Glórias do Passado: Temporada 1954/55

 

Temporada 1954/55


A temporada de 1954/55 fica marcada na historia do Vitoria Sport Clube como a época em que o clube vimaranense desceu pela primeira vez à 2ª Divisão Nacional, facto que apenas voltaria a suceder passado mais de 50 anos, nomeadamente no final da recente temporada de 2005/06, em que o clube foi relegado à 2ª Liga.

Inexplicavelmente a formação vimaranense não conseguiu garantir a manutenção no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1954/55, facto que surpreendeu todo o panorama futebolístico nacional, logo numa altura em que o Vitoria tinha apostado fortemente para aquela época.

No início da temporada contratou o conceituado treinador inglês Randolph Galloaway que em Portugal tinha alcançado enorme sucesso ao conquistar três títulos de campeão nacional de forma consecutiva como técnico principal do Sporting CP.

Randolph Galloaway era um técnico inglês que nasceu na cidade de Sunderland no dia 22 de Dezembro de 1899 e havia jogado futebol no Tottenham. Chegou pela primeira vez a Portugal em 1950, com 51 anos de idade e com um imenso curriculum de sucessos enquanto treinador, principalmente na América do Sul, onde, como técnico do Peñarol de Montevideu conquistou vários êxitos.
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(Randolph Galloaway)
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(Sporting CP da temporada de 1950/51 com o tecnico Galloaway)
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Na Europa havia treinado entre 1929 e 1931 o Sporting de Gijon e entre 1933 e 1935 o Racing de Santander, ambos os clubes da nossa vizinha Espanha. Depois da passagem pelo Uruguai ingressou no Sporting CP e neste clube venceu o Campeonato Nacional da 1ª Divisão nas épocas 1950/51, 1951/52 e 1952/53, conquistando assim um tri-campeonato.
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Naquela grande equipa do Sporting CP treinada por Randolph Galloaway, destacavam-se jogadores como Carlos Gomes, Passos, Juca, Vasques, Travassos e Martins. Apesar do tri-campeonato conquistado pelos leões de Alvalade o treinador inglês acabou por abandonar o comando da equipa, mas continua ate aos dias de hoje a ter o seu nome no quadro de gala do Sporting CP.
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(Sporting CP da época de 1950/51 com o tecnico inglês atrás do troféu mais alto)
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Já no Vitoria não teve, infelizmente, o mesmo sucesso que o acompanhou em Lisboa ao serviço do Sporting CP. E no Vitoria o seu nome fica indissociavelmente ligado à primeira descida do clube à 2ª Divisão Nacional.

No início desta temporada o Vitoria apenas perdeu um jogador importante na sua equipa principal. Foi o combativo avançado centro Caraça, jogador que detinha excelentes predicados futebolísticos e cuja ausência foi muito notada na equipa, que abandonou Guimarães para rubricar contrato com o Lusitano de Évora.

A saída Caraça envolveu de resto muita polémica pela forma como ocorreu, onde o jogador até foi alvo de um rapto pelos dirigentes eborenses nas Caldas da Rainha. Mais uma vez, com o argumento de um emprego na Câmara Municipal de Évora, o avançado Caraça obteve a necessária desvinculação para ser autorizada a sua inscrição como atleta do Lusitano de Évora, tudo isto, apesar dos enormes protestos do responsáveis vitorianos que até realizaram uma Assembleia Geral de sócios por causa desta situação.

Se por um lado, apenas se verificou a saída de uma peça fundamental na equipa, por outro, houve aquisições de jogadores importantes. Desde o guarda redes Lobato - que jogaria vários anos em Guimarães – passando por Bártolo, contratado ao SC Beira Mar, e Eloi ao SC Braga.
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(Guarda-redes Lobato)
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(Elói com a camisola do Vitória)
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Outra aquisição importante dos vimaranenses nesta época, apesar de apenas ter chegado a meio da temporada, foi o avançado Lutero, jogador que chegava de Africa e que também jogaria vários anos com a camisola do Vitoria e que após o final da carreira ainda foi técnico na formação do clube vimaranense, tendo descoberto jogadores famosos, onde Pedras, o “Eusébio Branco” é o maior exemplo.
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(Lutero com a camisola do Vitoria Sport Clube)
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Foi ainda durante esta temporada que surge um miúdo das camadas jovens do Vitoria que durante muitos anos jogará com a camisola de D. Afonso Henriques. É Daniel, tão só o jogador que na história do clube mais vezes vestiu a camisola do Vitoria em jogos do Campeonato Nacional.

Não obstante tão profunda aposta num conceituado técnico e jogadores de qualidade, a verdade é que os resultados foram uma verdadeira desilusão e o Vitoria acabaria por ser o ultimo classificado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1954/55.

No Campo da Amorosa o Vitoria coleccionou desaires atrás de desaires. Tem vários empates e algumas derrotas consideradas normais frente aos maiores clubes. Sofre duas derrotas inexplicáveis com o GD Cuf (1-2) e com o SC Covilhã (2-3) que comprometeram largamente a sua permanência na 1ª Divisão Nacional.

Nesta época, o único resultado de enaltecer foi a derrota infligida ao SL Benfica, que se sagrou Campeão Nacional, por 2-1 no Campo da Amorosa no jogo da estreia de Daniel com apenas 17 anos de idade.

Fora de Guimarães o quadro foi ainda bem mais negro, com a equipa do Vitoria a somar apenas 2 empates em 13 jogos realizados, somando por derrotas todos os restantes desafios.

A 3 jornadas do final do Campeonato o Vitoria corre iminentes riscos de descer de divisão. Pela frente tem três verdadeiras finais onde só a vitoria poderia evitar aquele fatídico desiderato. Na primeira dessa três finais ainda vence no Campo da Amorosa a Académica de Coimbra por 2-1, mas na penúltima jornada carimba definitivamente o passaporte rumo à 2ª Divisão ao não conseguir levar de vencida o Atlético CP.

O jogo termina empatado a 0-0, com o Vitoria, apoiando por uma imensa falange de apoio que viajou de Guimarães, a desperdiçar inúmeras oportunidades para se adiantar no marcador e assim levar de vencida o adversário. Recorda-se um lance a poucos minutos do final do jogo quando José da Costa, um dos mais prestigiados jogadores do Vitoria, falhou um golo fácil, isolado perante o guarda-redes do Atlético CP.

Foi uma profunda tristeza e desilusão para as gentes de Guimarães que se queixaram de uma tremenda falta de sorte, não só naquele jogo como em outras situações, como a grave lesão que vitimou Rola, um dos mais categorizados jogadores do Vitoria e que o impediu de dar o seu contributo à equipa durante quase toda a temporada.
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O Presidente da Direcção do Vitoria naquela descida à 2ª Divisão Nacional era o Dr. João Mota Prego, nome que fica também registado, mas que foi durante muitos anos médico no clube e membro em outros cargos nos órgãos sociais.
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(O Presidente Dr. João Mota Prego)
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Como acima se disse o Vitoria foi o ultimo classificado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1954/55, com tão só 17 pontos contabilizados, decorrente de 5 vitórias e 7 empates alcançados ao longo da prova. O Vitoria ficou com um ponto a menos que o Boavista FC, que foi penúltimo classificado, o que permitiu ao clube do Bessa disputar o jogo da manutenção com o 2º classificado da 2ª Divisão Nacional.

Todavia, no final do Campeonato surgiu uma polémica entre o Boavista FC e o Vitoria de Guimarães que poderia permitir aos vimaranenses ultrapassar na tabela classificativa os boavisteiros. É que, num dos últimos e decisivos jogos da prova, o Boavista FC venceu o vizinho FC Porto. Esse jogo foi alvo de inquérito tendo ficado provado que o FC Porto facilitou a vitória dos axadrezados, mas, a consequência disciplinar imposta pela Federação Portuguesa de Futebol foi tão só a irradiação do capitão geral do Boavista FC, sem perda dos pontos desonestamente conquistados.

O Vitoria viu assim fugir-lhe a hipótese de disputar o jogo decisivo com uma equipa da 2ª Divisão Nacional para ainda se poder manter no principal escalão do futebol português. O Vitoria desceu directamente à 2ª Divisão Nacional acompanhado do Boavista FC que acabou por perder o jogo da manutenção.

Por ultimo, uma breve referencia para a participação do Vitoria na edição de 1954/55 na Taça de Portugal, que não passou da 1ª eliminatória da prova, ao ser derrotado no Campo da Amorosa pelo Lusitano de Évora por 1-2.
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Adenda: Randolph Galloaway faleceu em 1964.

Autor: Alberto de Castro Abreu

Lutero da Mota, como era conhecido em Angola, faleceu em Luanda e chegou a ser o primeiro treinador da seleccao de Angola. Foi ainda responsavel pelo conselho Nacional de Arbitragem um orgao da FAF (Federacao Angolana de Futebol), cargo esse que exerceu ate a sua morte.
 
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