Glórias do Passado: Temporada de 1961/62

 

Temporada de 1961/62


Depois da grande época de 1960/61 onde a formação do Vitoria SC atingiu a melhor classificação de sempre no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, até aquela data, a temporada seguinte, de 1961/62, foi bastante conturbada e polémica com a equipa vimaranense a correr sérios riscos de descer à 2ª Divisão Nacional.

Tudo começou logo no período do defeso futebolístico, essencialmente, quando o avançado brasileiro Ernesto Paraíso foi dispensado do clube. O treinador Artur Quaresma, que se manteve no cargo de técnico principal dos vimaranenses, impôs a dispensa do avançado, por quem a massa associativa nutria especial simpatia. Os sócios do Vitoria SC contestaram sobremaneira a decisão de dispensar Ernesto, ainda para mais quando a outra grande referência do ataque da equipa vitoriana, o brasileiro Edmur, acabava por ser transferido para os espanhóis do Celta de Vigo.

O Presidente da Direcção do Vitoria SC, Casimiro Coelho Lima, colocou-se ao lado do treinador solidarizando-se com a decisão tomada. Pagou mesmo do seu bolso o valor devido pelo Vitoria SC ao jogador pela sua desvinculação. Alem disso o Presidente do Vitoria, também como o apoio da família proprietária de uma das maiores industrias da região e mesmo do pais, a empresa têxtil Coelima, fez um forte investimento pessoal na aquisição de vários jogadores para a equipa do Vitoria SC.

Porem, nada disso fez acalmar a massa associativa vitoriana que se colocou definitivamente contra o Presidente da Direcção e o treinador da equipa de futebol. Contestação que veio a subir de tom a medida que os maus resultados desportivos se avolumaram, de tal forma que as manifestações contra o Presidente e treinador levaram mesmo ao pedido demissão de ambos.

Alem da polémica saída de Ernesto Paraíso, deixaram também a equipa do Vitoria SC os avançados Bártolo e Azevedo, que foram também dispensados pelo treinador Artur Quaresma. Edmur, o máximo goleador da equipa, já quase com 32 anos de idade, foi transferido para a formação galega do Celta de Vigo, com os vimaranenses a realizarem um importante encaixe financeiro com um jogador veterano, motivo pelo qual a sua saída foi bem aceite pela exigente massa associativa do Vitoria SC.
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Em matéria de aquisições o Vitoria SC contratou os serviços do guarda-redes Ramin. Guardião de inquestionável qualidade que até ser mobilizado para combater em Africa foi o titular da baliza do Vitoria SC. Ao Leixões SC o Vitoria SC foi buscar o extremo esquerdo Nunes e o interior esquerdo Silva. Nem um nem outro foram muito felizes em Guimarães já que nenhum deles conseguiu afirmar-se como titular da equipa.
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(Nunes)
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Sem grande destaque foram ainda novidades na equipa do Vitoria SC o guarda-redes Varatojo, o médio direito Lopez Arcanzel e o lateral direito Mário Costa. Importante aquisição do Vitoria para esta época foi mesmo o avançado Espanhol Amaro, jogador em quem os responsáveis vimaranenses depositavam grande confiança, mas que apesar dos 17 golos apontados no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1961/62, nunca fez esquecer Edmur ou mesmo Ernesto.
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(Varatojo)
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(Lopez Arcangel)
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(Amaro)
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O Vitoria SC começou muito mal o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, coleccionando uma série de resultados negativos que pintavam de negro o horizonte da equipa na prova. Logo na 1ª jornada aconteceu um surpreendente derrota no Campo da Amorosa frente ao Atlético CP por 1-3. Após nova derrota caseira, à passagem da 4ª jornada, frente ao SC Beira Mar por 2-3, o Presidente da Direcção Casimiro Coelho Lima manifesta o propósito de se demitir do cargo. Reunido o Conselho Geral do Clube o Presidente da Direcção volta atrás e foi convencido a continuar.

Mas não seria por muito tempo. Os maus resultados da equipa continuavam a verificar-se assustadoramente e a massa associativa a contestar cada vez com mais ímpeto o Presidente e o treinador. É assim que no decorrer da 2ª volta do Campeonato Nacional da época de 1961/62, depois de mais uma derrota no Campo da Amorosa, desta feita contra o Sporting CP por 1-3, o Presidente da Direcção Casimiro Coelho Lima abandona o clube juntamente com o treinador Artur Quaresma que se demite do cargo que ocupava.

Nessa altura, paira em Guimarães o espectro da descida do Vitoria SC à 2ª Divisão Nacional. Um conjunto de personalidades, lideradas por Hélder Rocha, tomam conta dos destinos directivos dos Clube. Para o cargo de treinador indicam Joaquim Rola, o veterano jogador do Vitoria SC que já desempenhava funções de técnico na equipa de juniores.

A estreia de Joaquim Rola no comando da equipa dá-se no dia 18 de Março de 1962 num importante desafio a contar para a 19ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, que opunha o Vitoria SC ao Leixões SC. A equipa vimaranense deslocou-se a Matosinhos vencendo aquela importante partida por 2-3. O Vitoria SC apresentou a seguinte linha inicial: Ramin; Daniel, Silveira e Freitas; João da Costa e Virgílio; Augusto Silva, Romeu, Amaro, Pedras e Nunes.

Inicialmente, a mudança operada na liderança da equipa deu os seus frutos. Os resultados começaram a melhorar e a equipa recuperou algum atraso na tabela classificativa, todavia, um empate em casa frente ao SL Benfica por 2-2 e uma demolidora derrota sofrida no Alentejo frente ao Lusitano de Évora, por 4-1, colocou o Vitoria SC novamente em posição de iminente descida de divisão.

O jogo decisivo jogou no Campo da Amorosa frente ao FC Porto no dia 26 de Maio de 1962. O FC Porto tinha obrigatoriamente que ganhar a partida para conquistar o título de Campeão Nacional, por seu lado, a equipa do Vitoria SC também tinha que conquistar a vitória para evitar a descida de divisão. Venceram os vimaranenses por 1-0 com o golo apontado por Augusto Silva.

Aquele jogo foi vivido intensamente por ambas as partes o Vitoria SC apresentou a seguinte equipa inicial: Varatojo (guarda redes que assumiu a baliza depois de Ramin e Dionísio terem sido mobilizados para combater em Africa); Caiçara, Silveira e Freitas; João da Costa e Virgílio; Augusto Silva, Romeu, Amaro, Pedras e Nunes.

Com aquela decisiva vitoria, o conjunto vimaranense garantiu a manutenção na 1ª Divisão Nacional, já o FC Porto acabou por perder o ceptro nacional para a formação do Sporting CP que assim venceu a competição com mais dois pontos que os azuis e brancos.

O Vitoria SC terminou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1961/62 na 9ª posição da tabela classificativa, totalizando 22 pontos, decorrentes das 9 vitórias e 4 empates alcanços. Foi derrotado em 13 partidas, apontando 44 golos ao longo de toda a competição e sofrendo 47.

Na época de 1961/62 o Vitoria SC utilizou 18 jogadores ao longo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. A equipa mais utilizada foi: Ramín (23 jogos); Caiçara (22 jogos), Silveira "capitão" (26 jogos), Freitas (21 jogos); João da Costa (25 jogos), Virgílio (26 jogos); Ferreirinha (21 jogos), Pedras (26 jogos), Amaro (23 jogos), Romeu (16 jogos) e Augusto Silva (25 jogos).
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Foram ainda utilizados: Varatojo (4 jogos); Mário Costa (1 jogo), Daniel Barreto (9 jogos); Lopez Arcangel (2 jogos); Silva (5 jogos), Joaquim Rola (2 jogos) e Nunes (10 jogos).
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(O extremo esquerdo Nunes)
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(O guarda redes Varatojo)
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Os 44 golos apontados pelo Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão foram da autoria do espanhol Amaro, que anotou 17 e sagrou-se o melhor marcador da equipa. O jovem Pedras marcou em 12 ocasiões. Augusto Silva fez 5 golos, Romeu 4, Virgílio 3, João da Costa 2, e Ferreirinha 1 tento.
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(Avançado espanhol Amaro)
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Na época de 1961/62, o Vitoria SC participou uma vez mais na edição da Taça de Portugal. Na 1ª eliminatória os vimaranenses eliminaram o SC Olhanense, que também militava na 1ª Divisão Nacional. Depois de uma vitória dos vimaranenses em Guimarães por 2-1, um empate a 2-2 no Algarve foi suficiente para passar aquela etapa.

Nos oitavos de final o Vitoria SC bateu inapelavelmente a Académica de Coimbra com duas vitórias. Uma em Guimarães por 4-0 e outra conquistada fora do seu reduto por 0-1. Nos quartos de final encontrou a equipa açoriana do CU Micaelense. O Vitoria SC venceu os dois encontros disputados, um pela margem mínima de 2-1 e o segundo jogo por expressivos 8-1.

Chegou às meias-finais da prova rainha onde acabou eliminado pelo SL Benfica que acabaria por vencer a final daquela competição. Os confrontos com o SL Benfica para as meias-finais da Taça de Portugal ficam marcados essencialmente pelas majestosas exibições protagonizadas por Augusto Silva, mas acima de tudo Pedras, acabando ambos por ser transferidos para a Luz no final da época.

No primeiro jogo no Campo da Amorosa o Vitoria SC empatou a 2-2 com o SL Benfica, com o jovem Pedras a apontar os dois golos vimaranenses, mas acima de tudo arrancando uma portentosa exibição.

Os dirigentes do SL Benfica ficaram boquiabertos com o talento do menino “Zé Russo” que nascera para o futebol ali para os lados do Largo de São Francisco. No jogo da 2ª mão disputado no Estádio da Luz já todos tinham os olhos sobre o miúdo Pedras. Até a imprensa destacou enviados especiais para cobrir o encontro da 2ª mão das meias-finais da Taça de Portugal.

O Vitoria acabou por perder por 6-0, mas apesar do resultado, Pedras fez uma vez mais uma brilhante exibição, carregando às costas, juntamente com Augusto Silva, toda a equipa vitoriana. O Vitoria ficou em branco naquele jogo, nomeadamente Pedras, devido a uma fantástica exibição de Costa Pereira guarda-redes do SL Benfica, que terá feito naquela tarde, segundo a imprensa, uma das melhores apresentações da sua carreira, negando sucessivamente o golo a Pedras.
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Apesar do insucesso colectivo, a exibição de Pedras espantou todos aqueles que assistiram ao encontro. No lote de admiradores estava Alfredo Farinha, conceituado jornalista do Jornal A Bola, que não teve pejo em apelidar o miúdo Pedras como o “Eusébio Branco”.

Autor: Alberto de Castro Abreu

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