Glórias do Passado: Óscar

 

Óscar


Óscar Vicente Martins Duarte, simplesmente Óscar, nome conhecido nos relvados do futebol português entre os finais da década de 70 e meados da década seguinte. Com um percurso futebolístico com passagens pelo SC Covilhã, GD Estoril Praia, FC Porto, Boavista FC, Académica de Coimbra e, finalmente, SC Farense.

Natural de Cabo Verde, Óscar nasceu no dia 5 de Dezembro de 1950 na cidade da Praia. Apesar de cabo-verdiano de gema, Óscar chegou a representar a Selecção Nacional “A” portuguesa, algo frequente no seu tempo, pelo menos em uma ocasião.

A sua primeira inscrição federativa remonta à época de 1969/70 no UDR S. Maria, mas o seu percurso no futebol português começou a evidenciar-se, inicialmente, ao serviço do SC Covilhã na temporada de 1975/76, disputando a 2ª Divisão Nacional. O protagonismo assumido por Óscar ao serviço da equipa serrana motivou, naturalmente, o seu ingresso na época imediatamente seguinte num clube que militava a 1ª Divisão Nacional.
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(Equipa do SC Covilhã na temporada de 1975/76)
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Assinou contrato com o GD Estoril Praia para a temporada de 1976/77. O ano de estreia deste cabo-verdiano no escalão principal do futebol português foi notável. Ajudou a GD Estoril Praia a garantir a manutenção na 1ª Divisão Nacional, objectivo fundamental, com um honroso 11º lugar na classificação, mas individualmente, revelou-se também como um dos jogadores mais na manobra da equipa estorilista.

Cada um dos três treinadores que passaram pela equipa da linha nesta época – António Medeiros, José Torres e finalmente José Bastos – deram a titularidade a Óscar que realizou 30 partidas no Campeonato Nacional da 1ª Divisão na época de 1976/77, sendo o único totalista da equipa naquela competição, onde apontou dois golos.
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(Na época de 1976/77 ao serviço do GD Estoril Praia)

É certo que ao longo da sua carreira o centrocampista cabo-verdiano Óscar defrontou varias vezes o Vitoria SC, ao serviço de todos os clubes portugueses que representou ao longo da carreira. Uma das primeiras vezes que o fez, senão mesmo a primeira ocasião, decorreu no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1976/77 ao serviço do GD Estoril Praia.

Numa partida disputado no popularmente denominado Estádio da Amoreira, o GD Estoril Praia empatou a 0-0 com o Vitoria SC. Nesse encontro a equipa estorilista apresentou o seguinte onze inicial: Rui Paulino; Vieira, João Carlos, Amílcar e Carlos Pereira; José Torres, Nelson Reis, Eurico e Óscar; Clesio e Moia. No decurso da partida entraram Manuel Fernandes para o lugar de Nelson Reis e Cepeda para o lugar de Moía.

Por seu turno a equipa do Vitoria SC alinhou com o guarda-redes Barreira; Alfredo, Ramalho, Torres e Osvaldinho; Pedroto, Abreu, Ferreira da Costa, Pedrinho e Almiro; Tito. Uma só substituição operada pelo Vitoria SC, treinado pelo português Fernando Caiado, com a entrada de Mário Ventura para o lugar de Pedrinho.

(Oscar no GD Estoril Praia na temporada de 1976/77)

O jogo foi pautado pelo equilibrio, apesar de um ligeiro ascendente da equipa do GD Estoril Praia, motivado, essencialmente, pela acção do meio campo onde pontificava médio Óscar que recorrentemente se superiorizava ao mesmo sector vimaranense.

Numa partida em que não abundaram as chances de golo, a verdade é que tal superioridade no sector intermediário concedia à equipa estorilista mais oportunidades para vencer a partida e, talvez, acabasse mesmo por merecer um resultado melhor do que o empate verificado.

(Na época de 1976/77 ao serviço do GD Estoril Praia)

Na época seguinte, Óscar permaneceu ao serviço do GD Estoril Praia, que repetiu a mesma classificação no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, e como tal garantiu a manutenção no escalão principal português.

E mais uma vez as exibições e preponderância de Óscar na equipa foi manifesta na concretização do objectivo do clube, que nesta temporada teve, inicialmente, como treinador José Torres e após a 20 jornada novamente José Bastos. Óscar participou em 29 encontros do nacional maior, apontando, desta feita, quatro golos ao longo da prova.

(Plantel do GD Estoril Praia na época de 1977/78)
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(Oscar no GD Estoril Praia)
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(Equipa do GD Estoril Praia na época de 1977/78)
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(Ao serviço do GD Estoril Praia na temporada de 1977/78)
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A qualidade dos desempenhos do meio campista Óscar e o protagonismo que adquiria na equipa do GD Estoril Praia, mereceu mesmo uma chamada à Selecção Nacional de Portugal. Cumpriu na sua carreira uma internacionalização “A” ocorrida no dia 8 de Março de 1978 na cidade de Paris, aquando de um desafio particular disputado entre Portugal e a França no Parque dos Príncipes.

O seleccionador nacional era Juca que fez entrar Óscar para o lugar do extremo Costa no decorrer do encontro que a França venceu por 2-0, com os golos apontados por Baroncelli e Berdoll.
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(Equipa do GD Estoril Praia na época de 1977/78)
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(Oscar no GD Estoril Praia na temporada de 1977/78)
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(Equipa do GD Estoril Praia na temporada de 1977/78)
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Após duas épocas em plano de destaque no futebol português, Óscar foi alvo de muita cobiça pelos clubes de maior dimensão. Sporting CP e FC Porto lançaram-se na corrida à aquisição do jogador. Os portistas com uma oferta melhor levaram a melhor, apesar do jogador reconhecer ser sportinguista.

Ingressou assim no FC Porto campeão nacional treinador pelo mítico José Maria Pedroto. No FC Porto vai conquistar o seu primeiro grande troféu nacional, vencendo o Campeonato Nacional da 1ª Divisão na temporada de 1978/79.
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(Plantel do FC Porto na época de 1978/79)
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Óscar não conseguiu a titularidade na equipa comandada pelo mestre Pedroto, apesar das suas qualidades serem bastante apreciadas pelo conceituado técnico. Alias, o meio campo do FC Porto era composto por jogadores de imensa qualidade, como Frasco, Rodolfo, Oliveira e Duda, e por tal motivo seria muito complicado Óscar conseguir reservar um lugar no onze portista.

Todavia, foi um jogador regularmente convocado para os desafios oficiais do FC Porto e acabou por participar em vários encontros, quase sempre, é certo, na condição de suplente utilizado. Houve apenas uma excepção. Foi por uma vez titular na formação do FC Porto no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, curiosamente, na partida contra o GD Estoril Praia.

Ao longo da temporada de 1978/79, Óscar realizou 14 partidas no Campeonato Nacional da 1ª Divisão ao serviço do FC Porto, tendo apontado um golo, num desafio frente ao CF Belenenses, de resto, um tento deveras espectacular.
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(Oscar no FC Porto na temporada de 1978/79)
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Algo surpreendentemente Óscar acabou por deixar o FC Porto no final da temporada de 1978/79 rumo ao vizinho Boavista FC. O cabo-verdiano foi envolvido pelos responsáveis dos dois clubes como moeda de troca na transferência de Albertino dos boavisteiros para o FC Porto.

Rubricou um contrato valido por duas épocas com o Boavista FC, sendo considerado pelos axadrezados como a principal aquisição do clube para a época de 1979/80, cujo comando técnico seria entregue ao português Mário Lino.
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(Boavista FC na temporada de 1979/80)
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(Caricatura de Oscar ao serviço do Boavista FC)
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Não foi porém nada feliz a passagem de Óscar pela equipa boavisteira, que alcançou um 4º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Óscar, talvez afectado pela dispensa do FC Porto, viu o seu rendimento baixar bastante e não conseguiu nunca afirmar-se no meio campo axadrezado, composto pelos titularissimos Eliseu, Almeida e Airton. Apenas realizou 7 partidas na principal competição portuguesa, sem ter apontado qualquer golo no decurso da prova.

Destaque porém na passagem de Óscar pelo Boavista FC para mais um troféu nacional que conquistou, desta feita, a Supertaça Cândido de Oliveira. No desafio decisivo o Boavista FC superiorizou-se ao FC Porto, vencendo por 2-1, num encontro em que Óscar foi titular.
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(Equipa do Boavista FC exibindo a Supertaça em 1979/80)
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A péssima época a nível individual motivou o desejo de mudar de clube. Assim, Óscar rescindiu amigavelmente com o Boavista FC e prosseguiu a sua carreira na Associação Académica de Coimbra na temporada de 1980/81.

Óscar voltou a não estar no seu melhor, nem atingiu as performances evidenciadas sobretudo ao serviço do GD Estoril Praia. A nível individual realizou, digamos, uma temporada bastante mediana, participando apenas em 17 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão e tendo apontado apenas um golo.

Mas pior mesmo foram os resultados colectivos da equipa conimbricense, que fruto do último lugar na tabela classificativa final da principal competição portuguesa acabou por ser relegada à 2ª Divisão Nacional.
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(Académica de Coimbra na época de 1980/81)
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(Oscar na Associação Academica de Coimbra)
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Óscar, já dentro da casa dos 30 anos, parecia estar em declínio na sua carreira de futebolista. Nos melhores tempos, Óscar era um centrocampista de qualidade, com um poderio físico brutal, capaz de povoar, sozinho, todo o meio campo. Não sendo um portento de técnica, era um jogador muito laborioso, de uma abnegação impressionante e de talento futebolístico inequívoco.

A sua fisionomia e aparência, como se pode constatar pelas variadas imagens, era original e distintiva dos demais. A farta cabeleira negra, com grande bigode ou barba na face e aparência física imponente era uma imagem de marca deste cabo verdiano, à qual se aliava, outra característica na imagem, muito própria daquela época, o facto de jogar sempre com as meias do equipamento bem descidas, sem o adereço das caneleiras e a perna bem à mostra.
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(Equipa da Academica de Coimbra na temporada de 1980/81)
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(Oscar como simbolo da Academica de Coimbra)
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(Em 1980/81 na Associação Academica de Coimbra)
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(Com as cores da Academica de Coimbra)
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(Equipa da Academica de Coimbra na época de 1980/81)
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(Na Academica de Coimbra)
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A carreira de Óscar enquanto futebolista ao mais alto nível iria terminar no Algarve ao serviço do SC Farense. Ingressou nos leões do Algarve na época de 1981/82 para disputar a Zona Sul da 2ª Divisão Nacional.
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(SC Farense na época de 1981/82)
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Ali continuou até o clube algarvio disputar novamente a 1ª Divisão Nacional. Subiu e foi fundamental para esse desiderato a acção de Óscar na manobra da equipa do SC Farense treinada pelo búlgaro Hristo Mladenov e o seu adjunto o jovem Manuel Cajuda, na temporada de 1982/83 que se sagrou Campeão Nacional da 2ª Divisão Nacional, depois de ter vencido a Zona Sul.
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(SC Farense Campeão Nacional na época de 1982/83)
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(Plantel do SC Farense na temporada de 1982/83)
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(Equipa do SC Farense com equipamento alternativo em 1982/83)
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Depois da proeza do regresso do SC Farense à 1ª Divisão Nacional, Óscar continuou a representar a equipa algarvia, onde efectivamente voltou a ser muito feliz futebolisticamente. Participou no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1983/84 ao serviço do SC Farense, treinado inicialmente mesma dupla técnica da temporada anterior, mas que a partir da 22ª jornada passou a ser liderada por Manuel Cajuda, o actual treinador do Vitoria SC.

Foi a ultima presença de Óscar na principal competição nacional, já com 33 anos de idade, mas com condições de alinhar nas 30 partidas do Campeonato Nacional da 1ª Divisão e ter apontado um golo na prova.
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(Plantel do SC Farense na época de 1983/84)
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(Oscar no SC Farense)
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(Caricatura de Oscar com as cores do SC Farense)
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(Equipa do SC Farense no Estádio da Luz na época de 1983/84)
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(Em 1983/84 ao serviço do SC Farense)
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(Em acção representando o SC Farense na temporada de 1983/84)
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Mais tarde Óscar acabou por abandonar o futebol e passar a desempenhar as funções de treinador. Neste cargo destaca-se a liderança da Selecção de Cabo Verde durante quase 5 anos, onde foi o seleccionador nacional e responsável, talvez, pelos maiores êxitos futebolísticos daquele país até ao presente.

Durante o período em que Óscar Duarte esteve ao serviço da Selecção Nacional de Cabo Verde, conquistou a X Edição da Taça Amílcar Cabral, disputado no ano 2000 na cidade da Praia, talvez a mais importante vitória da selecção daquele país.


Autor: Alberto de Castro Abreu

Amigo Alberto,

Excelente trabalho sobre o Óscar. Encontrei muitos detalhes de que não tinha conhecimento. Contudo, as duas coisas que me 'cairam' como novidades foram as seguintes:
(1) A passagem do Óscar pelo Boavista. Sinceramente não me recordava dessa passagem dele pelo Boavista.
(2) O Óscar ter sido colega de equipa do Manuel Cajuda (Farense 81/82).
 
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