Glórias do Passado: Temporada de 1962/63

 

Temporada de 1962/63


O período de transição da época de 1961/62 para a de 1962/63 foi deveras agitada no seio do Vitoria SC, quer ao nível directivo, em consequência da demissão da Direcção anterior, quer no tocante à composição do plantel para a nova temporada.

A questão do executivo que iria liderar o clube foi ultrapassada com a intervenção do Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, também Presidente da Mesa da Assembleia Geral, o Senhor Castro Ferreira, que acabou por convencer Hélder Rocha a liderar uma comissão administrativa.

Quanto à questão da formação do plantel para a nova época, a mesma ficou em grande medida resolvida com as transferências dos jogadores Augusto Silva e Pedras do Vitoria SC para o SL Benfica. Pois, nessa medida, alem do considerável encaixe financeiro realizado, a equipa do Vitoria SC recebeu no seu plantel tão só 7 novos jogadores provenientes do clube da Luz.

O primeiro negócio a ser concretizado foi a transferência do jovem Pedras para os encarnados, a qual envolveu momentos caricatos, como foi o caso da peripécia do “rapto” que o jovem foi alvo pelos dirigentes do Sporting CP, clube que também se interessou pela sua contratação. Alias, na época, acabou mesmo por surgir na imprensa escrita noticias que davam conta da consumada aquisição de Pedras por parte do Sporting CP.

O certo é que, a final, o jovem vimaranense acabou por ingressar no SL Benfica, com os vimaranenses a receberem como contrapartida a avultada quantia de 550 contos, mais os jogadores Peres, Mendes e Fonseca.

Volvido pouco tempo após a transferência de Pedras, foi a vez de Augusto Silva, conceituada jogador da equipa do Vitoria SC, transferir-se também ele para o SL Benfica. Por esta transacção, os vitorianos receberam a cifra de 700 contos, mais os passes de Manuel Pinto, Teodoro, Zeca Santos e Testas, estes dois últimos na condição de emprestados.

Recordemos Testas, um possante avançado que representou o Vitoria SC somente na época de 1962/63. José Soutinho Testas nasceu no dia 29 de Novembro de 1943, na Arrentela, Seixal, fazendo a sua formação como futebolista no SL Benfica, onde actuou em 1959/60 e 1960/61 pela equipa de juvenis e a temporada de 1961/62 pela equipa de juniores dos encarnados.
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Prosseguiu a sua carreira no Vitoria SC na época de 1962/63, no seu primeiro ano de sénior. Em Guimarães, fundamentalmente devido à enorme concorrência de qualidade que tinha na equipa do Vitoria SC, Testas foi poucas vezes utilizado, já que actuou em somente 4 encontros do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1962/63 sem ter obtido qualquer golo.
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(Testas no FC Barreirense)
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Seguiu-se nova cedência ao FC Barreirense na época de 1963/64 e ao AC Arrentela, clube da localidade onde nasceu, na temporada de 1964/65. Em 1965/66 regressou ao Barreiro para representar o FC Barreirense, clube onde permaneceu 3 épocas consecutivas e atingiu alguma notoriedade.
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Deixou o FC Barreirense no final da época de 1967/68 e rumou à cidade de Faro para representar o SC Farense a partir da temporada de 1968/69. Em 1979/80 estava radicado no Canada onde ainda representou a equipa do First Portuguese.
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(Testas com a camisola do SC Farense)
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(No SC Farense)
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Relativamente à composição do plantel regista-se, alem das 7 caras novas provenientes do SL Benfica, as contratações do guarda redes Roldão, de Paulino, Armando e do avançado brasileiro Lua, mais uma pérola vinda do outro lado do Atlântico indicado por António Pimenta Machado, vimaranense radicado na cidade pernambucana do Recife/Brasil. Estava assim construída a base de uma equipa que iria permanecer largos anos em Guimarães.

Depois da solução transitória operada na parte final da época de 1961/62 com Joaquim Rola no comando técnico da equipa, o Vitoria SC escolheu para treinador principal o argentino José Valle, técnico que permanecerá em Guimarães durante 3 temporadas consecutivas e com resultados assinaláveis.
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No Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1962/63 o Vitoria SC foi o 6º posicionado na tabela classificativa final da competição, lugar muito meritório para uma equipa praticamente nova. O Vitoria SC conquistou 27 pontos em 26 jogos, resultantes de 12 vitórias, 3 empates e 11 derrotas. Assinale-se que a equipa vimaranense apontou 47 golos e sofreu 43.
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(Peres no Vitoria SC - Academica de Coimbra no Campo da Amorosa)
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Os 47 golos apontados pelo Vitoria SC ao longo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1962/63, foram da autoria de Lua, que apontou 15 e sagrou-se o melhor marcador da equipa, de Mendes, o famoso “Pé Canhão, que concretizou 10 tentos e, ainda de Peres com 6, Romeu e Teodoro ambos com 4, Armando e Paulino com 3 golos cada um e o brasileiro Caiçara que anotou 2 na sua conta pessoal.
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(Peres no Campo da Amorosa no jogo entre o Vitoria de Guimarães e o Lusitano de Évora)
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O Vitoria SC começou a disputar o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1962/63 num jogo envolvido de grande polémica. A equipa vimaranense recebeu no Campo da Amorosa o Leixões SC em partida que finalizou com um empate a 1-1. Porem, um momento marcou aquele jogo quando o Vitoria SC apontou um golo que deixou muitas dúvidas se a bola tinha ultrapassado ou não a linha de golo.

Inicialmente, o arbitro do encontro o Senhor Porfírio Silva da A.F. Aveiro considerou valido o tento apontando para o centro do terreno de jogo. Decisão que veio posteriormente a alterar, depois dos intensos protestos protagonizados pelos leixonenses, com o próprio Presidente do Leixões SC Edison Magalhães a descer da bancada ao relvado para conferenciar com o arbitro e exigindo-lhe a anulação do golo.

A verdade é que o árbitro acabou por não considerar aquele golo, voltando com a sua decisão atrás o que despoletou imensos protestos por parte de jogadores, dirigentes e adeptos vitorianos. Instalou-se a confusão geral no final daquela partida com vários incidentes registados, que levou mesma à intervenção do corpo da PSP destacado para o Campo da Amorosa onde foram identificadas várias pessoas e onde se viu ainda obrigada a disparar alguns tiros para amenizar os manifestantes.

No final do encontro, o delegado ao jogo do Vitoria SC apresentou protesto pelo facto de o árbitro não ter descontado o longo período de tempo em que o jogo esteve interrompido. Este protesto foi inicialmente deferido pelo Conselho Técnico da F.P.F. a favor do Vitoria SC, baseando-se aquela decisão, fundamentalmente, nas declarações do polémico arbitro onde reconhecia esse lapso.
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Todavia, após o recurso daquela decisão apresentado pelo Leixões SC, o Conselho Jurisdicional da F.P.F., acabou por dar razão aos leixonenses, numa votação bastante divida nos membros daquela Conselho. Destacou-se, na época, a votação do representante da A.F. Braga, o advogado Augusto Rego da cidade de Braga, que votou contra a posição defendida pelo Vitoria SC o que mereceu alargados protestos das gentes da cidade berço.
. (Vitoria SC - FC Porto no Campo da Amorosa. Na imagem o avançado Mendes a cabeçear em direcção à baliza adversária)
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Naquela época evidencia-se um conjunto de bons resultados com outros adversos. Em Guimarães o Vitoria SC não conseguiu vencer nenhum dos apelidados grandes. Nos jogos foram do seu reduto o Vitoria SC conseguiu 6 vitórias em 13 jogos, o que não era frequente acontecer naquela época. Ganhou ao Lusitano de Évora, em Évora por 0-1, ao Vitoria de Setúbal (0-3), em Coimbra frente à Académica (0-2), no Atlético CP (0-5), FC Barreirense (1-3) e CD Feirense (1-3).
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(Jogo entre o Vitoria SC e o Sporting CP no Campo da Amorosa. Peres visivelmente combalido é assistido no terreno de jogo)
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A equipa tipo do Vitoria SC era constituída na baliza pelos guarda redes Zeca Santos e Roldão que praticamente dividiram aquela posto, com o primeiro a actuar em 14 encontros e o segundo em 12.

Na defesa, preferencialmente alinhavam Caiçara (registou 21 jogos), Silveira, o capitão (21 jogos) e Daniel Barreto (20 jogos). No meio campo alinhava Virgílio (20 jogos), Manuel Pinto (23 jogos) e Peres (25 jogos). A linha avançada foi aquela que mais variou, mesmo assim era maioritariamente composta por Romeu (15 jogos), Lua (18 jogos), Mendes (22 jogos) e Armando (14 jogos).
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Nesta temporada actuaram ainda oficialmente no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, os defesas João da Costa (11 jogos), Mário Costa (9 jogos) e Freitas (5 jogos); o médio centro Fonseca (4 jogos), o extremo direito Paulino (12 jogos), e os avançados Castro (6 jogos), Teodoro (10 jogos) e o acima recordado Testas (4 jogos).
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(Manuel Pinto do Vitoria de Guimarães disputando um lance com Jose Torres do SL Benfica no Campo da Amorosa)
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O bom desempenho protagonizado pelo Vitoria de Guimarães no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1962/63 foi todavia suplantado pela sensacional campanha realizada na Taça de Portugal que levou o clube, pela segunda vez no seu historial, à final da competição que se disputou no Estádio do Jamor.
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Na 1ª eliminatória da competição o Vitoria de Guimarães eliminou o SC Covilhã com duas vitórias nas duas mãos em que se disputavam aquelas eliminatórias. Uma primeira vitória por 3-1 e outra por 0-2.
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(No Campo da Amorosa no jogo entre o Vitoria SC e o SC Covilhã)
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Nos oitavos de final da Taça de Portugal o Vitoria SC encontrou a Académica de Coimbra, que acabou eliminada depois de os vimaranenses suplantarem uma derrota por 2-1, com uma vitória por 3-1.

O CF União da Madeira foi o adversário dos vimaranenses nos quartos de final. Uma derrota do Vitoria SC por 2-1 foi compensada pela sensacional goleada de 5-0 e dessa forma a equipa de Guimarães estava classificada para as meias final da competição.

Nas meias-finais da prova quedou em sorte ao Vitoria SC a equipa do CF Belenenses, o 4º classificado no Campeonato Nacional.

Naquela altura, a competição da Taça de Portugal era disputada num sistema de dois jogos, um em casa, outro disputado fora, e um terceiro jogo em campo neutro, no caso de se verificar um empate no confronto das duas mãos.
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No jogo da 1ª mão, o Vitoria SC perdeu no Restelo por 2-0. Mas na semana seguinte, em Guimarães, em jogo disputado no lotadíssimo Campo da Amorosa, o Vitoria SC vence o CF Belenenses por 3-1. Haveria pois necessidade de realizar um terceiro jogo em campo neutro a meio da semana. A Cidade escolhida: Coimbra. Resultado: milhares e milhares de vitorianos rumam em direcção à cidade dos estudantes para apoiar o Vitoria naquele jogo decisivo. Mas fomos, somos e seremos sempre assim?
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(Campo da Amorosa completamente lotado no jogo da 2ª mão das meias finais da Taça de Portugal entre o Vitoria SC e o CF Belenenses)
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(Um lance aéreo entre o guarda redes do CF Belenenses e médio Peres do Vitoria SC, com Mendes na expectativa)
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O jogo é impróprio para cardíacos. A 6 minutos do fim o Vitoria SC perde por 0-1. Mas a fé vitoriana é a ultima abandonar a cidade de Coimbra, e nos últimos minutos do jogo, o Vitoria SC marca 3 golos sem resposta, vencendo no final a partida por 3-1 e carimbando dessa forma o passaporte para a final da competição no Estádio do Jamor em Lisboa. Inimaginável festa acompanha os adeptos e a equipa na viagem de regresso à cidade berço.
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(Lance do 3º jogo das meias finais em Coimbra entre o Vitoria SC e o CF Belenenses)
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(Festejos dos jogadores do Vitoria SC no final do 3º encontro das meias finais da Taça de Portugal. Em ombros segue o técnico argentino Jose Valle)
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Porem, a fortuna que acompanhou o Vitoria SC naquele dia do meio da semana não se estendeu até ao Domingo, dia da final frente ao Sporting CP, pois alem do cansaço provocado pelo jogo disputado a meio da semana, a equipa perdeu o seu capitão, o defesa Silveira que se tinha lesionado.
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(Momentos antes da final da Taça de Portugal no Jamor, Peres com um grupo de amigos)
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No dia 30 de Junho de 1963, no Estádio do Jamor, em jogo apitado pelo Senhor Clemente Rodrigues, da A.F. Porto, o Vitoria SC alinhou com a seguinte equipa: Roldão na Baliza, Caiçara, Daniel e João da Costa, na defesa, Manuel Pinto, Virgílio, Paulino e Peres, no meio campo e Lua, Mendes “Pé Canhão” e Armando Silva no ataque.
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(Equipa do Vitoria SC da final da Taça de Portugal.
Em cima: Mário Roldão, Caiçara, Manuel Pinto, Virgilio, Daniel, João da Costa, Zeca Santos e o treinador Jose Valle.
Em Baixo: Paulino, Peres, Lua, Mendes, Armando Silva)
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O Sporting CP, treinado por Juca, que mais tarde viria a ser treinador do Vitoria SC, apresentou a seguinte composição: Carvalho; Pedro Gomes, Hilário; José Perides, Lúcio Soares e David Júlio; Figueiredo, Osvaldo Silva, Mascarenhas Geo e João Morais.
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(Vitoria SC - Sporting CP no Estadio do Jamor)
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Naquela tarde no Estádio do Jamor o Sporting CP por 4-0, com golos de Figueiredo que apontou 2, Lúcio e Mascarenhas, acabando por conquistar a Taça de Portugal da época de 1962/63 sendo o Vitoria SC um digno vencido.
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(Festejos do segundo golo do Sporting CP no jogo da final da Taça de Portugal)
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(Equipa do Vitoria SC em 1962/63 numa viagem à Ilha da Madeira)


Autor: Alberto de Castro Abreu

O Armando Silva tem que ser o caboverdiano Armando Spencer. Eu cheguei a conhecê-lo aqui nos EUA, mas parece-me que ele já regressou a Portugal.

Quanto ao GR Zeca Santos, será o mesmo Zeca Santos que chegou a ser GR nas «Reservas» do Sporting algures aí pelos anos 60?

Obrigado
 
Ola Dingo,

Obrigado pelo seu comentário recordando o Armando Silva e o Zeca Santos. Sinceramente não lhe poderei confirmar a duvida que tem, mas não deveriam haver assim tantos Zecas Santos guarda redes.

Sei que este chegou a Guimarães nesta epoca vindo o SL Benfica na qualidade de emprestado.

Saudações vitorianas

Alberto
 
O ARMANDO Manuel da Silva Spencer fez duas épocas em Guimarães, 1962/63 e 1963/64; fora contratado ao Olhanense. Terminou a carreira no Marinhense (ou ainda terá continuado a jogar nos Estados Unidos?).

Quanto ao Zeca Santos, que jogou nas reservas do Benfica e do Sporting, creio que chegou ao Vitória por via da lei militar.
 
O Armando acabou a carreira em Portugal no Marinhense e foi jogar para os Estados Unidos, onde fez a sua vida. Entretanto já regressou a Portugal e vive na Marinha Grande. Activo e de boa saúde.
Ver (blog com que ele colabora)
http://marinhense-anos60.blogspot.com
 
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