O Estádio Municipal dos Barreiros, ou como os madeirenses gostam de apelidar, o “Caldeirão dos Barreiros”, situa-se na cidade do Funchal na Ilha da Madeira. Mais precisamente na Rua Dr. Pita na zona oeste daquela cidade insular.
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Aquele estádio foi inaugurado no ano de 1957 sendo presentemente propriedade do Governo Regional da Madeira. Presentemente porque, ao que se sabe, existe uma proposta do Governo Regional da Madeira tende a doar aquele recinto ao CS Marítimo.
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(Estádio dos Barreiros no inicio da decada de 80)
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Trata-se de um estádio composto basicamente por duas bancadas ao longo das laterais do relvado, sendo que uma delas, a central, em parte encontra-se coberta. Alem disso, aquele estádio possui ainda uma pista de atletismo com piso em tartan que é frequentemente usada para a realização de competições nacionais e internacionais daquela modalidade.
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Nos topos do estádio encontra-se, de uma lado, uma das entradas de acesso para o publico ao interior do recinto e, do outro lado, os balneários com aquelas típicas escadas de acesso ou mesmo o singular marcador dos Barreiros.
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(Estádio dos Barreiros na decada de 80)
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O Estádio do Barreiros é, todavia, uma infraestrutura conhecida essencialmente como palco oficial dos jogos de futebol disputados actualmente pelo CS Marítimo e do CF União da Madeira nas diversas competições em que aqueles emblemas insulares estão envolvidos. Tempos houve em que aquele recinto era a “casa” das três principais equipas de futebol da Madeira, que incluía o CD Nacional alem das duas anteriormente mencionadas.
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Foi em algumas épocas, sem margem para duvida, o Estádio onde se realizou mais jogos de futebol na 1ª Divisão Nacional, essencialmente em algumas temporadas da década de noventa em que o CS Marítimo, o CD Nacional e o CF União da Madeira militavam no primeiro escalão do futebol português.
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(Estádio dos Barreiros em meados da decada de 80)
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Aquele recinto foi também palco de diversos jogos da Selecção Nacional portuguesa. Contudo, com a criação ou remodelação de vários estádios nacionais no continente, as actuações da equipa das quinas no Estádio dos Barreiros foram escassas.
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O Estádio dos Barreiros já teve uma lotação oficial a rondar os 20.000 lugares. Nos finais da década de 80 aquela lotação máxima passou a fixar-se nos 13.000 espectadores, sendo que, actualmente, depois da colação de cadeiras individuais em todo o espaço, a lotação diminuiu para números próximos dos 8.000 lugares.
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(Estádio dos Barreiros na decada de 90)
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Particularmente, apenas me desloquei ao Estádio dos Barreiros uma única vez para ali assistir ao encontro da 11ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da temporada de 1997/98 entre o CS Marítimo e o Vitoria Sport Clube.
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A equipa do Vitoria treinada pelo mister Quinito andava nos lugares da frente da tabela classificativa, nomeadamente, ocupando o segundo posto da classificação logo atrás do líder do FC Porto. Uma vitória naquele jogo era importante, não só por ser obtida num terreno difícil, contra uma formação com os mesmos objectivos dos vimaranenses, mas que sobretudo, naquela altura, cimentava a brilhante classificação que o Vitoria ocupava.
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(Vista aerea do Estádio dos Barreiros)
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A verdade é que o Vitoria venceu o encontro por 0-1 com um golo da autoria do avançado brasileiro Gilmar, num excelente espectáculo de futebol. De resto, a qualidade daquele jogo é perfeitamente perceptível na crónica efectuada pelo jornalista Alberto Barbosa num jornal desportivo nacional e que de seguida se transcreve.
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“Não foi preciso muito tempo para o pior treinador de bancada perceber que estava na presença de um caso raro. No mesmo relvado, no mesmo jogo, duas equipas dispunham-se a vencer. Impensável, descabido, concluiu. Servira-se da lupa, recorrera ao microscópio, juntara pistas e... nada. Sempre nada. Seria, alguma vez, capaz de compreender tão estranho fenómeno? O que poderia explicar a irreflectida conduta dos treinadores? Seria Quinito um louco, ao pensar que poderia ganhar nos Barreiros? E Inácio? Não deveria Inácio retroceder perante a ameaça? Tantas interrogações deixavam-no inseguro sobre a validade de tudo quanto lera e ouvira dizer durante anos a fio. Respostas: nenhuma. Embrenhou-se nos estudos, invocou a teoria e prometeu melhores resultados.
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(Estádio dos Barreiros)
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Ora bem. De um lado, assim à primeira vista, detectou três centrais, mais um trinco. Estava fácil, posicionavam-se como ouvira dizer do senhor da televisão. O ultimo entre a defesa e o ataque, os primeiros bem juntinhos, entre os laterais. Ou aqueles dois não seriam laterais, de tão adiantados que estavam? Adiante. Entre os que vestiam de branco, confirmou a presença de dois centrais, dois trincos e um elemento extra, irrequieto, sem posição definida. Tinha quase a certeza de que já o tinha visto, há uns anitos, na televisão, com a camisola do Benfica. E estava certo, era Vítor Paneira. Bem que desconfiara. Mas algo continuava a não bater certo. Esteva tudo muito equilibrado. Não deveriam uns atacar e os outros defender? Começavam a parecer-lhe perguntas a mais quando decidiu assistir, simplesmente.
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(Vista aerea do Estádio dos Barreiros)
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Vou o Marítimo atacar, o que entendeu como normal. Lembrava-se como se fosse hoje, do último domingo à noite em que ouviu o palavrão “factor-casa”. Soava-lhe bem e utilizava-o, com frequência, nas conversas de café e bancada, para impressionar. O que, vale-se-lhe Deus, não conseguia compreender era aquele comportamento suicida do Guimarães. Estava mesmo a ver-se que, a jogar assim, encaixaria meia dúzia. Tinha que defender, mandar a bola para o quintal, se fosse preciso. É óbvio, é dos compêndios. A menos que não estivesse interessado em pontuar. Mas isso era problemas deles e do treinador deles, a quem já tinham chamado sonhador. Talvez estivesse aí a resposta para todas as questões. O homem só podia ser doido varrido.
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(Actualmente bancada central coberta do Estádio dos Barreiros)
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Engano. O senhor das barbas, acocorado e de braçadeira vermelha, não estaria assim tão equivocado. A sua equipa, que até era a melhor, tinha acabado de marcar. E o mais curioso é que não o tinha conseguido por acaso. Se isso não era sabido, por que razão Inácio não mandou defender? Ups... mais uma interrogação. Ao fim de uma hora conseguiu detectar a diferença. Mas era de método e não servia as primeiras perguntas. Ambos atacavam, a conclusão não merecia reparo, mas o Marítimo arrastava o peso de uma equipa, cada vez que levava a bola colada ao pé de uma baliza à outra, enquanto o Vitoria não gastava mais que meia dúzia de toques antes do remate; preferencialmente com lançamentos longos para Edmilson e Gilmar. Encheu o peito e julgou-se capaz de desvendar o mistério.
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(Novamente a bancada central)
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Mas que diabo fazia o Guimarães ainda ao ataque, um golo não lhe bastava, não valia três pontos? Incocebivel, inimaginável. Arriscaram-se a sofre o empate de surpresa, em vez de defenderem a vantagem com unhas e dentes. Aquilo a que se assistia, pensou, era contra todos os princípios do futebol. Não tinha explicação, seguramente. E eles, os de branco, sempre a insistirem, a insistirem. E o treinador não lhes dá dois gritos? O árbitro, em ultima instancia, devia proibi-los. Poderia ate criar-se uma nova regra, a impedir que as equipas desmioladas como a do Vitoria e aquele seu treinador, que só pode andar no mundo da lua, ultrapassem a linha do meio campo por mais de quatro ou cinco vezes. No máximo. Olha, olha, olha... Não é que os danados quase marcavam outra vez.
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(Bancada lateral e ao fundo um dos topos do Estadio)
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Definitivamente, sentenciou, havia ali alguém que nem sequer sabia a razão por que a bola salta. Uma ou outra equipa tinha que defender e estava muito claro que o Marítimo não podia ser. Perdia e queria, pelo menos, o empate, que tantas alegrias dá a um sem número de treinadores ambiciosos. E o Vitoria, teimoso, não cedeu. Fez substituições, o prenúncio tardio das amarras. Agora sim, defenderiam, pela certa. Mas não. Vá lá saber-se porque, insistiu, e à sua maneira, de quem num instante transmite apatia e lentidão para logo negar as aparências e ameaçar com a iminência do golo.
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(Estádio dos Barreiros)
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Já não havia volta a dar. Estava condenado a voltar para casa sem perceber patavina do que via. Ou, pior ainda, sem saber um pingo de futebol. Na dúvida insultou o árbitro, que viu cometer alguns erros. Não tantos como a plateia quis dar a entender. E os mais graves resumem-se no exagero da amostragem do cartão amarelo a Arley e Asselman. Em desespero de causa, concluiu que não tinha assistido a um jogo deste campeonato, mas a quantidade de golos perdidos devolveu-o, de imediato, à realidade. E mesmo aí os destemidos de branco venceram. Desistiu. Encolheu os ombros e deixou o estádio.”
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(A bancada lateral do Estádio dos Barreiros)
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(Outro topo do Estádio referente aos balnearios)