Glórias do Passado: Augusto Silva

 

Augusto Silva


O futebolista Augusto Silva terá sido um dos primeiros e mais valiosos produtos que brotaram das escolas de formação do Vitoria SC e que permitiu elevados dividendos monetários aos cofres do clube.

Era inquestionavelmente um jogador de enorme qualidade, a quem muitos auguraram prematuramente um futuro bastante risonho, com muitas conquistas e sucessos individuais. Evidenciou-se ao serviço do Vitoria SC e mais tarde foi contratado pelo SL Benfica, numa altura em que a equipa benfiquista era tão uma das melhores da Europa e do Mundo.

Foi, todavia, uma pessoa que sofreu as mais intensas agruras que a vida de homem pode ter. Ainda no início da carreira suportou duas graves lesões que o obrigaram a ser submetido a duas intervenções cirúrgicas ao menisco. Mais tarde, perdeu dois filhos no espaço de apenas dois anos, ambos vítimas da poliomielite.

Por fim, uma machadada, que se revelou como a final, na sua carreira de futebolista, fatalmente terminada quando tinha apenas 27 anos de idade. Muito antes do momento normal para o fim da carreira de um jogador, o precioso talento de Augusto Silva foi tragicamente arredado dos estádios de futebol por causa de um acidente em terras chilenas aquando de uma digressão do SL Benfica à América do Sul.

Augusto Lamela da Silva nasceu na cidade de Barcelos no dia 6 de Fevereiro de 1939. Os primeiros pontapés na bola ocorreram naturalmente nas ruas da sua terra natal ou na escola que frequentava. Logo aí se vislumbrava a qualidade técnica e a aptidão de Augusto Silva para a modalidade.

Frequentou desde muito miúdo o Campo de Futebol do Gil Vicente FC, onde com a restante rapaziada exercia a função de apanha bolas e simultaneamente assistia aos jogos de futebol dos mais graúdos ao serviço do clube da terra.

O primeiro futebolista que Augusto Silva considerou como grande ídolo foi o médio do Gil Vicente FC Barrega. Mas outra personagem marcava vincadamente a vida de Augusto Silva e pelo qual o mesmo nutria uma eterna admiração. Tratava-se do Silva, guarda-redes do Vitoria SC e tio de Augusto Silva.

O tio Silva, como o jovem Augusto carinhosamente o tratava, foi guarda-redes do Vitoria SC praticamente durante uma década inteira. Por isso, e dada a paixão do Augusto pela bola, era frequente o guardião do Vitoria SC levar o sobrinho aos seus jogos, nascendo aí a sua predilecção pelo clube vimaranense.

Compreensivelmente, o guarda-redes Silva exerceu decisiva influência na ida do jovem Augusto Silva de Barcelos para Guimarães. Com apenas 10 anos de idade o miúdo Augusto deixou a casa onde morava com os seus pais e tornou-se vimaranense passando a residir, a trabalhar e a jogar futebol em Guimarães.

O guarda-redes vitoriano, Silva, acolheu o garoto Augusto, longe, imagina-se, de sequer prever naquela altura, que uns anos depois seria companheiro do sobrinho na equipa principal do Vitoria SC.

Quando aos 10 anos passou a viver em Guimarães, Augusto Silva foi exercer a profissão de aprendiz de serralheiro para uma empresa têxtil propriedade do então Presidente da Direcção do Vitoria SC, Antero Henriques da Silva, na qual ganhava a quantia de seis escudos por dia, mas tinha também autorização para ir treinar e jogar no clube vimaranense.

Naturalmente que o jeito que evidenciava para a bola foi prontamente aproveitado pelo Vitoria SC e por isso, Augusto Silva, com apenas 13 anos de idade já representava, orgulhosamente, a equipa vimaranense nos escalões mais jovens.

Augusto Silva cedo começou a revelar-se um verdadeiro craque da bola. As potencialidades do seu futebol eram mais que muitas o que fazia crescer, na mesma proporção com que se evidenciava, as sedutoras propostas de outros clubes.
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Aos 15 anos de idade, Augusto Silva estreou-se com camisola do Vitoria SC, num encontro apelidado de amigável, com troféu em disputa, mas que de amistoso não teve nada, contra o Desportivo Francisco de Holanda, no Campo da Amorosa em Guimarães, em equipas jovens.
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(Augusto Silva e Freitas nos juniores do Vitoria SC)

O Desportivo Francisco de Holanda tinha, naquela altura, uma excelente equipa de futebol nas camadas jovens e rivalizava perfeitamente com o Vitoria SC. Alias, para aquele concreto desafio, o popular Xico Holanda era mesmo a equipa considerada favorita à conquista do troféu.

O jogo terminou empatado mas não chegou a haver prolongamento para decidir o vencedor. Foi então que a rivalidade chegou ao expoente máximo e os jogadores do Vitoria SC e do Desportivo Francisco de Holanda, não conformados com a suspensão da partida, entraram em discussões e confrontos físicos que ficaram celebres na época.

Augusto Silva, com 16 anos, passou então a integrar a equipa de juniores do Vitoria SC, treinada por Ângelo Camelo, técnico e jornalista local, disputando por duas vezes o Campeonato Distrital da A.F. de Braga. Nunca venceu esta competição pelo Vitoria SC, já que a edição da época de 1955/56 foi vencida pelo SC Braga, enquanto a prova da temporada de 1956/57 foi ganha precisamente pelo Desportivo Francisco de Holanda.

(Equipa de juniores do Vitoria SC na época de 1955/56)

Um dia, um vimaranense adepto do portista, convenceu o jovem Augusto Silva a prestar provas no FC Porto perante o treinador José Valle. Pagaram-lhe a viagem, a estadia na cidade invicta e lá rumou Augusto Silva ao Campo da Constituição para treinar à experiência, juntamente com as grandes vedetas do FC Porto.

Augusto Silva, um tanto envergonhado perante os olhares examinadores daquela conceituada gente do futebol, lá se integrou no treino, jogou da forma que melhor sabia e confirmou, efectivamente, toda a qualidade futebolística que possuía.

O seu desempenho facilmente convenceu os responsáveis portistas que logo o convidaram a jogar pelo FC Porto. Nesse momento, porém, os remorsos falaram mais alto. Augusto Silva percebeu que assinando pelo FC Porto naquela altura, estava a atraiçoar não só o Vitoria SC e os seus responsáveis que tão bem o acolheram, como ao seu próprio tio Silva, que tanto insistiu no seu ingresso na equipa vimaranense. Apesar da legítima aspiração de Augusto Silva em singrar no futebol, o seu sentimento de gratidão foi bem mais forte e lá regressou a Guimarães e ao Vitoria SC.

Embora com idade de júnior já integrava a equipa de reservas do Vitoria SC e muitas vezes participava nos treinos da equipa principal. Ainda júnior, estreou-se pelas mãos do treinador Fernando Vaz na equipa principal do Vitoria SC na época de 1957/58 durante a disputa do Campeonato Nacional da 2ª Divisão.

(Plantel do Vitoria SC na época de 1957/58)

À 25ª jornada da 1ª fase da competição, o Vitoria SC, já praticamente apurado para a fase final, recebia o SC Espinho. A célebre partida disputou-se no dia 23 de Fevereiro de 1958, no Campo da Amorosa, com Augusto Silva a envergar a camisola n.º 7 de titular do Vitoria SC.

Nesse jogo, o Vitoria SC, já a pensar nos jogos da fase final, empatou a 1-1, com o golo vimaranense a ser apontado por Bártolo. Visivelmente nervoso o jovem Augusto Silva não realizou uma grande estreia, mas tal facto, não impediu Fernando Vaz de continuar a apostar no jovem.

No domingo seguinte, concretamente no dia 2 de Março de 1958, outro momento alto na carreira e na vida de Augusto Silva. Jogou em Santo Tirso, frente ao FC Tirsense, novamente como titular do Vitoria SC e tendo ao seu lado o guarda-redes Silva, o seu admirado tio.

Nessa época de 1957/58 jogou ainda mais alguns jogos durante a fase final do Campeonato Nacional da 2ª Divisão, que finalmente, ditou o regresso do Vitoria SC ao principal escalão do futebol português.

(Augusto Silva entre os jogadores do Vitoria SC na temporada de 1957/58)

A época de 1958/59 marca o regresso do Vitoria Sport Clube à 1ª Divisão Nacional, escalão onde militaria ininterruptamente durante cerca de 50 anos, cimentando, definitivamente, uma posição de destaque, como um dos principais clubes do panorama futebolístico português.

Para o cargo de treinador principal, nesta temporada, foi contratado Mariano Amaro, antigo jogador internacional, uma das maiores figuras da história do CF Belenenses e do futebol português na década de 30 e 40, substituindo Fernando Vaz que, entretanto, rumara a outras paragens.

(Augusto Silva em acção pelo Vitoria SC numa partida frente ao SC Braga no Estadio 1º de Maio)
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A estreia oficial de Augusto Silva na 1ª Divisão Nacional, aconteceu no dia 14 de Setembro de 1958, curiosamente, contra o SL Benfica, no Estádio da Luz, na 1ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão.

O resultado do encontro, todavia, é que não foi nada animador para as hostes vimaranenses, colocando em estado de alerta toda a nação vitoriana. O Vitoria SC saiu do Estádio da Luz pesadamente derrotado pelo SL Benfica por 7-0.
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A título de curiosidade recorde-se que nesse jogo de estreia na 1ª Divisão Nacional, Augusto Silva teve uma missão particular a desempenhar, isto é, marcar individualmente um jovem chamado António Mendes, o famoso pé canhão, que anos rumou ao Vitoria SC como “moeda de troca” no negocio da transferência de Augusto Silva e Pedras para o SL Benfica.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1958/59)

(No Campo da Amorosa, Augusto Silva aparece com a cabeça ligada depois de um choque com Angelo no jogo frente ao SL Benfica)

O alarme causado na 1ª jornada do Campeonato Nacional da época de 1958/59 não se viria a repetir, com o Vitoria SC, a partir daí, a percorrer um caminho notável com destino à melhor classificação de sempre na sua história até então. Um fantástico 5º lugar, logo atrás dos principais clubes daquele tempo, era realmente espantoso para um clube que estava de regresso ao primeiro escalão do futebol nacional.

Augusto Silva era, originariamente, um avançado, normalmente utilizado como extremo ou interior. Pelo menos, foi assim que fez carreira na formação do Vitoria SC e mais tarde na equipa principal sob as ordens de Fernando Vaz.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1958/59)

Com Mariano Amaro, o jovem Augusto Silva passou a jogar na posição de centrocampista, adaptando-o a uma posição similar àquela que o treinador do Vitoria SC da época de 1958/59 se havia notabilizado no futebol português ao serviço do CF Belenenses e da Selecção Nacional de Portugal.

O plantel do Vitoria SC estava repleto de bons avançados e necessitava, acima de tudo, de um bom médio ofensivo. Esta mudança na posição original de Augusto Silva não foi definitiva, pois mais tarde passou a jogar novamente na sua posição predilecta. Não obstante isso, ao longo da sua carreira, sobretudo depois de ingressar no SL Benfica, Augusto Silva jogou ainda noutras posições do terreno de jogo, provando assim outra das suas grandes qualidades, precisamente a versatilidade.

A verdade é que Augusto Silva acabou por realizar poucos jogos no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1958/59, apenas dois, sem ter anotando qualquer golo na competição. Ainda jovem para estas andanças foi ganhando mais experiência jogando pela equipa de reservas do Vitoria SC.

No período do defeso, entre o final da temporada de 1958/59 e o início da época de 1959/60, o Vitoria SC deslocou-se pela primeira vez na sua história ao continente africano para disputar alguns jogos amigáveis, para os quais tinha sido convidado por alguns vimaranenses radicados naquele continente.

(Plantel do Vitoria SC para a temporada de 1959/60)

(Augusto Silva com a camisola do Vitoria SC num jogo no Campo da Amorosa em Guimarães contra o Sporting CP. Note-se o campo de jogos completamente cheio)
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Naquela altura, era altamente prestigiantes este tipo de digressões como a que o Vitoria SC fez a terras africanas e, no caso particular dos vimaranenses, mais ainda, pois os resultados averbados nos desafios que por lá disputou foram soberbos e dignos de elogio nacional. Na verdade, o Vitoria SC venceu todas as partidas que disputou naquela viagem, à excepção de uma, que empatou contra uma equipa na Africa do Sul.

Nem mesmo os apelidados clubes grandes ou sequer a Selecção Nacional tinham conseguido tamanho feito, motivo pelo qual, a cidade de Guimarães e suas gentes festejaram exuberantemente os triunfos alcançados pelo Vitoria Sport Clube no continente africano.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1959/60)

O êxito do Vitoria SC naquela digressão e a quantidade de troféus conquistados foram devidamente vangloriados por todos os vitorianos, que em Agosto de 1959, no momento do regresso da equipa à cidade de Guimarães, receberam com pompa e circunstancia todos os atletas. Desde a estação de Lordelo até Guimarães que o comboio que transportava a comitiva do Vitoria SC foi acompanhado por populares e alvo das mais variadas manifestações de regozijo.

Augusto Silva apesar de ter integrado a comitiva que viajou até Africa, acabou por ter que regressar mais cedo por causa de uma lesão. A história é simples de ser contada e motivou, todavia, uma longa ausência de Augusto Silva durante a época de 1959/60.

(Plantel do Vitoria SC na época de 1959/60)

(Augusto Silva no Vitoria SC frente à Academica de Coimbra)

Durante a temporada de 1958/59, Augusto Silva andou bastante tempo com dores fortes localizadas num dos seus joelhos. Foi aguentando até onde pôde esse padecimento, já que queria a todo o custo afirmar-se na equipa principal do Vitoria SC.

Quando o Vitoria SC foi convidado a viajar até Africa em digressão então é que Augusto Silva não quis mesmo ser operado, pois acalentava o sonho de viajar até aquele continente. Escondeu a lesão dos responsáveis técnicos e clínicos do Vitoria SC e lá seguiu em viagem com a equipa.

(Comitiva do Vitoria SC de partida para Africa)

Ainda efectuou alguns jogos pelo Vitoria SC durante aquela digressão, mas num desafio disputado na capital moçambicana, frente à Selecção de Lourenço Marques, a lesão manifestou-se e não conseguiu esconder mais as dores que suportava. Regressou imediatamente a Portugal para ser operado.

Restabelecido voltou a jogar. Para ganhar ritmo competitivo Augusto Silva actuava pela equipa de reservas do Vitoria SC no Campeonato Distrital. Numa partida frente ao Arcos de Valdevez voltou a lesionar-se com gravidade no menisco e foi novamente operado.

(Plantel do Vitoria SC na época de 1959/60)
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(Em acção pelo Vitoria SC numa partida frente ao CF Belenenses)
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O Vitoria SC, treinado pelo uruguaio Humberto Buchelli, terminou Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1959/60 na 7ª posição, um lugar tranquilo e meritório. Augusto Silva, sobretudo pelas lesões, não deu relevante contributo à equipa principal do Vitoria, actuando apenas em 2 jogos durante toda a competição, sem marcar qualquer golo.
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(Plantel do Vitoria SC na época de 1959/60)
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Veio então a temporada de 1960/61, onde o Vitoria SC subiu mais um degrau na hierarquia do futebol português ao atingir o 4º lugar na tabela classificativa do Campeonato Nacional da 1ª Divisão que correspondia, até aquela altura, à melhor classificação de sempre do clube na principal prova futebolística nacional.

A época iniciou-se com um novo treinador, Artur Quaresma, técnico que apostou definitivamente em Augusto Silva, depois de este mostrar-se devidamente recuperado. Na posição de avançado, extremo, ou médio, Augusto Silva alinhou em 8 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1960/61 e nessa época marcou o seu primeiro golo na principal competição portuguesa.
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(Plantel do Vitoria SC na temporada de 1960/61)
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É nesta época, frente ao Sporting CP, no Campo da Amorosa, que Augusto Silva realiza aquele que muitos consideram o melhor jogo da sua vida. O jogo terminou empatado a 0-0 tendo o Vitoria SC realizado um jogo fantástico contra a poderosíssima equipa leonina. Os analistas, como Aurélio Márcio do Jornal “A Bola”, não tiveram pejo em considerar o jovem Augusto Silva como o melhor jogador em campo.

Na 1ª volta do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1960/61, o Vitoria SC tem um desempenho mediano, concretizando alguns resultados contraditórios e terminando a 1ª metade da competição em 5º lugar. Foi no decorrer da 2ª volta da competição, já com Augusto Silva como titular indiscutível, que o Vitoria SC, praticamente, pulverizou todos os adversários com um futebol brilhante e digno de realce em toda a comunicação social.

A equipa do Vitoria SC foi realmente imparável, terminando o Campeonato Nacional da 1ª Divisão na 4ª posição, atrás do SL Benfica que foi o Campeão Nacional, o Sporting CP que foi o vice campeão e o FC Porto, 3º posicionado. Atrás dos vimaranenses na 5ª posição ficaria o CF Belenenses, feito praticamente impensável naquela época de acontecer.
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Mas seria a partir de 1961/62 que Augusto Silva se afirmou, definitivamente, como a principal vedeta da equipa do Vitoria SC. Antes de mais foi de uma regularidade e eficácia assinalável, alinhando em 25 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão e marcando 5 golos.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1961/62)
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(Augusto Silva no Vitoria SC)
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1961/62)
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A temporada de 1961/62 foi, contudo, bastante conturbada e polémica, com a equipa vimaranense a correr sérios riscos de descer à 2ª Divisão Nacional. Na verdade, o Vitoria SC começou muito mal o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, coleccionando uma série de resultados negativos que pintavam de negro o horizonte da equipa na prova.

No decorrer da 2ª volta do Campeonato Nacional da época de 1961/62, depois de mais uma derrota no Campo da Amorosa, desta feita contra o Sporting CP, por 1-3, o Presidente da Direcção Casimiro Coelho Lima abandona o clube juntamente com o treinador Artur Quaresma que se demite do cargo que ocupava.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1961/62)

(Pedras e Augusto Silva no Vitoria SC)

Nessa altura pairava em Guimarães o espectro da descida do Vitoria SC à 2ª Divisão Nacional. Um conjunto de personalidades, lideradas por Hélder Rocha, tomam conta dos destinos directivos dos Clube e para o cargo de treinador indicam Joaquim Rola, o veterano jogador do Vitoria SC que já desempenhava funções de técnico na equipa de juniores.

A estreia de Joaquim Rola no comando da equipa dá-se no dia 18 de Março de 1962 num importante desafio a contar para a 19ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, que opunha o Vitoria SC ao Leixões SC, em que a equipa vimaranense venceu por 2-3, com Augusto Silva na equipa titular.

(Equipa do Vitoria SC na época de 1961/62)

(Equipa de reservas do Vitoria SC no inicio da decada de 60)
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Inicialmente, a mudança operada na liderança da equipa deu os seus frutos. Os resultados começaram a melhorar e a equipa recuperou algum atraso na tabela classificativa, todavia, um empate em casa frente ao SL Benfica por 2-2 e uma demolidora derrota sofrida no Alentejo frente ao Lusitano de Évora, por 4-1, colocou o Vitoria SC novamente em posição de iminente descida de divisão.

O jogo decisivo jogou-se no Campo da Amorosa, frente ao FC Porto, no dia 26 de Maio de 1962. O FC Porto tinha obrigatoriamente que ganhar a partida para conquistar o título de Campeão Nacional, por seu lado, a equipa do Vitoria SC, também tinha que conquistar o triunfo para evitar a descida de divisão.

O Vitoria SC conseguiu alcançar o êxito vencendo o FC Porto por 1-0. O grande herói da partida foi Augusto Silva que realizou uma tremenda exibição e apontou o golo do triunfo vimaranense.

Com aquela decisiva vitoria, o conjunto vimaranense garantiu a manutenção na 1ª Divisão Nacional, já a formação do FC Porto acabou por perder o ceptro nacional para a equipa do Sporting CP, que assim venceu a competição com mais dois pontos que os azuis e brancos. Terminando o Vitoria SC na 9ª posição da tabela classificativa do Campeonato Nacional da 1ª Divisão.

Apesar da época tão conturbada havia na equipa do Vitória dois jogadores que se destacavam em relação aos demais e que aguçava o interesse de clubes de dimensão superior. As exibições de Augusto Silva eram acompanhadas permanentemente pelos responsáveis do SL Benfica que apresentaram uma proposta ao Vitoria SC para a aquisição dos seus serviços.

No jogo de Guimarães para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Vitoria SC e o SL Benfica empataram a 2-2 com uma grande exibição de Augusto Silva e sobretudo do miúdo Pedras.

Entretanto também o FC Porto tentou contratar o jogador minhoto do Vitoria SC apresentando uma concreta proposta. Todavia, os números apresentados pelo SL Benfica eram bem mais tentadores, bem como o lote de jogadores que se dispunha a ceder.
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Augusto Silva rubrica contrato com o SL Benfica, auferindo um ordenado fabuloso e, como prémio de assinatura, a exorbitante quantia de 400 mil escudos. Por seu turno, o Vitoria SC, recebeu 700 mil escudos do SL Benfica em numerário, e ainda, a cedência de Manuel Pinto e Teodoro a título definitivo e Zeca Santos e Testas a título de empréstimo.
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(Equipa do SL Benfica na decada de 60)
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(Momento da assinatura de contrato de Augusto Silva com o SL Benfica)
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(Apresentação de Augusto Silva a Fernando Riera)
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(Augusto Silva com outros companheiros debaixo do simbolo do SL Benfica)
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Ingressava assim no SL Benfica o miúdo barcelense de naturalidade, vimaranense de adopção, que aos 10 anos de idade ganhava 6 escudos como aprendiz de serralheiro e agora iria jogar futebol ao lado de grandes lendas do futebol português, como Zé Augusto, Eusébio, Coluna, Simões e treinado pelo chileno Fernando Riera para a época de 1962/63.

Jogou cinco épocas consecutivas no SL Benfica. Venceu quatro Campeonatos Nacionais da 1ª Divisão e, por uma vez, a Taça de Portugal. Mas, sobretudo pela extensa lista de grandes jogadores que integravam a equipa do SL Benfica na década de 60, Augusto Silva, nunca conseguiu afirmar-se definitivamente como um titular indiscutível na formação encarnada.
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(Augusto Silva com a camisola do SL Benfica)
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Contudo, nunca deixou de ser um jogador imensamente apreciado para os lados do Estádio da Luz. Era suplente na equipa principal e titularíssimo na equipa de honra do SL Benfica que disputava o Campeonato Distrital da A. F. Lisboa prova futebolística muito importante naquele tempo.

A estreia com a camisola do SL Benfica aconteceu no Estádio do Restelo, na final da Taça de Honra da A.F. Lisboa, frente ao Sporting CP. Sensacional vitoria dos encarnados por 4-0 e Augusto Silva conquistava assim o seu primeiro grande troféu ao serviço do SL Benfica.
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(Equipa do SL Benfica na época de 1963/64)

(Augusto Silva no SL Benfica)

(Em acção pelo SL Benfica numa partida frente ao GD Cuf)

Seguiu depois em digressão com o SL Benfica pela Escandinávia e faz a sua estreia internacional com os encarnados, embora não oficial, numa encontro que a equipa portuguesa venceu em Oslo por 0-4, jogando na equipa titular no lugar de Simões que se encontrava adoentado.

Durante o Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1962/63 - onde o SL Benfica se sagrou Campeão Nacional - Augusto Silva apenas alinhou em 5 jogos, onde apontou 2 golos. Participou nos encontros que o SL Benfica, nesta competição, defrontou o Vitoria de Setúbal, em Alvalade frente ao Sporting CP, onde os encarnados venceram por 1-3, sendo o primeiro golo apontado por Augusto Silva, contra o GD Cuf, o Lusitano de Évora e o Vitoria SC.

Normalmente, Augusto Silva representava a equipa de reservas do SL Benfica, mas estava sempre entre os convocados do chileno Fernando Riera para a equipa principal, acompanhando os encarnados não só nos jogos nacionais, como os europeus, ou no Brasil, frente ao Santos FC.

(Augusto Silva juntamente com Pedras agora no SL Benfica)

(Augusto Silva no meio de vários craques do SL Benfica)
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(SL Benfica - Sporting CP)

Referia-se novamente a versatilidade de Augusto Silva. Com Fernando Riera começou, logo nesta temporada, a actuar também na posição de defesa, nomeadamente, sobre a zona lateral.

Em 1963/64 o SL Benfica e Augusto Silva voltam a conquistar o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, aditando-lhe, desta feita, também a Taça de Portugal, numa famosa final frente ao FC Porto.

O SL Benfica tinha entretanto um novo treinador Lajos Czeizler, o “Buda”, que pouco apostou em Augusto Silva. O jogador minhoto apenas alinhou em seis partidas da principal competição portuguesa, onde anotou três golos na sua conta pessoal.

(Augusto Silva com os ex companheiros do Vitoria SC, Daniel e João da Costa)

(Descansado ao lado de Eusébio no SL Benfica)

Nesta altura discutia-se bastante quem devia acompanhar Coluna no centro do meio campo benfiquista. Augusto Silva, Germano, Neto ou Iauca, todos foram experimentados naquele lugar, parecendo, todavia, a alguma critica, que Augusto Silva era o mais indicado para aquela posição.

Na época de 1964/65 chegou ao SL Benfica um novo treinador. Desta feita a escolha recaiu sobre romeno Elek Schwartz que também não concedeu muitas oportunidades a Augusto Silva.

Mais uma vez o SL Benfica foi o grande campeão nacional. Augusto Silva voltou a jogar apenas 6 jogos durante o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1964/65.

(Augusto Silva representando o SL Benfica)

(Augusto Silva, capa da Revista Idolos do Desporto)
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Finalmente, na época de 1965/66 Augusto Silva, treinado desta feita por Bela Guttman, conquistou a titularidade na equipa principal do SL Benfica não actuando, contudo, como seria normal, a avançado, nem a médio, mas sim, usualmente, como defesa lateral. E fê-lo sempre com grande brilhantismo, segundo rezam as crónicas.

Provado estava então, definitivamente, que Augusto Silva era um atleta valioso. A versatilidade era virtude máxima, mas a sua qualidade técnica, a sua movimentação no terreno de jogo e o forte remate característica de sublinhar.
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(Augusto Silva no banco de suplentes numa partida em Espanha)
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No Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1965/66 o SL Benfica perdeu a competição para o Sporting CP, deixando assim escapar uma rara oportunidade de se sagrar tetra-campeão. Augusto Silva realizou, sem apontar qualquer golo, 17 jogos ao longo de toda a prova, o seu melhor registo ao serviço do SL Benfica.

Iniciou-se, depois, aquela que seria fatalmente a ultima época na carreira de futebolista de Augusto Silva. O treinador do SL Benfica na temporada de 1966/67 seria novamente o chileno Fernando Riera.

Augusto Silva, com 27 anos de idade, era já um jogador consagrado no plantel do SL Benfica, que voltou a sagrar-se campeão nacional nesta época de 1966/67. O jogador formado no Vitoria SC ainda participou em 2 jogos desta competição, razão pela qual teve naturalmente direito a receber a faixa de campeão e ver o seu nome mais uma vez inscrito no rol dos campeões encarnados.
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(Augusto Silva e Pedras recebendo a equipa do Vitoria SC)
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O drama que provocou o final abrupto da carreira de Augusto Silva abateu-se como uma verdadeira bomba sobre a equipa do SL Benfica que viajara até à América do Sul em digressão. O título do jornal “A Bola” de 1967, “Acordar morto para o futebol”, descreve fortemente a triste situação vivida por Augusto Silva.

A equipa do SL Benfica estava instalada no Hotel Carlos V, hotel de luxo da cidade de Santiago do Chile. Segundo o próprio relata, de manha, ao acordar, por volta das 10.30, “senti qualquer coisa no braço direito, estava dormente, cocei-o, mas não o senti. Não me preocupei, fui para o duche, mas...”.

A tragédia acabou por acontecer durante o próprio banho. Augusto Silva caiu derreado no chão da casa de banho, vítima do desenvolvimento de uma trombose cerebral, que lhe causou, imediatamente, uma paralisia parcial do corpo.
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(Entrando numa ambulância juntamente com o filho já em Portugal)
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Os seus companheiros de equipa e também quarto, Iauca e Camolas, encontraram-no postergado no chão do quarto do hotel em estado vegetativo. O infeliz jogador foi imediatamente hospitalizado e ficou cerca de um mês internado num hospital do Chile em recuperação, tendo por companhia apenas o seu treinador Fernando Riera, que não largou o seu pupilo nem por um minuto, depois de a comitiva benfiquista, consternada, regressar a Portugal.

Regressaria à cidade de Lisboa um mês depois do fatal acontecimento, pelo seu próprio pé, mas visivelmente afectado e com graves sequelas no corpo, que irremediavelmente o inutilizaram para a prática profissional do futebol.
Foi obrigado a abandonar a carreira de futebolista. Mas não abandonou o SL Benfica, nem o clube o abandonou a ele. Depois de uma ligeira recuperação passou a trabalhar na sede do clube encarnado, passando por várias funções, desde porteiro a cargos administrativos.
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(Augusto Silva, visivelmente debilitado, abraçado ao seu filho)
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Augusto Silva sempre demonstrou também uma enorme afeição pelo Vitoria SC, clube que prontamente se colocou, na altura, à sua disposição para o ajudar naquilo que este necessitasse. O Vitoria SC e também a cidade Guimarães, anos mais tarde, prestaram-lhe uma sentida homenagem, com a realização de um jogo de futebol entre as velhas guardas do SL Benfica e do Vitoria SC, partida em que Augusto Silva, visivelmente debilitado, fez questão de participar.

Autor: Alberto de Castro Abreu

o nome do filho dele é Gabriel???
 
O nome do filho dele é Manuel Augusto.
 
O nome do filho, (ja felecido) era de facto Manuel Augusto Abreu Lamela da Silva. Foi um Grande Homem e continuará a sê lo no meu coraçao para toda a eternidade....
 
Eu conheci em tempos o Manuel Augusto... Já há muitos anos que não tinha notícias dele e é com grande tristeza que venho a saber que faleceu. De que faleceu ele?
 
O Manuel Augusto Faleceu com um Tumor no figado. Foi um Homem q viveu com a grandiosidade de um Herói e sofreu como um mártire. Não merecia...foi uma injustiça!
 
Agradeço imenso a sua informação, pois realmente lamento muito o seu sofrimento e a sua partida.Ele ainda era muito novo para deixar esta vida.
Sinto muito a morte do Nelo,que Deus o tenha em paz e descanso.
 
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