Glórias do Passado: Parades

 

Parades


“Sinto grande emoção quando, agora, recordo que marquei aquele golo que encaminhou o nosso Vitoria para as suas glórias actuais”. Esta frase tão marcante e inundada de sentimento é da autoria de Paredes, jogador do Vitoria na temporada de 1933/34, e foi proferida ao Jornal O Povo de Guimarães em 1984 aquando da comemoração dos 50 anos da conquista do 1º Campeonato Distrital da A.F. Braga pela equipa vimaranense.

Inegável a importância histórica daquela conquista vitoriana que definitivamente projectou a colectividade, tornando-o, numa primeira instancia, como o principal clube em toda a região, estatuto que ao longo dos anos foi afirmando através das sucessivas glorias e conquistas alcançadas. A nível nacional, e essencialmente a partir daquele momento, o nome Vitoria Sport Clube tornou-se famoso e respeitado em todo o país.
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Paredes fica umbilicalmente ligado à história do Vitoria, principalmente no que tange aquele primeiro campeonato distrital conquistado na temporada de 1933/34. É que foi ele o autor do golo de tão saborosa conquista efusivamente comemorada pelas gentes de Guimarães.
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(Equipa do Vitoria SC na decada de 30)
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António José Paredes terá nascido em 1914 na cidade de Guimarães. Era defesa, actuando preferencialmente pelo lado direito daquele sector. Terminou a sua carreira de futebolista com pouco mais do que 21 anos de idade, mas ao longo do seu percurso ainda jogou em vários clubes tendo também alinhado pela Selecção de Braga em diversos encontros com Selecções de outras regiões do país..

Começou a jogar futebol nos infantis do Académico do Liceu de Guimarães. Na mesma categoria ainda representou o Vitoria Sport Clube, que teve de deixar, pois o clube vimaranense teve que interromper a pratica desportiva devido ao desaparecimento do Campo da Perdiz, seu campo de jogos.
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Antes de regressar ao Vitoria, o defesa Paredes ainda representou o Sport Comercio e o Maria da Fonte da Povoa de Lanhoso.
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(Paredes)
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Depois da inauguração do Campo do Benlhevai, situado ali entre a Avenida Alfredo Pimenta e a Rua de S. Gonçalo, o Vitoria retornou à plena actividade desportiva e nessa circunstância dá-se o regresso de Paredes ao clube vimaranense.

Entramos na época de 1933/34 que fica marcada na história do Vitoria Sport Clube como o ano da conquista do 1º Campeonato Distrital de Braga prova que o Vitoria viria a ganhar consecutivamente, afirmando-se como o maior clube da região.

O Presidente da Direcção do Vitoria na época de 1933/34 era o Dr. José Acácio Pinto Rodrigues. O treinador da equipa principal do Vitória era, dizia-se, um ex jogador do Ferencvaros da Hungria de nome Puskas, que havia chegado a Guimarães para assumir o papel de treinador/jogador, e que trazia consigo excelentes referencias não só como praticante de futebol, como enquanto entendido na matéria técnico táctica.
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Puskas chegou a Guimarães para substituir o conceituado treinador húngaro Genecy que havia sido Campeão de Portugal com o Vitoria de Setúbal.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1933/34)
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Puskas, o técnico que viria a sagrar-se campeão, não teve de forma alguma uma vida fácil em Guimarães. Apesar da conquista alcançada, suspeitava-se na altura que Puskas seria uma fraude, já que enquanto jogador nunca chegou a alinhar pelo Vitoria, e mesmo, as suas anunciadas qualidades enquanto técnico nunca chegaram a convencer ninguém. De resto, o mesmo foi alvo de muita contestação por parte da massa associativa vitoriana.

Curiosas as palavras do técnico na altura: “Garanto-lhe sob palavra que já fiz dois campeões em países estrangeiros. O Vitoria, também o foi. Sê-lo-á para o ano porque Puskas o preparará. O futebol internacional obriga a três treinos por semana. Preparação física às terças, técnica e jogo às quintas e nova preparação menos violenta às sextas. Em Portugal procura-se remediar com dois treinos por semana. Temos de nos sujeitar ao uso.”
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A verdade é que Puskas tinha um espírito demasiado profissional para a época com um nível de exigência bastante elevado. Tinha uma orientação bem centrada na preparação física dos jogadores que, lembremos, era todos amadores, jogando simplesmente pelo amor à camisola e ao jogo, já que juntamente com o futebol, tinham exerciam outras actividades profissionais o que impedia de certa forma uma melhor preparação.
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(Paredes)
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Por mera curiosidade lembremos que o guarda redes Ricoca era trolha de profissão. Aquele que aqui recordamos, o Paredes, era empregado de escritório. Manecas, o companheiro da defesa de Paredes, era empregado de armazém. Freitas, médio, era proprietário de vários investimentos, e Laureta, também médio era empregado de café, sendo que se tratava ainda do único jogador que não era natural de Guimarães.

Mário, também jogador do sector intermediário, era sapateiro. Os avançados eram Fonseca, marceneiro de profissão e Lameiras, que era empregado numa padaria da cidade. Faria era ainda estudante na época e faleceu novo. Virgílio, também um grande nome da história do Vitoria era sapateiro de profissão. Bravo que fechava o lote dos cinco avançados era empregado no comércio de móveis.
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O Campeonato Distrital era uma prova organizada pela Associação de Futebol de Braga e disputa em duas séries formadas, uma delas, pelos equipas do Vitoria de Guimarães, o Maria da Fonte, da Povoa de Lanhoso, SC Fafe e o FC Fafe, ambos como o próprio nome indica da vizinha cidade de Fafe, e o CC Taipas. A outra série era formada pelo SC Braga, Famalicão, o Comercial de Braga, o Triunfo, equipa de Vila Verde, o Esposende e o Barcelos.
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(Equipa do Vitoria Sport Clube na decada de 30)
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Naturalmente o Vitoria Sport Clube e o SC Braga foram os vencedores de cada uma das séries, e assim, de seguida iriam disputar uma final no sistema de jogos a duas mãos na cidade de Guimarães, primeiro, e em Braga depois. O Vitoria foi o 1º classificado da sua série, contabilizando apenas um empate a 2-2 em casa contra o SC Fafe, já que nos restantes jogos só conquistou vitórias.

No dia 25 de Março de 1934 disputou-se no Campo do Benlhevai, sob arbitragem de um juiz da cidade do Porto, o jogo da 1ª mão da final do Campeonato Distrital de Braga da temporada de 1934/35.
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O Vitoria alinhou com Ricoca; Paredes e Maneca, Freitas, Laureta e Mário; Fonseca, Lameiras, Faria, Virgílio e Bravo. Na equipa do SC Braga o guarda-redes Lima, e ainda Muchacho, Aragão, Machadinho, mas sobretudo o Alberto Augusto, que era simultaneamente treinador, e que foi internacional português quando tinha jogado pelo SL Benfica. Alberto Augusto é também um nome importante na história do Vitoria já que ingressou no clube da cidade berço poucos anos depois assumindo a função de jogador e treinador.
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(Paredes)
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Perante um Campo do Benlhevai completamente lotado o Vitoria foi sempre superior ao adversário que milagrosamente foi evitando a concretização do golo vimaranense pois os arsenalistas apenas se limitavam a defender. Todavia, quando faltavam apenas 2 minutos para o final do encontro o Vitoria acabou por chegar ao golo por intermédio de Paredes. Golo importante e que se viria a revelar suficiente para a conquista o tão almejado troféu.

Faltavam apenas 2 minutos para o final do encontro quando Ricoca colocou a bola no defesa Paredes, que avançou no terreno com a bola dominada ultrapassando consecutivamente os jogadores bracarenses que lhe apareciam à ilharga. Esta iniciativa individual terminou com Paredes isolado perante o guardião Lima, e à saida deste, atirou a bola para o fundo da baliza do SC Braga. Estava assim concretizando o golo vitorioso que colocou o resultado final em 1-0 a favor do Vitoria de Guimarães.
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No jogo da 2ª mão, disputado a 8 de Abril de 1934, no Campo dos Peões em Braga, o Vitoria alinhou com a mesma formação que havia jogado no jogo da 1ª mão em Guimarães. A deslocação do Vitoria foi suportada por uma imensa falange de apoio vinda de Guimarães até à cidade de Braga, contabilizando-se, diz-se, em cerca de 16 camionetas e 50 veículos automóveis.
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(Equipa do Vitoria Campeã Distrital: Da esquerda para a direita: Nobre (enfermeiro), James (massagista), Ricoca, Bravo, Faria, Lameiras, Mário, Laureta, Virgílio, Fonseca, Feitas, Manecas, Paredes e Puskas (treinador))
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O jogo foi novamente apitado por um árbitro do Porto e decorreu com enorme intensidade e espírito de luta, acabando os vimaranenses, com algum sacrifício, diga-se de passagem, por garantir um nulo no marcador final, resultado por si só suficiente para se sagrar Campeão Distrital na época de 1933/34.
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Enormes festejos percorreram as principais artérias da cidade de Guimarães onde todos os vimaranenses se regozijaram com o feito alcançado, prestando, simultaneamente o merecido tributo aos novos campeões. Ecoaram gritos de “Viva o Vitoria” por toda a cidade, com a grande apoteose no Largo do Toural, principalmente dirigidas aos atletas e dirigentes que se colocaram nas varandas da sede do clube situada no edifício onde actualmente se encontra o Restaurante Oriental.
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(O cartão de identificação da Federação Portuguesa de Futebol do jogador Paredes do Vitoria Sport Clube na época de 1932/33)
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Para a história dica a equipa do Vitoria Sport Clube que era composta da seguinte forma: Ricoca; Paredes e Manecas; Freitas, Laureta e Mário; Fonseca, Constantino, Faria, Virgílio e Bravo. Os suplentes eram Camilo, Elísio e Cardoso do Vale que mais tarde foi presidente do Vitoria. O treinador era o mencionado húngaro Puskas.
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Paredes, a figura marcante desta história pelo golo apontado na final, acabou por abandonar a carreira com pouco mais de 21 anos, apesar de alguns convites que recebeu do FC Porto e do Sporting CP.

Autor: Alberto de Castro Abreu

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