Glórias do Passado: abril 2010

 

Temporada de 1977/78 - 4ª Parte


À 4ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1977/78 o Vitoria SC recebeu e venceu no Estádio Municipal de Guimarães o CD Feirense por 2-1, num jogo de fraca qualidade e em que a toada do desafio pautou-se pelo ascendente ofensivo da equipa vimaranense perante uma defesa fechada da formação de Santa Maria da Feira.

O conjunto do CD Feirense, apresentando uma disposição táctica muito povoada na zona defensiva, com muitas marcações individuais, dificultou bastante as penetrações atacantes da equipa do Vitoria SC, aguentando, com estoicismo, o ímpeto atacante vimaranense.

Alem disso, as dificuldades da equipa minhota mais se agudizaram com o lastimável estado do terreno de jogo que prejudicavam acentuadamente a movimentação, o estilo tecnicista e jogado de pé para pé que o Vitoria SC tentava implementar.

A equipa vimaranense dominou completamente o desenrolar do jogo, contudo, não conseguiu aliar-lhe uma boa exibição, nem a necessária eficácia para chegar ao golo durante o primeiro tempo.
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(O vitoriano Abreu entre o defesa Brito e o guarda-redes Silva Pinto do CD Feirense neste jogo do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1977/78)
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Na realidade, o Vitoria SC só conseguiria furar a apertada malha defensiva da equipa do CD Feirense aos 54 minutos, quando o avançado vimaranense Tito concluiu com êxito uma excelente assistência de Ferreira da Costa.

A perder, a turma de Santa Maria da Feira alterou a sua forma de jogar, assumindo então uma postura mais ofensiva e passou a equilibrar um pouco mais os acontecimentos.

Porém, aos 71 minutos de jogo, o Vitoria SC aumentou a vantagem por intermédio de Mané. Na conclusão da melhor jogada de todo o encontro, bem gizada numa triangulação de Romeu, Tito e finalizada de cabeça pelo avançado brasileiro Mané, o Vitoria SC sentenciou, praticamente, o destino do jogo.

A perder por dois golos de diferença, o CD Feirense tentou então chegar ao tento de honra, acabando mesmo por conseguir, merecidamente, reduzir para 2-1, aos 86 minutos, através de Serginho, embora esse golo tenha sido alcançado de forma irregular, já que foi evidente a falta do autor do tento sobre o guarda-redes vitoriano Melo.
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(Lance do encontro entre o Vitoria SC e o CD Feirense no Estádio Municipal de Guimarães)
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Nesta altura da época instala-se uma verdadeira “guerra” no futebol português. De um lado, a Federação Portuguesa de Futebol, a entidade organizadora da competição, e do outro, os árbitros e algumas das suas associações que defendiam melhores condições e maiores regalias.

Esse clima agudizou-se com uma greve que os árbitros dos principais quadros nacionais fizeram aos jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Nessa sequência, o juiz nomeado para o encontro entre o GD Riopele e o Vitoria SC da 10ª ronda da prova não compareceu à hora marcada para o inicio do encontro no Parque de Jogos José Dias de Oliveira em Pousada de Saramagos.

Foi necessário recorrer-se às bancadas para compor a equipa de arbitragem que dirigiria esta partida. Mário Barreiros, arbitro aposentado da Comissão Distrital de Árbitros de Braga, coadjuvado pelos auxiliares Horácio Fernandes, também aposentado, e João Baptista, árbitro no activo igualmente daquela associação, foram os escolhidos pelos responsáveis de ambos os clubes para arbitrar este desafio do Campeonato Nacional da 1ª Divisão.
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(A improvisada equipa de arbitragem que apitou o jogo entre o GD Riopele e o Vitoria SC)
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E foi assim, debaixo dos aplausos de mais de 13.000 espectadores que lotavam completamente o campo de jogos do GD Riopele, que a improvisada equipa de arbitragem entrou no terreno de jogo, passados mais de 25 minutos da hora aprazada para o inicio do jogo. Por tal facto o jogo terminou quando o entardecer já começava a fazer os seus efeitos, dificultando a visibilidade a todos os intervenientes.

O jogo não se adivinhava nada fácil para a equipa da cidade berço. A primeira grande contrariedade para o Vitoria SC era, desde logo, o pelado do Parque de Jogos da equipa fabril, mas também o arreganho e capacidade dos jogadores do GD Riopele sobretudo jogando em cada.

De qualquer modo a equipa do Vitoria SC iniciou o encontro de forma avassaladora, impondo muita velocidade no seu jogo ofensivo. Em consequência disso, logo aos 12 minutos, surgiu o primeiro golo do encontro, através do avançado brasileiro do Vitoria SC Mané que, desenvencilhando-se da marcação do defesa central Vitorino, recebeu um grande passe em desmarcação de Abreu e atirou de forma indefensável para o fundo da baliza do GD Riopele.

Após o golo, a equipa fabril buscou o empate, passando então a dominar a partida, embora, diga-se, de forma muito consentida pela turma vitoriana. O certo é que esse ascendente proporcionou escassas oportunidades de golo à equipa do GD Riopele e por isso o intervalo chegou com a vantagem do Vitoria SC por 0-1.
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(Imagem do primeiro golo do Vitoria SC neste desafio contra o GD Riopele)
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A 2ª parte do encontro começou, praticamente, com o golo da igualdade do GD Riopele, apontado por António Luís, finalizando bem no interior da grande área vimaranense um cruzamento vindo da linha de fundo na conversão de um livre a punir uma falta despropositada de um jogador da equipa do Vitoria SC.

O Vitoria SC teve então que voltar a tomar conta do jogo em busca do golo que desfizesse a igualdade estabelecida. A equipa vimaranense conseguiria chegar ao tento da vitória aos 66 minutos, através de Romeu, numa jogada de insistência e também de alguma desatenção dos defensores do GD Riopele que não conseguiram afastar o esférico da zona de rigor.

Novamente em vantagem, o Vitoria SC retraiu-se consentidamente, visando aguentar a vantagem alcançada no marcador. Na sequência dessa postura o Vitoria SC ainda passou por alguns calafrios até final do encontro, todavia, acabou por conseguir vencer por 1-2, num jogo arduamente disputado por ambas as equipas.

A actuação da improvisada equipa de arbitragem mereceu todos elogios por parte da crítica desportiva, pois, perante um ambiente escaldante, muito próprio de um jogo entre vizinhos, as decisões tomadas foram maioritariamente acertadas e rigorosas.
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(Jogada no centro do terreno de jogo entre o GD Riopele e a equipa do Vitoria SC)
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O jogo da 11ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1977/78 voltou a ser influenciado pelo protesto dos principais árbitros portugueses. Por tal facto, o árbitro designado pela Federação Portuguesa de Futebol para apitar o jogo entre o Vitoria SC e o Sporting CP não compareceu no Estádio Municipal de Guimarães.

Para evitar o adiamento da partida e cumprindo os regulamentos, pelos altifalantes do Estádio Municipal de Guimarães foi pedida a presença de algum arbitro presente no recinto para apitar o desafio.

Na ocasião, os presidentes de ambos os clubes, Gil Mesquita e João Rocha, respectivamente, do Vitoria SC e o Sporting CP, decidiram delegar nos representantes da Federação Portuguesa de Futebol e da Comissão Regional de Árbitros de Braga a escolha de um árbitro entre os habilitados que compareceram à chamada para apitar o jogo.

Foi seleccionado, então, João Baptista, arbitro dos quadros da 1ª Divisão Regional da A. F. de Braga, comerciante na cidade de Guimarães, para ser o arbitro principal, coadjuvado por Horácio Fernandes, arbitro regional aposentado, e José da Costa, arbitro da Comissão Regional de Braga.

O jogo principiaria com 26 minutos de atraso em relação à hora marcada, perante o pouco publico presente no Estádio Municipal de Guimarães tendo em conta tratar-se do jogo da jornada atento o calibre dos opositores.

Na verdade, para a notória ausência de público muito contribuiu a propalada “greve” da equipa de arbitragem ao jogo. Muitos aficionados, temendo a não realização do encontro, não se dispuseram a pagar o preço do bilhete de ingresso no estádio.
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(Caricatura alusiva ao jogo Vitoria SC - Sporting CP)
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Quanto ao desenrolar do jogo diga-se, desde já, que tratou-se, efectivamente, de uma partida emocionante, com ambas as equipas a jogar em busca de um resultado positivo. De facto, tanto o Vitoria SC como o Sporting CP jogaram para alcançar o triunfo.

O Vitoria SC entrou melhor. A primeira grande oportunidade do jogo coube aos vimaranenses, logo aos 14 minutos, quando Romeu viu o seu cabeceamento ser desviado sobre a linha de golo pelo médio sportinguista Da Costa, na ocasião, a substituir o guarda-redes Botelho que estava fora do lance.

Esse lance de Romeu empolgou o Vitoria SC para uma excelente exibição. Durante toda a 1ª parte a turma vitoriana foi visivelmente superior ao adversário, com mais iniciativa e ocasiões de golo, porem, as ofensivas da equipa do Vitoria SC esbarravam, consecutivamente, na intransponível defesa do Sporting CP.

A equipa da capital apenas viria a dispor da primeira ocasião de golo, praticamente, no último minuto do 1º tempo, quando Jordão surgiu isolado e não conseguiu desfeitear o guardião vimaranense Melo.

Em lance contínuo, o avançado brasileiro do Vitoria SC Mané, isolado inadvertidamente por um adversário, não conseguiu bater Botelho, gorando-se mais uma grande oportunidade para a equipa da casa.

O reinício do encontro depois do período intervalo ficou marcado por alguns lances de excessiva dureza, ultrapassando mesmo os limites tidos como razoáveis, consequência directa não só da aplicação dos jogadores de ambos os conjuntos, mas também, essencialmente, de algum nervosismo que se instalou nos atletas do Sporting CP, sobretudo, após a marcação da grande penalidade a favorecer o Vitoria SC.
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(Lance do encontro entre o Vitoria SC - Sporting CP a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão na época de 1977/78)
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Seguiu-se, de facto, um chorrilho de entradas duras, agressões mútuas, bolas afastadas para longe e muita contestação às decisões da equipa de arbitragem, francamente inexperiente para estas andanças.

Tudo se agravou, contudo, quando o árbitro assinalou grande penalidade contra o Sporting CP a punir um lance disputado entre o defesa sportinguista Laranjeira e o avançado do Vitoria SC Mané no interior da grande área.

O derrube ao avançado vitoriano não foi perfeitamente evidente, é certo, porem, o árbitro, bem posicionado não hesitou e assinalou o penalty. Em acto contínuo os jogadores do Sporting CP rodearam o arbitro João Baptista protestando a decisão. O capitão sportinguista Laranjeira excedeu-se nitidamente nos protestos e acabou mesmo por ser expulso depois de ter insultado e atingido o árbitro a pontapé.
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(Imagem de uma jogada proxima da grande area do Vitoria SC neste desafio frente ao Sporting CP)
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Só a muito custo e após a intervenção serena dos dirigentes sportinguista foi possível reatar o jogo. Reatou-se a partida, exactamente, aos 18 minutos para a conversão da grande penalidade, tendo o médio centro vimaranense Abreu transformado em golo o castigo máximo.

Enquanto os vitorianos festejam o golo da vantagem, os jogadores do Sporting CP voltaram a cercar o árbitro do encontro. Nesta altura, de facto, os ânimos estavam muito exaltados e o pandemónio parecia não arrefecer.

Logo que retomada a partida o Sporting CP chegou ao golo que restabeleceu a igualdade a 1-1. Aos 21 minutos de jogo, o médio sportinguista Da Costa apontou um grande golo já na recarga a um remate por si desferido e estabeleceu o resultado final da partida.

Até final do jogo só há destaque para a indisciplina que continuou a reinar entre os jogadores, sobretudo, os atletas sportinguista, perante a passividade de uma equipa de arbitragem completamente tolhida pelos acontecimentos.


Autor: Alberto de Castro Abreu 0 Comentários

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