Glórias do Passado: Temporada de 1957/58

 

Temporada de 1957/58


Depois de duas goradas tentativas em regressar à 1ª Divisão Nacional, nas épocas de 1955/56 e 1956/57, o Vitoria Sport Clube conseguiu finalmente regressar ao principal escalão do futebol português no final da temporada de 1957/58.

Para atacar a subida de divisão o Vitoria fez retornar a Guimarães o técnico Fernando Vaz, o mesmo que na época de 1955/56 tinha liderado a equipa sénior. Para reforçar plantel do Vitoria, a Direcção presidida pelo Engenheiro Alberto Costa Guimarães, fez importantes aquisições para todos os sectores da equipa. Foram contratados jogadores que foram marcantes não só na época da subida de divisão, como nas posteriores equipas do Vitoria já na 1ª Divisão Nacional.

Para a baliza foi contratado o guarda-redes Sebastião ao GD Estoril Praia. Sebastião seria o guarda-redes titular na baliza do Vitoria de Guimarães, equipa que ao longo da época apenas sofreria 51 golos, a segunda melhor defesa do Campeonato Nacional da 2ª Divisão, salientando que nesta era usual verificar-se resultados dilatados nas partidas de futebol.
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(O guarda redes Sebastião levado em ombros no Campo da Amorosa)
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Para o sector defensivo o Vitoria contratou o defesa Abel ao Caldas SC que naquela época militava na 1ª Divisão Nacional. António Abel Pereira, natural de Vila Pouca de Aguiar, nasceu a 26 de Fevereiro de 1926. Antes de transferir-se para o Vitoria de Guimarães no inicio da época de 1957/58, representou em 1945/46 os Leões do Freixo, em 1947/48 o SC Lamego, em 1949/50 o SC Braga e em 1956/57 o já referido Caldas SC. Abel, com a sua experiência, foi dos jogadores mais preponderantes na manobra da equipa do Vitoria que garantiu o retorno à 1ª Divisão Nacional, bem como nas épocas seguintes já naquele escalão. Permaneceu de D. Afonso Henriques ao peito até ao final da temporada de 1959/60 altura em que foi dispensado alegadamente por problemas disciplinares.
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(Abel com a camisola do Vitoria SC)
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Já para a frente de ataque foram contratados dois jogadores de qualidade. Um deles foi Manuel Romeu, um extremo direito, proveniente do FC Porto, onde se havia sagrado Campeão Nacional na época de 1955/56 com o técnico Dorival Yustrich, apesar de ter sido utilizado apenas em um encontro naquela campanha vitoriosa azul e branca. A título de curiosidade diga-se que Romeu foi companheiro naquela equipa do FC Porto de José Maria Pedroto, o jogador que mais tarde, enquanto treinador, foi técnico do Vitoria de Guimarães.
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(Romeu pousando com o equipamento do Vitoria SC)
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(Romeu de braços abertos ao encontro de Ernesto Paraíso que acabava de facturar mais um golo para o Vitoria SC na época de 1957/58)
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Romeu formou poderosíssimas frentes de ataque no Vitoria de Guimarães juntamente com Ernesto Paraíso, Bártolo, Rola, Mário Cívico e mais tarde também com o avançado brasileiro Edmur. Na verdade Romeu ainda jogaria varias épocas no Vitoria de Guimarães a militar na 1ª Divisão Nacional.
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(Atacantes do Vitoria já na 1ª Divisão, no decorrer de um treino no Campo da Amorosa, com Bártolo, Edmur, Ernesto Paraíso, Carlos Alberto, Romeu e Rola)
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(Romeu com a camisola do Vitoria SC)
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O outro avançado que o Vitoria contratou, que se viria a revelar decisivo para a movimentação da equipa e que terá sido uma bela surpresa, foi o jogador Mário Cívico que o clube contratou na Argentina. Apesar de apenas ter permanecido em Guimarães na época de 1957/58, Mário Cívico fica com o seu nome bem gravado na historia do clube, essencialmente naquela equipa que finalmente recolocou o Vitoria na 1ª Divisão Nacional.
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(Mário Civico com a camisola do Vitoria SC)
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(Mário Civico, Silveira e Ernesto Paraíso)
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(Mário Civico com Ernesto Paraíso em passeio)
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(Mário Civico e Ernesto Paraíso a dupla de avançados com o treinador Fernando Vaz ao centro)
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(Mário Civico um dos mais entusiastas na festa da subida)
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(Mário Civico aos ombros no meio da multidão em delírio)
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(Mário Civico em festa com os adeptos)
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(Mário Civico acenando à multidão da varanda da sede do Vitoria SC na Rua D. João I na cidade de Guimarães)
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Na equipa do Vitoria da época de 1957/58 destaca-se ainda a chegada de dois jovens jogadores procedentes do Desportivo Francisco de Holanda, João da Costa e Miranda, quando a clube escolar ainda tinha a modalidade de futebol de 11. Na verdade, o Desportivo Francisco de Holanda era naquela época uma excelente escola de formação que muitas das vezes rivalizava com o Vitoria SC, de tal forma que na época de 1956/57 se sagrou mesmo Campeão do Minho em juniores.
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João da Costa era um meio campista de muita qualidade, que durante largos anos representou o Vitoria SC, tornando-se mesmo um dos jogadores mais influentes na equipa. Apesar da sua juventude, seria nesta época de 1957/58 um dos jogadores mais utilizados pelo técnico Fernando Vaz que cedo percebeu a qualidade do jovem vimaranense.
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(João da Costa com a camisola do Vitoria SC)
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(João da Costa com o equipamento do Vitoria SC)
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(A caricatura de João da Costa de branco e preto)
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João da Costa nasceu na freguesia da Oliveira do Castelo em pleno centro da cidade de Guimarães, no dia 24 de Novembro de 1937. Iniciou a pratica do futebol na época de 1954/55 no Desportivo Francisco de Holanda clube no qual permaneceu ate se transferir para o Vitoria Sport Clube.
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(João da Costa com o equipamento do Vitoria SC)
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(Caricatura de João da Costa)
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Alem destes dois jovens jogadores, outros dois jovens jogadores, vindos das camadas jovens do Vitoria, começaram a aparecer na equipa principal nesta temporada, mas que no futuro seriam jogadores importantíssimos. Um desses miúdos era Augusto Silva que mais tarde foi transferido para o SL Benfica e o outro era o defesa/médio Freitas que também representou o Vitoria pelo menos até à época de 1961/62.
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(Freitas com a camisola do Vitoria SC)
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(Freitas com o equipamento do Vitoria SC)
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O Campeonato Nacional da 2ª Divisão disputar-se-ia nos mesmos moldes dos anos anteriores, inicialmente dividido em duas zonas – a norte e a sul – cada uma composta por 14 clubes. Para a fase seguinte seguiriam os três primeiros classificados da cada uma das zonas reunindo-se numa fase final para apurar o vencedor – que directamente subiria à 1ª Divisão Nacional - e o 2º classificado que disputaria os chamados jogos de passagem com o penúltimo classificado da 1ª Divisão.

A competição começa de forma satisfatória para os objectivos do Vitoria de Guimarães com três vitória consecutivas nas primeiras três jornadas. Seguem duas derrotas consecutivas à 4ª e 5ª jornada, uma em casa frente ao Boavista FC por 2-3 e outra na Covilhã, frente ao SC Covilhã, por 5-1, que colocam os adeptos do Vitoria apreensivos e em estado de alerta.
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Todavia, o Vitoria endireitou o seu percurso vitorioso, chegando ao final da 1ª volta do Campeonato Nacional, praticamente com o apuramento garantido, pois levava já 5 pontos de avanço do 4º classificado que era o SC Espinho.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1957/58)
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Na segunda volta, o Vitoria coleccionou apenas resultados positivos de onde se destacam, naturalmente, as vitorias sobre os adversários directos na frente da tabela classificativa. Vence por 1-3 no Bessa o Boavista FC e no Campo da Amorosa, o SC Covilhã por 1-0.

Terminada a competição na Zona Norte da 2ª Divisão Nacional a classificação final ficou alinhada da seguinte forma: 1º - Vitoria SC, com 41 pontos; 2º - SC Covilhã, com 38 pontos; 3º - Boavista FC, com 34 pontos, que se apuraram para a fase final. O Vitoria SC coleccionou nos 26 jogos da competição, 19 vitórias, 3 empates e 4 derrotas, concretizando 82 golos e sofrendo 35 tentos.
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Na Zona Sul apuraram-se o SC Farense, que foi o 1º classificado, com 39 pontos, o SC Olhanenses, o 2º classificado com 35 pontos e o Atlético CP, 3º classificado com 33 pontos.
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(Plantel do Vitoria SC no final de um treino na época de 1957/58)
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Na 1ª volta da fase final do Campeonato Nacional da 2ª Divisão o Vitoria termina em 2º lugar, a um ponto do SC Covilhã, depois de ter sido derrotado em casa do clube serrano por 2-0, numa partida marcada pela ausência de Bártolo e Ernesto Paraíso. Todavia, o Vitoria teria vantagem à partida para a 2ª volta da fase final pois apenas dependia de si, já que disputaria com o jogo com o 1º classificado, o SC Covilhã, no Campo da Amorosa em Guimarães.

Todavia, as contas complicaram-se bastante para o Vitoria SC com a derrota caseira consentida frente ao SC Covilhã por 1-2 e com a derrota no Bessa, contra o Boavista FC por 5-2. Porem, quase que milagrosamente, o Vitoria acabou por terminar a prova no 2º lugar da tabela classificativa, o que lhe permitia desde logo manter as esperanças do regresso à 1ª Divisão Nacional.

Para isso, o Vitoria teria que levar de vencida o SC Salgueiros, que foi o penúltimo classificado na 1ª Divisão Nacional, nos apelidados jogos de passagem disputados a duas mãos. Por seu turno, o SC Covilhã, uma forte equipa naquela época, foi o 1º classificado, garantindo o acesso directo ao primeiro escalão do futebol português.
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Na fase final o Vitoria venceu 5 encontros, empatou 2 e perdeu por 3 ocasiões. Apontou 22 golos e sofreu 16. Foi o 2º classificado na fase final com 12 pontos amealhados, menos 3 que o SC Covilhã que foi o 1º posicionado, e mais 2 que o SC Farense que foi o 3º classificado.
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(Romeu, Ernesto Paraiso, Mário Civico e João da Costa comemorando um golo do Vitoria obtido em Faro, no desafio frente ao SC Farense)
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A primeira mão dos jogos de passagem disputou no dia 8 de Junho de 1958 no Campo Engenheiro Vidal Pinheiro, na invicta cidade do Porto, a casa do SC Salgueiros. O Vitoria realiza uma grande partida surpreendendo o primodivisionario SC Salgueiros em sua casa, vencendo a contenda por 1-2. Pelo Vitoria SC alinharam naquele dia a seguinte equipa: Sebastião; Virgílio, Silveira e Abel; Cesário e João da Costa, Bártolo, Romeu, Ernesto Paraíso, Mário Cívico e Rola.

Estavam assim abertas as portas para o regresso do Vitoria SC à 1ª Divisão Nacional. Para isso, havia que pelo menos não perder o encontro da 2ª mão a disputar na cidade de Guimarães. Naturalmente, que o Campo da Amorosa se encheu de vitorianos ávidos para festejar o regresso do clube ao primeiro patamar do futebol luso.
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O encontro da 2ª mão disputou-se no Campo da Amorosa, em Guimarães, no dia 15 de Junho de 1958, sob a arbitragem do Senhor António Calheiros. O jogo foi tremendamente difícil com a equipa da cidade do Porto a tudo fazer para dar a volta à eliminatória.
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(Aspecto da bancada central do Campo da Amorosa, em Guimarães, no dia 15 de Junho de 1958, dia do decisivo jogo de acesso do Vitoria SC à 1ª Divisão Nacional)
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(A equipa do SC Salgueiros e do Vitoria Sport Clube no Campo da Amorosa completamente lotado no dia do jogo da 2ª mão)
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(Imagem do jogo entre o Vitoria SC e o SC Salgueiros no Campo da Amorosa na tarde do dia 15 de Junho de 1958)
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Briosamente o Vitoria foi resistindo as investidas encarnadas do clube de Paranhos e o resultado final de 2-2 confirmaria o tão ansiado regresso do Vitoria à 1ª Divisão Nacional, escalão onde permaneceria ininterruptamente durante cerca de 50 anos e onde viria a tornar num dos maiores clubes do futebol português.
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No Campo da Amorosa, logo após o apito final, exuberantes festejos eclodiram entre jogadores, técnicos, dirigentes, massa associativa e vimaranenses em geral que invadiram o terreno de jogo onde abraçaram e vangloriaram os heróis que acabavam de conquistar a subida de divisão.
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(Festejos dos vitorianos no Campo da Amorosa)
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(O terreno de jogo completamente inundado nos festejos do regresso do Vitoria Sport Clube à 1ª Divisão Nacional)
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(Imagem do Campo da Amorosa no final do decisivo encontro entre SC Salgueiros e Vitoria Sport Clube)
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A cidade encheu-se para festejar transbordando alegria em cada artéria da cidade. Os jogadores e toda a comitiva fizeram o passeio a pé entre o Campo da Amorosa e a sede do Clube rodeados pela multidão que congratulava os seus ídolos.
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(Os jogadores engolidos pela multidão em festa no caminho entre o Campo da Amorosa e a sede do Clube na Rua D. João I, em Guimarães)
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(Milhares de pessoas em festa na actual Alamada Alfredo Pimenta na cidade de Guimarães)
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Da sede do Clube seguiu-se para o jantar de homenagem realizado no Hotel do Toural. Enquanto a comitiva oficial jantava a festejava no interior do Hotel, a massa associativa, que inundava o Largo do Toural, comemorava efusivamente, solicitando amiúde a presença dos seus heróis na varanda do Hotel, onde estes acenavam e gritavam vivas ao Vitoria SC.
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(Vários elementos da equipa do Vitoria da época de 1957/58)
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(Milhares de pessoas no Largo do Toural)
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(Festejos de todos os vimaranenses)
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(Um mar de gente festejando)
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(O Largo do Toural completamente lotado)
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Nesta época gloriosa para o Vitoria destacamos de entre todos os jogadores do Vitoria o avançado brasileiro Ernesto Paraíso, o melhor marcador de todos os campeonatos nacionais da época de 1957/58. Os seus golos foram deveras decisivos para o feito alcançado pela formação vimaranense.
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(A frente de ataque do Vitoria Sport Clube na época de 1957/58 com Bártolo, Romeu, Ernesto Paraíso, Mário Civico e Rola)
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Os jogadores receberam também a sua recompensa monetária. Por cada jogo em que alinhassem, cada jogador receberia a quantia de 200$00. Assim, os defesas Virgílio e Abel receberam cada um a quantia de 7.000$00 pois participaram ambos em 35 partidas oficiais, sendo de resto, os atletas mais utilizados pelo Vitoria de Fernando Vaz.

O defesa Silveira, receberia o montante de 6.800$00 num total de 34 jogos realizados e Ernesto Paraíso e Rola menos 200$00, pois participaram em menos um encontro do que o defesa. Bártolo recebeu o prémio de 5.800$00 por um total de 25 jogos, enquanto o jovem João da Costa levou 5.000$00. Mário Cívico recebeu 4.400$00, o guarda redes Sebastião levou 4.200$00, Cesário 3600$00 e Silva recebeu 3.400$00.

Por fim, ficam as palavras do Presidente da Direcção do Vitoria, o Engenheiro Alberto Costa Guimarães, naquela subida de divisão da época de 1957/58. – “Nestas alturas quase não encontramos palavras que possam traduzir tanta alegria. Foi duro lutar tanto, mas sabe bem ao atingirmos a meta tão ambicionada. O clube é da massa associativa e da cidade, e por isso parece-me bem que posso, em meu nome e no dos meus colegas, oferecer-lhes este brilhante êxito. Que a massa associativa e a cidade, recebendo-o, saibam toma-lo com o desejo ardente de prestar ao Vitoria todo o apoio para que ele seja, agora na 1ª Divisão, aquilo que todos queremos.”

Como passados mais de 50 anos são tão actuais estas palavras...


Autor: Alberto de Castro Abreu

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