Glórias do Passado: Temporada de 1959/60

 

Temporada de 1959/60


Depois da grande temporada de 1958/59, que marcara o regresso do Vitoria SC ao primeiro escalão do futebol e onde sensacionalmente atingiu o 5º lugar na tabela final do Campeonato Nacional - tão só a melhor classificação de sempre até aquele ponto da historia do clube – era tempo de dar inicio à preparação da época seguinte.

No período do defeso, entre o final da temporada de 1958/59 e o início da época de 1959/60, o Vitoria SC deslocou-se pela primeira vez na sua história ao continente africano para disputar alguns jogos amigáveis, para os quais tinha sido convidado por alguns vimaranenses radicados em Africa.
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(A equipa do Vitoria SC prestes a embarcar para o avião da Tap com destino ao continente africano)
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Naquela altura, era altamente prestigiantes este tipo de digressões como a que o Vitoria SC fez a terras africanas e, no caso particular dos vimaranenses, mais ainda, pois os resultados averbados nos desafios que por lá disputou foram soberbos e dignos de elogio nacional. Na verdade, o Vitoria venceu todas as partidas que disputou naquela viagem, à excepção de uma, que empatou contra uma equipa na Africa do Sul.

Nem mesmo os apelidados clubes grandes ou sequer a Selecção Nacional tinham conseguido tamanho feito, motivo pelo qual, a cidade de Guimarães e suas gentes festejaram exuberantemente os triunfos alcançados pelo Vitoria Sport Clube no continente africano.

O êxito do Vitoria SC naquela digressão e a quantidade de troféus conquistados foram devidamente vangloriados por todos os vitorianos, que em Agosto de 1959, no momento do regresso da equipa à cidade de Guimarães, receberam com pompa e circunstancia todos os atletas, técnicos e dirigentes. Desde a estação de Lordelo até Guimarães que o comboio que transportava a comitiva do Vitoria SC foi acompanhado por populares e alvo das mais variadas manifestações de regozijo.
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(Os populares manifestando-se e festejando o feito da equipa do Vitoria Sport Clube)
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A chegada da equipa do Vitoria SC a Guimarães foi, segundo rezam as crónicas da época, verdadeiramente apoteótica, com o trajecto entre a Estação dos caminhos-de-ferro e o Toural completamente inundado de gente em infindáveis festejos.
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(Equipa do Vitoria SC exibindo os extensos troféus conquistados nos desafios que disputou em África)
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(Edmur exibindo aos vimaranenses um dos troféus conquistados)
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Para a nova época de 1959/60 o Vitoria SC apresentava, desde logo, como principal novidade o seu treinador. Tratava-se de Humberto Buchelli, um técnico uruguaio proveniente do Vitoria de Setúbal, onde tinha trabalhado nas últimas 3 temporadas com resultados altamente meritórios.
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Humberto Buchelli foi treinador do CF Belenenses na época de 1953/54 com a equipa de Lisboa a terminar o Campeonato Nacional da 1ª Divisão em 4º lugar. Depois esteve entre as épocas de 1956/57 e 1958/59 ao serviço do Vitoria de Setúbal. Nas primeiras duas épocas classificou a formação sadina no 10º e 11º lugar respectivamente. Na última temporada, a equipa do Vitoria de Setúbal classificar-se-ia na 6ª posição da tabela, logo atrás do Vitoria de Guimarães, conquistando ainda o troféu disciplina.
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(Equipa do Vitoria de Setubal de 1956/57 com Humberto Buchelli como treinador)
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Este treinador uruguaio apenas estaria ao serviço do Vitoria SC nesta época de 1959/60. Mais tarde, ainda foi treinador no México, treinando equipas como o Monarcas Morelia, o Nacional do México em 1963/64, o CDU Nuevo Leon, o actual Clube Tigres, na época de 1970/71.

Quanto ao plantel refira-se que os principais jogadores do Vitoria SC permaneceram todos em Guimarães, o que desde logo afigurava ser uma mais valia. Mas o Vitoria SC ainda reforçou a sua equipa com mais quatro atletas de nomeada.
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Contratou ao FC Porto o guarda-redes Pinho. Conceituado guarda-redes português que ao serviço dos portistas tinha conquistado dois títulos de Campeão Nacional e uma Taça de Portugal. Foi campeão como principal guardião do FC Porto na época de 1955/56, onde actuou em 25 partidas oficiais, numa equipa onde pontificava o grande José Maria Pedroto. O FC Porto sagrava-se finalmente campeão depois de 15 anos de jejum dos azuis e brancos no campeonato nacional.
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(O guarda redes Pinho no Vitoria de Guimarães)
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Voltaria a conquistar o principal título nacional na época de 1958/59 ao serviço do FC Porto, onde ainda foi o guarda-redes mais utilizado pelos azuis e brancos com 16 partidas realizadas.
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Manuel Henriques de Pinho, nasceu no dia 21 de Setembro de 1930 em Vila Chã, Oliveira de Azeméis. Começou a praticar futebol no UD Oliveirense, principal formação de Oliveira de Azeméis, clube onde permaneceu até à época de 1952/53, altura em que se transferiu para o FC Porto.
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(Ao lado de Jose Maria Pedroto na equipa do FC Porto que se sagrou Campeão Nacional na época de 1955/56)
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No FC Porto conquistou títulos e foi internacional pela Selecção B de Portugal num desafio contra a Áustria. No final da época de 1958/59 rumou ao Vitoria de Guimarães que contratava, desta forma, o guarda-redes campeão nacional para a temporada de 1959/60.

Foi todavia esta a única época que Pinho esteve ao serviço do Vitoria SC, pois no final da temporada foi dispensado pelos dirigentes vitorianos alegadamente com fundamento em problemas disciplinares.

Do Brasil chegaram mais duas aquisições. Uma delas revelou-se preponderante naquela época e no futuro do Vitoria SC dado que viria a tornar-se, tão só, num dos melhores jogadores da história do clube vimaranense. Trata-se de Caiçara, um defesa brasileiro de grande qualidade que chegou ao Vitoria SC mais uma vez por indicação de António Pimenta Machado, o vimaranense que residia na cidade do Recife no Brasil.
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Do Brasil vem também um médio interior chamado Celu. Este muito menos importante que Caiçara. Alias, Celu nem sempre era titular na equipa do Vitoria SC, sendo, sem margem para dúvidas, de todos os brasileiros que tinham chegado a Guimarães, aquele que revelava ter menos qualidade.
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(Caiçara, Celu, Ernesto Paraíso e Edmur, quatro jogadores brasileiros do Vitoria SC)
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Celu, era na verdade o diminutivo de José Marcelino Andrade Azevedo, nascido a 6 de Outubro de 1935 na cidade do Recife, capital do Estado do Pernambuco/Brasil. No Brasil representou com evidencia o S.C. Recife. Note-se, a título de curiosidade, que Celu era considerado português pois era filho de pais portugueses.

A quarta aquisição do Vitoria SC para a época de 1959/60 foi o possante avançado centro ou extremo esquerdo Azevedo. Manuel Vieira Nunes Azevedo, nasceu na freguesia da Gloria na cidade de Aveiro no dia 30 de Maio de 1933. Começou a sua carreira em 1950/51 no clube da sua terra natal o SC Beira Mar. Ao serviço da formação aveirense deu nas vistas e por isso foi contratado pelo SL Benfica na época de 1954/55.

Ao serviço do SL Benfica não foi naturalmente muito feliz, pois não passou de suplente ou jogador na equipa de reservas encarnadas. Actuou em 4 partidas e apontou um golo pelo SL Benfica no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1954/55, em que os encarnados se sagraram campeões nacionais sob o comando de Otto Gloria.

Em 1958/59 representou o SCU Torreense na 1ª Divisão Nacional onde se revelou um dos melhores jogadores da equipa. E pois com proveniência no SCU Torreense que Azevedo ingressa na equipa do Vitoria de Guimarães na época de 1959/60. Ao serviço do Vitoria permaneceria apenas duas temporadas.
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(Azevedo no Vitoria de Guimarães)
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O Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1959/60 começou da melhor forma para o Vitoria SC que logo na 1ª jornada cilindrou a formação do Lusitano de Évora por 7-0 no Campo da Amorosa. A equipa de Humberto Buchelli apresentou o seguinte onze nesta partida: Pinho; Caiçara e Abel; Barros, Silveira e João da Costa; Bártolo, Romeu, Edmur, Carlos Alberto e Daniel.

Na 2ª jornada do Campeonato Nacional fez a vida negra ao FC Porto em pleno Estádio das Antas, com o azuis e brancos, campeões nacionais em título, a vencerem tangencialmente por 3-2. À 3ª jornada, de novo no Campo da Amorosa, em Guimarães, nova goleada infligida, desta feita por 5-1, ao Boavista FC, no jogo que marcava a estreia oficial do avançado Azevedo.
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O Vitoria SC faz uma primeira volta do Campeonato Nacional em grande estilo terminando a primeira metade da prova classificado na 3ª posição da geral. Já a segunda volta é bem mais fraca, onde o conquista somente 5 pontos, certamente em consequência do desgaste causado com a digressão ao continente africano no início da temporada.
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(Plantel do Vitoria SC na época de 1959/60)
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Verificou-se vários resultados negativos e de certa forma imprevistos como aquele que viria a marcar, durante largos anos, uma tradição em Guimarães, quando o Vitoria SC foi derrotado no Campo da Amorosa pelo Vitoria de Setúbal num Domingo de Lazaro.

Há porem um resultado que marcou negativamente os sócios criando muita contestação à equipa que até aí vinha exibindo-se em bom plano. O Vitoria SC foi copiosamente derrotado em Braga, pelo SC Braga por 5-0. Os jogadores da terra e o treinador uruguaio Humberto Buchelli recebiam fortes criticas.
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No Campeonato Nacional da 1ª Divisão destaque ainda para as vitorias dos vimaranenses no Campo da Amorosa frente ao Leixões SC por 7-1, frente ao SC Covilhã por 4-1 e o empate a 1-1 contra o SL Benfica que se sagrou Campeão Nacional.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1959/60)
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O Vitoria SC, na qualidade de forasteiro, alem de alguns empates de onde se destaca o alcançado contra o Sporting CP em Lisboa por 1-1, apenas venceu uma partida, em Setúbal, frente ao Vitoria local por 1-2.

Pela negativa, destaca-se desde logo as derrotas caseiras consentidas perante o FC Porto, CF Belenenses, Sporting CP e Académica de Coimbra, alem daquela já referida contra o Vitoria de Setúbal em Domingo de Lazaro.

O Vitoria SC terminou o Campeonato Nacional na 7º posição um lugar tranquilo e meritório. O grande feito daquela época foi a conquista protagonizada por Edmur que venceu o troféu de melhor marcador do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, arrecadando assim o prémio de “Bola de Prata”. Edmur apontou 25 golos ao longo da competição, e foi seguido na classificação por Fernando do Sporting CP com 22 golos e José Aguas e José Augusto do SL Benfica, ambos com 19 tentos cada.
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Na época de 1959/60 o Vitoria SC participou mais uma vez na edição da Taça de Portugal, onde eliminou o Académico de Viseu logo na primeira ronda. Perdeu surpreendentemente em Viseu por 3-0, mas depois no jogo da 2ª mão conseguiu rectificar, vencendo o encontro por 6-1.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1959/60)
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Nos dezasseis avos de final eliminaria a AD Sanjoanense, com duas vitórias por 5-1 em Guimarães, e 0-3 em São João da Madeira. O Vitoria SC que ficou isento nos oitavos de final acabou por ser eliminado da competição nos quartos de final pelo Sporting CP que venceu em casa por um concludente 4-0, e mais tarde perdeu em Guimarães por 2-1, o que seria insuficiente para a formação vimaranense.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1959/60)

Autor: Alberto de Castro Abreu

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