O seu nome ficará para sempre ligado a história do futebol em Portugal, como sendo um dos grandes responsáveis pela profunda alteração geográfica ocorrida no mapa futebolístico nacional, nomeadamente, acabando com a hegemonia dos dois grandes clubes da capital na conquista das principais competições, ou com a preponderância dos clubes da zona sul, que invariavelmente passaram a estar em minoria na 1ª Divisão Nacional, em relação às equipas sedeadas na zona norte.
Foi protagonista em vários clubes nacionais, especialmente nortenhos, assumindo um relevante papel na afirmação nacional de equipas como o Varzim SC, o Boavista FC, o Vitoria de Setúbal, ou o Vitoria de Guimarães. Mas seria no FC Porto, especialmente ao lado de Jorge Nuno Pinto da Costa, que José Maria Pedroto empreenderia a maior transformação, levando a principal formação da cidade invicta a conquistar os títulos nacionais que sucessivamente teimavam em fugir para os clubes da capital, ou projectando e implantando a organização interna que ainda hoje prevalece no FC Porto, reconhecido presentemente como um dos maiores clubes do mundo.
José Maria Carvalho Pedroto, nasceu no dia 21 de Outubro de 1928 na freguesia de Almacave, no concelho de Lamego. Segundo reza a história de Portugal, Almacave foi o local onde D. Afonso Henriques realizou as primeiras Cortes para a fundação do nosso país. Talvez imbuído do mesmo espírito do nosso primeiro Rei, também José Maria Pedroto iria tornar-se um conquistador no futebol português.
Filho de um militar, Capitão do Exercito português, Pedroto deixou aos 7 anos de idade o interior de Portugal e rumou ao Porto, para onde seu pai foi colocado para prestar serviço num quartel desta cidade. Após o falecimento do progenitor o jovem José Maria foi internado no Colégio Araújo Lima, ali bem próximo do Campo da Constituição na cidade invicta, onde começou a nascer o sonho de tornar-se jogador de futebol.
Começou a dar os primeiros pontapés na bola naquele mítico recinto portista, pela mão do austríaco Gutkas, o responsável das camadas jovens do FC Porto. Pedroto tinha como ídolo de infância o futebolista Pinga da equipa principal do FC Porto.
Com 10 anos de idade foi viver com a família para a zona de Pedras Rubras, onde, juntamente com um grupo de amigos, fundou o FC Pedras Rubras, clube onde exerceu o cargo de Presidente e foi naturalmente o capitão da equipa de futebol. Pela distância entre o local onde residia e o centro da cidade invicta foi obrigado a deixar o FC Porto.
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Pedroto era um miúdo cheio de talento, mas ao mesmo tempo um pouco sobranceiro, o que lhe valeria fortes reprimendas do seu técnico, que lhe serviriam de lição para o futuro de reconhecido técnico disciplinador. Conta Pedroto um episodio da sua carreira de miúdo no Leixões: “No final de um jogo disputado no Bessa, a certa altura pedi a bola ao guarda-redes, driblei quantos adversários me apareceram pela frente, incluindo o guarda-redes contrário e, sozinho, parei a bola em cima do risco da baliza. Ufano, puxei os calções, alisei o cabelo e, cheio de sobranceria, toquei o esférico com o calcanhar para dentro da baliza. No fim do desafio os colegas levaram-me aos ombros para as cabinas. Mas o treinador Armando Martins pregou-me um sermão que até me fez chorar. Nunca mais esqueci essa lição de que um futebolista deve jogar para a sua equipa e não para a galeria”
Chegada a hora de cumprir o serviço militar seguiu para o Algarve ingressando na Escola dos Sargentos Milicianos de Tavira. Era já famoso aquele miúdo que vinha do norte, de forma que ao abrigo da Lei Militar integrou a equipa do Lusitano FC da cidade de Vila Real de Santo António, que naquela altura militava na 1ª Divisão Nacional, com um contrato de 100 escudos por cada vitoria alcançada, 60 escudos por um empate, e auferindo somente 20 escudos em caso de derrota.
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Na época de 1949/50, o Lusitano FC quedou-se pela última posição da tabela classificativa na 1ª Divisão Nacional, contudo, nas suas fileiras estava um jogador apetecível que ao longo do ano havia brilhado nos campos de futebol nacionais.
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Esta transferência foi ainda muito polémica pela ingerência do Leixões SC que alegava direitos sobre o jogador. Essa questão foi porém ultrapassada com a oferta de emprego que o CF Belenenses fez a José Maria Pedroto na Hidroeléctrica do Zêzere, empresa pública. Este era, alias, um estratagema usado por muitos clubes naquela época, oferecendo empregos públicos aos jogadores de futebol de forma a permitir as transferências não consentidas pelos clubes aos atletas.
Mesmo antes de assinar pelo clube da Cruz de Cristo, o FC Porto ainda enviou um emissário que lhe colocou nas mãos um cheque no valor de 80.000 escudos, uma astronómica quantia naquela época, como prémio para rubricar contrato com o clube da cidade do Porto.
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(Pedroto no CF Belenenses)
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(Pedroto com o simbolo do CF Belenenses)
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Num desafio frente à Académica de Coimbra, Pedroto passou todo o encontro a gozar os jogadores conimbricenses, proferindo arreliadores “olés” e expressando um sorriso “gozão” em direcção dos adversários sempre que os conseguia ultrapassar nos seus bem sucedidos dribles.
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(Caricatura de Pedroto no CF Belenenses)
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A França venceria aquele jogo particular por 3-0, sob a arbitragem do inglês Bonde, a uma equipa portuguesa composta por grandes nomes do futebol, como era o caso de Pedroto, Fernando Caiado, Jesus Correia, Vasques e Travassos.
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(Equipa de Portugal em 1956)
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(Pedroto com a camisola do FC Porto)
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(Pedroto no FC Porto com o treinador Yustrich)
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Aquele título azul e branco foi o último antes de dar início a um longo jejum que apenas viria a ser quebrado em 1977/78 já com José Maria Pedroto no cargo de treinador principal do FC Porto.
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(Equipa do FC Porto na época de 1958/59)
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(Pedroto no FC Porto)
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(Pedroto em acção pelo FC Porto)
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Com 25 anos de idade José Maria Pedroto já tinha o curso de treinador de futebol, obtido na frequência de uma formação ministrada por Cândido de Oliveira sob a égide da Associação de Futebol Porto.
(Selecção de Juniores de Portugal na decada de 60, campeão da Uefa, com Pedroto como um dos treinadores da formação)
Das camadas jovens do FC Porto passa para o comando da equipa principal da Académica de Coimbra, a sua primeira experiência como treinador de uma equipa sénior, onde se mantém nas épocas de 1961/62 e 1962/63. Segue-se o Leixões SC, uma casa a que regressa agora como treinador, e mais tarde o Varzim SC.
No Varzim SC, modesto clube do litoral norte de Portugal, o treinador José Maria Pedroto fez um trabalho notável colocando a equipa poveira como verdadeira sensação do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1965/66. Alem do brilhante 8º lugar obtido no final da competição, avulta acima de tudo a excelência do sempre elogiado estilo de futebol praticado pelo Varzim SC.
A qualidade do trabalho que realizava e a bagagem de experiência que acumulou abriu-lhe as portas do regresso ao FC Porto em 1966, concretizando assim o seu sonho de tornar-se treinador principal da equipa azul e branca.
Permaneceu no FC Porto - nesta que seria a sua primeira passagem como técnico - três épocas consecutivas, onde nunca conquistou o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, mas venceu a Taça de Portugal na temporada de 1967/68, o seu primeiro titulo como treinador, derrotando na final da competição o Vitoria de Setúbal por 2-1.
A última época desta sua primeira passagem pelo FC Porto, na temporada de 1968/69, a conquista do principal ceptro nacional esteve bem próxima. A equipa iria claudicar na ponta final da prova perdendo o título para o grande rival SL Benfica.
Este desiderato e alguns episódios intermédios azedaram as relações de José Maria Pedroto e Afonso Pinto Magalhães, principal dirigente portista, de forma que o treinador acabou por ser afastado da função de técnico principal do FC Porto.
No final de um jogo no Estádio da Luz frente ao SL Benfica a contar para os dezasseis avos de final da Taça de Portugal da época de 1968/69, em que o FC Porto foi derrotado por inapeláveis 3-0, José Maria Pedroto visivelmente irritado não esteve para contemplações e impeliu todos os jogadores portistas a permanecer em estagio no Lar do Jogador até ao encontro seguinte a contar para o Campeonato Nacional.
Custodio Pinto, Américo, Gomes e Alberto, atletas do FC Porto, que alem de futebolistas eram também empresários, desobedeceram às ordens do técnico com o argumento de que não poderiam deixar os seus negócios durante tanto tempo, só para ficarem reunidos em estágio.
Pedroto, disciplinador rigoroso, deixou aqueles quatro jogadores de fora da equipa, colocando alguns deles a treinar na formação das reservas. No jogo seguinte para o Campeonato Nacional, o FC Porto, que liderava a prova, apostou numa equipa alternativa sem aqueles titulares, mas acabou por ser surpreendido em casa por 0-1 pela Académica de Coimbra.
Na semana imediata, novo resultado negativo, desta feita cedendo um empate, novamente nas Antas, frente ao modesto União de Tomar, hipotecando assim irremediavelmente a conquista do titulo de campeão nacional da época de 1968/69.
Os adeptos não perdoaram Pedroto, culpabilizando-o pela perda do título, nem tão pouco os dirigentes portistas que o afastaram definitivamente do comando da equipa no dia 11 de Abril de 1969, substituindo-o pelo seu fiel adjunto António Morais. José Maria Pedroto reagiu exigindo ao FC Porto uma compensação de 452.000 escudos decorrente de prémios, salários e danos morais.
Esta afronta de José Maria Pedroto levou o assunto à Assembleia-geral do FC Porto que aprovou uma moção, sob proposta de Sebastião Ribeiro, que impedia o técnico português de regressar ao clube portista.
Banido nas Antas e impedido de trabalhar no seu clube do coração, José Maria Pedroto prosseguiu a sua carreira no Vitoria de Setúbal, assinando um contrato válido por 5 épocas, com um prémio de assinatura de 350.000 escudos.
(Plantel do Vitoria de Setubal no inicio da decada de 70)
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Mas não foi fugaz esta passagem do Vitoria de Setúbal pelo topo do futebol português. Nas restantes épocas sob o comando de José Maria Pedroto ainda coleccionou três terceiros lugares e um quarto lugar nos Campeonatos Nacionais da 1ª Divisão em que participou entre as épocas de 1969/70 e 1973/74.
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(No cargo de treinador do Vitoria de Setubal)
Também em Setúbal o treinador José Maria Pedroto não teria uma relação pacífica com os altos dirigentes vitorianos. Em 1972, sensivelmente a meio do ciclo que passou em Setúbal, apresentou a demissão do cargo de treinador argumentando que a direcção pretendia interferir na composição da equipa inicial. Este diferendo acabou por resolver-se e Pedroto manteve-se ao comando da equipa setubalense.
Porém, em 1974, a desavença entre técnico e direcção foi bem mais profunda e insuprível, acabando mesmo o José Maria Pedroto por abandonar o cargo de treinador. Foi a apelidada demissão contra a “lei da rolha”. Na verdade, os dirigentes sadinos queriam impor aos jogadores um regulamento interno que os proibia de falar à comunicação social sem previa autorização, ou até mesmo casar ou ir à praia. Pedroto foi contra, defendendo intransigentemente a liberdade dos jogadores, isto mesmo antes de se verificar em Portugal o fenómeno do 25 de Abril de 1974.
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Voltou ao norte do país para assumir as rédeas do brilhante Boavista FC na época de 1974/75. É com José Maria Pedroto que o popular e modesto clube do Bessa se afirma definitivamente no panorama futebolístico português sendo mesmo considerado pelos boavisteiros como o pai do “Boavistão”.
José Maria Pedroto, juntamente com o jovem Major Valentim Loureiro, naquele tempo chefe do Departamento de Futebol do Boavista FC, engendrara a constituição de uma equipa de futebol que espantou todo o país com a qualidade apresentada e os resultados alcançados.
Ao comando do Boavista FC venceu duas Taças de Portugal consecutivamente, derrotando na final da prova da época de 1974/75 o SL Benfica por 2-1 e, em 1975/76, em pleno Estádio das Antas, o Vitoria de Guimarães, novamente por 2-1, num encontro que todavia ficaria marcado pela contestadíssima arbitragem de António Garrido que influenciou decisivamente o resultado final.
Também no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Boavista FC de José Maria Pedroto depois de se classificar na 4ª posição na época de 1974/75, foi surpreendentemente o vice-campeão nacional na temporada de 1975/76, perdendo o titulo num desafio em casa, precisamente contra o SL Benfica, treinado por Mário Wilson, que se sagraria o Campeão Nacional.
O nome de Mário Wilson surgirá umbilicalmente ligado à história da carreira de treinador de José Maria Pedroto, com quem este manteve uma guerra de palavras que se tornou famosa no futebol português durante a década de 70 inícios dos anos 80.
Registe-se ainda que foi no período compreendido entre o ano de 1974 e 1976 que José Maria Pedroto foi também seleccionador nacional português acumulando o cargo com o de treinador do Boavista FC. A verdade é que nunca atingiu ao serviço da Selecção de Portugal os bons resultados obtidos na liderança dos clubes que representou.
Foi também frente à Inglaterra o ponto alto da passagem de José Maria Pedroto pelos comandos da Selecção Nacional. Em 20 de Novembro de 1974, em jogo a contar para a fase de apuramento para o Europeu que se realizaria em 1976, que Portugal actuou no londrino Estádio de Wembley, com um meio campo de pequena estatura que contrastava, tipo 8 e 80, com o forte porte atlético dos jogadores ingleses.
A imprensa inglesa gozava declaradamente com a estatura do meio campo que José Maria Pedroto prometia apresentar com composto por Teixeira, Octávio, Vítor Martins e João Alves, aconselhando mesmo os espectadores a levar papel e lápis para o estádio para ir anotando os golos da Inglaterra.
José Maria Pedroto, bem ao seu estilo, na véspera do jogo reagiu a imprensa inglesa. Quando o questionado sobre os nomes dos jogadores que iriam compor a linha inicial que Portugal iria apresentar nesse jogo, Pedroto respondeu: “Se mandam os espectadores levarem papel e lápis para anotarem os golos, não vos interessa o nome dos nossos jogadores. Devem anotar os nomes dos vossos, para depois irem fazendo risquinhos à frente por cada golo marcado.”
O resultado final deste encontro cifrou-se num sensacional 0-0, onde a táctica gerada por José Maria Pedroto deu inteiramente resultado, com Vítor Damas, guarda-redes da Selecção Nacional e que o treinador viria a encontrar no Vitoria de Guimarães, a realizar uma espantosa exibição.
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Os resultados alcançados pela turma das quinas durante o “reinado” de José Maria Pedroto nunca foram consentâneos com a reconhecida valia do técnico e dos jogadores que compunham a Selecção Nacional.
Por fim, duas ressalvas na sua carreira à frente de Portugal. A primeira delas refere-se a ter sido ele o treinador que teve a coragem de não voltar a chamar Eusébio para representar a Selecção Nacional. A outra, reporta-se ao facto de ter sido ele o primeiro a implantar a ideia do “Clube Portugal” na Selecção Nacional, de forma a afastar as rivalidades clubistas dos adeptos que se reflectiam no apoio a Portugal.
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Entretanto, enquanto Pedroto fazia carreira no Vitoria de Setúbal e depois no Boavista FC, o seu FC Porto coleccionava insucessos. Desilusões atrás de desilusões que invariavelmente terminavam com as vitorias dos principais clubes de Lisboa. Desde 1958/59 que o FC Porto não conseguia conquistar o Campeonato Nacional da 1ª Divisão e a Taça de Portugal não a vencia desde 1967/68. Desde esta ultima temporada que o principal clube da cidade invicta não conquistava um único troféu de relevo percorrendo assim um longo jejum.
Porque acreditavam ser José Maria Pedroto o único homem capaz de alterar o “status quo”, um grupo de associados do FC Porto, que incluía Jorge Nuno Pinto da Costa, decidiu requerer um Assembleia Geral visando amnistiar o técnico da sanção que havia sido alvo em 1969. Em 21 de Março de 1975 realizou-se a mencionada Assembleia-Geral onde foi aprovado por unanimidade perdoar José Maria Pedroto, que assim, enfim, poderia regressar.
Quando tudo levava a crer que José Maria Pedroto iria regressar ao FC Porto, inesperadamente, no dia 31 de Março de 1975, poucos dias após a Assembleia Geral da amnistia, o Boavista FC acerta a renovação do contrato com o técnico que assim permaneceu na equipa do Bessa, cumprindo o acordo verbal que havia estabelecido com o Major Valentim Loureiro.
(Capa da Revista Equipa com José Maria Pedroto)
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(Boavista FC na decada de 70)
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Pinto da Costa e José Maria Pedroto traçaram uma estratégia que visava afrontar todos os poderes instalados no futebol português e de uma vez por todas acabar com a hegemonia bicéfala dos clubes da capital.
A temporada de 1976/77 foi altamente conflituosa. O FC Porto acabou apenas em 3º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão a 10 pontos do SL Benfica que foi o Campeão Nacional. Venceu porem a Taça de Portugal numa final onde derrotou o SC Braga por 1-0.
No ano seguinte, finalmente, foi quebrado o longo jejum de vitórias dos FC Porto no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Os azuis e brancos sagraram-se Campeões Nacionais depois de um competição disputadíssima, decidida na “goal average”, com o SL Benfica, que foi 2º classificado, com a proeza inacreditável protagonizada pelo clube da Luz, que não perdeu qualquer encontro na prova e não foi campeão.
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(José Maria Pedroto técnico do FC Porto em pleno Estádio das Antas)
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(Pedroto e Pinto da Costa com as faixas de campeão nacional)
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(Pedroto no FC Porto)
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(Em pleno treino no Estádio das Antas ao serviço do FC Porto)
Depois destes 3 anos a frente da equipa do FC Porto o clima de “guerrilha” no futebol português, envolvendo os principais clubes e os poderes de decisão na FPF, estava extremamente intenso e fortemente acicatado por José Maria Pedroto e Pinto da Costa. Era um chorrilho de polémicas e um constante ambiente fervente entre os protagonistas.
(FC Porto na temporada de 1978/79)
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(Ao lado de Pinto da Costa no banco de suplentes do FC Porto)
Mário Wilson, durante o período em que foi treinador do SL Benfica, ou mesmo na Selecção Nacional, foi sempre um alvo privilegiado de José Maria Pedroto, como se tratasse de um verdadeiro ódio de estimação.
Como exemplo do clima que se vivia e as repercussões nas pessoas destaca-se recorrentemente um episódio ocorrido na época de 1979/80. Naquele período, Mário Wilson era o seleccionador nacional que convocou vários jogadores do FC Porto para representar Portugal num jogo particular contra a Espanha que seria disputado na cidade de Vigo. Esse jogo seria realizado entre os dois jogos do FC Porto para a Taça dos Campeões Europeus frente ao AC Milan o que evidentemente prejudicava a preparação da equipa portista.
Por isso, José Maria Pedroto não se conteve, chamando “palhaço” a Mário Wilson. Os jogadores do FC Porto iriam juntar-se ao grupo da Selecção Nacional que vinha de Lisboa na Estação de Comboios da Campanhã no Porto. Aí, em vez dos jogadores do FC Porto estava uma verdadeira multidão em fúria que apedrejou o comboio que transportava a equipa de Portugal.
O FC Porto acabou por eliminar o AC Milan. José Maria Pedroto foi multado pelas instâncias federativas em 500 escudos. O popular “Zé do Boné” não emendou, em jeito de reacção acrescentou: “Quando disse que Mário Wilson, como treinador, era um palhaço, não tive intenção de ofender os palhaços.”
Depois do FC Porto perder o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1979/80, não conquistando o tri, José Maria Pedroto foi afastado do cargo de treinador principal do azuis e brancos pelo Presidente Américo Sá que se dizia farto das polémicas e conflitos gerados pela dupla Pinto da Costa e Pedroto.
A saída de José Maria Pedroto e de Pinto da Costa do FC Porto foi conturbada originando o celebre verão quente de 1980, quando 14 jogadores do FC Porto, onde constavam nomes como o de Costa, Oliveira, Octávio, Sousa, Frasco, Gomes, entre outros, fizeram uma autêntica rebelião não comparecendo aos trabalhos no arranque da temporada de 1980/81.
O Presidente do FC Porto Américo Sá deixava o nome de Pinto da Costa fora das listas concorrentes aos órgãos sociais. Em forma de protesto e demonstrando estar ao lado do actual presidente portista, 14 jogadores não compareceram aos trabalhos de preparação para a nova época sob os comandos do austríaco Herman Stessl, entretanto escolhido para suceder a José Maria Pedroto.
Esses 14 jogadores trabalhavam no Pinhal de Santa Cruz do Bispo às ordens de Hernâni Gonçalves, preparador físico de José Maria Pedroto, enquanto que os jogadores do FC Porto, os apelidados de “alinhados”, prosseguiam a sua preparação em Leiria.
Desempregado, José Maria Pedroto, foi alegadamente seduzido por responsáveis do SL Benfica para assumir o cargo de treinador principal dos encarnados. Esse facto não se consumou porque, dizem, alguns dirigentes benfiquistas vetaram o ingresso do técnico no clube, outros, afirmam que foi o técnico que não aceitou rumar a Lisboa pois pretendia continuar a trabalhar no norte do país.
Também o Sporting CP, presidido naquela época por João Rocha, fez tudo para José Maria Pedroto ingressasse no clube de Alvalade. Diz-se que o acordo estava praticamente selado entre ambas as partes, com todas as cláusulas integrantes do contrato devidamente combinadas.
A verdade é que a entrada de José Maria Pedroto como treinador do Sporting CP em Alvalade nunca se consumou. Conta-se que no dia aprazado para que as partes rubricassem o contrato, Pedroto terá feito marcha-atrás, alegadamente, pelo facto do Presidente do Sporting CP não lhe ter garantido que “controlava” os árbitros.
Para o Sporting CP acabou por rumar o britânico Malcolm Alisson, para o SL Benfica o húngaro Lajos Baroti e José Maria Pedroto permaneceu inactivo no início da época de 1980/81.
Entretanto, em Guimarães, o Vitoria SC arrancava para a época de 1980/81 com enormes expectativas de sucesso. O recentemente empossado Presidente da Direcção do Clube vitoriano, o jovem Pimenta Machado, tinha contratado um punhado de jogadores de inegável qualidade, desde os internacionais Damas e Blanker, a jogadores da categoria de Barrinha e Nivaldo, até aos jovens Fonseca e Ribeiro.
Depois de um início de prova algo titubeante o Presidente do Vitoria decide despedir Fernando Peres e Cassiano Gouveia, a dupla técnica que comandava a equipa, à passagem da 7ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão depois de uma derrota frente ao SC Espinho por 3-1.
Diz-se que incentivado por Pinto da Costa, o Presidente do Vitoria, Pimenta Machado, decide contratar tão só a melhor equipa técnica nacional, numa ousadia que espantou todo o futebol português. É desta forma que José Maria Pedroto, coadjuvado por António Morais e Artur Jorge, ingressa no Vitoria Sport Clube.
A entrada do treinador José Maria Pedroto revelou-se importante, pois o Vitoria melhorou significativamente de produção, alcançando resultados bem mais consentâneos com a valia da equipa.
(Equipa técnica do Vitoria SC liderada por José Maria Pedroto, com os adjuntos António Morais e Artur Jorge)
Em entrevista concedida naquela altura ao Jornal “Gazeta dos Desportos”, José Maria Pedroto justificava a escolha do Vitoria SC para continuar a sua carreira e quais os projectos e anseios que pretendia concretizar.
“Optei pelo Vitoria de Guimarães onde me sinto extremamente bem e onde estou a encetar um trabalho aliciante na procura constante dum bom conjunto de futebol que honre os pergaminhos do clube e reflicta os anseios duma direcção que não se poupa a esforços para dotar o clube das estruturas necessárias com o objectivo em vista: a entrada na Europa.
Direi ainda que essa entrada na Europa não visa o cumprimento de um capricho ou à satisfação duma vaidade. O que esta direcção e este Vitoria entendem por uma entrada na Europa é a consciencialização das responsabilidades dessa entrada, portanto, uma entrada consciente e baseada em alicerces sólidos.
É ir para ficar, e não para esporadicamente, tentar um ou outro brilharete. É de facto muito aliciante este projecto, onde todos quantos nele trabalham sentem o dever de cada vez mais se esforçar no sentido de corresponder aos anseios desta extraordinária massa associativa que considero a mais empenhada, mais interessada e a mais identificada na grandeza e glorificação do seu Vitoria.”
(No banco de suplentes do Vitoria SC em pleno Estádio da Luz com Artur Jorge e Carlos Pimenta Machado, o chefe do Departamento de Futebol do clube minhotos) (Caricatura de José Maria Pedroto com o camisola do Vitoria SC)O Vitoria SC estava finalmente no bom caminho e a massa associativa percebia isso. Um conjunto recheados de bons jogadores e um treinador com história no futebol português fazia sonhar os adeptos vimaranenses que estavam eufóricos na jornada após o encontro frente ao SC Braga protagonizando mais uma manifestação de paixão pelo clube.
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(Dirigindo o treino do Vitoria SC no Estádio Municipal de Guimarães)
Os vitorianos deslocar-se-iam em massa ao Estádio da Luz para assistir à partida entre o SL Benfica e o Vitoria SC. Uma mega excursão, no apelidado “Comboio Branco” foi realizada em direcção à cidade de Lisboa, onde o Vitoria acabou por ser derrotado por 2-0.
A época de 1980/81 terminaria com o Vitoria classificado no 5º lugar da geral, um lugar de destaque numa época de bom nível, mas que não chegava para cumprir o objectivo do clube em alcançar as competições europeias.
José Maria Pedroto renovaria o vínculo contratual com o Vitoria SC para a nova época de 1981/82, mas a sua equipa técnica iria perder Artur Jorge que rumaria ao CF Belenenses, onde assumiu a função de treinador principal. Para o lugar de Artur Jorge entrou Valdemar Custodio.
(José Maria Pedroto à conversa com Oliveira)
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(José Maria Pedroto no banco do Vitoria SC festejando)
Sob a égide de José Maria Pedroto, o Vitoria SC fez varias aquisições para a nova temporada futebolística. Ingressaram no clube os guarda-redes Jesus e Paulino, os defesas Alfredo Murça e João Gouveia, os médios Pedroto e Jeová e, finalmente, os avançados Narciso, Carraça, Flávio, e os brasileiros Ivanir e Lúcio Santarém. Saíram do clube o guarda-redes Melo, o médio Ferreira da Costa e os avançados Mundinho e Blanker.
O Vitoria SC realiza mais uma época de alto nível terminando a prova no 4º lugar do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1981/82. Contra o SL Benfica, FC Porto e Sporting CP consegue normalmente resultados positivos, apenas sendo derrotado no Estádio da Luz pelo SL Benfica por 1-0.
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(Caricatura de José Maria Pedroto e Artur Jorge no Vitoria SC, frente a Stessl o austriaco ao tempo treinador do FC Porto)
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(José Maria Pedroto com Carlos Pimenta Machado o "homem forte" do futebol do Vitoria SC naquele tempo)
(Vitoria SC na época de 1981/82)
O 4º lugar alcançado na prova, sendo uma das melhores classificações de sempre do Vitoria SC, não foi porem suficiente para atingir a tão almejada participação nas provas internacionais de clubes. O SC Braga vai à Taça das Taças por ter participado na final da Taça de Portugal contra o Campeão Nacional Sporting CP.
Mas afinal qual o verdadeira essência que distinguia Pedroto dos restantes técnicos naquela época. Onde residia a diferença que fazia e faz dele, para muitos, como o melhor treinador português de sempre?
José Maria Pedroto era acima de tudo um homem profundamente inteligente com ideais sobre o futebol totalmente avançadas e surpreendentes para aquela época. Era também assustadoramente frontal e directo, o que para muitos era uma virtude e para outros um defeito que não suportavam.
Adepto confesso do espectáculo, era um apologista do futebol ofensivo, onde a eficácia e o pragmatismo tinham contudo que imperar, pois não admitia perder já que reagia muita mal as derrotas. Usava como ninguém a vertente psicológica, não só potenciando o rendimento dos seus jogadores, ou quais defendia como ninguém, como tentando pressionar adversários.
Cedo percebeu que a evolução do futebol, essencialmente o português, dependia do aperfeiçoamento físico e técnico dos jogadores, o que necessitava que os atletas se tornassem verdadeiramente profissionais e aplicados. Mas alem das exigências aos jogadores, também se mostravam necessárias um conjunto de outras medidas que sustentassem o progresso do futebol português.
Pedroto sempre se bateu pela concretização dessas medidas estruturais, tais como melhores campos de futebol, melhores condições para os jogadores, mais e melhores bolas, botas e outros cuidados médicos.
Destacam-se, desde já, os princípios da fórmula vencedora do mestre José Maria Pedroto: Em primeiro lugar a equipa tinha que ser unida, o espírito de grupo, a coesão entre os atletas que compõe a formação que comandava era essenciais para o êxito. Pedroto não hesitava nunca em sacrificar algum jogador, mesmo que fosse dos mais credenciados, em prol do grupo. Por outro lado, defendia os seus jogadores “com unhas e dentes” mesmo que para isso tivesse que enfrentar os dirigentes.
Em segundo lugar, a estratégia de Pedroto, para quando perdia, passava por imputar as responsabilidades pelas derrotas ao exterior. Quando perdia, a culpa ou era do arbitro, ou dos poderes instituídos no futebol português que teimavam em prejudicar a sua equipa.
Com os jogadores mantinha uma relação muito própria. A disciplina era exigência máxima. O empenho tinha que ser total. Mas Pedroto conseguia motivar os seus jogadores como ninguém. Incutia-lhes sempre um espírito de vitória onde ressaltava, naturalmente, a vertente psicológica em muitas conquistas.
(Dirigindo um treino do Vitoria SC no Estádio Municipal de Guimarães)
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(No banco de suplentes do Vitoria SC)
Após a passagem pelo Vitoria de Guimarães a sua carreira no futebol prosseguiu regressando novamente ao FC Porto, já com Pinto da Costa na presidência do principal clube da cidade invicta.
O Vitoria SC e os seus dirigentes tudo fizeram para manter José Maria Pedroto no cargo de treinador da equipa principal. Os vimaranenses terão mesmo oferecido um salário de 1.500 contos por mês, quantia superior aquela que José Maria Pedroto foi auferir como técnico do FC Porto.
. (Novamente José Maria Pedroto e Pinto da Costa)
(Caricatura do treinador José Maria Pedroto)
Foi a partir da época de 1982/83 que a dupla José Maria Pedroto e Pinto da Costa começaram a lançar os alicerces do FC Porto que na década de 80 chegou a conquistar os títulos de Campeão Europeu e do Mundo.
Este regressou ficou marcado todavia pela grave doença que apoquentou o técnico. Conquistou ainda no activo a Taça de Portugal na temporada de 1983/84 derrotando na final da competição a celebre equipa do Rio Ave FC por 4-1.
.(FC Porto na época de 1983/84)
. (José Maria Pedroto)
Foi a 10ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1983/84 que José Maria Pedroto se viu obrigado a abandonar a orientação da equipa do FC Porto por causa do cancro que lhe havia sido diagnosticado. Em Janeiro de 1984 foi internado em Londres afim de ser submetido a tratamentos deixando o comando da equipa aos seus adjuntos António Morais e João Mota.
Nessa mesma época assistiu em casa à final da Taças das Taças em Basileia entre o seu FC Porto e a Juventus de Itália. O FC Porto foi derrotado por 2-1 perdendo a competição para a equipa transalpina.
José Maria Carvalho Pedroto acabou por falecer na manha do dia 8 de Janeiro do ano de 1985, com 56 anos de idade, sucumbido à doença que o corroía imparavelmente. Durante a madrugada do dia do seu falecimento, já visivelmente debilitado, tentou satisfazer os seus últimos desejos, bebendo whisky por uma colher e tentando fumar o último cigarro.
Terminou assim a vida de homem invulgar que seguramente marcou uma época e um estilo no futebol português. Não viu, em vida, cumprir-se o seu maior sonho, ver o FC Porto Campeão da Europa e do Mundo.
Terminou a vida, mas não terminou de forma alguma o mito que permanece no futebol português de um mestre José Maria Pedroto, o carinhoso e popularmente conhecido como o “Zé do Boné”.
Não sei se todos os dados estão correctos, mas quero dar os meus parabéns por este fantástico artigo sobre o grande José Maria Pedroto.
ResponderEliminarExcelente trabalho, como sempre.
ResponderEliminarAlguém tem conhecimento de quem jogava no Lusitano de Vila Real de St.º António de 1949/50, para além do Pedroto e do Caldeira?
Obrigado.