Glórias do Passado: dezembro 2007

 

Temporada de 1968/69 - 1ª Parte


Na temporada de 1968/69 o Vitoria SC conseguiu no Campeonato Nacional da 1ª Divisão atingir pela primeira vez na sua história o 3º lugar na classificação final. Ainda hoje é e continua a ser a melhor classificação de sempre do Vitoria SC na principal competição portuguesa, apesar de já ter sido igualada no decorrer da década de 80 e na de 90.

Em 1968/69 o Vitoria SC pulverizou todos os recordes que anteriormente havia alcançado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Ao longo de toda a temporada esteve sempre classificado nos lugares cimeiros da tabela geral lutando efectivamente pela conquista do título de Campeão Nacional.

Além da equipa vimaranense ter atingido um lugar no pódio na principal competição nacional, outro feito de inegável importância foi conquistado nesta temporada de 1968/69. Fruto do brilhante 3º lugar no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Vitoria SC garantiu o direito a participar pela primeira vez na sua história nas competições internacionais de clubes na temporada seguinte.

Na transição da época de 1967/68 para a nova temporada de 1968/69 o Vitoria SC não operou a grandes mexidas no seu plantel principal. Saíram apenas jogadores pouco utilizados como o guarda-redes Giesteira, o defesa José Carlos e os avançados Bomba e Lazaro.

Aquisições foram também poucas - apenas quatro novos jogadores - optando os responsáveis do Vitoria SC por manter a estrutura que vinha montada da ultima temporada apenas retocada com as aquisições do guarda redes Ferreira, um jovem promissor vindo do CD Cova da Piedade, Carlos Manuel, um médio de qualidade proveniente do Vitoria de Setúbal e, ainda, os avançados Bilhó e Zezinho.
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Bilhó era um possante avançado centro, procedente do Ara da Gabela, da cidade de Gabela, indicado por um olheiro português em Africa, enquanto Zezinho, também avançado, era um luso brasileiro que esteve à experiência no clube antes de ser contratado e que chegou a Guimarães por indicação do antigo jogador Edmur.
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(As aquisições do Vitoria SC para a época de 1968/69 no Estádio Municipal de Guimarães. Bilhó, Carlos Manuel, Zézinho e Ferreira)
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Para liderar a equipa técnica na nova temporada de 1968/69 os responsáveis do Vitoria SC pretendiam a continuidade de Juca, treinador que no período que esteve em Guimarães criou verdadeiros laços de amizade com toda a família vitoriana. Contudo, por motivos familiares, Juca não pôde continuar em Guimarães na temporada de 1968/69.

Para substituir Juca, o Vitoria SC contratou Jorge Vieira, um conceituadíssimo e respeitado treinador brasileiro, que já havia tido uma experiência em Portugal no comando da formação do CF Belenenses.
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Jorge Vieira, um experimentado técnico, simplesmente pegou na estrutura que vinha montada, adicionou-lhe pequenos toques pessoais, nomeadamente alterando ligeiramente o esquema táctico - o que inegavelmente aperfeiçoou a equipa – e o resultado foi um conjunto homogéneo, seguro, quase imbatível e com um futebol encantador.
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(Jorge Vieira e o capitão Peres num treino de inicio de temporada no Campo da Amorosa)
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A equipa do Vitoria SC, defensivamente, funcionava como um bloco praticamente intransponível. De resto, o registo como a defesa menos batida do Campeonato Nacional da 1ª Divisão é disso o maior exemplo.

Depois, individualmente eram jogadores de grande valor. Um jovem guarda-redes – Rodrigues – que se afirmava depois de ter sido contratado na época anterior ao Juventude de Évora. Os laterais de qualidade, como Gualter, Daniel ou Costeado e um duo de defesas centrais, Joaquim Jorge e Manuel Pinto, que se tornariam mesmo na dupla de centrais da Selecção Nacional. Alias, Joaquim Jorge, veio mesmo a ser considerado como o melhor jogador do Campeonato Nacional da 1ª Divisão na época de 1968/69.
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(Equipa do Vitoria SC na época de 1968/69)

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Depois a linha intermediária, alem de laboriosa e abnegada, era também muito tecnicista. O capitão Peres à cabeça, como verdadeiro líder e a dupla Artur e Augusto formavam um meio campo de categoria.
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Ofensivamente a equipa do Vitoria SC era mágica, mas acima de tudo mortífera. O Vitoria SC na época de 1968/69 foi também uma das equipas mais realizadoras do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Zézinho, Mendes e Manuel, formavam um trio de ataque demolidor, com o brasileiro Manuel e sagrar-se como o melhor marcador da equipa e o 2º melhor na prova.

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(Apresentação oficial do técnico Jorge Vieira)
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A oficina vitoriana abriu-se para a nova época no dia 13 de Agosto de 1968 e depois de alguns jogos de preparação com boas indicações a equipa do Vitoria SC estreou-se oficialmente no Campeonato Nacional da 1ª Divisão no Estádio Municipal de Guimarães na partida da 1ª jornada da prova frente ao Leixões SC.
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Resultado final um empate a 0-0, um começo pouco auspicioso, mas onde o Vitoria SC realizou uma magnífica exibição, principalmente no decorrer da 1ª parte do encontro, altura em que desperdiçou varias oportunidades.
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(Vitoria SC - Leixões SC no Estádio Municipal de Guimarães)
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Na 2ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Vitoria SC expressou em números as boas exibições, vencendo a equipa do Varzim SC por 0-5 em pleno Estádio da Povoa do Varzim. Mais uma grande exibição do Vitoria SC, desta feita com muitos golos, numa tarde em que a equipa varzinista não conseguiu parar o ímpeto ofensivo dos vimaranenses que marcaram por intermédio de Vieira, Artur, Manafá, Joaquim Jorge e Manuel.
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(Varzim SC - Vitoria SC no Estádio da Povoa do Varzim)
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Na jornada seguinte o Vitoria SC recebeu e venceu a formação do Atlético CP por 1-0. Num terreno ensopado, fruto do autêntico dilúvio que se abateu sobre a cidade de Guimarães, o Vitoria SC foi sempre superior à equipa de Alcântara vencendo a partida com um tento do capitão Peres.
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(Vitoria SC - Atlético CP no Estádio Municipal de Guimarães)
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À 4ª jornada o Vitoria SC rumou a Alvalade para defrontar o Sporting CP, no primeiro encontro frente aos denominados grandes. Em face do inegável poderio do adversário o Vitoria SC montou um esquema defensivo que aguentou um 0-0 até final da contenda, conquistando assim um resultado muito positivo frente a equipa leonina um dos grandes candidatos à conquista do ceptro nacional.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1968/69)
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Depois de jogar em Alvalade o Vitoria SC realizou um novo encontro fora de portas, à 5ª jornada, desta feita deslocando à cidade de Tomar para defrontar a equipa do União. A equipa comandada por Óscar Telechea, antigo treinador dos vimaranenses, venceu surpreendentemente o Vitoria SC por 3-1, com o golo vitoriano a ser apontado pelo médio brasileiro Augusto. O Vitoria SC demonstrou sempre muitas dificuldades em se adaptar ao piso pelado do Estádio Municipal de Tomar e assim fazer valer a maior qualidade do seu futebol.

Na 6ª jornada o Vitoria SC recebeu no Estádio Municipal de Guimarães da equipa do GD Cuf, um adversário tradicionalmente muito difícil para os vimaranenses no se reduto. A equipa do Vitoria SC entrou muito bem no jogo marcando primeiro por intermédio de Zézinho. Todavia, a um minuto do final da primeira metade do desafio e quando nada o fazia esperar a equipa do GD Cuf chegou à igualdade.
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O Vitoria SC, no decorrer da segunda parte, conseguiu, porém, desempatar o marcador vencendo assim a contenda por 2-1, mercê de um fantástico golo fruto de um remate de execução primorosa do avançado brasileiro Manuel.
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(Vitoria SC - GD Cuf no Estádio Municipal de Guimarães)
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Entrou-se em seguida num ciclo verdadeiramente infernal no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. O Vitoria SC teria de defrontar seguidamente a Académica de Coimbra, do mítico avançado Manuel António, o FC Porto, o SL Benfica, de Eusébio e Coluna, o CF Belenenses e o SC Braga, o eterno rival, no Estádio 28 de Maio na cidade dos arcebispos. A equipa do Vitoria SC superaria esta fase com classe e distinção.

À 7ª jornada, na visita à cidade de Coimbra, surgiu então a primeira contrariedade com as arbitragens negativas, fenómeno que inexplicavelmente se viria a repetir amiúde e que por certo não deixou o Vitoria SC ir mais além no Campeonato Nacional.
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A equipa do Vitoria SC rumou a Coimbra com uma enorme falange de apoio que pôs aquela cidade em verdadeiro alvoroço. Os vimaranenses adiantaram-se no marcador por intermédio de Artur. A vencer por 0-1 a equipa do Vitoria SC apenas veio a sofrer a igualdade, através de uma grande penalidade assinalada pelo arbitro lisboeta Aníbal Oliveira e que a crónica desportiva considerou unanimemente como inexistente, cifrando-se assim o resultado final em 1-1.
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(Académica - Vitoria SC no Estádio Municipal de Coimbra)
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Na recepção ao FC Porto à 8ª rodada, o Vitoria SC venceu sem apelo nem agravo por 2-0 com dois golos da autoria de Zézinho. Com o Estádio Municipal de Guimarães a rebentar pelas costuras o Vitoria SC deu uma enorme lição táctica à poderosa equipa do FC Porto.
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Os vimaranenses com uma defesa simplesmente intransponível deram o domínio de jogo ao FC Porto, apostando sobretudo no contra golpe. E foi nessa toada que chegou aos dois golos que deram a vitoria e colocou as bancadas do Municipal de Guimarães em verdadeiro êxtase.
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(Vitoria SC - FC Porto no Estádio Municipal de Guimarães)
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(Vitoria SC na época de 1968/69)
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(Vitoria SC - FC Porto no Estádio Municipal de Guimarães)
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Na ronda seguinte o Vitoria SC deslocava-se a Lisboa para defrontar o SL Benfica no Estádio da Luz no encontro a contar para a 9ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. O SL Benfica, inquestionavelmente uma grande equipa recheada das maiores estrelas do futebol português, não perdia um só ponto que fosse no Estádio da Luz à mais de 40 jogos.
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Imbuídos de um espírito de conquista, partiram de Guimarães milhares de adeptos vitorianos rumo à cidade de Lisboa, onde o Rossio chegou a confundir-se com o Toural tal era a quantidade de aficionados vimaranenses.
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(Equipa do Vitoria SC no Estádio da Luz na época de 1968/69)
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(SL Benfica - Vitoria SC no Estádio da Luz)
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(SL Benfica - Vitoria SC no Estádio da Luz)
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No Estádio da Luz, a equipa do Vitoria SC apresentou-se muito tranquila, fria e calculista, com uma defesa férrea e um guarda-redes, o jovem Rodrigues, verdadeiramente sensacional.
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O Vitoria SC manietou completamente a equipa do SL Benfica, marcando com rigor as principais pedras do esquema da formação encarnada, assumindo a posse de bola como que a escondendo do adversário.
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(SL Benfica - Vitoria SC no Estádio da Luz)
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(SL Benfica - Vitoria SC no Estádio da Luz)
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(SL Benfica - Vitoria SC no Estádio da Luz)
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A equipa vimaranense não foi porem somente defensiva. Também se aventurou no ataque, principalmente na 1ª parte, com venenosos contra ataques de Zézinho e Manuel que colocaram em sentido a defensivamente benfiquista. Alias, ainda na primeira metade, o avançado brasileiro Manuel ainda fez estourar na trave da baliza benfiquista à guarda de José Henrique, um excelente remate com selo de golo.

Na segunda metade o Vitoria SC defendeu mais, sobretudo após a injusta expulsão do defesa central vitoriano Manuel Pinto a 30 minutos do final da partida, reduzindo a equipa a 10. Alias, esta expulsão veio já no seguimento dos muitos erros de arbitragem no decorrer da 1ª parte, sempre em claro prejuízo dos vimaranenses, pelo arbitro Mário Alves de Beja e seus auxiliares, como foi exemplo os incontáveis foras de jogo assinalados ao ataque do Vitoria SC, que impediam a equipa de chegar mais vezes à baliza encarnada.
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Apesar de todas as contrariedades o Vitoria SC conseguiu aguentar a pressão e a superioridade numérica do SL Benfica alcançando um empate a 0-0, conquistado assim um ponto em pleno Estádio da Luz.
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(SL Benfica - Vitoria SC no Estádio da Luz)
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(Festejos da equipa do Vitoria SC no Estádio da Luz)
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(Equipa do Vitoria SC agradece aos milhares de apoiantes no Estádio da Luz)
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(Jorge Vieira e Gil Mesquita, chefe do Dep. Futebol em festejos)
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(Os adeptos do Vitoria SC)
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Contra o CF Belenenses, à 10ª jornada, o Vitoria SC venceu no Estádio Municipal de Guimarães por 2-0, com golos de Peres, na transformação de uma grande penalidade, e do defesa lateral Gualter. Este resultado espelha bem a superioridade manifestada pelo Vitoria SC ao longo de todo o jogo, sem grande brilho é certo, mas eficaz o suficiente para vencer a contenda.
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1968/69)
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(Vitoria SC - CF Belenenses no Estádio Municipal de Guimarães)
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(Vitoria SC - CF Belenenses no Estádio Municipal de Guimarães)
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Na 11ª jornada o Vitoria SC fazia uma curta deslocação à cidade de Braga para aí defrontar o seu eterno rival. Este encontro contra o SC Braga teve porém duas histórias. A primeira durou tão só 26 minutos pois o jogo foi interrompido devido ao mau tempo que fustigou a região.
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Que bela exibição realizou o Vitoria SC naqueles 26 minutos de jogo e debaixo daquela intempérie. Uma apelidada “serenata à chuva” da equipa do Vitoria SC que cedo se colocou na frente do marcador com um golo de Manuel.
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(SC Braga - Vitoria SC no Estádio 28 de Maio em Braga)
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(Equipa do Vitoria SC no Estádio 28 de Maio em Braga)
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Acontece que o árbitro da partida, numa decisão muito discutível, decidiu terminar o jogo ao minuto 26 devido às condições climatéricas. Segundo os regulamentos na altura, a partida teria de ser repetida na íntegra e como tal o Vitoria SC deslocou-se uma semana depois ao Estádio 28 de Maio para disputar o encontro em atraso com o SC Braga, que começaria de novo com o resultado em 0-0.
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E foi nesses números que terminaria o encontro. No jogo de repetição o Vitoria SC dominou completamente o SC Braga até à lesão de Peres, ele que era o verdadeiro pêndulo da manobra da equipa, o que de certa forma afectou o rendimento de todo o conjunto.
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(SC Braga - Vitoria SC no Estádio 28 de Maio em Braga)
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Seguiu-se depois dois empates a 1-1. Primeiro em Guimarães no encontro frente ao Vitoria de Setúbal tendo o golo do Vitoria SC sido apontado pelo médio brasileiro Augusto. Este jogo frente ao Vitoria de Setúbal para a 12ª jornada ficou marcado por mais uma arbitragem desacertada do árbitro Dr. Décio de Freitas de Lisboa, que terá sonegado duas evidentes grandes penalidades, alem de ter anulado inexplicavelmente um golo aos vimaranenses.
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De resto, realça-se o massacre ofensivo que a equipa do Vitoria de Setúbal foi alvo, principalmente no decorrer da segunda metade do desafio. E note-se que a equipa do Vitoria de Setúbal era mesmo das melhores equipas portuguesas naquela altura superiormente comandado pelo técnico Fernando Vaz.
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(Vitoria SC - Vitoria de Setubal no Estádio Municipal de Guimarães)
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(Equipa do Vitoria SC na temporada de 1968/69)
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(Vitoria SC - Vitoria de Setubal no Estádio Municipal de Guimarães)
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(Vitoria SC na época de 1968/69)
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Na ultima jornada da 1ª volta do Campeonato Nacional da 1ª Divisão o Vitoria SC viajou até São João da Madeira para defrontar a AD Sanjoanense tendo aí alcançado um empate a 1-1 com o golo vitoriano a ser apontado pelo veloz extremo Vieira.

Este jogo em que o Vitoria SC não se apresentou bem ficou marcado essencialmente pelas ausências de Peres, que ainda se encontrava lesionado, e do brasileiro Augusto, castigado na sequencia do encontro anterior com o Vitoria de Setúbal em Guimarães, que prejudicou o rendimento da equipa.
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Encerrava assim a 1ª volta do Campeonato Nacional da 1ª Divisão com o Vitoria SC posicionado nos primeiros lugares declaradamente na luta pela conquista do troféu de Campeão Nacional.
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(Amigável FC Vizela - Vitoria SC no Campo Agostinho Lima em Vizela)
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(FC Vizela - Vitoria SC)
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(Vitoria SC na época de 1968/69)
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(Festejos da equipa de juniores do Vitoria SC depois de um golo ao SC Braga no Campo da Ponte na cidade de Braga)


Autor: Alberto de Castro Abreu 23 Comentários

 

Pedras


Pedras é uma personagem que figurará para sempre na história do principal clube da cidade berço, pois trata-se do primeiro jogador de futebol do Vitoria Sport Clube a tornar-se internacional por Portugal, ainda que no escalão de juniores.

Além do mais, Pedras foi um dos melhores jogadores da história do Vitoria de Guimarães, que despontou na equipa principal com apenas 18 anos idade, no decurso da temporada de 1960/61, lançado pelo treinador português Artur Quaresma, antiga gloria do CF Belenenses.

José Maria Freitas Pereira - o nome completo de Pedras - nasceu na cidade de Guimarães no dia 29 de Outubro de 1941, filho de Maria Amélia de Freitas e Armando Pereira, relojoeiro na cidade berço e popularmente conhecido por Pedras, apelido pelo qual o seu filho mais novo se tornou famoso no futebol português.

Logo durante a infância, o miúdo José Maria, naquela altura mais conhecido por simplesmente “Zé” ou “Russo”, dada a cor alourada do seu cabelo, começou a revelar todo o seu potencial para a prática do futebol, nomeadamente nos jogos dos miúdos disputados entre os bairros e as ruas da cidade de Guimarães. Havia, todavia, um local de eleição, o Largo de São Francisco, próximo da casa do “Russo”, para onde miúdos e graúdos se deslocavam naquela altura, uns, os mais novos, para jogar, outros, simplesmente para assistir as peladinhas da petizada.

Foi precisamente no Largo de São Francisco, bem no coração da cidade que viu nascer Portugal, que o menino José Maria, filho mais novo do Pedras relojoeiro, começou a destacar-se em relação aos demais. Diz quem o viu que era um verdadeiro regalo ver aquele miúdo jogar futebol com uma simples bola feita de trapos.

José Maria e o seu irmão mais velho, que também alinhava frequentemente naqueles emocionantes desafios da miudagem, enfrentaram, porem, desde muito novos, um sério entrave à participação naqueles encontros. Pois o pai - o Senhor Armando - não tinha a mínima atracção pelo futebol e não gostava nada de ver os filhos envolvidos naqueles jogos, de tal forma que sempre se manifestou contra, impedindo-os ou pelo menos dificultando imenso a presença dos seus filhos naquela brincadeira.

O pai Armando tinha a intenção de ensinar aos filhos a arte de relojoeiro de forma a que os mesmos pudessem seguir o oficio do pai mantendo o negocio da família já que pouco ou nada acreditava na vida de futebolista profissional.

Com vários castigos e algumas tareias, o Senhor Armando lá tentou demover de qualquer forma a vontade dos filhos em continuar a jogar futebol. Ao “Zé”, até os sapatos lhe tirou, pensando ele que descalço o filho não jogaria mais, pois por certo, não deveria querer magoar os pés. Enganou-se o Senhor Armando. É verdade que o José Maria não jogava descalço, mas utilizava os sapatos do pai depois de descobrir que lhe serviam perfeitamente.

Não havia forma de parar a paixão do miúdo José Maria pelo futebol e rapidamente os irmãos Pedras começaram a notabilizar-se nas renhidas contendas futebolísticas que se organizavam ali no Largo de São Francisco na cidade de Guimarães.

A rapaziada já reconhecia no “Russo” os dotes para a arte e ele denotando forte personalidade já exigia: Ou jogava a avançado, ou não jogava. Logicamente, que se o miúdo fazia golos como ninguém que jogasse Pedras a avançado e todos cediam às suas intenções.

Sucede que os desempenhos do “Zé Russo” naqueles jogos da canalha começaram a ficar famosos demais. O povo vimaranense, sempre apaixonado pelo futebol, ia assistindo com encanto às jogadas protagonizadas pelo “Zé” que ia aprimorando o talento para o futebol.

É nessa altura que começa a ser conhecido pelo epíteto de Pedras, pois quando as pessoas assistiam aos jogos daqueles miúdos logo perguntavam quem era aquele rapaz loiro que se exibia magnificamente. Aqueles mais tarimbados na assistência lá diziam ser o Zé, o filho do Pedras relojoeiro. A partir deste momento em toda a cidade eram já demasiado conhecidos os irmãos Pedras, principalmente o mais novo, de tal forma que as noticias chegaram ao seu pai que mais uma vez castigou os seus filhos.

Depois de tantos golos apontados nos acérrimos encontros organizados pela miudagem, depois de tantas fintas ou lances de génio executados com a mestria dos predestinados nas praças e ruas da cidade de Guimarães, surgiu na vida dos irmãos Pedras o Vitoria Sport Clube.
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(Equipa de Juniores do Vitoria SC na época de 1958/59)
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Naquela altura era frequente no Vitoria efectuar-se treinos de captação, onde os miúdos se apresentavam a prestar provas perante os observadores do clube que posteriormente seleccionavam os melhores para integrar para um conjunto que naquela altura se apelidava de principiantes.

Lutero, antiga glória do Vitoria e responsável pela captação de jovens valores, observou os irmãos Pedras e imediatamente aprovou a sua integração nas camadas jovens do clube vimaranense. Mas era o “Zé Russo”, o Pedras mais novo, quem se destacava imensamente na equipa do Vitoria.
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(Juniores do Vitoria SC na temporada de 1958/59)

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Pedras, pela enorme qualidade patenteada, acabou mesmo por convencer tudo e todos, até mesmo o seu pai, aquele que seria a pessoa mais céptica e que mais dificilmente se convenceria do valor e eventual carreira que o filho poderia fazer no futebol. O Senhor Armando, desafiado pelos amigos, acabou por observar in loco o desempenho do seu miúdo mais novo. Gostou e orgulhoso ficou bastante feliz autorizando o seu filho a prosseguir a carreira que almejava.
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Em 1959 actuou pela equipa de juniores do Vitoria que foi Campeã Distrital da A.F. Braga. Pedras era o avançado centro que apontava golos de todas as formas e feitios. Deliciava os sócios do Vitoria com as suas exibições e com os seus golos, apontados em catadupa, levava as plateias vibrantes ao êxtase.
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(Campeões Regionais da AF Braga em Juniores na época de 1958/59)
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Os ecos dos desempenhos do jovem Pedras ao serviço do Vitoria chegam bem longe estravazando os limites da nossa província o que não era frequente naqueles tempos. Acabam mesmo por chegar ate Lisboa de tal forma que o miúdo vimaranense é convocado pelo seleccionador nacional Carlos Carvalho para integrar a Selecção portuguesa de Juniores que participou em 1960 no Campeonato Europeu da categoria na Áustria, juntamente com outros nomes bem famosos do futebol português como o caso de Simões do SL Benfica.
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Figura fulcral na chegada de Pedras à Selecção Nacional foi Artur Baeta que havia sido treinador do Vitoria na década de 40 e um dos principais responsáveis pela criação do futebol de formação em Guimarães e que naquela altura era treinador da equipa principal do FC Porto. Foi pois num jogo entre as equipas de juniores do Vitoria de Guimarães e do SC Braga, realizado antes de um Vitoria – FC Porto no Campo da Amorosa para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, que Artur Baeta teve a oportunidade de ver ao vivo as qualidades do jovem Pedras.
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(Pedras com a camisola da Selecção Nacional de Portugal)
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Artur Baeta ficou convencido com a categoria demonstrada por Pedras naquele encontro, não só pelos vários golos que apontou, mas sobretudo pela pura classe evidenciada naquela magnífica exibição realizada pelo atleta vitoriano, tendo naturalmente indicado a sua convocação ao seleccionador nacional.
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No Campeonato da Europa de Juniores de 1960, Portugal terminou classificado numa brilhante 3ª posição depois de vencer a equipa anfitriã da Áustria no jogo para a atribuição do 3º e 4º lugar. Nesse ultimo jogo do certame Portugal bateu a Selecção da Áustria por 3-1 com uma fantástica exibição de Pedras que apontou dois excelentes golos, um deles um fantástico golo de cabeça que mereceu uma estrondosa ovação da plateia.
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(Pedras em acção no Portugal - Austria no Campeonato da Europa de Juniores em 1960)
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Na fase de grupos Portugal empatou com a Itália de Rivera por 0-0 e venceu as congéneres da Holanda e da Grécia. No jogo das meias-finais disputado em Viena de Áustria, Portugal foi batido pela Hungria, grande potência do futebol mundial naquela época, por 1-2 já em período de prolongamento.
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(Com as quinas da camisola da Selecção Nacional)
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Regressou a Guimarães directamente para a equipa de reservas do Vitoria que disputava o Campeonato Distrital da A.F. Braga na época 1960/61 no escalão sénior. Fez a sua estreia num jogo frente à equipa do Campelos, formação do concelho de Guimarães, com uma estrondosa vitoria por 14-0, com cinco golos da autoria de Pedras.
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Os adeptos vitorianos, que tal como hoje, acompanhavam tudo aquilo que se exibisse com o símbolo de D. Afonso Henriques ao peito, deliraram com aquela fantástica exibição do miúdo Pedras. Entre eles estava também o Senhor Armando, pai de Pedras, que muito se orgulhava com o enorme sucesso que o seu filho estava a alcançar.
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A verdade é que após este jogo Pedras subiu ao núcleo da equipa principal do Vitoria e a partir daí passou a treinar-se com o conjunto às ordens de Artur Quaresma que disputava o Campeonato Nacional da 1ª Divisão na temporada de 1960/61.
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(Vitoria SC na época de 1960/61)
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(Pedras no Vitoria SC)
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O Vitoria realizou uma primeira volta um pouco acima da média terminado a primeira parte da prova no 5º posto da tabela classificativa. A segunda volta inicia-se com um Vitoria – CF Belenenses no Campo da Amorosa que se encheu para assistir à estreia da nova coqueluche de Guimarães, o jovem Pedras.
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Com apenas 18 anos de idade, Pedras cumpria assim o seu sonho de menino que era jogar na equipa principal do Vitoria de Guimarães. Fê-lo contra a grande equipa do CF Belenenses como acima se referiu, numa partida vencida pelos vimaranenses por 3-2, onde Pedras apontou o primeiro golo, num remate violento, e fez a assistência para o terceiro que seria o golo da vitória.
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(Vitoria SC na temporada de 1960/61)
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(Pedras, no visivelmente lotado Campo da Amorada, cumprimenta Serafim do FC Porto, que viria a ser seu colega de equipa no SL Benfica)
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Pedras descreveu uns anos depois o que sentiu naquele dia: “Posso assegurar-lhe que foi uma sensação maravilhosa e estranha. Maravilhosa, porque ela representava uma oportunidade pela qual lutara; estranha, porque, ao mesmo tempo, receava desiludir quantos haviam acreditado em mim. Depois, meu pai prometera ir à estreia... Tudo isso me atacava os nervos, tanto mais que o adversário era o Belenenses. Tinha tantos nervos antes do jogo que só me apetecia beber agua. Assim que entrei em campo e que toquei na bola, mandei-a a rasar um poste, sob os aplausos da multidão. O receio e os nervos passaram-me por completo. E foi um “vê se te avias...”. No golo, foi um tiro, até parecia que o queria fuzilar o guarda-redes Nascimento do Belenenses.”

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O certo é que o Vitoria melhorou bastante de produção com a entrada em cena do jovem Pedras. Terminou a prova no 4º lugar da classificação geral o que significava naquela altura tão só a melhor classificação de sempre da turma vimaranense. Em Guimarães nenhum dos apelidados grandes passou incólume. À excepção do SC Portugal que empatou a zero bolas, todos foram derrotados.
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(Pedras pelo Vitoria SC finaliza bem ao seu estilo uma jogada de ataque no Campo da Amorosa)
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(Vitoria SC na época de 1961/62)
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Destaque para a vitória sobre o FC Porto por 4-2 com uma enormíssima exibição protagonizada por Pedras bem como a derrota infligida ao SL Benfica por 2-1, o Campeão Nacional e invicto ate então. Para constar aqui fica a principal formação do Vitoria na temporada de 1960/61: Dionísio; Caiçara, Silveira e Daniel; João da Costa e Virgílio; Augusto Silva, Pedras, Edmur, Romeu e Azevedo.

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Na temporada seguinte o Vitoria iria perder dois dos seus jogadores mais preponderantes. Edmur e Ernesto Paraíso deixaram o Vitoria, o primeiro transferido para o Celta de Vigo de Espanha e o segundo dispensado pelo clube. Todavia, a saída de Ernesto causou enormes protestos na massa associativa.
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(Pedras com a camisola do Vitoria SC)
.(Pedras no Campo da Amorosa no Vitoria SC - Academica de Coimbra)
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A época de 1961/62 foi extremamente conturbada essencialmente pela posição assumida pela equipa técnica e pela Direcção do clube na dispensa de Ernesto Paraíso. De tal forma que as posições ficaram extremadas e de profunda ruptura. Após uma derrota em casa frente ao Sporting CP por 1-3, a Direcção do Vitoria presidida por Casimiro Coelho Lima pede a demissão acompanhando nesse acto o treinador Artur Quaresma que também se demite.

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O Vitoria atravessava muitas dificuldades financeiras naquele momento e os resultados desportivos estavam longe dos alcançados na época anterior. Hélder Rocha, juntamente com outros directores, assume a gestão do clube que escolhem Rola, antigo jogador do clube e até então treinador da equipa de juniores, para assumir o cargo de treinador da equipa principal.
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(1961/62, Vitoria SC, Campeão Regional de Reservas)
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(Festejos vimaranenses no Campo da Amorosa, com Pedras a ser felicitado pelos companheiros de equipa)
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A situação acaba por melhorar um pouco mais sobretudo após vencer em Matosinhos o Leixões por 2-3 no primeiro jogo sob o comando de Rola. Contudo, alguns resultados negativos mantinham a equipa nos lugares de descida até que chega o jogo decisivo para a manutenção.
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O FC Porto encontrava-se na luta pelo título de campeão nacional e a deslocação a Guimarães era preponderante, pois uma vitória sobre os vimaranenses significava a conquista do ceptro nacional. Por seu turno, o Vitoria tinha obrigatoriamente de vencer para garantir a manutenção. O jogo decorreu no lotadíssimo Campo da Amorosa em Guimarães na tarde do dia 26 de Maio de 1962.
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(No Campo da Amorosa, Pedras em lance de cabeça, frente à equipa do CF Belenenses)
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(Vitoria SC na temporada de 1961/62)
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O Vitoria venceu por 1-0 com um golo da autoria de Augusto Silva, garantindo dessa forma a permanência na 1ª Divisão Nacional. Quanto ao FC Porto, com a derrota averbada em Guimarães acabou por perder o título de campeão nacional para o Sporting CP.

Apesar da época tão conturbada havia na equipa do Vitória dois jogadores que se destacavam em relação aos demais e que aguçava o interesse de clubes de dimensão superior. As exibições de Augusto Silva eram acompanhadas permanentemente pelos responsáveis do SL Benfica que apresentaram uma proposta ao Vitoria para a aquisição dos seus serviços.
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No jogo de Guimarães para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, o Vitoria e o SL Benfica empataram a 2-2 com uma grande exibição de Augusto Silva e sobretudo do miúdo Pedras.
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(Novamente Pedras num desafio entre o Vitoria SC e o CF Belenenses no Campo da Amorosa)
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(Pedras disputando um lance com um adversário do SL Benfica)
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O Vitoria e o SL Benfica encontraram-se novamente nas meias-finais da Taça de Portugal de 1961/62. No primeiro jogo no Campo da Amorosa já os responsáveis do SL Benfica andavam com Pedras debaixo de olho. De resto, Pedras foi mesmo avisado antes do encontro pelo treinador Rola para ter cuidado pois iria observado pelos directores dos benfiquistas que se deslocaram propositadamente a Guimarães para assistir à partida.

Pedras respondeu a Rola que iria brincar com eles. E brincou. O Vitoria empatou a 2-2 com o SL Benfica no jogo da 1ª mão das meias-finais da Taça de Portugal, com o menino Pedras a apontar os dois golos vimaranenses, mas acima de tudo arrancando uma portentosa exibição.

Os dirigentes do SL Benfica ficaram boquiabertos com o talento do menino “Zé Russo” que nascera para o futebol ali para os lados do Largo de São Francisco. No jogo da 2ª mão disputado no Estádio da Luz já todos tinham os olhos sobre o miúdo Pedras. Até a imprensa destacou enviados especiais para cobrir o encontro da 2ª mão das meias-finais da Taça de Portugal.
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O Vitoria acabou por perder por 6-0, mas apesar do resultado, Pedras fez uma vez mais uma brilhante exibição, carregando às costas, juntamente com Augusto Silva, toda a equipa vitoriana. O Vitoria ficou em branco naquele jogo, nomeadamente Pedras, devido a uma fantástica exibição de Costa Pereira guarda-redes do SL Benfica, que terá feito naquela tarde uma das melhores apresentações da sua carreira, negando sucessivamente o golo a Pedras.
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(Vitoria SC na época de 1961/62)
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(Pedras e Augusto Silva, inseparáveis amigos companheiros de equipa no Vitoria SC e no SL Benfica)
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Mas Pedras, apesar do insucesso colectivo, com a sua exibição espantou todos aqueles que assistiram ao encontro. No lote de admiradores estava Alfredo Farinha, conceituado jornalista do Jornal A Bola, que não teve pejo em apelidar o miúdo Pedras como o “Eusébio Branco”.

O SL Benfica que já apresentara uma proposta para a aquisição de Augusto Silva, voltou de novo à carga, apresentado ao Vitoria de Guimarães mais uma oferta, desta feita, para adquirir os serviços do menino Pedras.

A ânsia do SL Benfica em contratar Pedras era tão grande que o primeiro negócio a ser concretizado entre os benfiquistas e o Vitoria foi mesmo a transferência do miúdo de Guimarães para a Luz. O Vitoria recebeu nesse acordo de transferência de Pedras a quantia de 550 contos e ainda os jogadores Peres, Mendes “Pé Canhão” e Fonseca.

A projecção nacional de Pedras naquela altura era tão elevada que poder-se-á dizer que andava “meio mundo” atrás dele. De resto, a transferência de Pedras para o SL Benfica envolveu momentos caricatos como a peripécia do “rapto” que foi alvo pelos dirigentes do Sporting CP que também se interessou pela sua contratação. Alias, na época, acabou mesmo por surgir na imprensa escrita noticias que davam conta da aquisição de Pedras por parte do Sporting CP.
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(Pedras com a esposa no dia do casamento)
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(Pedras já com a camisola do SL Benfica)
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(No dia da apresentação no SL Benfica)
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Todavia, Pedras, com apenas 20 anos de idade, acabou mesmo por assinar contrato profissional com o SL Benfica treinado pelo chileno Fernando Riera para a época de 1962/63. Integrou o famoso plantel dos encarnados da década de 60 que incluía grandes glórias do futebol português como Coluna, Eusébio, José Aguas ou Simões.
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Sobretudo pela extensa lista de grandes jogadores que integravam a equipa do SL Benfica na década de 60, Pedras nunca conseguiu afirmar-se como um titular indiscutível na formação encarnada. Era, naquela altura, um suplente de luxo de Eusébio, considerado o melhor jogador português de todos os tempos.
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(SL Benfica na decada de 60)
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(Novamente com o amigo Augusto Silva, desta feita com a camisola do SL Benfica)
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(Pedras em acção pelo SL Benfica)
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Contudo, nunca deixou de ser um jogador imensamente apreciado para os lados do Estádio da Luz que apenas penou pelo facto de o SL Benfica ter no lugar que o mesmo ocupava tão só a sua maior estrela Eusébio da Silva Ferreira. Por esse motivo era suplente na equipa principal e titularíssimo na equipa de honra do SL Benfica que disputava o Campeonato Distrital da A. F. Lisboa prova muito importante naquele tempo.
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Apesar de suplente na equipa principal do SL Benfica, Pedras era frequentemente mencionado como um dos melhores jogadores portugueses. De resto, era liquido que se Pedras figurasse em qualquer outra equipa nacional o seu destaque seria bem mais assinalado, o que de resto se veio a confirmar após a sua saída do SL Benfica.
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(Pedras com os companheiros de equipa do SL Benfica no Aeroporto da Portela na cidade de Lisboa antes de uma viagem)
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(Pedras no SL Benfica)
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(Pedras pelo SL Benfica num remate de cabeça)
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Fez a sua estreia com a camisola encarnada do SL Benfica no Campeonato Nacional da 1ª Divisão na temporada de 1962/63 frente ao Lusitano de Évora, numa vitória dos lisboetas sobre os alentejanos de Évora por 2-1, com Pedras a apontar o primeiro golo do encontro.

A sua estreia internacional nas competições de clubes ocorreu no dia 30 de Setembro de 1965 frente ao Dudelange, em jogo que o SL Benfica venceu por 0-8 tendo Pedras apontado 3 golos, concluindo ainda um hat-trick. Essa marca ficou histórica para a formação encarnada pois nesse dia Pedras obteve aquele que foi o centésimo golo do SL Benfica nas competições europeias.
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Este jogo ficou marcado ainda por uma peripécia a roçar a anedota. É que os luxemburgueses do Dudelange protestaram o jogo junto das instâncias da Uefa alegando que o SL Benfica tinha utilizado dois jogadores que não se encontravam inscritos. Um era Iauca o outro era Pedras. Só que esses nomes como sabemos eram apelidos ou alcunhas e não o verdadeiro nome dos atletas.
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(SL Benfica na época de 1963/64)
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(Pedras num SL Benfica - CF Belenenses em reservas, no Estádio da Luz)
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(SL Benfica - SC Braga, Pedras disputa um lance aereo)
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Despedida do SL Benfica em jogos internacionais ocorreu no mítico Estádio do Old Traford em Manchester, quando a formação portuguesa disputou os quartos de final da Taça dos Campeões Europeus de 1965/66 contra o Manchester United de George Best que venceu por 3-2.
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Pedras permaneceu no SL Benfica durante 4 temporadas. Conquistou 3 campeonatos nacionais, 1 Taça de Portugal, foi Vice-Campeão Europeu em 1962/63 e finalista vencido da Taça Intercontinental contra o Santos de Pele.
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(Pedras com a camisola branca, equipamento alternativo do SL Benfica, vai marcar num encontro frente a SCUT Torreense)
.(Sobre um adversário do SC Braga, Pedras executa mais um remate de cabeça, naquele que é um estilo próprio)
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(Pedras é a capa da Revista Idolos do Desporto)
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O primeiro título de Campeão Nacional foi conquistado logo na primeira época ao serviço das águias. O SL Benfica treinado pelo chileno Fernando Riera apenas utilizou Pedras em 2 jogos oficiais no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1962/63, onde apontou apenas 1 golo. Em 1963/64, o SL Benfica, desta feita comandado pelo técnico húngaro Lajos Czeizlek, renovou o título de Campeão, sendo Pedras utilizado em 2 jogos oficias, apontado 2 golos.
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O ultimo titulo nacional conquistado com a camisola do SL Benfica verificou-se na época de 1964/65, com Pedras a participar em 7 jogos e sendo autor de 2 golos em toda a prova, numa equipa então treinada pelo treinador romeno Elek Schwartz.
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(No antigo Estádio da Luz, Pedras em acção pelo SL Benfica)
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(Pedras vai marcar um golo pelo SL Benfica)
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(Mais um golo de Pedras com a camisola do SL Benfica)
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(Com os companheiros do SL Benfica em estágio)
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(Pedras, no canto da imagem, é o autor deste golo)
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(Pedras aponta mais um golo pelo SL Benfica frente à equipa do Lusitano de Évora, em pleno Estádio da Luz)
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(No Estádio do Mar em Matosinhos, Pedras inicia uma jogada de ataque do SL Benfica)
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(Momento de descontração num treino no Estádio da Luz do SL Benfica, com muitas estrelas)
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(Em acção pelo SL Benfica frente ao Lusitano de Evora)
. (Novamente no Estádio do Mar no desafio Leixões SC - SL Benfica, executando um remate com o seu pé esquerdo)
. (Pedras aponta nesta altura o 2º golo do SL Benfica frente ao Lusitano de Evora no Estádio da Luz)
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No final da temporada de 1965/66 Pedras abandonou o SL Benfica e transferiu-se para o Vitoria de Setúbal, envolvido na transferência de Jaime Graça dos sadinos para a formação encarnada.
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Em Setúbal jogou as temporadas de 1966/67 e a de 1967/68 sempre com um rendimento alto. Pedras voltava a deixar a sua marca nos campos de futebol nacionais com inúmeros golos, e fantásticas exibições que deliciavam todos os amantes do desporto Rei.
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(Vitoria de Setubal na época de 1966/67)
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(Vitoria de Setubal na temporada de 1966/67)
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(Pedras com a camisola do Vitoria de Setubal)
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Esta situação apenas vinha confirmar que Pedras noutro clube seria preponderante e facilmente considerado um dos melhores jogadores daquele tempo. É pois, fruto das magníficas exibições ao serviço do Vitoria sadino que Pedras chega à Selecção Nacional A de Portugal.

Até então, Pedras era varias vezes convocado para os trabalhos das selecções nacionais, sendo normalmente titular na Selecção Militar Portuguesa. Mas iria finalmente representar a principal selecção portuguesa de futebol.
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Fez a sua estreia com a equipa principal das quinas no dia 26 de Novembro de 1967 num jogo de apuramento para o Campeonato da Europa de 1968. O jogo de estreia ocorreu no Estádio Levsky em Sofia na Bulgária, sendo a congénere búlgara o adversário de Portugal naquele desafio. Portugal, que acabou derrotado por 1-0 com um golo de Dernendjiev, alinhou com Américo; Manuel Rodrigues, Rui Rodrigues, José Carlos e Hilário; Jaime Graça, Pedras e José Augusto; Eusébio, Torres e Simões. A equipa técnica era formada por José Gomes da Silva e Fernando Caiado.
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(Caricatura da equipa do Vitoria de Setubal em 1966/67)
.(Equipa do Vitoria de Setubal na decada de 60)
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Contabilizou mais uma internacionalização no empate a 0-0 frente à Bulgária no Estádio Nacional no Jamor e efectuou a sua última internacionalização pela selecção de Portugal num amigável disputado no Estádio Salazar em Lourenço Marques frente ao Brasil.

O jogo, disputado no dia 30 de Junho de 1968, terminou com a vitória dos brasileiros por 2-0. Por Portugal, desta feita treinado pela dupla José Maria Antunes e Fernando Caiado alinharam: Américo; Fernando Cruz, Manhiça, José Carlos e Hilário, Pavão, Pedras e Mário Coluna; Jaime Graça, José Augusto e Fernando Peres.
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Pelo Brasil jogaram: Félix; Carlos Alberto, Brito, Joel e Rildo; Gerson; Rivelino e Tostão; Natal, Jairzinho e Eder. Os golos da vitória da selecção canarinha foram apontados por Rivelino e Jairzinho.
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(Pedras no Vitoria de Setubal em 1967/68)
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A verdade é que no Vitoria de Setúbal Pedras renasceu e marcou um importante período da equipa setubalense. O Vitoria de Setúbal em Portugal conquistava dois 5º lugares consecutivos no Campeonato Nacional da 1ª Divisão e um presença na final da Taça de Portugal de 1967/68 a qual veio a ser perdida para o FC Porto por 2-1, com o golo sadino a ser apontado por Pedras.
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Mas também na Europa do futebol a equipa de Setúbal ia causando impacto sobretudo com o contributo, os golos e as exibições protagonizada por Pedras. Por esse motivo, surgiu novamente um clube de dimensão superior interessado na aquisição do jogador vimaranense.
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(Vitoria de Setubal em 1968)
.(Vitoria de Setubal na época de 1967/68)
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Surge de novo o Sporting CP interessado na sua aquisição que anos antes tinha perdido para o grande rival da cidade de Lisboa. Assim, em 1968/69 é contratado pelo clube de Alvalade.
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No Sporting CP, Pedras conquistou novamente o ceptro nacional na época de 1969/70, com o treinador Fernando Vaz a utilizar Pedras em 10 encontros oficias do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, tendo este apontado 2 golos no decorrer da prova.
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(Sporting CP no final da decada de 60)
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(Pedras e Augusto Silva cumprimenta os responsáveis do Vitoria SC)
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Ainda representou o Sporting CP na época de 1970/71 onde apenas foi utilizado em 6 partidas, tendo apontado somente 1 golo no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, em que os leões de Alvalade foram vice campeões nacionais.
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Depois do Sporting CP rumou ao vizinho Atlético CP da zona de Alcântara em Lisboa. Em representação daquele popular clube alfacinha participou em duas edições do Campeonato Nacional da 1ª Divisão nas épocas de 1971/72 e 1972/73.
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(Sporting CP na época de 1968/69)
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(Pedras no Sporting CP)
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(Sporting CP na época de 1969/70)
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(No Sporting CP)
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(Pedras durante um treino no Sporting CP)
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Actualmente, Pedras, com 66 anos de idade ainda esta vivo, residindo actualmente na zona de Lisboa, onde se radicou com a família depois de largos anos a viver na zona sul do país.
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Fica pois a pequena história de Pedras, o “Zé Russo”, que começou a despontar para o futebol ali para os lados do Largo de São Francisco na cidade de Guimarães e que brilhou imensamente em Portugal e na Europa, mas sobretudo no seu Vitoria Sport Clube, equipa da sua cidade.


Autor: Alberto de Castro Abreu 10 Comentários

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