da final do Campeonato Distrital da A.F. de Braga da temporada. Jogando em casa, com o apoio do seu público, o Vitoria SC venceu o encontro por 1-0, com um golo da autoria de Paredes, apontado já no decorrer da segunda parte.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1933/34)
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(Em 1933/34 uma equipa do Vitoria SC)
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Na 2ª mão, disputada a 8 de Abril de 1934, no Campo dos Peões em Braga, o Vitoria SC, suportado por uma imensa falange de apoio vinda propositadamente de Guimarães, garantiu um nulo no marcador final, resultado por si suficiente para se sagrar campeão.

Naturalmente, foram enormes os festejos que percorreram as principais artérias da cidade de Guimarães onde todos os vimaranenses se regozijaram com o feito alcançado, prestando, simultaneamente, o merecido tributo aos novos campeões, entre eles Virgílio Freitas.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1933/34)
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(Equipa do Vitoria SC a ser distinguida em 1933/34)
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Virgílio jogou no Vitoria SC até ao final da época de 1939/40. É o capitão da equipa vitoriana em quase todas as conquistas distritais da década de 30. Nos primeiros anos da carreira jogava como interior esquerdo, passando mais tarde a jogar também como defesa.

Era um jogador muito voluntarioso, de inquestionável valor técnico, sobretudo, com um excelente domínio de bola, umas das virtudes mais apreciadas nos jogadores de futebol daqueles tempos. Em Virgílio sobressaía também a sua exemplar correcção, orgulhando-se de ao longo de toda a sua carreira nunca ter sido castigado.

Alem do Vitoria SC, o interior Virgílio Freitas foi muito importante nas equipas de futebol da Selecção da A. F. de Braga, pois juntamente com outros vitorianos representava com frequência aquela selecção nos desafios inter-associações.
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(Selecção da A.F. de Braga em 1934 com Virgilio e vários jogadores do Vitoria SC)
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A época de 1934/35 é marcada por uma grande polémica entre o Vitoria SC e a A.F. de Braga, que castiga o clube vimaranense, impedindo-o de jogar em Guimarães as decisivas partidas para a atribuição do titulo de campeão distrital frente ao SC Braga e Sporting de Fafe.

O Vitoria SC não aceita o castigo imposto e faz falta de comparência a esses jogos, acabando o SC Braga por sagrar-se campeão vencendo o Campeonato Distrital da A. F. de Braga de 1934/35.
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(Equipa do Vitoria SC na decada de 30)
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As principais contratações do Vitoria SC para a nova temporada de 1935/36 foram Zeferino Duarte e Alberto Augusto, antigo internacional português, que jogara várias temporadas no SL Benfica, e que nos últimos anos era a principal estrela do SC Braga e do Comercial de Braga.

O SC Braga sagrar-se-ia campeão distrital enquanto o Vitoria SC ficou como vice - campeão. Todavia, essa classificação permitiu aos vitorianos disputar pela primeira vez o Campeonato Nacional da 2ª Liga, na época de 1935/36.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1935/36)

(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1935/36)

Já na época seguinte de 1936/37 tudo seria diferente, podendo dizer-se que o rumo do Vitoria SC mudou completamente a partir de então. A equipa do Vitoria SC sagrou-se novamente campeão distrital e pela primeira vez na sua história venceu o SC Braga na cidade dos arcebispos, numa partida em que o médio Zé Maria realizou uma inesquecível exibição.

Nesta temporada de 1936/37, o Vitoria SC voltou a participar no Campeonato Nacional da 2ª Liga, pois a vitoria no Campeonato Distrital da A.F. de Braga não atribuía acesso directo à disputa da principal competição nacional.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1936/37)

(Jogadores do Vitoria SC campeão em 1936/37)

(Equipa do Vitoria SC na época de 1936/37)
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(Vitoria SC na temporada de 1936/37)
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Em 1937/38 o Vitoria SC sagrou-se novamente campeão distrital, conquistando o bi-campeonato. O Vitoria SC começava assim a afirmar-se no panorama futebolístico como o principal clube da região, estatuto que foi solidificando e lhe é reconhecido até aos dias de hoje.

O técnico da equipa de futebol vimaranense continuava a ser Alberto Augusto, agora apenas na qualidade treinador, pois deixaria definitivamente de praticar a modalidade, mas com Virgílio ainda a ser preponderante.
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Fruto da conquista do ceptro distrital, o Vitoria SC participaria, nesta temporada de 1937/38, novamente, no Campeonato Nacional da 2ª Liga, terminando a prova classificado no 2º lugar da sua série.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1937/38)
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(Vitoria SC na temporada de 1937/38)
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1937/38)
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Segue-se a época de 1938/39, com o Vitoria SC a vencer mais uma vez o Campeonato Distrital da A.F. de Braga e sagrar-se ainda como o campeão do Minho, numa competição disputada entre os clubes do distrito de Viana do Castelo e de Braga.

Aquela conquista concedeu-lhe novamente direito a participar no Campeonato Nacional da 2ª Liga e, pela primeira vez, participar na segunda mais importante competição do futebol nacional, a denominada Taça de Portugal.

Nessa participação na Taça de Portugal de 1938/39, o Vitoria SC atingiu um notável resultado que mereceu honras de destaque nas mais variadas crónicas desportivas. Depois de eliminar a AD Ovarense por 5-0 o Vitoria SC encontrou o FC Porto na eliminatória seguinte.

Na 1ª mão, disputada na cidade de Guimarães, o Vitoria SC venceu sensacionalmente o super favorito FC Porto por 3-2. Esta foi a primeira vitória da equipa da cidade berço sobre um dos denominados três grandes do futebol português.

É certo que no jogo da 2ª mão, no Campo da Constituição, na cidade do Porto, o Vitoria SC foi vergado pela inquestionável superioridade da equipa portista. O Vitoria SC não teve capacidade para aguentar a força do adversário e saiu derrotado por 11-1, acabando, portanto, por ser eliminado na Taça de Portugal.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1938/39)
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Pese embora a eliminação, o triunfo do Vitoria SC sobre o FC Porto no jogo da 1ª mão, não deixava de ser um retumbante êxito desportivo e por isso digno dos mais variados reconhecimentos.

Também em consequência desse resultado histórico, a Direcção do Vitoria SC propôs a elevação do atleta Virgílio Freitas à condição de sócio honorário do clube, a mais alta distinção que a colectividade pode conferir.

Aprovado em assembleia-geral, esta foi uma forma excepcional de o Vitoria SC e todos os vimaranenses homenagearem o jogador Virgílio Freitas, atribuindo-lhe o galardão máximo do clube.

Virgílio estava então no final da carreira de futebolista. Era claramente o mais querido e popular jogador vimaranense pelo que nada surpreendeu que muitas outras pessoas e instituições da cidade se solidarizassem ao Vitoria SC na homenagem ao jogador.

A consagração ocorreu em 4 de Junho de 1939 na sede do Vitoria SC, na Rua D. João I, local que se encheu de muitas individualidades para felicitar Virgílio Freitas, com a presença dos órgãos sociais do clube, representantes da Câmara Municipal de Guimarães, desportistas, colegas de equipa, comerciantes e industriais da cidade e muitos associados do clube.

Alem dos discursos da praxe e do porto de honra, o Vitoria SC prestou a sua simbólica homenagem, a colocação, após descerramento, de um retrato de Virgílio Freitas com a camisola vitoriana na galeria de honra dos sócios honorários do clube.

Estava assim perto do final a carreira de futebolista de Virgílio Freitas, sempre ao serviço do Vitoria SC. Ainda jogou durante a época de 1939/40, mas com 33 anos de idade colocou definitivamente um ponto final na sua ligação ao clube como futebolista.

Todavia, Virgílio Freitas estava sempre pronto a servir o seu clube do coração. Depois de pendurar as chuteiras, Virgílio foi massagista da equipa principal do Vitoria SC durante vários anos.

(Vitoria SC na época de 1945/46 com Virgilio como massagista)

(Agora nesta equipa de 1944/45, tambem como massagista)
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Depois de criada a escola de futebol jovem do Vitoria SC após a passagem de Artur Baeta por Guimarães, Virgílio Freitas passou também a ser técnico dos jovens jogadores vimaranenses. Durante vários anos foi treinador na equipa de juniores do Vitoria SC.

Na época de 1945/46 assume a condição de treinador da equipa principal do Vitoria SC na transição de Alberto Augusto, que deixou o cargo no final da temporada de 1944/45, até à chegada do técnico Alexandre Peics.
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(Equipa de Juniores do Vitoria SC na decada de 50)
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(Como adjunto da equipa de juniores do Vitoria SC na decada de 50)
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Durante o período em que Virgílio Freitas é o treinador principal do Vitoria SC, o Dr. Moura Machado, Presidente do Conselho Fiscal e professor no Liceu de Guimarães, assume a responsabilidade da vertente física dos jogadores.

Virgílio Freitas ainda foi o treinador adjunto de Cândido Tavares, na equipa principal do Vitoria SC durante a época de 1953/54. Alem do Vitoria SC, Virgílio Freitas também foi treinador do CC Taipas.

Vivendo quase até aos 100 anos de idade, Virgílio Freitas esteve presente em muitos momentos e acontecimentos marcantes da vida do Vitoria SC, atravessando muitas gerações da existência da colectividade vimaranense.
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(Virgilio Freitas, em 2000, com 92 anos de idade)

(Virgilio Freitas)


Autor: Alberto de Castro Abreu

Feliz Natal e Boas FESTAS
 
Um Feliz Natal e um Próspero 2009 são os nossos votos.
 
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