Neste espaço, como por certo já constataram, temos vindo a recordar jogadores e técnicos vitorianos ou momentos marcantes da nossa história relativos às décadas de 80 e 70, do milénio passado, pelo que chegou a hora, de fazermos uma incursão mais profunda ao glorioso passado do Vitória. Viramos o leme para a longínqua década de 60 para relembrar a figura de Peres, antigo jogador, capitão, treinador e dirigente do Vitória Sport Clube.
Os desempenhos protagonizados pelo Vitoria e os feitos alcançados durante a década de 60 foram a todos os títulos brilhantes, pois o clube conseguiu sempre atingir classificações no topo da tabela do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, com natural destaque para o 3º lugar obtido na temporada de 1968/69, que até hoje continua sendo a melhor classificação de sempre do Clube, apenas igualada nas temporadas de 1986/87 e de 1997/98. De resto, as classificações obtidas pelo Vitoria durante aquele período, se fossem conseguidas nos dias de hoje, teriam dado direito a vários apuramentos europeus, ao jeito do que aconteceu nas décadas de 80 e 90.
Foi também nesta altura que o Vitoria voltou a disputar uma final da Taça de Portugal, precisamente na temporada de 1962/63 contra o Sporting CP, mas acima de tudo, é o período que marca a estreia do Vitoria nas grandes competições internacionais de clubes. A década de 60 fica marcada também pela inauguração do Estádio Municipal de Guimarães, local onde o Vitoria passa a realizar os seus jogos disputados na condição de visitado.
Uma das personagens que figura no rol dos expoentes máximos do Vitoria na década de 60 é precisamente o Peres que, enquanto jogador, envergou a camisola do clube vimaranense durante 9 temporadas consecutivas, sempre como titular indiscutível, da qual foi ainda seu capitão em varias épocas, e um dos melhores executantes daquele tempo. Terminada a carreira de futebolista profissional, Peres continuou ligado ao Vitoria, primeiro como treinador principal da equipa sénior, e mais tarde, assumindo funções executivas, inicialmente como secretario técnico do treinador principal Mário Wilson e depois como membro da Direcção presidida por António Rodrigues Guimarães.
António Francisco Jesus Moreira, nascido a 3 de Fevereiro do ano 1939, no Candal, em Vila Nova de Gaia, ficou conhecido no mundo do futebol por Peres, alcunha que vinha dos seus antepassados galegos, sendo por esse cognome que ainda hoje é conhecido e tratado no dia a dia. Peres era um meio campista de eleição, com um pulmão do tamanho do mundo, que lhe permitia correr quilómetros ao longo de todo o jogo. Usava preferencialmente o seu pé esquerdo, por vezes de forma notável, mas estava longe de ser um individualista, antes pelo contrário, era bem mais um jogador que dava tudo em prol do colectivo, e pelo seu carácter e forma de estar dentro do campo fazia dele um verdadeiro “patrão” da equipa. Chamavam-lhe naquela altura o “Puskas do Candal”.
Apesar de ter sido algumas vezes convocado e efectuado vários treinos, nunca chegou a ser internacional pela Selecção de Portugal A pois teve sempre o seu lugar preenchido por jogadores da nomeada, como por exemplo, o mítico Mário Coluna. Por Portugal, representou apenas a Selecção Militar.
Peres, tal como para a vida, nasceu para o futebol também no Candal, propriamente no Clube Desportivo do Candal. Fez toda a sua formação no futebol juvenil do clube gaiense, chegando a jogar na sua equipa principal ainda com idade de júnior. Em face da qualidade evidenciada pelo jovem Peres, cedo apareceram grandes clubes no seu encalço, mas surpreendentemente, acaba por ser transferido para o SL Benfica na temporada de 1958/59.
Nas duas primeiras temporadas no SL Benfica não há registos de que tenha efectuado qualquer jogo oficial, mas na temporada de 1960/61, Peres fez 1 jogo no Campeonato Nacional da 1ª Divisão e assim sagrou-se Campeão Nacional. Sucede que no SL Benfica, Peres era um jovem com pouco mais de 20 anos e estava completamente tapado por Mário Coluna, um verdadeiro colosso do futebol nacional da altura. Certo é que da convivência com jogadores como do gabarito e da qualidade de Coluna, Eusébio, Torres ou Simões, fizeram-no crescer como homem e acima de tudo enquanto jogador de futebol.
Como era pouco utilizado, Peres foi cedido pelo SL Benfica, na época de 1961/62, ao Atlético CP, e aí Peres foi dos elementos mais importantes na conquista pelo clube da Tapadinha do 6º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão daquela temporada. Porem, apenas por uma temporada vestiu a camisola do tricolor alcantarense, pelo que o final daquela época marcaria o fim da aventura de Peres na zona sul do país, regressando ao norte, desta feita para jogar no Vitoria de Guimarães.
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(Peres com a camisola do Atlético Clube de Portugal na época de 1961/62).
No final da época de 1961/62, o SL Benfica estava desvairadamente interessado na contratação de Augusto Silva jogador do Vitoria, tendo apresentando ao clube da cidade de Guimarães uma tentadora proposta para a aquisição do mesmo. Sucede que o interesse do SL Benfica pelos jogadores do Vitoria alargou-se, mais tarde, a Pedras, jogador a quem Alfredo Farinha do jornal “A bola” apelidava de “Eusébio Branco”.
A proposta do SL Benfica era de facto sedutora, não só para os atletas, como para o Vitoria de Guimarães, que nessa altura recebeu praticamente uma equipa inteira em troca, alem, claro está, do excelente e importante encaixe financeiro. Augusto Silva e Pedras seguiram rumo à capital para representar o SL Benfica, e para Guimarães, vieram, como cabeça de cartaz, Mendes o “Pé Canhão” e Manuel Pinto, e ainda Fonseca, Teodoro, Zeca Santos, Testas, Inácio, Paulinho, Moreira e o aqui recordado Peres, mais uma mala de dinheiro, com cerca de 1.250 contos, quantia bem elevada para a época.
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(Peres no Vitoria Sport Clube).
(Uma equipa do Vitoria na decada de 60 com Peres a capitão)
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(Peres com o equipamento do Vitoria com o colega de equipa Daniel)
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(Equipa do Vitoria Sport Clube com Peres em baixo) .
A temporada de 1962/63, a primeira de Peres no Vitoria de Guimarães, é Presidente da Direcção o Eng. Hélder Rocha, e para treinador é escolhido o argentino José Valle, que irá permanecer no comando técnico dos vitorianos durante 3 épocas consecutivas. Peres assume-se desde o primeiro momento como um pilar base de uma equipa que irá alcançar vários êxitos, começando desde logo por alcançar, para uma equipa nova e ainda em construção, um meritório 6º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época 62/63.
Todavia, o grande feito dessa época foi a chegada à final da Taça de Portugal. Depois de eliminar o Sp. Covilhã, a Académica de Coimbra, e o União da Madeira, o Vitoria chega às meias-finais da prova e encontra o Belenenses (4º classificado no campeonato). Naquela altura, a Taça de Portugal era disputada num sistema de dois jogos, um em casa, outro fora, e um terceiro jogo em campo neutro, no caso de se verificar um empate no confronto das duas mãos. Na 1ª mão, o Vitoria perdeu no Restelo por 0-2. Mas na semana seguinte, em Guimarães, em jogo disputado no Campo da Amorosa, o Vitoria vence o Belenenses por 3-1. Haveria pois necessidade de realizar um terceiro jogo em campo neutro a meio da semana. A Cidade escolhida: Coimbra. Resultado: milhares e milhares de vitorianos rumam em direcção à cidade dos estudantes para apoiar o Vitoria naquele jogo decisivo. Mas fomos, somos e seremos sempre assim?
O jogo é impróprio para cardíacos. A 6 minutos do fim o Vitoria perde por 0-1. Mas a fé vitoriana é a ultima abandonar a cidade de Coimbra, e nos últimos minutos do jogo, o Vitoria marca 3 golos, vencendo a partida por 3-1 e carimbando assim o passaporte para a final da competição no Estádio do Jamor em Lisboa. Inimaginável festa acompanha os adeptos e a equipa.
Porem, a fortuna que acompanhou o Vitoria naquele dia da semana não se estendeu até ao Domingo, dia da final frente ao Sporting, pois alem do cansaço do jogo disputado a meio da semana, a equipa perdeu o seu capitão Silveira que se tinha lesionado. No dia 30 de Junho de 1963, no Estádio do Jamor, em jogo apitado pelo Senhor Clemente Rodrigues, do Porto, o Vitoria alinha com Roldão na Baliza, Caiçara, Daniel e João da Costa, na defesa, Manuel Pinto, Virgílio, Paulino e Peres, no meio campo e Lua, Mendes “Pé Canhão” e Armando Silva no ataque. O Vitoria foi derrotado pelo Sporting CP por 0-4, que acaba por vencer assim o troféu.
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(Vitoria - Sporting CP no Estadio do Jamor na final da Taça de Portugal de 1962/63)
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(Jogo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão entre o Vitoria de Setubal e o Vitoria de Guimarães. Peres está ao fundo com a braçadeira de capitão dos vimaranenses).
(Manuel Pinto, Paulinho, Peres e Mendes, companheiros no Vitoria aqui no Campo da Amorosa em Guimarães).
(Peres com o equipamento do Vitoria).
Na segunda temporada em Guimarães, Peres matem-se titular, à semelhança, de resto, de quase toda a equipa que alinhou na época anterior. O treinador era o mesmo, o argentino José Valle, mas Manuel Cardoso do Vale é o novo presidente da Direcção do Vitoria. A época futebolística de 1963/64 é ainda melhor que a anterior, pois o Vitoria, com mais experiência e entrosamento, segue sempre nos lugares da frente terminando classificado na 4ª posição no Nacional da 1ª Divisão, logo atrás do SL Benfica, FC Porto e Sporting CP. Regista-se ainda maior enchente de todos os tempos em jogos disputados no Campo da Amorosa, na recepção ao FC Porto.
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(Equipa do Vitoria no Estadio 1º Maio em Braga na época de 1963/64)
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(Peres num lance aereo pelo Vitoria no lotado Campo da Amorosa num jogo frente ao SL Benfica)
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(Equipa do Vitoria na temporada de 1963/64).
No final da temporada de 1963/64 - após onze épocas como titular do Vitoria - Silveira, o açoriano, abandona a carreira de jogador de futebol, deixando vaga a braçadeira de capitão de equipa. Apesar de existir jogadores mais antigos no plantel, é Peres o sucessor da braçadeira de capitão do Vitoria, assumindo esse cargo fundamentalmente devido à sua forte personalidade e ao espírito de liderança que emergia no grupo.
O início da época de 1964/65 é marcado pela primeira deslocação europeia do Vitoria Sport Clube e logo com uma vitoria por 2-1. Ruma à Bélgica, para disputar um jogo amigável contra o Racing White, clube que na época anterior havia contratado ao Vitoria o brasileiro Lua.
Ao nível desportivo a época é pautada por um certa irregularidade nos resultados alcançados, pelo que terminou a temporada no 7º lugar do Campeonato Nacional. Mas a época fica indiscutivelmente marcada pelo primeiro jogo realizado no Estádio Municipal de Guimarães. Tratava-se na altura de um simples campo relvado, com uma bancada central em cimento, sem balneários e uns camarotes em madeira. O adversário na ocasião foi o Belenenses. O resultado final foi uma vitória dos vimaranenses por 2-1. E o primeiro golo marcado no Estádio Municipal de Guimarães foi da autoria de Castro, jovem formado nos escalões mais jovens do Vitoria. Peres foi titular e o capitão da equipa.
A temporada de 1965/66 é a 4ª de Peres no Vitoria, na qual conhece um novo treinador. O escolhido é o francês Jean Luciano, antigo treinador do Sporting CP, que vem substituir José Valle. O Vitoria faz um início de campeonato brilhante e à 4ª jornada é líder isolado da classificação geral do Campeonato, após uma vitoria em Aveiro frente ao Beira Mar, com um golo da autoria de Peres, conseguido no ultimo minuto do encontro, na transformação de um livre directo.
O Vitoria vira para a segunda volta da prova na 2ª posição, mas acaba vergado ao peso da influência das arbitragens, terminando classificado no 4º lugar da geral, logo atrás do Sporting CP, campeão, e do SL Benfica e FC Porto.
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(Peres rodeado de 3 adversários do SL Benfica no Campo da Amorosa)
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(Caricatura de Peres)
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(Peres num remate com o seu pé esquerdo)
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(Equipa do Vitoria com Peres na temporada de 1965/66)
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(Peres nas alturas num jogo do Vitoria na cidade de Vigo)
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(Equipa do Vitoria na época de 1965/66 com Peres como capitão)
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Há um novo presidente na Direcção do Vitoria na temporada de 1966/67. Trata-se de Egídio Pinheiro, que decide manter o técnico Jean Luciano à frente do comando da equipa principal. No defeso dessa época o Vitoria desloca-se novamente ao estrangeiro, desta feita cruzando o Atlântico, para disputar na Venezuela, a denominada “Taça do Mundo”, com a Lazio de Roma e o Valência de Espanha. Derrota os italianos por 3-1, mas perde frente aos espanhóis por 0-3. Os resultados desportivos são pautados pela mediania e o resultado final é um novo 6º lugar na classificação. Para muito contribuiu as lesões a meio da temporada de Peres e Mendes “Pé Canhão”, os principais abonos de família do Vitoria.
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(Um derby Vitoria - SC Braga no Campo da Amorosa)
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Em 1967/68 é escolhido um novo treinador para o Vitoria, recaindo a escolha do Presidente Egídio Pinheiro no técnico Juca. O Campeonato não começa da melhor forma em grande parte devido ao enorme leque de jogadores que se encontravam lesionados. Mas com o tempo as “performances” da equipa vão melhorando e o Vitoria acaba por alcançar um 6º lugar no Campeonato. Esta temporada fica marcada ainda por uma alteração de fundo na indumentária usada tradicionalmente pela equipa do Vitoria no seu equipamento principal. Deixa de usar os calções pretos no equipamento principal, para passar a equipar todo de branco.
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(Peres com o equipamento negro do Vitoria recebendo um troféu nos E.U.A.)
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Já com Fernando Roriz a presidente da Direcção, o mesmo que foi até à pouco tempo Secretário-Geral na Direcção presidida por Vítor Magalhães, dá-se o pontapé de saída para a 1ª grande temporada de glória do Vitoria Sport Clube nos Campeonatos Nacionais da 1ª Divisão. Apesar de varias insistências o Vitoria não consegue convencer Juca a renovar o seu contrato e este alegando razões familiares acaba por deixar Guimarães. O técnico escolhido para o substituir é o brasileiro Jorge Vieira.
Para disputar a 40ª edição do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de futebol, o técnico brasileiro monta uma equipa sustentada numa forte coesão defensiva, com os laterais Gualter e Daniel, e os centrais Manuel Pinto e Joaquim Jorge. O guarda-redes é Rodrigues. O meio campo é ao mesmo tempo batalhador e criativo com Artur, Augusto e o capitão Peres. A frente de ataque é uma tripla atacante mortífera com Zezinho, Manuel e o demolidor Mendes “Pé Canhão”.
Os resultados ao longo da época de 1968/69 são magníficos. No Estádio Municipal de Guimarães, o Vitoria não perde nem um jogo. Ganha ao SL Benfica, FC Porto e Sporting, espetando duas goleadas de 5-0 à Sanjoanense e ao eterno rival SP Braga. Fora de Guimarães destaque para os empates alcançados no Estádio da Luz, frente ao SL Benfica e em Alvalade, frente ao Sporting CP, feitos inacreditáveis para a época. Foram dias de gloria e orgulho para os vimaranenses, mas também de muito reconhecimento nacional à capacidade da equipa do Vitoria.
O jogo decisivo na luta pelo titulo acontece à 28ª jornada numa deslocação ao Estádio do Restelo onde o Vitoria é derrotado pelo Belenenses por 0-1, acabando assim por descolar do SL Benfica que se sagrou campeão. Vencer aquele jogo poderia ter significado o título de Campeão Nacional já que em igualdade pontual o Vitoria teria vantagem sobre o SL Benfica e sobre o FC Porto.
De assinalar que aquela coesão defensiva resultou na melhor defesa do campeonato, pois o Vitoria apenas sofreu 17 golos, mas também o 2º melhor ataque da prova com 46 golos marcados. O avançado do Vitoria Manuel foi o 2º melhor marcador do campeonato com 18 golos, a apenas 1 de Manuel António da Académica que foi o melhor marcador. Joaquim Jorge, defesa central do Vitoria, conquistou a 2ª edicção do prémio “Somelos-Helança”, instituído pelo jornal “A Bola”, destinado a distinguir aquele que foi o jogador mais pontuado pelos seus jornalistas ao longo do Campeonato Nacional de Futebol. Joaquim Jorge disputou 26 jogos naquele campeonato recebendo 66 pontos.
Peres é o patrão da equipa que fica para a história como aquela que conquistou um 3º lugar, aquele que ainda hoje, apesar de já por duas vezes repetida, é a melhor classificação de sempre do Vitoria Sport Clube.
Acima de tudo, a classificação obtida naquele campeonato de 1968/69 significava desde logo o tão almejado apuramento para as competições europeias a disputar na temporada seguinte, as quais receberiam pela primeira vez na história do futebol o nome do Vitoria Sport Clube.
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(Plantel do Vitoria na época de 1968/69)
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(Peres com a camisola do Vitoria)
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Para a temporada seguinte a Direcção do Vitoria aposta novamente num técnico brasileiro, Gilberto Giba, para substituir Jorge Vieira, que não renova e que regressa ao Brasil, passando a ser um verdadeiro “D. Sebastião” entre os sócios.
Em Setembro de 1969 dá-se o sorteio da na época denominada Taça das Cidades com Feira, e em sorte calhou ao Vitoria a fortíssima equipa checa do Banik Ostrava, que possuía vários jogadores da selecção checoslovaca que havia alcançado a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1964.
No dia 10 de Setembro de 1969, no Estádio Municipal de Guimarães, sob a arbitragem de Adolfo Bueno de Espanha, dá-se a estreia do Vitoria nas competições internacionais oficiais de clubes frente ao Banik Ostrava. O Vitoria vence o jogo por 1-0 com golo de Carlos Manuel logo aos 10 minutos de jogo. Na 2ª mão disputada no Stadion Bazaly na. Na Checoslováquia, típico país de leste, sob frio e neve, o Vitoria alcança com todo o mérito e estoicismo um empate a uma bola, com um golo apontado pelo médio Artur.
Na 2ª Eliminatória da Taça das Cidades com Feira, o sorteio dita como adversário do Vitoria os ingleses do Southampton. Em Guimarães, o jogo da 1ª mão, é já disputado sob o comando técnico de Fernando Caiado, que entretanto, substituiu Gilberto Giba, que teve que regressar ao Brasil devido a uma grave doença. O resultado do primeiro jogo cifra-se num 3-3, com os golos do Vitoria a ser apontados por Mendes (2) e Pinto. Já disputa da 2ª mão, em terras de sua majestade, o Vitoria acaba vergado ao poderio do futebol inglês, sob uma chuva intensa e um publico extasiado, perdendo o encontro por 1-5, apontando Costeado o golo vimaranense. Ficava assim pelo caminho a turma vitoriana, mas estava dado o primeiro passo nas aventuras europeias.
No Campeonato Nacional da 1ª Divisão o Vitoria obteve um 5º lugar no final da prova, classificação que mais uma vez permitia o acesso às competições internacionais de clubes. O jogo decisivo é frente ao FC Porto em Guimarães, que o Vitoria teria obrigatoriamente de ganhar e assim o conseguiu fazer por 1-0.
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(Equipa do Vitoria na temporada de 1969/70)
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(Peres como capitão do Vitoria com o capitão do Banik Ostrava no jogo de ida)
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Mais uma temporada de sucesso, e um novo Presidente na Direcção que toma posse no Vitoria. Precisamente na sessão solene de tomada de posse, Antero Júnior o novo Presidente anuncia aos sócios o regresso do brasileiro Jorge Vieira – o tal D. Sebastião da massa associativa - para técnico do Vitoria na a temporada de 1970/71.
Sucede que a época das enormes expectativas vitorianas correu muito mal. O núcleo duro da equipa já tem o peso da idade às costas acusando um desgaste natural da idade e o plantel não é renovado. As aquisições falham e as lesões abundam essencialmente de Joaquim Jorge, Jorge Gonçalves e o aqui recordado Peres são indiscutivelmente nefastas. Pelo meio interdições ao Estádio Municipal de Guimarães devido ao comportamento do publico.
Os resultados obtidos durante a 1ª volta do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1970/71 são horríveis de tal forma que apenas consegue alcançar uma vitória na 7ª Jornada, na Povoa, frente ao Varzim. No final da 1ª volta é penúltimo na classificação.
Na 2ª volta os resultados não melhoram, pelo que à 18ª jornada, após um empate em casa frente ao Leixões, o técnico Jorge Vieira é demitido do cargo de treinador principal do Vitoria. Para o substituir a escolha da Direcção recai naquele que melhor poderia, naquela altura angustiante, encarnar o espírito vitoriano – O grande capitão Peres. Peres que se encontrava lesionado e impedido de dar o seu contributo à equipa assume assim os comandos da equipa de futebol e desta forma abandona a carreira de jogador profissional.
A verdade é que a situação não melhora muito, mas o Vitoria não morre. Precisa do milagre e ele acontece. Disputava simultaneamente a permanência na 1ª Divisão com o Varzim SC, o Leixões, o Farense, o Barreirense, o Tirsense e a CUF, num campeonato disputado por 14 clubes onde seriam relegados os 2 últimos classificados. O Vitoria na última jornada não poderia perder, mas enfrentava o FC Porto em pleno Estádio das Antas. Todavia, os objectivos são alcançados com um empate a 0-0 e o Vitoria consegue a fuga à despromoção.
Nem tudo foi mau durante a temporada de 1970/71, pois o Vitoria marcou novamente presença nas competições europeias e teve uma presença meritória ultrapassando, pelo menos, a 1ª eliminatória. Na disputa do jogo da 1ª mão, da 1ª eliminatória da Taça das Cidades com Feira, o Vitoria despachou os gauleses do Angouleme por 3-0. Porem, aquele jogo disputado no Estádio Municipal de Guimarães no dia 16 de Setembro de 1970, marcou a carreira do nosso Peres, já que foi autor de um dos golos da vitória do Vitoria. Os outros dois golos foram apontados por Bernardo da Velha. Já na 2ª mão em França, o Vitoria sofreu a bem sofrer, sendo derrotado por 1-3, revelando-se providencial o golo apontado por Ademir logo no inicio da 2ª parte.
Na 2ª eliminatória surgiu novamente no caminho do Vitoria o futebol britânico, desta vez os escoceses do Hibernian. A 1ª mão, disputada no Easter Road Stadium em Edimburgo na Escocia , resultou numa derrota dos vimaranenses por 0-2. O mau resultado averbado não esmoreceu as hostes vitorianas e, na 2ª mão, o Vitoria até conseguiu igualar a eliminatória, mas um golo escocês deitou tudo a perder. Os marcadores vitorianos foram Ademir e Jorge Gonçalves, no jogo da sua estreia, onde infelizmente acabou por se lesionar com gravidade.
Terminou desta forma a campanha vitoriana pelas “europas” do futebol, de forma extremamente meritória e orgulhosa. O nome Vitoria penas voltaria aos palcos europeus já na década de 80.
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(Peres o capitão do Vitoria)
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(Equipa do Vitoria na época de 1970/71)
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(Peres com equipamento branco do Vitoria)
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Terminou também a carreira de Peres enquanto jogador. Como acima dissemos, após 9 temporadas consecutivas ao serviço do Vitoria, Peres com 32 anos de idade, abandonou a carreira de futebolista. Contudo, como podemos constatar, deixou uma marca importantíssima e desta forma recordada na história do Vitoria.
Peres passou a partir da temporada de 1971/72 a desempenhar as funções de Secretario Técnico no Vitoria. Foi ainda dirigente do Clube integrando a Direcção presidida por António Rodrigues Guimarães, a qual, curiosamente, pela primeira vez nos órgãos sócias do Clube, incluía como Vice – Presidente, o nome de António Pimenta Machado, aquele mesmo que durante 24 anos presidiu os destinos do Vitoria. António Peres foi ainda o responsável máximo pelo futebol juvenil do Vitoria durante 3 anos.
Como técnico de futebol, treinou ainda o FC Famalicão durante uma época, mas as exigências do mundo empresarial fizeram assumir outra carreira, agora no mundo dos negócios.
Actualmente, perto de completar 68 anos de idade, Peres é já um reformado, vive na cidade de Guimarães, na qual ficou para sempre umbilicalmente ligado e continua um fervoroso adepto do Vitoria Sport Clube.
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(Peres nos finais da decada de 80)
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(Peres na actualidade)