(Equipa do Vitoria SC na época de 1944/45)
Curado é grande aquisição do Vitoria SC para a nova temporada. Veio como jogador rotulado e comprovou em Guimarães todo o seu valor tornando-se não só peça imprescindível na equipa como também seu capitão. Facilmente, afirma-se como titular indiscutível no sector mais recuado da equipa do Vitoria SC.
A sua transferência foi todavia polémica com os responsáveis do Vitoria SC a usar um estratagema que naquela altura era a única via para contratar os serviços dos jogadores de outros clubes. A referida regra dizia que um jogador só podia transferir-se no final da época para outros clubes com sede em cidades onde obtivessem um emprego público. É aqui que a Câmara Municipal de Guimarães entra na história garantindo a Curado um lugar de funcionário público e permitindo assim a sua transferência para o clube da cidade berço.
António Curado permaneceu ao serviço do Vitoria SC durante cinco temporadas consecutivas, regressando à cidade de Coimbra apenas na época de 1949/50 para representar a Académica de Coimbra.
(FC Porto - Vitoria SC, com o defesa Curado no corte)
O Vitoria SC da época de 1944/45, como Curado como titular indiscutível no sector defensivo, sagrou-se novamente Campeão Distrital da A.F. Braga e no Campeonato Nacional da 1ª Divisão terminou na 8ª posição da tabela classificativa, deixando atrás de si a Académica de Coimbra e o SC Salgueiros.
Curado estreou-se oficialmente com a camisola do Vitoria SC em Setembro de 1944, em Vizela, na partida da 1ª jornada do Campeonato Distrital da A.F. Braga, em que os vitorianos venceram o FC Vizela por claros 0-7.
A estreia com a camisola do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão aconteceu também à 1ª jornada daquela competição, em Novembro de 1944, na partida que opôs o SC Salgueiros aos vimaranenses disputada na cidade do Porto, em que a equipa salgueirista venceu por 3-2, com dois golos de Machado e um de Renato (já no ultimo minuto do desafio) para a formação da casa e com Zeferino e Brioso a apontar os tentos do Vitoria SC.
(Vitoria SC na temporada de 1944/45)A segunda época de Curado no Vitoria SC, correspondente ao ano de 1945/56, trás ao comando técnico da equipa principal um novo treinador. Alexander Peics é o novo treinador do Vitoria SC.
O Vitoria SC sagra-se, como acontecia invariavelmente naquele tempo, Campeão da região, mas desta vez intitulado como Campeão do Minho, devido à extinção da A. F. de Viana do Castelo o que levou à junção numa só prova das equipas da região de Braga e de Viana do Castelo. A prova foi pautada pela enorme superioridade do Vitoria SC em relação a todas a outras formações de tal forma que até a FC Famalicão, uma das melhores equipas da altura, o Vitoria SC foi vencer.
O Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1945/46 inicia-se com o impedimento do Vitoria SC utilizar o Campo do Benlhevai pois, dizia-se na imprensa da época, que os maus resultados alcançados pelo Selecção Nacional de futebol devia-se ao facto de na máxima prova nacional utilizar-se campos com pequenas dimensões como o do Benlhevai era exemplo.
Assim sendo, decretado aquele impedimento, urgente se tornou a construção de um novo campo de futebol na cidade de Guimarães. Vai nascer o Campo da Amorosa, inaugurado a 13 de Janeiro de 1946 em jogo frente ao Boavista FC. O Vitoria SC vence a formação axadrezada por 3-1 com Alexandre a apontar o primeiro golo oficial naquele novo estádio. A formação do Vitoria SC naquele celebre jogo era constituída por Machado; Garcia e João; Luciano, Curado e José Maria; Fanklim, Miguel, Alexandre, Brioso e Arlindo.
A cidade e o Vitoria SC, institucionalmente, prestaram uma grande homenagem a Antero Henriques da Silva, o principal dinamizador na construção do Campo da Amorosa. António Curado, como o capitão da equipa principal do Vitoria SC, foi um dos oradores naquela prestigiada homenagem levada a cabo pelo clube e pela cidade de Guimarães.
Segue-se, entretanto, a época de 1946/47, a ultima época em que a participação no Campeonato Nacional da 1ª Divisão dependia do título de Campeão Distrital. Há um novo treinador no Vitoria SC. É Artur Baeta, um homem que se tornou famoso pela dedicação à formação de jovens jogadores de futebol. Cria no Vitoria SC a primeira escola de futebol para crianças ficando também famoso por esse trabalho no FC Porto, onde ainda hoje tem o seu nome a escola de futebol dos azuis e brancos.
O Campeonato Distrital foi de novo conquistado pela formação de Guimarães. Todavia a conquista deste título já não foi o passeio que havia sido nos anos anteriores. O Vitoria SC teve que ultrapassar inúmeras dificuldades e puxar de todos os seus galões e classe para conquistar o ceptro. (Vitoria SC na época de 1946/47)
Os jogos decisivos foram frente ao SC Braga. Em Braga o Vitoria SC venceu por 4-5, verificando-se muitos confrontos no final do jogo entre os adeptos das duas equipas e, em Guimarães, no jogo da última jornada, uma tremenda goleada por 5-0 revalidando assim o título de Campeão.
No Campeonato Nacional da 1ª Divisão o Vitoria SC fica mais uma vez classificado na 8ª posição, numa prova disputada por 14 clubes, classificação que garantia um lugar na prova na época seguinte.
Como acima dissemos, a partir da época de 1947/48 o Campeonato Nacional da 1ª Divisão disputa-se nos moldes que conhecemos actualmente, com a prova a ser realizada no sistema de acesso e descidas mediante a classificação obtida no ano anterior e não já fruto de vitórias alcançadas em campeonatos distritais.
(Sporting CP - Vitoria SC em 1947/48 com Curado nas alturas)
Na temporada de 1947/48 chega a Guimarães um novo treinador que vem substituir Artur Baeta. Alfredo Valadas é o escolhido para comandar os destinos da equipa do Vitoria SC, permanecendo nesse cargo em Guimarães durante 2 temporadas, ou seja, será o ultimo treinador que Curado conhece ao serviço da equipa da cidade berço.
No Campeonato Nacional da 1ª Divisão desta época o Vitoria SC classificou-se na 7ª posição, precisamente a meio da tabela de um campeonato disputado por 14 clubes. O Vitoria SC realizou uma prova extremamente tranquila, garantindo a permanência no escalão – que era o primordial objectivo – com muita facilidade.
Nesta temporada e nesta competição em particular, destaque para a participação de António Curado, que realizou todos os desafios do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, sendo o único totalista da equipa do Vitoria SC.
Na época de 1948/49, a última do Curado em Guimarães, o Vitoria SC conquistou um brilhante 6º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, tão só a melhor classificação de sempre até aquela altura. Acima do Vitoria SC apenas se classificaram o Sporting CP, que foi o campeão, o SL Benfica, o CF Belenenses, o FC Porto, e o surpreendente GD Estoril – Praia.
(Vitoria SC na temporada de 1948/49)No final desta temporada de 1948/49, o Vitoria SC perdeu o capitão da equipa e um dos jogadores mais importantes até então, o defesa/médio Curado, que regressou à sua cidade natal para representar, desta feita, a Académica de Coimbra.
O período que passou no Vitoria SC terá sido, por certo, o mais brilhante da sua carreira. Foi durante estas cinco épocas ao serviço do clube da cidade berço que foi várias vezes convocado para os trabalhos da Selecção Nacional de Portugal. Foi sete vezes suplente em jogos da Selecção Nacional e, por uma vez, titular, em 1947 numa partida que marcou a despedida do jogador do CF Belenenses Mariano Amaro, realizada no Campo das Salésias, entre a Selecção Nacional e a Selecção de Ultramar.
Representou varias vezes a Selecção de Coimbra, a Selecção do Norte, em partidas contra o Sul, e ainda a Selecção do Minho, nomeadamente, no encontro contra a Selecção Nacional de Portugal, que marcou a inauguração do Estádio 28 de Maio na cidade de Braga, hoje conhecido como Estádio 1º de Maio. Nessa partida, António Curado foi o capitão da Selecção do Minho e considerado pela crítica desportiva como o melhor jogador em campo.
.
(António Curado)
Registe-se, ainda, outro facto marcante na carreira do António Curado. Alem de ter recebido convites para representar equipas como o SL Benfica, Sporting CP, FC Porto e CF Belenenses, alem de outras formações do ultramar, terá sido também o primeiro jogador português a ser convidado a jogar em equipas estrangeiras, como foi o caso do Real Sociedad de Espanha ou a Portuguesa de S. Paulo no Brasil.
É, contudo, na equipa da Académica de Coimbra que António Curado irá terminar a sua carreira de futebolista em 1956. Foram 7 temporadas consecutivas ao serviço da equipa dos estudantes na qual foi também o capitão de equipa e um dos mais valiosos jogadores da história do clube de Coimbra.
(Curado na Académica de Coimbra)
No período em que representou a briosa, a equipa da Académica de Coimbra disputou sempre a 1ª Divisão Nacional. Na temporada de 1953/54 correu, porem, sérios riscos em descer ao escalão secundário do futebol português.
A partida decisiva que a Académica de Coimbra venceu e assim garantiu a permanência na principal competição portuguesa decorreu em Março de 1954, entre os conimbricenses e o Vitoria SC. A Académica de Coimbra venceu aquele desafio por 1-0 com um golo precisamente da autoria de António Curado, antigo jogador e capitão dos vimaranenses.
(Na Académica de Coimbra)Curado finalizou a sua carreira de 20 anos de futebolista no final da época de 1955/56, com 35 anos de idade. Entre 1954 e 1983 trabalhou nos quadros superiores da CIDLA/SACOR, depois Petrogal.
Ao longo da sua vida dedicou-se também à escrita. Escreveu alguns livros e foi também redactor e director do jornal académico “O Poney”. Foi ainda cronista em alguns jornais nacionais e correspondente em Portugal do jornal desportivo brasileiro “Gazeta Esportiva”.
O seu primeiro livro foi publicado em 1951, com o título “Pontapés p´ró Ar”, com historias sobre futebol. Publicou ainda em 1974 o livro “Patrões Feudais”, em 1992 o livro intitulado “Meninos de Bibe e Calção Curto” e, mais recentemente, o livro “Coisas Sobre Coimbra”.
(Um dos livros da autoria de António Curado)
Além do tributo acima referenciado prestado pelo Vitoria SC, António Curado foi também homenageado pela Académica de Coimbra, como por vários quadrantes do panorama futebolístico nacional. Dedicou-se também à causa associativa a qual lhe mereceu também inúmeros reconhecimentos.