Glórias do Passado: José Maria Pedroto

 

José Maria Pedroto


José Maria Pedroto é reconhecidamente um dos maiores vultos do futebol português, quer pela excelente carreira que protagonizou como futebolista na década de 50 do século passado, quer, em especial, pela carreira que realizou como técnico, sendo que é para muitos considerado, ainda hoje, como o melhor treinador de sempre do futebol português.

O seu nome ficará para sempre ligado a história do futebol em Portugal, como sendo um dos grandes responsáveis pela profunda alteração geográfica ocorrida no mapa futebolístico nacional, nomeadamente, acabando com a hegemonia dos dois grandes clubes da capital na conquista das principais competições, ou com a preponderância dos clubes da zona sul, que invariavelmente passaram a estar em minoria na 1ª Divisão Nacional, em relação às equipas sedeadas na zona norte.

Foi protagonista em vários clubes nacionais, especialmente nortenhos, assumindo um relevante papel na afirmação nacional de equipas como o Varzim SC, o Boavista FC, o Vitoria de Setúbal, ou o Vitoria de Guimarães. Mas seria no FC Porto, especialmente ao lado de Jorge Nuno Pinto da Costa, que José Maria Pedroto empreenderia a maior transformação, levando a principal formação da cidade invicta a conquistar os títulos nacionais que sucessivamente teimavam em fugir para os clubes da capital, ou projectando e implantando a organização interna que ainda hoje prevalece no FC Porto, reconhecido presentemente como um dos maiores clubes do mundo.

José Maria Carvalho Pedroto, nasceu no dia 21 de Outubro de 1928 na freguesia de Almacave, no concelho de Lamego. Segundo reza a história de Portugal, Almacave foi o local onde D. Afonso Henriques realizou as primeiras Cortes para a fundação do nosso país. Talvez imbuído do mesmo espírito do nosso primeiro Rei, também José Maria Pedroto iria tornar-se um conquistador no futebol português.

Filho de um militar, Capitão do Exercito português, Pedroto deixou aos 7 anos de idade o interior de Portugal e rumou ao Porto, para onde seu pai foi colocado para prestar serviço num quartel desta cidade. Após o falecimento do progenitor o jovem José Maria foi internado no Colégio Araújo Lima, ali bem próximo do Campo da Constituição na cidade invicta, onde começou a nascer o sonho de tornar-se jogador de futebol.

Começou a dar os primeiros pontapés na bola naquele mítico recinto portista, pela mão do austríaco Gutkas, o responsável das camadas jovens do FC Porto. Pedroto tinha como ídolo de infância o futebolista Pinga da equipa principal do FC Porto.

Com 10 anos de idade foi viver com a família para a zona de Pedras Rubras, onde, juntamente com um grupo de amigos, fundou o FC Pedras Rubras, clube onde exerceu o cargo de Presidente e foi naturalmente o capitão da equipa de futebol. Pela distância entre o local onde residia e o centro da cidade invicta foi obrigado a deixar o FC Porto.
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Seria no Leixões SC, a partir de 1946, que começaria a praticar futebol, digamos que mais a sério, na equipa de juniores leixonense, já com 18 anos de idade bem vividos. Aí começou a deslumbrar com o seu potencial futebolístico todos aqueles que assistiam as partidas da jovem equipa da cidade de Matosinhos. Actuava preferencialmente a meio campo, numa posição que naquela época se apelidava de interior.
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(Pedroto nas camadas jovens do Leixões SC)

Pedroto era um miúdo cheio de talento, mas ao mesmo tempo um pouco sobranceiro, o que lhe valeria fortes reprimendas do seu técnico, que lhe serviriam de lição para o futuro de reconhecido técnico disciplinador. Conta Pedroto um episodio da sua carreira de miúdo no Leixões: “No final de um jogo disputado no Bessa, a certa altura pedi a bola ao guarda-redes, driblei quantos adversários me apareceram pela frente, incluindo o guarda-redes contrário e, sozinho, parei a bola em cima do risco da baliza. Ufano, puxei os calções, alisei o cabelo e, cheio de sobranceria, toquei o esférico com o calcanhar para dentro da baliza. No fim do desafio os colegas levaram-me aos ombros para as cabinas. Mas o treinador Armando Martins pregou-me um sermão que até me fez chorar. Nunca mais esqueci essa lição de que um futebolista deve jogar para a sua equipa e não para a galeria”

(Pedroto na equipa do Leixões SC)
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Ainda jogou na equipa sénior do Leixões SC, na categoria de reservas, num clube que representou até ao final da época de 1948/49. Um ano antes de ingressar no Lusitano FC, José Maria Pedroto esteve com um pé no GD Estoril Praia, comandado pelo húngaro Janos Biri que aconselhou veementemente a contratação do jovem meio campista. Pedroto ainda chegou a treinar ma Amoreira, mas a transferência não viria a concretizar-se porque o Leixões SC exigiu muito dinheiro.

Chegada a hora de cumprir o serviço militar seguiu para o Algarve ingressando na Escola dos Sargentos Milicianos de Tavira. Era já famoso aquele miúdo que vinha do norte, de forma que ao abrigo da Lei Militar integrou a equipa do Lusitano FC da cidade de Vila Real de Santo António, que naquela altura militava na 1ª Divisão Nacional, com um contrato de 100 escudos por cada vitoria alcançada, 60 escudos por um empate, e auferindo somente 20 escudos em caso de derrota.
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(Lusitano FC na época de 1949/50)
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Inicialmente, os dirigentes do Lusitano FC não deram muita atenção a Pedroto. Só após um particular frente ao SC Farense, onde o jovem protagonizou uma excelente exibição, é que os responsáveis da equipa algarvia perceberam devidamente as qualidades de José Maria Pedroto.

Na época de 1949/50, o Lusitano FC quedou-se pela última posição da tabela classificativa na 1ª Divisão Nacional, contudo, nas suas fileiras estava um jogador apetecível que ao longo do ano havia brilhado nos campos de futebol nacionais.
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(Pedroto com a camisola do Lusitano FC)
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O CF Belenenses e o FC Porto lançaram-se numa frenética corrida a sua aquisição. Ganhou o CF Belenenses, que ofereceu a Pedroto 25.000 escudos como prémio de assinatura e um emprego no Ministério da Marinha e pagava outro tanto ao Lusitano FC pela desvinculação do jogador.

Esta transferência foi ainda muito polémica pela ingerência do Leixões SC que alegava direitos sobre o jogador. Essa questão foi porém ultrapassada com a oferta de emprego que o CF Belenenses fez a José Maria Pedroto na Hidroeléctrica do Zêzere, empresa pública. Este era, alias, um estratagema usado por muitos clubes naquela época, oferecendo empregos públicos aos jogadores de futebol de forma a permitir as transferências não consentidas pelos clubes aos atletas.

Mesmo antes de assinar pelo clube da Cruz de Cristo, o FC Porto ainda enviou um emissário que lhe colocou nas mãos um cheque no valor de 80.000 escudos, uma astronómica quantia naquela época, como prémio para rubricar contrato com o clube da cidade do Porto.
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Porém, Pedroto não voltou com a palavra atrás cumprindo o acordo verbal que tinha assumido com o CF Belenenses e assim rumou ao clube da capital. Alem do FC Porto, José Maria Pedroto recusou ainda propostas de clubes como o SL Benfica, Académica de Coimbra, Vitoria de Setúbal e Vitoria de Guimarães.
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(CF Belenenses na temporada de 1950/51 no jogo de estreia de Pedroto)
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(Pedroto no CF Belenenses)
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No Campo das Salésias, casa do CF Belenenses, Pedroto deu verdadeiros recitais de bem jogar futebol. A mestria do seu futebol geométrico que parecia balizado a régua e esquadro eram apreciados e causavam espanto a todos os admiradores da modalidade. Fernando Vaz, treinador do CF Belenenses, colocou-o a jogar médio centro pela primeira vez e nessa posição se tornou notável.
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Como jogador era bastante rápido e simples na execução. No passe e na desmarcação dos companheiros de equipa era um verdadeiro mestre. De compleição física franzina era todavia dotado de um enorme talento e técnica acima da média. Mas a predominância do seu futebol, aquilo que o distinguia dos demais, advinha sobretudo da sua inteligência e na forma invulgar como lia o jogo, características que mais tarde o fariam único como treinador.
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(CF Belenenses na decada de 50 com Pedroto)
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(Pedroto com o simbolo do CF Belenenses)
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A sua configuração de jogador brilhante aliava-se porém a uma característica, que parecia não ter perdido apesar das inúmeras lições que foi alvo, que era de zombar com os adversários vencidos por todo o seu talento. Curado, um antigo jogador da Académica de Coimbra e também do Vitoria de Guimarães, conta assim uma história passada com Pedroto: “O célebre Pedroto tinha um grande defeito. Como não lhe bastasse já a sua nítida superioridade técnica para iludir o adversário em jogadas magistrais, gostava, quase sempre, de goza-lo no próprio momento em que o ultrapassava, como piropos nada lisonjeiros.”

Num desafio frente à Académica de Coimbra, Pedroto passou todo o encontro a gozar os jogadores conimbricenses, proferindo arreliadores “olés” e expressando um sorriso “gozão” em direcção dos adversários sempre que os conseguia ultrapassar nos seus bem sucedidos dribles.
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Curado, central matreiro e experiente decidiu colocar um termo àqueles arreliadores “olés” proferidos por Pedroto, contando na primeira pessoa o sucedido: “Claro que o grande mestre me fintou, num dribling perfeito, seguido também, do seu irritante e sarcástico “olé”, como se, salerosamente estivesse toureando em plena arena. Não devia fazê-lo, não gostei. Não resisti e fiz. De imediato mandei-lhe uma pranchada como mandam as más regras, ficando o Pedroto, contundido, estatelado no relvado a ouvir-me dizer em tom alto e jocoso: Foste colhido!”
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(Pedroto ao serviço do CF Belenenses frente ao FC Porto)
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(Caricatura de Pedroto no CF Belenenses)
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Em 1952/53, Pedroto transferiu-se finalmente para o FC Porto depois de muita insistência dos responsáveis azuis e brancos. Alias, o jovem jogador – que auferia um bom salário no CF Belenenses ao que lhe juntava aquilo que arrecadava como escriturário na empresa Hidroeléctrica do Zêzere - fez um pedido megalómana aos emissários do FC Porto, dado que a bem da verdade não tinha intenção alguma de abandonar o clube da Cruz de Cristo. Pedroto pediu ao FC Porto 150.000 escudos!
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O FC Porto aceitou, protagonizando assim a transferência mais cara do futebol português até então. Foram no total 500.000 escudos a maquia despendida pelo FC Porto na aquisição de Pedroto, arrecadando o CF Belenenses o montante de 335.000 escudos, pela transferência, verba essa que seria usada pelo clube da cidade de Lisboa na construção do Estádio do Restelo.
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(Pedroto como jogador do FC Porto)
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(Num desafio entre FC Porto e Sporting CP, com vitória portista por 1-0 com golo de Pedroto)
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Ao serviço do FC Porto, o médio Pedroto, conquistou títulos e tornou-se internacional português, uma vez que tratava-se reconhecidamente de um dos melhores jogadores portugueses. Faria a sua estreia pela Selecção Nacional de Portugal no dia 20 de Abril de 1952, pela mão do seleccionador Cândido de Oliveira, que o lançou no decorrer do desafio que opôs a França à equipa portuguesa no Estádio Colombes na cidade de Paris, entrando para o lugar de Joaquim Machado.

A França venceria aquele jogo particular por 3-0, sob a arbitragem do inglês Bonde, a uma equipa portuguesa composta por grandes nomes do futebol, como era o caso de Pedroto, Fernando Caiado, Jesus Correia, Vasques e Travassos.
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(Pedroto com a camisola da Selecção Nacional)
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(Equipa de Portugal em 1956)
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Ao longo da sua carreira de futebolista, Pedroto representou Portugal em 17 ocasiões, concretamente entre o período compreendido entre o ano de 1951 a 1957, estando presente na mítica vitoria portuguesa sobre a Inglaterra por 3-1 no Estádio das Antas, no dia 22 de Maio de 1955. A sua última aparição com a camisola das quinas ocorreu no dia 22 de Dezembro de 1957 no Estádio de S. Siro em Milão, no encontro entre Itália e Portugal, em que a Selecção transalpina venceu a equipa lusa por 3-0.
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(Representando a Selecção Nacional de Portugal)
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Ao serviço do FC Porto permaneceu durante oito épocas consecutivas como jogador de futebol onde conquistaria dois títulos de Campeão Nacional e venceu uma Taça de Portugal.
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O FC Porto, que já não vencia o Campeonato Nacional da 1ª Divisão há mais de 15 anos, sagrou-se campeão na época de 1955/56 e venceu a Taça de Portugal, sob o comando técnico de Dorival Yustrich, com Pedroto a alinhar em 24 desafios e a apontar 2 golos na competição.
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(Equipa do FC Porto na temporada de 1955/56)
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(Pedroto com a camisola do FC Porto)
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(Pedroto no FC Porto com o treinador Yustrich)
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Três anos depois renovou a conquista do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1958/59, já sob a égide do treinador húngaro Bela Guttman, que substitui Otto Bumbel naquela temporada. José Maria Pedroto, com 30 anos de idade e perto do final da carreira, jogou apenas 5 partidas oficiais sem ter apontado qualquer tento.

Aquele título azul e branco foi o último antes de dar início a um longo jejum que apenas viria a ser quebrado em 1977/78 já com José Maria Pedroto no cargo de treinador principal do FC Porto.
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(Pedroto abraçado a Gutman técnico do FC Porto)
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(Pedroto no FC Porto nos festejos do titulo)
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(Equipa do FC Porto na época de 1958/59)
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(Pedroto no FC Porto)
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(Pedroto em acção pelo FC Porto)
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Pedroto colocou um ponto final na carreira de futebolista no final da época de 1959/60 abraçando imediatamente a função de treinador. Foi o primeiro treinador português a fazer um curso de treinador ministrado pela afamada Federação Francesa de Futebol, com apenas 31 anos de idade, apresentando uma tese final com aquilo que considerava ser os 17 princípios de jogo, obtendo na altura uma brilhante classificação. Entre 87 inscritos, apenas 5 foram aprovados, sendo José Maria Pedroto o único estrangeiro a obter o diploma.

Com 25 anos de idade José Maria Pedroto já tinha o curso de treinador de futebol, obtido na frequência de uma formação ministrada por Cândido de Oliveira sob a égide da Associação de Futebol Porto.
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(Exame como treinador de futebol na A.F. Porto)
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Assumiu prontamente o cargo de treinador nas camadas jovens do FC Porto e também na Selecção Nacional da categoria de juniores, juntamente com David Sequerra, onde conquistaria o Torneio Internacional da Uefa naquela categoria, numa prova disputada pelas 13 melhores selecções do velho continente. Conquistou assim com a equipa de Portugal, onde pontificavam jogadores como Simões, Peres, Carriço e Serafim, o primeiro título europeu nas camadas jovens, recebendo Pedroto de prémio pela conquista a quantia de 2.250 escudos.
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(Selecção de Juniores de Portugal na decada de 60, campeão da Uefa, com Pedroto como um dos treinadores da formação)

Das camadas jovens do FC Porto passa para o comando da equipa principal da Académica de Coimbra, a sua primeira experiência como treinador de uma equipa sénior, onde se mantém nas épocas de 1961/62 e 1962/63. Segue-se o Leixões SC, uma casa a que regressa agora como treinador, e mais tarde o Varzim SC.

No Varzim SC, modesto clube do litoral norte de Portugal, o treinador José Maria Pedroto fez um trabalho notável colocando a equipa poveira como verdadeira sensação do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1965/66. Alem do brilhante 8º lugar obtido no final da competição, avulta acima de tudo a excelência do sempre elogiado estilo de futebol praticado pelo Varzim SC.

A qualidade do trabalho que realizava e a bagagem de experiência que acumulou abriu-lhe as portas do regresso ao FC Porto em 1966, concretizando assim o seu sonho de tornar-se treinador principal da equipa azul e branca.

Permaneceu no FC Porto - nesta que seria a sua primeira passagem como técnico - três épocas consecutivas, onde nunca conquistou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, mas venceu a Taça de Portugal na temporada de 1967/68, o seu primeiro titulo como treinador, derrotando na final da competição o Vitoria de Setúbal por 2-1.

A última época desta sua primeira passagem pelo FC Porto, na temporada de 1968/69, a conquista do principal ceptro nacional esteve bem próxima. A equipa iria claudicar na ponta final da prova perdendo o título para o grande rival SL Benfica.

Este desiderato e alguns episódios intermédios azedaram as relações de José Maria Pedroto e Afonso Pinto Magalhães, principal dirigente portista, de forma que o treinador acabou por ser afastado da função de técnico principal do FC Porto.

No final de um jogo no Estádio da Luz frente ao SL Benfica a contar para os dezasseis avos de final da Taça de Portugal da época de 1968/69, em que o FC Porto foi derrotado por inapeláveis 3-0, José Maria Pedroto visivelmente irritado não esteve para contemplações e impeliu todos os jogadores portistas a permanecer em estagio no Lar do Jogador até ao encontro seguinte a contar para o Campeonato Nacional.

Custodio Pinto, Américo, Gomes e Alberto, atletas do FC Porto, que alem de futebolistas eram também empresários, desobedeceram às ordens do técnico com o argumento de que não poderiam deixar os seus negócios durante tanto tempo, só para ficarem reunidos em estágio.

Pedroto, disciplinador rigoroso, deixou aqueles quatro jogadores de fora da equipa, colocando alguns deles a treinar na formação das reservas. No jogo seguinte para o Campeonato Nacional, o FC Porto, que liderava a prova, apostou numa equipa alternativa sem aqueles titulares, mas acabou por ser surpreendido em casa por 0-1 pela Académica de Coimbra.

Na semana imediata, novo resultado negativo, desta feita cedendo um empate, novamente nas Antas, frente ao modesto União de Tomar, hipotecando assim irremediavelmente a conquista do titulo de campeão nacional da época de 1968/69.

Os adeptos não perdoaram Pedroto, culpabilizando-o pela perda do título, nem tão pouco os dirigentes portistas que o afastaram definitivamente do comando da equipa no dia 11 de Abril de 1969, substituindo-o pelo seu fiel adjunto António Morais. José Maria Pedroto reagiu exigindo ao FC Porto uma compensação de 452.000 escudos decorrente de prémios, salários e danos morais.

Esta afronta de José Maria Pedroto levou o assunto à Assembleia-geral do FC Porto que aprovou uma moção, sob proposta de Sebastião Ribeiro, que impedia o técnico português de regressar ao clube portista.

Banido nas Antas e impedido de trabalhar no seu clube do coração, José Maria Pedroto prosseguiu a sua carreira no Vitoria de Setúbal, assinando um contrato válido por 5 épocas, com um prémio de assinatura de 350.000 escudos.

(Treinador do Vitoria de Setubal)
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(Plantel do Vitoria de Setubal no inicio da decada de 70)
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Permaneceu praticamente 5 temporadas ao serviço do Vitoria Sadino. Com José Maria Pedroto, o Vitoria de Setúbal quase que ganhou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1971/72. Quedou-se porem pela 2ª posição, naquela que até hoje é a melhor classificação de sempre dos setubalenses.

Mas não foi fugaz esta passagem do Vitoria de Setúbal pelo topo do futebol português. Nas restantes épocas sob o comando de José Maria Pedroto ainda coleccionou três terceiros lugares e um quarto lugar nos Campeonatos Nacionais da 1ª Divisão em que participou entre as épocas de 1969/70 e 1973/74.
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(Como treinador do Vitoria de Setubal)
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(No cargo de treinador do Vitoria de Setubal)
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Alem do mais, com José Maria Pedroto ao leme, a equipa sadina ganhou projecção internacional mercê das brilhantes campanhas europeias realizadas, atingindo por duas ocasiões os quartos de final da Taça Uefa, concretamente nas épocas de 1970/71 e em 1972/73.

Também em Setúbal o treinador José Maria Pedroto não teria uma relação pacífica com os altos dirigentes vitorianos. Em 1972, sensivelmente a meio do ciclo que passou em Setúbal, apresentou a demissão do cargo de treinador argumentando que a direcção pretendia interferir na composição da equipa inicial. Este diferendo acabou por resolver-se e Pedroto manteve-se ao comando da equipa setubalense.

Porém, em 1974, a desavença entre técnico e direcção foi bem mais profunda e insuprível, acabando mesmo o José Maria Pedroto por abandonar o cargo de treinador. Foi a apelidada demissão contra a “lei da rolha”. Na verdade, os dirigentes sadinos queriam impor aos jogadores um regulamento interno que os proibia de falar à comunicação social sem previa autorização, ou até mesmo casar ou ir à praia. Pedroto foi contra, defendendo intransigentemente a liberdade dos jogadores, isto mesmo antes de se verificar em Portugal o fenómeno do 25 de Abril de 1974.
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A direcção do clube sadino não cedeu, mas também José Maria Pedroto não recuou no seu ideal e assim terminaram a ligação de quase 5 épocas cheias de conquistas para as hostes da equipa do Vitoria de Setúbal.
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(Caricatura de Pedroto)

Voltou ao norte do país para assumir as rédeas do brilhante Boavista FC na época de 1974/75. É com José Maria Pedroto que o popular e modesto clube do Bessa se afirma definitivamente no panorama futebolístico português sendo mesmo considerado pelos boavisteiros como o pai do “Boavistão”.

José Maria Pedroto, juntamente com o jovem Major Valentim Loureiro, naquele tempo chefe do Departamento de Futebol do Boavista FC, engendrara a constituição de uma equipa de futebol que espantou todo o país com a qualidade apresentada e os resultados alcançados.

Ao comando do Boavista FC venceu duas Taças de Portugal consecutivamente, derrotando na final da prova da época de 1974/75 o SL Benfica por 2-1 e, em 1975/76, em pleno Estádio das Antas, o Vitoria de Guimarães, novamente por 2-1, num encontro que todavia ficaria marcado pela contestadíssima arbitragem de António Garrido que influenciou decisivamente o resultado final.

Também no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Boavista FC de José Maria Pedroto depois de se classificar na 4ª posição na época de 1974/75, foi surpreendentemente o vice-campeão nacional na temporada de 1975/76, perdendo o titulo num desafio em casa, precisamente contra o SL Benfica, treinado por Mário Wilson, que se sagraria o Campeão Nacional.

O nome de Mário Wilson surgirá umbilicalmente ligado à história da carreira de treinador de José Maria Pedroto, com quem este manteve uma guerra de palavras que se tornou famosa no futebol português durante a década de 70 inícios dos anos 80.

Registe-se ainda que foi no período compreendido entre o ano de 1974 e 1976 que José Maria Pedroto foi também seleccionador nacional português acumulando o cargo com o de treinador do Boavista FC. A verdade é que nunca atingiu ao serviço da Selecção de Portugal os bons resultados obtidos na liderança dos clubes que representou.

(Selecção Nacional comandada por José Maria Pedroto)
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Saliente-se, porém, algumas passagens interessantes na carreira do carismático José Maria Pedroto à frente da Selecção portuguesa. Fez a sua estreia num jogo particular frente à Inglaterra no Estádio da Luz no dia 3 de Abril de 1974, com Portugal a empatar com os ingleses a 0-0.

Foi também frente à Inglaterra o ponto alto da passagem de José Maria Pedroto pelos comandos da Selecção Nacional. Em 20 de Novembro de 1974, em jogo a contar para a fase de apuramento para o Europeu que se realizaria em 1976, que Portugal actuou no londrino Estádio de Wembley, com um meio campo de pequena estatura que contrastava, tipo 8 e 80, com o forte porte atlético dos jogadores ingleses.

A imprensa inglesa gozava declaradamente com a estatura do meio campo que José Maria Pedroto prometia apresentar com composto por Teixeira, Octávio, Vítor Martins e João Alves, aconselhando mesmo os espectadores a levar papel e lápis para o estádio para ir anotando os golos da Inglaterra.

José Maria Pedroto, bem ao seu estilo, na véspera do jogo reagiu a imprensa inglesa. Quando o questionado sobre os nomes dos jogadores que iriam compor a linha inicial que Portugal iria apresentar nesse jogo, Pedroto respondeu: “Se mandam os espectadores levarem papel e lápis para anotarem os golos, não vos interessa o nome dos nossos jogadores. Devem anotar os nomes dos vossos, para depois irem fazendo risquinhos à frente por cada golo marcado.”

O resultado final deste encontro cifrou-se num sensacional 0-0, onde a táctica gerada por José Maria Pedroto deu inteiramente resultado, com Vítor Damas, guarda-redes da Selecção Nacional e que o treinador viria a encontrar no Vitoria de Guimarães, a realizar uma espantosa exibição.
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Alias, Vítor Damas era um guarda-redes admirado pelo treinador português, que de resto o considerava como o melhor naquela posição em Portugal. Por muitas vezes o tentou contratar para jogar no FC Porto, sem sucesso, apesar de ter estado muito próximo de o concretizar.
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(Caricatura de José Maria Pedroto como Seleccionador Nacional)
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Deixou o cargo de seleccionador nacional após uma derrota de Portugal no Estádio das Antas por 0-2 frente à Polónia que arredou definitivamente a equipa lusa da fase final do Mundial de 1978 a disputar na Argentina. José Maria Pedroto foi substituído por Juca na função de treinador da Selecção portuguesa.

Os resultados alcançados pela turma das quinas durante o “reinado” de José Maria Pedroto nunca foram consentâneos com a reconhecida valia do técnico e dos jogadores que compunham a Selecção Nacional.

Por fim, duas ressalvas na sua carreira à frente de Portugal. A primeira delas refere-se a ter sido ele o treinador que teve a coragem de não voltar a chamar Eusébio para representar a Selecção Nacional. A outra, reporta-se ao facto de ter sido ele o primeiro a implantar a ideia do “Clube Portugal” na Selecção Nacional, de forma a afastar as rivalidades clubistas dos adeptos que se reflectiam no apoio a Portugal.
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(José Maria Pedroto com Juca no banca da Selecção Nacional)

Entretanto, enquanto Pedroto fazia carreira no Vitoria de Setúbal e depois no Boavista FC, o seu FC Porto coleccionava insucessos. Desilusões atrás de desilusões que invariavelmente terminavam com as vitorias dos principais clubes de Lisboa. Desde 1958/59 que o FC Porto não conseguia conquistar o Campeonato Nacional da 1ª Divisão e a Taça de Portugal não a vencia desde 1967/68. Desde esta ultima temporada que o principal clube da cidade invicta não conquistava um único troféu de relevo percorrendo assim um longo jejum.

Porque acreditavam ser José Maria Pedroto o único homem capaz de alterar o “status quo”, um grupo de associados do FC Porto, que incluía Jorge Nuno Pinto da Costa, decidiu requerer um Assembleia Geral visando amnistiar o técnico da sanção que havia sido alvo em 1969. Em 21 de Março de 1975 realizou-se a mencionada Assembleia-Geral onde foi aprovado por unanimidade perdoar José Maria Pedroto, que assim, enfim, poderia regressar.

Quando tudo levava a crer que José Maria Pedroto iria regressar ao FC Porto, inesperadamente, no dia 31 de Março de 1975, poucos dias após a Assembleia Geral da amnistia, o Boavista FC acerta a renovação do contrato com o técnico que assim permaneceu na equipa do Bessa, cumprindo o acordo verbal que havia estabelecido com o Major Valentim Loureiro.

(Equipa técnica no Boavista FC)
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(Capa da Revista Equipa com José Maria Pedroto)
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(Boavista FC na decada de 70)
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Foi uma época de sucesso para o Boavista FC em 1975/76. Venceu a Taça de Portugal e sagrou-se Vice- Campeão Nacional. Contudo, no ano seguinte, já não conseguiu segurar o popular Zé do Boné que finalmente iria regressar ao FC Porto.
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(Erguendo a Taça de Portugal vencida ao comando do Boavista FC)
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Assina contrato com o FC Porto, após uma investida directa de Pinto da Costa, que estava devidamente autorizado pelo Presidente Américo Sá para contratar a qualquer custo o treinador português. José Maria Pedroto apenas colocou uma condição que se verificou: Que Pinto da Costa foi o Chefe de Departamento de Futebol Profissional. Começava assim uma dupla que marcou e marcará inquestionavelmente para sempre uma época no futebol português.

Pinto da Costa e José Maria Pedroto traçaram uma estratégia que visava afrontar todos os poderes instalados no futebol português e de uma vez por todas acabar com a hegemonia bicéfala dos clubes da capital.

A temporada de 1976/77 foi altamente conflituosa. O FC Porto acabou apenas em 3º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão a 10 pontos do SL Benfica que foi o Campeão Nacional. Venceu porem a Taça de Portugal numa final onde derrotou o SC Braga por 1-0.

No ano seguinte, finalmente, foi quebrado o longo jejum de vitórias dos FC Porto no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Os azuis e brancos sagraram-se Campeões Nacionais depois de um competição disputadíssima, decidida na “goal average”, com o SL Benfica, que foi 2º classificado, com a proeza inacreditável protagonizada pelo clube da Luz, que não perdeu qualquer encontro na prova e não foi campeão.
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(FC Porto na temporada de 1977/78)
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(José Maria Pedroto técnico do FC Porto em pleno Estádio das Antas)
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(Pedroto e Pinto da Costa com as faixas de campeão nacional)
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(Pedroto no FC Porto)
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(Em pleno treino no Estádio das Antas ao serviço do FC Porto)
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(A dupla José Maria Pedroto e Pinto da Costa no banco do FC Porto)
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(Caricatura de José Maria Pedroto)
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(Novamente no banco do FC Porto ao lado de Pinto da Costa)
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Renovou o título de Campeão Nacional na época seguinte de 1978/79 em mais um campeonato extremamente disputado com o SL Benfica. Em 1979/80 perdeu o título para o Sporting CP, quedando-se o FC Porto no 2º lugar do Campeonato Nacional da 1ª Divisão somente a 2 pontos dos leões de Alvalade.

Depois destes 3 anos a frente da equipa do FC Porto o clima de “guerrilha” no futebol português, envolvendo os principais clubes e os poderes de decisão na FPF, estava extremamente intenso e fortemente acicatado por José Maria Pedroto e Pinto da Costa. Era um chorrilho de polémicas e um constante ambiente fervente entre os protagonistas.
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(FC Porto na temporada de 1978/79)
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(José Maria Pedroto no FC Porto)
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(Ao lado de Pinto da Costa no banco de suplentes do FC Porto)

Mário Wilson, durante o período em que foi treinador do SL Benfica, ou mesmo na Selecção Nacional, foi sempre um alvo privilegiado de José Maria Pedroto, como se tratasse de um verdadeiro ódio de estimação.

Como exemplo do clima que se vivia e as repercussões nas pessoas destaca-se recorrentemente um episódio ocorrido na época de 1979/80. Naquele período, Mário Wilson era o seleccionador nacional que convocou vários jogadores do FC Porto para representar Portugal num jogo particular contra a Espanha que seria disputado na cidade de Vigo. Esse jogo seria realizado entre os dois jogos do FC Porto para a Taça dos Campeões Europeus frente ao AC Milan o que evidentemente prejudicava a preparação da equipa portista.

Por isso, José Maria Pedroto não se conteve, chamando “palhaço” a Mário Wilson. Os jogadores do FC Porto iriam juntar-se ao grupo da Selecção Nacional que vinha de Lisboa na Estação de Comboios da Campanhã no Porto. Aí, em vez dos jogadores do FC Porto estava uma verdadeira multidão em fúria que apedrejou o comboio que transportava a equipa de Portugal.

O FC Porto acabou por eliminar o AC Milan. José Maria Pedroto foi multado pelas instâncias federativas em 500 escudos. O popular “Zé do Boné” não emendou, em jeito de reacção acrescentou: “Quando disse que Mário Wilson, como treinador, era um palhaço, não tive intenção de ofender os palhaços.”

(Equipa do FC Porto com as faixas de campeão nacional)
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(José Maria Pedroto)
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(Caricatura de José Maria Pedroto)
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A verdade é que este tipo de discurso era recorrente em José Maria Pedroto. Frases como “temos de lutar contra os roubos de igreja no Estádio da Luz”, ou “passamos de pombinhos provincianos a falcões moralizados”, ou ainda “é tempo de acabar com a centralização de todos os poderes na capital” eram frequentes no linguajar do técnico.

Depois do FC Porto perder o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1979/80, não conquistando o tri, José Maria Pedroto foi afastado do cargo de treinador principal do azuis e brancos pelo Presidente Américo Sá que se dizia farto das polémicas e conflitos gerados pela dupla Pinto da Costa e Pedroto.
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(José Maria Pedroto no FC Porto)

(o treinador José Maria Pedroto no relvado)

A saída de José Maria Pedroto e de Pinto da Costa do FC Porto foi conturbada originando o celebre verão quente de 1980, quando 14 jogadores do FC Porto, onde constavam nomes como o de Costa, Oliveira, Octávio, Sousa, Frasco, Gomes, entre outros, fizeram uma autêntica rebelião não comparecendo aos trabalhos no arranque da temporada de 1980/81.

O Presidente do FC Porto Américo Sá deixava o nome de Pinto da Costa fora das listas concorrentes aos órgãos sociais. Em forma de protesto e demonstrando estar ao lado do actual presidente portista, 14 jogadores não compareceram aos trabalhos de preparação para a nova época sob os comandos do austríaco Herman Stessl, entretanto escolhido para suceder a José Maria Pedroto.

Esses 14 jogadores trabalhavam no Pinhal de Santa Cruz do Bispo às ordens de Hernâni Gonçalves, preparador físico de José Maria Pedroto, enquanto que os jogadores do FC Porto, os apelidados de “alinhados”, prosseguiam a sua preparação em Leiria.

Desempregado, José Maria Pedroto, foi alegadamente seduzido por responsáveis do SL Benfica para assumir o cargo de treinador principal dos encarnados. Esse facto não se consumou porque, dizem, alguns dirigentes benfiquistas vetaram o ingresso do técnico no clube, outros, afirmam que foi o técnico que não aceitou rumar a Lisboa pois pretendia continuar a trabalhar no norte do país.

Também o Sporting CP, presidido naquela época por João Rocha, fez tudo para José Maria Pedroto ingressasse no clube de Alvalade. Diz-se que o acordo estava praticamente selado entre ambas as partes, com todas as cláusulas integrantes do contrato devidamente combinadas.

A verdade é que a entrada de José Maria Pedroto como treinador do Sporting CP em Alvalade nunca se consumou. Conta-se que no dia aprazado para que as partes rubricassem o contrato, Pedroto terá feito marcha-atrás, alegadamente, pelo facto do Presidente do Sporting CP não lhe ter garantido que “controlava” os árbitros.

Para o Sporting CP acabou por rumar o britânico Malcolm Alisson, para o SL Benfica o húngaro Lajos Baroti e José Maria Pedroto permaneceu inactivo no início da época de 1980/81.

Entretanto, em Guimarães, o Vitoria SC arrancava para a época de 1980/81 com enormes expectativas de sucesso. O recentemente empossado Presidente da Direcção do Clube vitoriano, o jovem Pimenta Machado, tinha contratado um punhado de jogadores de inegável qualidade, desde os internacionais Damas e Blanker, a jogadores da categoria de Barrinha e Nivaldo, até aos jovens Fonseca e Ribeiro.

Depois de um início de prova algo titubeante o Presidente do Vitoria decide despedir Fernando Peres e Cassiano Gouveia, a dupla técnica que comandava a equipa, à passagem da 7ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão depois de uma derrota frente ao SC Espinho por 3-1.

Diz-se que incentivado por Pinto da Costa, o Presidente do Vitoria, Pimenta Machado, decide contratar tão só a melhor equipa técnica nacional, numa ousadia que espantou todo o futebol português. É desta forma que José Maria Pedroto, coadjuvado por António Morais e Artur Jorge, ingressa no Vitoria Sport Clube.

A entrada do treinador José Maria Pedroto revelou-se importante, pois o Vitoria melhorou significativamente de produção, alcançando resultados bem mais consentâneos com a valia da equipa.

(Apresentação oficial de José Maria Pedroto no Vitoria SC)
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(Equipa técnica do Vitoria SC liderada por José Maria Pedroto, com os adjuntos António Morais e Artur Jorge)

Em entrevista concedida naquela altura ao Jornal “Gazeta dos Desportos”, José Maria Pedroto justificava a escolha do Vitoria SC para continuar a sua carreira e quais os projectos e anseios que pretendia concretizar.

“Optei pelo Vitoria de Guimarães onde me sinto extremamente bem e onde estou a encetar um trabalho aliciante na procura constante dum bom conjunto de futebol que honre os pergaminhos do clube e reflicta os anseios duma direcção que não se poupa a esforços para dotar o clube das estruturas necessárias com o objectivo em vista: a entrada na Europa.

Direi ainda que essa entrada na Europa não visa o cumprimento de um capricho ou à satisfação duma vaidade. O que esta direcção e este Vitoria entendem por uma entrada na Europa é a consciencialização das responsabilidades dessa entrada, portanto, uma entrada consciente e baseada em alicerces sólidos.

É ir para ficar, e não para esporadicamente, tentar um ou outro brilharete. É de facto muito aliciante este projecto, onde todos quantos nele trabalham sentem o dever de cada vez mais se esforçar no sentido de corresponder aos anseios desta extraordinária massa associativa que considero a mais empenhada, mais interessada e a mais identificada na grandeza e glorificação do seu Vitoria.”

(No banco de suplentes do Vitoria SC em pleno Estádio da Luz com Artur Jorge e Carlos Pimenta Machado, o chefe do Departamento de Futebol do clube minhotos)

(Caricatura de José Maria Pedroto com o camisola do Vitoria SC)

(Com o adjunto a Artur Jorge para o inicio de uma viagem)
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Estreia-se como treinador do Vitoria de Guimarães à 9ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1980/81 no desafio disputado no Estádio da Povoa do Varzim, em que os vimaranenses vencem a formação poveira por 0-1. Na jornada seguinte, no Estádio Municipal de Guimarães, o Vitoria realiza uma magnífica exibição goleando inapelavelmente o rival SC Braga por 5-0.

O Vitoria SC estava finalmente no bom caminho e a massa associativa percebia isso. Um conjunto recheados de bons jogadores e um treinador com história no futebol português fazia sonhar os adeptos vimaranenses que estavam eufóricos na jornada após o encontro frente ao SC Braga protagonizando mais uma manifestação de paixão pelo clube.
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(No Estádio Municipal de Guimarães em pleno treino do Vitoria SC, segurando o jogador Narciso, e sendo observado por Damas e Nivaldo)
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(José Maria Pedroto no Vitoria SC)
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(Dirigindo o treino do Vitoria SC no Estádio Municipal de Guimarães)

Os vitorianos deslocar-se-iam em massa ao Estádio da Luz para assistir à partida entre o SL Benfica e o Vitoria SC. Uma mega excursão, no apelidado “Comboio Branco” foi realizada em direcção à cidade de Lisboa, onde o Vitoria acabou por ser derrotado por 2-0.

A época de 1980/81 terminaria com o Vitoria classificado no 5º lugar da geral, um lugar de destaque numa época de bom nível, mas que não chegava para cumprir o objectivo do clube em alcançar as competições europeias.

José Maria Pedroto renovaria o vínculo contratual com o Vitoria SC para a nova época de 1981/82, mas a sua equipa técnica iria perder Artur Jorge que rumaria ao CF Belenenses, onde assumiu a função de treinador principal. Para o lugar de Artur Jorge entrou Valdemar Custodio.

(Plantel do Vitoria SC na temporada de 1981/82)
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(José Maria Pedroto à conversa com Oliveira)

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(José Maria Pedroto no banco do Vitoria SC festejando)

Sob a égide de José Maria Pedroto, o Vitoria SC fez varias aquisições para a nova temporada futebolística. Ingressaram no clube os guarda-redes Jesus e Paulino, os defesas Alfredo Murça e João Gouveia, os médios Pedroto e Jeová e, finalmente, os avançados Narciso, Carraça, Flávio, e os brasileiros Ivanir e Lúcio Santarém. Saíram do clube o guarda-redes Melo, o médio Ferreira da Costa e os avançados Mundinho e Blanker.

O Vitoria SC realiza mais uma época de alto nível terminando a prova no 4º lugar do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1981/82. Contra o SL Benfica, FC Porto e Sporting CP consegue normalmente resultados positivos, apenas sendo derrotado no Estádio da Luz pelo SL Benfica por 1-0.

(José Maria Pedroto à entrada do tunes do Estádio Municipal de Guimarães assistindo à entrada em campo da equipa do Vitoria SC)
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Empata nas Antas a 0-0 e em Alvalade a 2-2. Em Guimarães vence o FC Porto e o SL Benfica ambos por resultado de 1-0, com golos da autoria de Joaquim Rocha, frente aos portistas, e Carraça frente ao SL Benfica. Contra o Sporting CP em Guimarães o encontro terminou empatado a 0-0.
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(Caricatura de José Maria Pedroto e Artur Jorge no Vitoria SC, frente a Stessl o austriaco ao tempo treinador do FC Porto)

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(José Maria Pedroto com Carlos Pimenta Machado o "homem forte" do futebol do Vitoria SC naquele tempo)


(Vitoria SC na época de 1981/82)

O 4º lugar alcançado na prova, sendo uma das melhores classificações de sempre do Vitoria SC, não foi porem suficiente para atingir a tão almejada participação nas provas internacionais de clubes. O SC Braga vai à Taça das Taças por ter participado na final da Taça de Portugal contra o Campeão Nacional Sporting CP.

Mas afinal qual o verdadeira essência que distinguia Pedroto dos restantes técnicos naquela época. Onde residia a diferença que fazia e faz dele, para muitos, como o melhor treinador português de sempre?

José Maria Pedroto era acima de tudo um homem profundamente inteligente com ideais sobre o futebol totalmente avançadas e surpreendentes para aquela época. Era também assustadoramente frontal e directo, o que para muitos era uma virtude e para outros um defeito que não suportavam.

Adepto confesso do espectáculo, era um apologista do futebol ofensivo, onde a eficácia e o pragmatismo tinham contudo que imperar, pois não admitia perder já que reagia muita mal as derrotas. Usava como ninguém a vertente psicológica, não só potenciando o rendimento dos seus jogadores, ou quais defendia como ninguém, como tentando pressionar adversários.

Cedo percebeu que a evolução do futebol, essencialmente o português, dependia do aperfeiçoamento físico e técnico dos jogadores, o que necessitava que os atletas se tornassem verdadeiramente profissionais e aplicados. Mas alem das exigências aos jogadores, também se mostravam necessárias um conjunto de outras medidas que sustentassem o progresso do futebol português.

Pedroto sempre se bateu pela concretização dessas medidas estruturais, tais como melhores campos de futebol, melhores condições para os jogadores, mais e melhores bolas, botas e outros cuidados médicos.

Destacam-se, desde já, os princípios da fórmula vencedora do mestre José Maria Pedroto: Em primeiro lugar a equipa tinha que ser unida, o espírito de grupo, a coesão entre os atletas que compõe a formação que comandava era essenciais para o êxito. Pedroto não hesitava nunca em sacrificar algum jogador, mesmo que fosse dos mais credenciados, em prol do grupo. Por outro lado, defendia os seus jogadores “com unhas e dentes” mesmo que para isso tivesse que enfrentar os dirigentes.

Em segundo lugar, a estratégia de Pedroto, para quando perdia, passava por imputar as responsabilidades pelas derrotas ao exterior. Quando perdia, a culpa ou era do arbitro, ou dos poderes instituídos no futebol português que teimavam em prejudicar a sua equipa.

Com os jogadores mantinha uma relação muito própria. A disciplina era exigência máxima. O empenho tinha que ser total. Mas Pedroto conseguia motivar os seus jogadores como ninguém. Incutia-lhes sempre um espírito de vitória onde ressaltava, naturalmente, a vertente psicológica em muitas conquistas.

(Dirigindo um treino do Vitoria SC no Estádio Municipal de Guimarães)

(José Maria Pedroto)
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(Novamente com António Oliveira)
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(Protestando no banco de suplentes do Vitoria SC)
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De resto, José Maria Pedroto destacava-se também pela sua característica indumentaria onde o xadrez nas suas roupas ou no singular boné que usava marcaram um estilo. Além disso, o Zé do Boné era extremamente supersticioso, obedecendo frequentemente a determinados rituais antes e durante as partidas. A título de exemplo, Pedroto nunca usava roupa nova nos dias dos jogos, nem tão pouco admitia que alguém do seu grupo usasse.
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Adorava jogar as cartas, um dos passatempos preferidos, mas mesmo aí não admitia de forma alguma perder. Gostava de pescar e de estar em reunido com os amigos, alem de que era um noctívago por natureza.
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(Discursando ao lado do Presidente, nas comemorações do aniversário do Vitoria SC)

(No banco de suplentes do Vitoria SC)

Após a passagem pelo Vitoria de Guimarães a sua carreira no futebol prosseguiu regressando novamente ao FC Porto, já com Pinto da Costa na presidência do principal clube da cidade invicta.

O Vitoria SC e os seus dirigentes tudo fizeram para manter José Maria Pedroto no cargo de treinador da equipa principal. Os vimaranenses terão mesmo oferecido um salário de 1.500 contos por mês, quantia superior aquela que José Maria Pedroto foi auferir como técnico do FC Porto.

(Ao lado de Pinto da Costa assinando contrato com o FC Porto)
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(Novamente José Maria Pedroto e Pinto da Costa)


(José Maria Pedroto)


(Caricatura do treinador José Maria Pedroto)

Foi a partir da época de 1982/83 que a dupla José Maria Pedroto e Pinto da Costa começaram a lançar os alicerces do FC Porto que na década de 80 chegou a conquistar os títulos de Campeão Europeu e do Mundo.

Este regressou ficou marcado todavia pela grave doença que apoquentou o técnico. Conquistou ainda no activo a Taça de Portugal na temporada de 1983/84 derrotando na final da competição a celebre equipa do Rio Ave FC por 4-1.

(José Maria Pedroto)
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(FC Porto na época de 1983/84)
. (José Maria Pedroto)

Foi a 10ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1983/84 que José Maria Pedroto se viu obrigado a abandonar a orientação da equipa do FC Porto por causa do cancro que lhe havia sido diagnosticado. Em Janeiro de 1984 foi internado em Londres afim de ser submetido a tratamentos deixando o comando da equipa aos seus adjuntos António Morais e João Mota.

Nessa mesma época assistiu em casa à final da Taças das Taças em Basileia entre o seu FC Porto e a Juventus de Itália. O FC Porto foi derrotado por 2-1 perdendo a competição para a equipa transalpina.

(José Maria Pedroto)

José Maria Carvalho Pedroto acabou por falecer na manha do dia 8 de Janeiro do ano de 1985, com 56 anos de idade, sucumbido à doença que o corroía imparavelmente. Durante a madrugada do dia do seu falecimento, já visivelmente debilitado, tentou satisfazer os seus últimos desejos, bebendo whisky por uma colher e tentando fumar o último cigarro.

Terminou assim a vida de homem invulgar que seguramente marcou uma época e um estilo no futebol português. Não viu, em vida, cumprir-se o seu maior sonho, ver o FC Porto Campeão da Europa e do Mundo.

(José Maria Pedroto no Estádio das Antas)

Terminou a vida, mas não terminou de forma alguma o mito que permanece no futebol português de um mestre José Maria Pedroto, o carinhoso e popularmente conhecido como o “Zé do Boné”.


Autor: Alberto de Castro Abreu

Não sei se todos os dados estão correctos, mas quero dar os meus parabéns por este fantástico artigo sobre o grande José Maria Pedroto.
 
Excelente trabalho, como sempre.

Alguém tem conhecimento de quem jogava no Lusitano de Vila Real de St.º António de 1949/50, para além do Pedroto e do Caldeira?

Obrigado.
 
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