Na temporada de 1970/71 o Vitoria SC voltou a participar, pela segunda vez na sua história, numa competição internacional de clubes, proveito da classificação obtida no Campeonato Nacional da 1ª Divisão na época anterior.

Realizado o sorteio da Taça das Cidade com Feiras, denominação oficial da competição em questão, coube ao Vitoria SC defrontar um adversário representante do futebol francês, concretamente, a equipa do AS Angoulême, o 4º classificado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de França na época de 1969/70.

A Association Sportive Angoulême era um clube bastante recente naquela altura no panorama futebolístico, contando apenas com 5 anos de profissionalismo, motivo pelo qual era considerado a grande sensação quando conquistou o 4º lugar do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, logo na temporada em que se estreava no principal escalão do futebol gaulês.

O jogo decisivo para a histórica qualificação do AS Angoulême para as competições internacionais ocorreu no dia 20 de Junho de 1970, quando venceram a equipa do Sedan por 2-0 e assim garantiram a 4ª posição na tabela final do Campeonato Francês da 1ª Divisão.

Este modesto clube estava sedeado na cidade que lhe deu nome, Angoulême, localidade francesa com mais que 50.000 habitantes, num meio essencialmente industrial. Próximo de Angoulême situava-se a localidade de Charents, zona onde residiam bastantes imigrantes portugueses, pelo que, era aguardado muito apoio ao Vitoria SC, no jogo em que a equipa vimaranense defrontasse a formação do AS Angoulême em terras gaulesas.

Quanto a equipa do AS Angoulême propriamente dita, diga-se que a mesma contava com jogadores de inegável qualidade e bem conceituados no futebol francês. A equipa, tecnicamente liderada por Claude Hugues, tinha como principais destaques, desde logo, o guarda-redes internacional checoslovaco Kouba.

Kouba era guarda-redes famoso, que tinha alinhado em importantes equipas da Checoslováquia como o Dukla de Praga e o Sparta de Praga, e que tinha estado presente em representação do seu país no Mundial de 1962.

(Equipa do AS Angloulême)

O jogo da 1ª mão, sob a arbitragem de Juiz Carminati, de Itália, decorreu no Estádio Municipal de Guimarães no dia 16 de Setembro de 1970, pelas 17.15 horas, alinhando a equipa do Vitoria SC com a seguinte formação inicial: Gomes; Costeado, Joaquim Jorge, Artur e Silva; Bernardo da Velha, Osvaldinho e Peres; Zézinho, Mendes e Ademir.

Ao longo desta partida, o treinador do Vitoria SC, Jorge Vieira, apenas procedeu a uma alteração na equipa, fazendo entrar aos 72 minutos de jogo o médio brasileiro Augusto para o lugar de Osvaldinho.

Recordemos, a título de curiosidade, o preço dos bilhetes que o Vitoria SC praticou naquele histórico jogo. Assim, os associados tinham à sua disposição ingressos para a bancada central ao preço de 45$, para a bancada lateral a 27.50$ e para bancada superior a 20$.

Já os não sócios tinham à sua disposição quatro tipos de ingressos. A geral custava 20$, um bilhete para a bancada superior custava 30$, enquanto que para a bancada lateral eram 40$ e para o sector da bancada central, o preço mais elevado, 60$.

(Bilhete de ingresso no jogo da 1ª mão entre o Vitoria SC e o AS Angoulême)

Quanto ao jogo de Guimarães foi evidente a superioridade do Vitoria SC, que venceu por 3-0, números que lhe davam uma vantagem considerável para o jogo da 2ª mão a disputar em França e para a decisão da eliminatória.

Se durante a primeira metade do encontro a equipa do AS Angoulême conseguiu impedir o golo do Vitoria SC, regressando aos balneários ao intervalo com o resultado em 0-0, já no 2º tempo a equipa francesa não foi capaz de suster a maior valia técnico táctica dos jogadores vitorianos.

Logo a abrir a segunda parte o Vitoria SC colocou-se em vantagem com um golo de Bernardo da Velha apontado aos 46 minutos. Aos 55 minutos o capitão do Vitoria SC Peres aumentou a vantagem, para a oito minutos do final do encontro, precisamente aos 82 minutos, Bernardo da Velha bisar na partida e colocar o resultado final a favor dos vimaranenses em 3-0.

Era uma tarefa verdadeiramente hercúlea aquela que cabia ao AS Angoulême para seguir em frente na competição. Teria que vencer em França o Vitoria SC por 3 golos de vantagem de forma a superar o proveito que os vimaranenses traziam do encontro da 1ª mão.

O jogo da 2ª mão realizou-se no Estádio Chanzy na cidade de Angoulême. Ao contrario do esperado não foram muitos os portugueses que acudiram aquele recinto para apoiar o Vitoria SC. Bem pelo contrário, foram mesmo os adeptos franceses, crentes no apuramento, que encheram o estádio para apoiar a equipa da casa naquela histórica partida.

(AS Angoulême - Vitoria SC)

Neste decisivo desafio, o Vitoria SC apresentou o mesmo onze inicial que alinhou no jogo da 1ª mão disputado na cidade de Guimarães. Preciosa acabou por ser a vantagem que o Vitoria SC trazia do encontro na cidade berço, pois só assim conseguiu garantir o apuramento na eliminatória.

O Vitoria SC passou por aflições que não estavam previstas neste encontro da 2ª mão, evidenciando grandes dificuldades para garantir a passagem à ronda seguinte.

O adversário apresentou-se transfigurado, para melhor, em relação ao primeiro jogo, revelando-se bem mais capaz, com um futebol assente na velocidade, um estilo que jogo que contrastava frontalmente com o estilo que jogo que mais se apropriava ao Vitoria SC.

Por outro lado, a equipa do AS Angoulême revelou-se bem mais aguerrida, na verdade, exibiu-se num estilo defensivo bem mais duro nas marcações, em alguns casos a roçar mesmo a violência, aproveitando-se um pouco da complacência de um árbitro irlandês, que toda a critica considerou bem caseiro.

No final da primeira parte a equipa francesa vencia por 2-0, através dos golos apontados por Castellan aos 39 e 44 minutos, colocando-se, naquela altura, numa alcançável posição de superar a vantagem que equipa do Vitoria SC trazia do encontro da 1ª mão.

No reatamento o Vitoria SC reduziu logo aos 49 minutos para 2-1 através do golo apontado pelo avançado brasileiro Ademir, colocando assim um ponto final na réstia de esperanças da equipa gaulesa, que ainda ampliaria, porém, a vantagem para o resultado final de 3-1, pelo golo marcado aos 68 minutos por Gallice.

O Vitoria SC sofreu bastante para garantir o apuramento é certo. Sobretudo após a expulsão do médio Artur aos 60 minutos de jogo. Reduzido a 10 elementos o Vitoria SC teve que defender a vantagem com unhas e dentes, sustendo com brio e alguma mestria, na verdade, o ímpeto avassalador do ataque francês.

Nesta partida brilhou a grande altura o capitão do Vitoria SC Peres, o único homem capaz de pautar o jogo da equipa ao ritmo que se pedia, de modo a evitar maiores estragos.

Apesar do resultado final de 3-1 no jogo da 2ª mão a favorecer a equipa AS Angoulême, o Vitoria SC, sobretudo em consequência do desfecho do primeiro jogo na cidade berço, qualificou-se para a eliminatória seguinte com todo o mérito, escrevendo-se assim mais uma pagina gloriosa na historia do clube vimaranense.